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Grécia vai pedir empréstimo a Wall Street
Por Alex Lantier
14 de abril de 2010
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No dia 5 de abril, a Grécia anunciou planos para pedir
um empréstimo de 5 a 10 bilhões de dólares
aos EUA, apresentando-se como um "mercado emergente",
isto é, um país pobre que paga taxas mais altas
de juros em suas dívidas para compensar o risco de inadimplência.
A classificação da Grécia como um mercado
emergente é outra indicação, junto com seu
apelo ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no mês
passado, de que as medidas de cortes de emprego e de redução
de custos aplicadas pelo FMI na África e América
Latina desde a década de 1970 irão agora para a
Europa.
Nikos Mourkogiannis, um economista de Londres, comentou: "A
Grécia é um mercado emergente e um país dos
Balcãs, e o fato de ser membro da zona do euro não
é uma contradição."
A Grécia planeja levantar seus fundos através
da emissão de títulos nos leilões supervisionados
pelos bancos de investimento de Wall Street, como o Morgan Stanley.
O Goldman Sachs foi inicialmente designado para supervisionar
o leilão grego, mas isso foi descartado em meio a rumores
de que investidores chineses haveriam dito que não emprestariam
para a Grécia.
Foi anunciado que o Ministro das Finanças grego, George
Papaconstantinou, iria viajar para os EUA "depois de 20 de
abril", mas que descartou planos de viajar para a Ásia
depois de visitar os EUA.
A decisão veio enquanto a Grécia enfrenta grandes
dificuldades em captar fundos nos mercados financeiros europeus.
O custo do empréstimo ao governo grego por títulos
de 10 anos de validade atingiu uma alta de 7,161% em 6 de abril,
uma taxa de juros 4% mais alta que a paga pela Alemanha. Em comparação,
a taxa de juros do Brasil por 10 anos é de 4,9%, do México,
4,8%, a Polônia está em 5,5% e da Hungria, em 6,6%.
A taxa de juros de dois anos sobre a dívida grego saltou
1,2%, atingindo 6,48%, uma mudança excepcionalmente grande
em um único dia, sugerindo temores crescentes de que a
Grécia não pagará suas dívidas.
A Grécia foi capaz de cobrir suas necessidades financeiras
em abril, mas ainda precisa arrecadar 10 bilhões de euros
em maio.
Parece cada vez mais duvidoso que a Grécia será
capaz de evitar a moratória de sua dívida, visto
que o recebimento de juros cresce junto com a taxa de juros que
paga sobre sua dívida, e os cortes de empregos e salários
reduzem a base de impostos do governo.
Os gregos ricos estão cada vez mais levando seus fundos
para fora do país, debilitando ainda mais os bancos gregos.
O Daily Telegraph escreveu ontem que as famílias
gregas depositaram 3 bilhões em fevereiro e 5 bilhões
de euros em janeiro em contas fora da Grécia, em grandes
bancos europeus, incluindo HSBC e Société Générale.
Suíça, Reino Unido e Chipre teriam sido os principais
destinos para os fundos dos gregos.
O Telegraph citou o analista John Raymond da CreditSights:
"Os próprios bancos estão preocupados [com
a fuga de capital] porque eles não conseguem obter financiamentos
em outro lugar no momento. Os Bancos gregos não serão
capazes de aumentar o volume de crédito se os depósitos
não aumentar, e uma deterioração continua
em suas bases de depósitos irá levá-los a
cortar os empréstimos ainda mais, sufocando o crescimento
econômico real."
Além disso, as dúvidas continuam a crescer sobre
os planos conjuntos da União Européia (UE) e FMI
para um pacote de resgate a Grécia, proposto na reunião
da UE em Março, em Bruxelas. Foi acordado que os governos
da zona do euro iriam emprestar para Grécia a taxas de
juros não subsidiadas, mas a taxa de juros se tornou agora
um assunto de disputa. Enquanto a maioria dos países da
zona do euro estão dispostos a emprestar fundos a 4 para
4,5%, a Alemanha está insistindo que a Grécia pague
6 para 6,5% de juros, alto o suficiente para forçar a moratória.
Um "alto funcionários da UE" disse ao Financial
Times: "Se você disser que todo o esforço
de consolidação da Grécia está em
perigo" devido à grande diferença que separa
as taxas de juros pagas pela Grécia e Alemanha ",
você tem que assegurar que essa diferença acabe."
O comentarista do Financial Times, Martin Wolf, notou
a possibilidade de que o FMI, no qual os EUA tem poder de veto,
pode entrar em conflito com a Alemanha se vir a política
alemã de forma tão punitiva que nem os cortes do
FMI conseguiriam equilibrar o orçamento: "O que acontece
se o FMI discordar da Comissão [Européia]? Essa
discordância parece provável. O cerco fiscal aceito
pela Grécia, de 10% do PIB por três anos, parece
impossível, dada a ausência de política monetária
ou a flexibilidade da taxa de câmbio. Talvez nenhum programa
teria sucesso devido às condições iniciais
desfavoráveis."
Comparando a Grécia com a Argentina, que declarou moratória
de sua dívida em 2001, Stephen Jen, do Bluegold Capital
Management LLP, disse: "Os problemas da Grécia e da
Argentina podem não ser idênticos, mas há
muitas semelhanças em termos de inflexibilidade do câmbio,
fuga de capital e o risco de medidas de austeridade levando a
uma contração do crescimento".
O Primeiro-ministro grego, Giorgios Papandreou, sugeriu que
o plano da UE e FMI de injeção monetária
e o restabelecimento dos empréstimos do Banco Central Europeu
(BCE) para a Grécia, junto com o fim da greve nacional
organizada pelos sindicatos gregos, significa o fim da crise grega.
Continuando estas linhas, ele disse ao Le Nouvel Observateur:
"Acho que o pior da crise que vivemos é passado, o
ponto alto da crise em algum sentido. Mas ainda há muito
trabalho a fazer, um trabalho difícil. A Grécia
tem restaurado a sua credibilidade".
Os acontecimentos mais recentes, no entanto, destruíram
tais afirmações. Além disso, com os trabalhadores
fora das ruas e de volta ao trabalho, os estrategistas capitalistas
agora se sentem livres para planejarem novos ataques contra a
população. Uma moratória, em particular,
prepararia o palco para os grandes bancos ditarem cortes maciços
nos salários e gastos sociais diretamente ao governo grego.
Uma pesquisa recente constatou que apenas 34,7% da população
grega apóia as políticas de Papandreou e seu partido
social-democrata, o PASOK. Mesmo este nível baixo de apoio
surge em condições onde 60% da população
espera que a situação financeira da Grécia
vá melhorar. No entanto, Papandreou reiterou recentemente
que suas políticas são decorrentes do aprofundando
das dificuldades, afirmando que as condições "continuarão
a ser dolorosa, porque as restrições, cortes salariais
e medidas econômicas machucam, e toda a população
vai sentir isso nos próximos anos."
Isto realça o papel traidor dos sindicatos, principalmente
da Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos (GSEE)
no sector privado e da Confederação dos Servidores
Públicos (ADEDY) no setor público, ambas lideradas
pelo PASOK. Enquanto organizavam greves para desviar a indignação
pública contra o governo, eles incentivavam a opinião
de que Papandreou poderia ser pressionado a adotar políticas
menos onerosas. O porta-voz da GSEE, Stathis Anestis, disse ao
World Socialist Web Site, "Estamos dispostos a aceitar medidas
duras com a condição de que eles sejam justos".
Ao ir para Wall Street, o principal ponto de venda do governo
grego na tentativa de atrair os investidores é o alinhamento
dos sindicatos atrás de seu programa de austeridade e o
papel dos sindicatos em suprimir a oposição da classe
trabalhadora.
Os grandes bancos pretendem arruinar qualquer país cuja
classe trabalhadora continua a resistir aos cortes, como Jacques
Delpla do Conselho de Análise Econômica da França
explicou no diário de negócios Les Echos.
Ele escreveu: "Para atingir o nível de competitividade
da França, a Espanha deve cortar os custos com trabalho
em 20% e na Grécia em 25%, ou então credores privados
internacionais podem cortar o crédito. Na pior das hipóteses,
a população desses países pode se recusar
a aceitar tal ajuste brutal nos seus padrões de vida e
as reformas radicais associadas. A moratória sobre a dívida
pública e privada seria então inevitável,
junto com a saída desses países da zona do euro.
As conseqüências seriam dramáticas para as populações,
com uma grande recessão (causada pela redução
instantânea de seus orçamento e comércio)
e falência generalizada de seus bancos".
Enquanto a perspectiva pró-governamental dos sindicatos
deixou temporariamente de lado a oposição da classe
operária, as divisões internacionais estão
vindo à tona.
No dia 5 de abril, o Vice-Primeiro Ministro grego, Theodoros
Pangalos, visitou Portugal, que também enfrenta grandes
dívidas. Em uma entrevista com o Jornal de Negócios,
ele atacou a Alemanha por uma "abordagem moral, racial"
em culpar a Grécia pela crise. Ele disse que os alemães
pensam que gregos não trabalham duro o bastante, o que
era "ridículo", dados os "fortes ganhos
de produtividade na indústria e na agricultura grega."
Ele disse ao Jornal de Negócios, "Vocês
são as próximas vítimas... Espero que isso
não aconteça e prevaleça a solidariedade,
e que nós encontraremos uma saída desta escalada
[dos custos de empréstimos]. Mas se isso não acontecer,
a próxima provável vítima será Portugal.
O que aconteceu conosco agora é porque estamos em uma situação
pior, mas poderia também acontecer na Espanha e Portugal."
A decisão de Atenas de pedir dinheiro para Wall Street
representa uma tentativa de contrabalançar a Alemanha com
os EUA. Durante sua viagem a Washington em março, ele elogiou
o discurso de 12 de março de 1947, onde o Presidente dos
EUA, Harry Truman, pediu apóio dos EUA ao governo de direita
grego contra um movimento revolucionário armado dos trabalhadores
e camponeses gregos. O resultado da intervenção
dos EUA na guerra civil grega marcou o início da Guerra
Fria.
Essa alusão à Grécia, como base de lançamento
para a influência dos EUA na Europa é altamente significativa
no atual contexto financeiro e político. Em meio ao acirramento
das tensões internacionais e discussão de uma possível
moratória grega, que implicaria em uma disputa política
entre os credores da Grécia sobre quem seria reembolsado,
Atenas está tentando se proteger através do involvimento
de várias grandes potências. Isso só vai aumentar
a tensão internacional provocada pela crise grega.
(traduzido por movimentonn.org)
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