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França: um milhão em defesa da educação e dos serviços públicos

Por Antoine Lerougetel e Pierre Mabut
20 de maio de 2008

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 17 de maio de 2008.

.Mais de um milhão de trabalhadores do setor público entraram em greve na última quinta-feira (17.05), e 300.000 saíram às ruas nas principais cidades da França. Os grevistas protestam contra os planos do governo de eliminar 11.200 postos de trabalho nas escolas e cerca de 30.000 nos serviços públicos.

Se os planos do governo forem levados adiante, cerca de 80.000 postos de trabalho serão cortados nas escolas até 2012, o curso de formação de professores (Baccalauréat Professionnel) de 4 anos será reduzido, e uma qualificação intermediária-o BEP (Brevet d’Études Professionnelles)-será suprimida para algumas disciplinas.

Em muitos lugares, os estudantes secundaristas lideraram os protestos, numa culminância de dois meses de mobilizações contra os ataques do governo à educação. Entretanto, as duas maiores centrais estudantis dos secundaristas-a UNL (Union Nationale Lyceéne) e a FIDL (-Federação Independente e Democrática dos Estudantes Secundaristas)-bloquearam novas ações neste ano escolar. No entanto, eles alardearam como uma vitória a oferta do Ministro da Educação, Xavier Darcos, de 1.500 mal-pagos e destreinados professores-assistentes, que serão alocados em 200 das escolas com as piores qualificações. O ministro não realizou qualquer recuo no planejamento de cortar 11.200 postos de trabalho nas escolas.

Em Paris, cerca de 60.000 marcharam nas ruas; em Marseille e Rennes, 30.000 em cada; em Toulouse, 15.000. Em Lyon e Bordeaux, 10.000 manifestantes estavam presentes. Em Strasbourg, trabalhadores do funcionalismo público se mobilizaram para denunciar o desmantelamento dos serviços públicos. Em Amiens, 3.000 trabalhadores e estudantes marcharam exigindo “serviços públicos de qualidade e maior poder aquisitvo”. As faixas dos estudantes secundaristas denunciavam a “desigualdade na educação”.

Um panfleto distribuído pelos trabalhadores da fábrica local da Goodyear/Dunlop em Amiens-que estão sob ataque de 402 demissões por não terem aceitado o aumento da produtividade e a aceleração do rítmo de trabalho - dizia: “O grupo Goodyear/Dunlop demitiu trabalhadores sem qualquer escrúpulo, ao mesmo tempo em que anunciou um lucro de 100 milhões de euros no primeiro quadrimestre de 2008. Só os quatro principais diretores ganharam, eles próprios, 20 milhões de euros em salários em 2008.”

De acordo com os números do próprio governo (em geral, cerca de 20% menores que as estimativas dos sindicatos), ao meio-dia do dia 15 de maio, cerca de 34% dos trabalhadores das escolas estavam em greve, 27,3% nos demais serviços públicos, 3% dos trabalhadores governamentais locais e 5,8% dos funcionários hospitalares.

Os trabalhadores dos serviços públicos franceses somam mais de 2,5 milhões de pessoas, dos quais um milhão está alocado nos serviços educacionais. Existem ainda 1,6 milhão nos cargos governamentais locais e um milhão no serviço hospitalar.

De acordo com o sindicato dos trabalhadores postais - SUD (Solidariedade, Unidade, Democracia) -10% dos 288.000 trabalhadores do setor entraram em greve. Também participaram os trabalhadores empregados na French Telecom e em outros setores da mídia. Até mesmo o centro de previsões climáticas entrou em greve, com 23,7% dos trabalhadores em 40 centros cruzando os braços. Muitos centros estão fechados.

A política dos sindicatos tem sido a de dissipar a ação dos trabalhadores através de paralisações dispersas, que duram um dia. Esta política deliberada dos sindicatos ficou evidente, mais uma vez, nesta greve convocada para a última quinta, em separado de outra manifestação marcada para o dia 22 de maio, sobre a questão das pensões.

Sete dos sindicatos de ferroviários estão convocando os seus membros para protestar contra a intenção do governo de aumentar o tempo de trabalho necessário para a aposentadoria de 40 para 41 anos. No entanto, eles não estiveram presentes nas mobilizações do dia 15 de maio. Depois da greve que paralisou o país no ano passado, e da “negociação” de traição realizada pelo sindicato, a convocação da greve para o dia 22 de maio soa, para muitos trabalhadores, como uma falsidade.

Na noite do dia dos protestos de 15 de maio, o presidente Nicolas Sarkozy anunciou que dará início a uma legislação que obrigará os servidores públicos a manter um percentual mínimo de serviços ativos durante as greves. Professores teriam que avisar com 48 horas de antecedência o início de uma greve. Os pais de alunos teriam direito a exigir das autoridades locais medidas alternativas para as crianças afetadas pela greve. O sindicado dos professores classificou as declarações como um ataque ao direito de greve. Todos os Conselhos Municipais - exceto os que são controlados pela UMP (União por um Movimento Popular) de Sarkozy - declararam que se recusariam a cumprir estas exigências e que não poderiam ser forçados a isso pelo governo central.

O jornal Ouest-France comentou: “Acuado e desestabilizado em seu próprio campo, em situação difícil com a opinião pública, Nicolas Sarkozy escolheu um modo bastante ‘sarkozístico’ de realizar seu retorno.”

La Nouvelle République du Centre-Ouest escreveu que Sarkozy estava inflamando o movimento de massas: “A boa e velha medição de forças, que nós pensávamos extinta, assim como o espírito de maio de 68 está voltando à tona em sua forma mais clássica: manifestações de massa contra o governo, e o governo acirrando suas posições. O dia 22 de maio será um novo episódio de medição de forças, ainda mais acirrada do que o esperado.”

Equipes do WSWS e apoiadores da Internacional Estudantil pela Igualdade Social-ISSE - distribuíram milhares de cópias de uma declaração da ISSE dirigida aos muitos milhares de estudantes secundaristas que saíram às ruas junto com professores, trabalhadores da saúde e de outros setores do serviço público. (Veja “Defend public education against Sarkozy’s cuts! Unite workers and youth across Europe an internationally!”)

Muitos destes entrevistados conheciam o WSWS e se mostraram seriamente comprometidos com as questões envolvidas na greve.

Referindo-se ao movimento de massa da juventude em 2005 contra o CPE -Contrato para o Primeiro Emprego-, o manifestante Lambert disse: “O movimento atual é menor que aquele contra o CPE, mas hoje há um bom número de pessoas. Os diferentes setores da classe trabalhadora devem se unir. Contra a CPE, estávamos unidos, e funcionou.” O Primeiro Ministro, Dominique de Villepin, foi obrigado a revogar o CPE, mas deixou o resto da legislação repressiva intacta.

Jammie, uma estudante da Universidade de Paris em Tolbiac, comentou a luta dos estudantes de 2007 contra as leis de Pécresse [Ministro da Educação]. A legislação tinha por objetivo restringir o acesso à educação superior e vinculava as universidades às grandes empresas. “Nós perdemos,” ele disse ao WSWS. “Nós fomos dispersados e reprimidos com cacetetes. Havia muita repressão. A UNEF (União Nacional dos Estudantes Franceses) supostamente negociava, mas a lei não foi alterada.”

Jammie afirmou ainda que o ataque aos direitos mínimos na França “está vinculado ao contexto internacional. Assim como nas privatizações, Sarkozy está alinhado com o resto do mundo. Os interesses da classe trabalhadora e da juventude são os mesmos. Se a classe trabalhadora está enfraquecida, também está a juventude. Mais de 50% dos estudantes precisam trabalhar, então seus interesses estão vinculados.”

Jammie continuou: “Sarkozy está dando continuidade à política imperialista da França. Sarkozy é totalmente favorável aos EUA e a Israel. Quando ele foi a Dakar, fez declarações em um discurso dizendo que os africanos viviam em um país atrasado e na idade das trevas!”

Ele declarou que o Partido Socialista não é mais um partido de esquerda. “Não é mais uma alternativa real ao capitalismo. O futuro é sombrio e sem perspectivas. A juventude foi reprimida e rotulada e ninguém reagiu. Então isso significa que agora é aceitável bater e reprimir na juventude quando ela se revolta.”

Tristan, de 16 anos e estudante secundarista na Escola Maurice Havel em Paris, tinha claro que os cortes da educação na França são parte de um acontecimento mundial: “O que nós estamos vivendo é um fenômeno mundial, na Itália, na Espanha, no mundo Anglo-Saxônico. Nós vamos derrubar este governo - é para isso que estamos aqui. Todas as seções da classe trabalhadora vão se unir naturalmente. Vencer esta luta significa derrubar o governo. Depois disso nós seremos um governo socialista, comunista. Nós veremos.”

Ele denunciou ainda a política externa francesa: “É um escândalo que a França, o país dos direitos humanos, envie tropas para o Afeganistão e apóie o Estado de Israel. Nós, jovens, em breve estaremos votando e mudaremos isto.”

Ele apontou que “o capitalismo é o problema. A riqueza é distribuída de forma desigual, não há igualdade. Nós vamos destruir este mundo e construir um novo.”