Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 17 de maio de 2008.
.Mais de um milhão de trabalhadores do setor
público entraram em greve na última quinta-feira
(17.05), e 300.000 saíram às ruas nas principais
cidades da França. Os grevistas protestam contra os planos
do governo de eliminar 11.200 postos de trabalho nas escolas e
cerca de 30.000 nos serviços públicos.
Se os planos do governo forem levados adiante, cerca de 80.000
postos de trabalho serão cortados nas escolas até
2012, o curso de formação de professores (Baccalauréat
Professionnel) de 4 anos será reduzido, e uma qualificação
intermediária-o BEP (Brevet dÉtudes
Professionnelles)-será suprimida para algumas disciplinas.
Em muitos lugares, os estudantes secundaristas lideraram os
protestos, numa culminância de dois meses de mobilizações
contra os ataques do governo à educação.
Entretanto, as duas maiores centrais estudantis dos secundaristas-a
UNL (Union Nationale Lyceéne) e a FIDL (-Federação
Independente e Democrática dos Estudantes Secundaristas)-bloquearam
novas ações neste ano escolar. No entanto, eles
alardearam como uma vitória a oferta do Ministro da Educação,
Xavier Darcos, de 1.500 mal-pagos e destreinados professores-assistentes,
que serão alocados em 200 das escolas com as piores qualificações.
O ministro não realizou qualquer recuo no planejamento
de cortar 11.200 postos de trabalho nas escolas.
Em Paris, cerca de 60.000 marcharam nas ruas; em Marseille
e Rennes, 30.000 em cada; em Toulouse, 15.000. Em Lyon e Bordeaux,
10.000 manifestantes estavam presentes. Em Strasbourg, trabalhadores
do funcionalismo público se mobilizaram para denunciar
o desmantelamento dos serviços públicos. Em Amiens,
3.000 trabalhadores e estudantes marcharam exigindo serviços
públicos de qualidade e maior poder aquisitvo. As
faixas dos estudantes secundaristas denunciavam a desigualdade
na educação.
Um panfleto distribuído pelos trabalhadores da fábrica
local da Goodyear/Dunlop em Amiens-que estão sob ataque
de 402 demissões por não terem aceitado o aumento
da produtividade e a aceleração do rítmo
de trabalho - dizia: O grupo Goodyear/Dunlop demitiu trabalhadores
sem qualquer escrúpulo, ao mesmo tempo em que anunciou
um lucro de 100 milhões de euros no primeiro quadrimestre
de 2008. Só os quatro principais diretores ganharam, eles
próprios, 20 milhões de euros em salários
em 2008.
De acordo com os números do próprio governo (em
geral, cerca de 20% menores que as estimativas dos sindicatos),
ao meio-dia do dia 15 de maio, cerca de 34% dos trabalhadores
das escolas estavam em greve, 27,3% nos demais serviços
públicos, 3% dos trabalhadores governamentais locais e
5,8% dos funcionários hospitalares.
Os trabalhadores dos serviços públicos franceses
somam mais de 2,5 milhões de pessoas, dos quais um milhão
está alocado nos serviços educacionais. Existem
ainda 1,6 milhão nos cargos governamentais locais e um
milhão no serviço hospitalar.
De acordo com o sindicato dos trabalhadores postais - SUD (Solidariedade,
Unidade, Democracia) -10% dos 288.000 trabalhadores do setor entraram
em greve. Também participaram os trabalhadores empregados
na French Telecom e em outros setores da mídia.
Até mesmo o centro de previsões climáticas
entrou em greve, com 23,7% dos trabalhadores em 40 centros cruzando
os braços. Muitos centros estão fechados.
A política dos sindicatos tem sido a de dissipar a ação
dos trabalhadores através de paralisações
dispersas, que duram um dia. Esta política deliberada dos
sindicatos ficou evidente, mais uma vez, nesta greve convocada
para a última quinta, em separado de outra manifestação
marcada para o dia 22 de maio, sobre a questão das pensões.
Sete dos sindicatos de ferroviários estão convocando
os seus membros para protestar contra a intenção
do governo de aumentar o tempo de trabalho necessário para
a aposentadoria de 40 para 41 anos. No entanto, eles não
estiveram presentes nas mobilizações do dia 15 de
maio. Depois da greve que paralisou o país no ano passado,
e da negociação de traição
realizada pelo sindicato, a convocação da greve
para o dia 22 de maio soa, para muitos trabalhadores, como uma
falsidade.
Na noite do dia dos protestos de 15 de maio, o presidente Nicolas
Sarkozy anunciou que dará início a uma legislação
que obrigará os servidores públicos a manter um
percentual mínimo de serviços ativos durante as
greves. Professores teriam que avisar com 48 horas de antecedência
o início de uma greve. Os pais de alunos teriam direito
a exigir das autoridades locais medidas alternativas para as crianças
afetadas pela greve. O sindicado dos professores classificou as
declarações como um ataque ao direito de greve.
Todos os Conselhos Municipais - exceto os que são controlados
pela UMP (União por um Movimento Popular) de Sarkozy -
declararam que se recusariam a cumprir estas exigências
e que não poderiam ser forçados a isso pelo governo
central.
O jornal Ouest-France comentou: Acuado e desestabilizado
em seu próprio campo, em situação difícil
com a opinião pública, Nicolas Sarkozy escolheu
um modo bastante sarkozístico de realizar seu
retorno.
Já La Nouvelle République du Centre-Ouest
escreveu que Sarkozy estava inflamando o movimento de massas:
A boa e velha medição de forças, que
nós pensávamos extinta, assim como o espírito
de maio de 68 está voltando à tona em sua forma
mais clássica: manifestações de massa contra
o governo, e o governo acirrando suas posições.
O dia 22 de maio será um novo episódio de medição
de forças, ainda mais acirrada do que o esperado.
Equipes do WSWS e apoiadores da Internacional Estudantil
pela Igualdade Social-ISSE - distribuíram milhares
de cópias de uma declaração da ISSE dirigida
aos muitos milhares de estudantes secundaristas que saíram
às ruas junto com professores, trabalhadores da saúde
e de outros setores do serviço público. (Veja Defend
public education against Sarkozys cuts! Unite workers and
youth across Europe an internationally!)
Muitos destes entrevistados conheciam o WSWS e se mostraram
seriamente comprometidos com as questões envolvidas na
greve.
Referindo-se ao movimento de massa da juventude em 2005 contra
o CPE -Contrato para o Primeiro Emprego-, o manifestante Lambert
disse: O movimento atual é menor que aquele contra
o CPE, mas hoje há um bom número de pessoas. Os
diferentes setores da classe trabalhadora devem se unir. Contra
a CPE, estávamos unidos, e funcionou. O Primeiro
Ministro, Dominique de Villepin, foi obrigado a revogar o CPE,
mas deixou o resto da legislação repressiva intacta.
Jammie, uma estudante da Universidade de Paris em Tolbiac,
comentou a luta dos estudantes de 2007 contra as leis de Pécresse
[Ministro da Educação]. A legislação
tinha por objetivo restringir o acesso à educação
superior e vinculava as universidades às grandes empresas.
Nós perdemos, ele disse ao WSWS. Nós
fomos dispersados e reprimidos com cacetetes. Havia muita repressão.
A UNEF (União Nacional dos Estudantes Franceses) supostamente
negociava, mas a lei não foi alterada.
Jammie afirmou ainda que o ataque aos direitos mínimos
na França está vinculado ao contexto internacional.
Assim como nas privatizações, Sarkozy está
alinhado com o resto do mundo. Os interesses da classe trabalhadora
e da juventude são os mesmos. Se a classe trabalhadora
está enfraquecida, também está a juventude.
Mais de 50% dos estudantes precisam trabalhar, então seus
interesses estão vinculados.
Jammie continuou: Sarkozy está dando continuidade
à política imperialista da França. Sarkozy
é totalmente favorável aos EUA e a Israel. Quando
ele foi a Dakar, fez declarações em um discurso
dizendo que os africanos viviam em um país atrasado e na
idade das trevas!
Ele declarou que o Partido Socialista não é mais
um partido de esquerda. Não é mais uma alternativa
real ao capitalismo. O futuro é sombrio e sem perspectivas.
A juventude foi reprimida e rotulada e ninguém reagiu.
Então isso significa que agora é aceitável
bater e reprimir na juventude quando ela se revolta.
Tristan, de 16 anos e estudante secundarista na Escola Maurice
Havel em Paris, tinha claro que os cortes da educação
na França são parte de um acontecimento mundial:
O que nós estamos vivendo é um fenômeno
mundial, na Itália, na Espanha, no mundo Anglo-Saxônico.
Nós vamos derrubar este governo - é para isso que
estamos aqui. Todas as seções da classe trabalhadora
vão se unir naturalmente. Vencer esta luta significa derrubar
o governo. Depois disso nós seremos um governo socialista,
comunista. Nós veremos.
Ele denunciou ainda a política externa francesa: É
um escândalo que a França, o país dos direitos
humanos, envie tropas para o Afeganistão e apóie
o Estado de Israel. Nós, jovens, em breve estaremos votando
e mudaremos isto.
Ele apontou que o capitalismo é o problema. A
riqueza é distribuída de forma desigual, não
há igualdade. Nós vamos destruir este mundo e construir
um novo.