Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 15 de fevereiro de 2007.
Na quarta-feira (14) a Daimler-Chrysler anunciou sua intenção
de eliminar 13.000 empregos, com base em seu último plano
de reestruturação para o grupo norte-americano da
Chrysler. Os cortes terão um impacto devastador em áreas
do país já destruídas pela perda de dezenas
de milhares de empregos em indústrias automobilísticas
e em outros setores.
O plano, apelidado pelos trabalhadores como O Massacre
do Dia dos Namorados, inclui o fechamento de uma fábrica
de componentes que emprega 2.100 trabalhadores em Newark, Delaware,
e uma parte de um centro de distribuição em Cleveland,
Ohio. Centenas de trabalhadores perderão seus empregos
devido ao cancelamento de linhas inteiras de produção
nas fábricas de caminhões em St. Louis e e Warren,
Michigan, e outros cortes atingirão as fábricas
de suprimentos em Detroit, Ontario, no Canadá e em outros
lugares.
Novecentos trabalhadores temporários perderão
seus empregos nos EUA e outros 2.000 no Canadá. Somando-se
a isso, 2.000 trabalhadores assalariados estão sendo eliminados
em ambos os países.
Como conseqüência da redução da produção
da Chryslerredução esta estimada em 400.000
unidades por anose prevê a demissão em fornecedores
domésticos e estrangeiros, revendedores, agências
de aluguel e outros negócios que dependem da companhia.
Ela pretende pressionar seus fornecedores para obter uma economia
de US$ 1,5 bilhões.
O anúncio representa a continuidade de massivos cortes
de empregos realizados pelas gigantes automobilísticas
norte-americanas durante o ano passado. A General Motors e a Ford
eliminaram mais de 70.000 empregos em 2006, contribuindo para
que a liquidação de empregos na indústria
automobilística norte-americana e no setor de auto-peças
chegasse a mais de 150.000 no último ano.
Ao anunciar os cortes, o diretor-executivo da Chrysler, Tom
LaSorda, disse que nós faremos essas reduções,
verdadeiramente, de uma forma socialmente responsável para
nosso povo.
Não há forma socialmente responsável
para destruir centenas de empregos e impor privações
extremas a centenas de famílias e comunidades inteiras
de trabalhadores. De fato, a redução anunciada pela
Chrysler é o último round de uma tentativa
brutal de fazer a classe trabalhadora pagar pela crise da indústria
automobilística norte-americana e do sistema de lucros
como um todo. O grupo norte-americano da Chrysler perdeu US$ 1,5
bilhões no último ano.
Os beneficiários serão os grandes acionistas,
banqueiros e altos executivos, que esperam ter um aumento nos
lucros da companhia e em suas carteiras de investimento pessoal.
Logo após o anúncio, as ações da Daimler-Chrysler
tiveram um sensível aumento em Wall Street e nos mercados
globais.
Os estados do meio-oeste dos EUA, que já enfrentam uma
crise social massiva, sofrerão o impacto desta decisão
da Chrysler. Michiganonde moram 26.000 trabalhadores administrativos
e operários da Chryslerpossui uma taxa não-oficial
de desemprego de 7,1%, sendo o segundo estado norte-americano
com maiores índices de desemprego, perdendo apenas para
o estado destruído pelo Katrina, o Mississippi. O número
de execuções de hipoteca aumentou em 100-200% na
região metropolitana de Detroit. Cerca de 2 milhões
de habitantes de Michigan estão recebendo assistência
alimentícia do governoalém dos 300.000 já
inscritos, mas que ainda não recebem ajuda. Em mais de
40 anos de história do programa federal de alimentação,
este é o mais alto número já registrado no
estado.
Robert, um experiente vendedor que trabalha próximo
à fábrica da Chrysler na região, afirmou
ao World Socialist Web Site: eles dizem que serão
13.000 demissões, mas isso não vai parar por aí.
Isso pode chegar a 16 ou até 20 mil demissões, quando
o impacto da diminuição na produção
for sentido. Os grandes investidores fazem dinheiro logo que as
ações da Chrysler sobem, mas o cara comumalguém
que fez tudo que pediramestá sendo esbofeteado na
cara e pode perder sua casa e ver sua família parar na
rua.
Eles sempre acusam os trabalhadores. Eles afirmam que
os trabalhadores são bem-pagos e preguiçosos,
que eles têm muitos benefícios médicos, que
são os responsáveis pela companhia ir mal. Isso
é mentira! Não somos nós que tomamos as decisões.
Mas os 2.000 funcionários administrativos que estão
sendo demitidos não estão se tornando altos executivos.
Estes sim que estão apenas interessados em construir carros
enormes que consomem muito combustível, porque eles trazem
grandes lucros. E eles terão bônus por isso. Isto
é socialmente inaceitável.
A Chrysler, que escapou da bancarrota em 1979-80 através
de massivos cortes nos salários e benefícios garantidos
pelo Sindicato dos Trabalhadores em Indústrias Automobilísticas
(United Auto Workers unionUAW), e foi comprada pela
montadora alemã Daimler-Benz em 1998, terá agora
menos de 47.000 trabalhadores temporários nos EUA, um número
bem inferior aos 134.000 trabalhadores que ela possuía
há três décadas. Em 2001, na primeira fase
da reestruturação produtiva, a companhia cortou
40.000 empregos e fechou 16 fábricas.
O próximo passo para a Chrysler, que foi por muito tempo
a montadora número três dos EUA, pode ser a liquidação.
Os executivos da Daimler-Chrysler, que anteriormente rebateram
os rumores que eles estavam procurando livrar-se da divisão
dos EUA, que lhes causa prejuízo, anunciaram na quarta-feira
que eles não podem descartar nenhuma opção.
Especula-se que a Chrysler pode ser comprada por uma companhia
concorrente norte-americana ou européia, ou uma companhia
chinesa, ou simplesmente seus ativos serem desmembrados por especuladores,
como o financista bilionário Kirk Kerkorian.
Na quarta-feira (14) o UAW fez uma declaração
despreocupada, deixando claro que não fará nada
para lutar contra a destruição dos empregos de seus
associados. O presidente do UAW, Ron Gettelfinger - que juntamente
com os representantes do sindicato alemão das indústrias
de automóveis participou do Conselho de Supervisão
da Daimler-Chryslerque aprovou o plano de demissões,
afirmou que nós trabalharemos para garantir que os
nossos associados tenham oportunidade de retornar ao trabalho,
assim que o Grupo Chrysler volte a ter lucros.
A burocracia do UAW se preocupa apenas em manter um confortável
relacionamento com os chefes da indústria automobilística
e continuar a coletar a taxa do sindicato, enquanto as companhias
substituem dezenas de milhares de trabalhadores mais antigos e
melhor pagos por uma força de trabalho em quantidade muito
menor e mais brutalmente explorada.
Durante as últimas três décadas, a burocracia
do UAW sabotou todas as lutas contra os fechamentos de fábricas,
demissões e retiradas de benefícios e de salários.
O resultado de sua política corporativista pró-companhia
foi a eliminação de 700.000 empregos de trabalhadores
associados ao UAW nas três grandes montadoras, desde 1979.
O UAW está mais uma vez pedindo o sacrifício
dos trabalhadores para salvar a indústria de
automóveis dos EUA. Atualmente, o sindicato está
negociando concessões na assistência médica
com a Chrysler, concessões similares àquelas garantidas
à General Motors e à Ford no ano passado. Pela primeira
vez, os trabalhadores aposentados e suas famílias foram
obrigados pelo sindicato a assumir parte de suas despesas médicas.
Enquanto isso, o UAW prepara-se para negociar os termos de um
acordo em separado, que oferecerá aos trabalhadores
uma pequena quantia em troca de deixarem a companhia.
Os comentários submissos de dirigentes do UAW foram
repetidos pelo presidente do Sindicato canadense dos Trabalhadores
das Indústrias Automobilísticas, Buzz Hargrove,
que ao invés de acusar os executivos da Chrysler pelos
seus erros, acusou as indústrias de automóveis japonesas,
coreanas e européias, por transferir empregos canadenses.
Nem um único líder democrata, incluindo todos
os pré-candidatos à presidência, fez alguma
denúncia verbal da Chrysler. Garantindo o inquestionável
direito das corporações de demitir milhares
de trabalhadores, a governadora democrata do Michigan, Jennifer
Granholm, disse que a decisão foi desafortunada, mas causada
pelo mercado.
Granholm lamentou que o governo Bush não impôs
nenhuma forma de restrição comercial às companhias
automobilísticas européias e asiáticas, como
tentativa de deixar o território para as companhias
norte-americanas.
Enquanto fingem se preocupar com os trabalhadores demitidos,
os democratas, seguindo os passos da burocracia sindical, fazem
invariavelmente o discurso venenoso do chauvinismo e da xenofobia,
segundo o qual primeiro deve vir os EUA, tentando
afastar os trabalhadores da luta contra o grande capital e colocá-los
contra seus irmãos e irmãs de classe de todo o mundo,
que enfrentam ataques similares das companhias transnacionais.
Trabalhadores da montadora alemã Volkswagen, por exemplo,
enfrentam 20.000 demissões, tendo recentemente ocupado
uma fábrica da Volkswagen na Bélgica na luta pela
defesa de seus empregosuma luta que foi traída pelos
dirigentes dos sindicatos dos trabalhadores das indústrias
de automóveis na Europa.
A indústria automobilística mundial é
um ótimo exemplo do caráter não-planejado
e anárquico do sistema capitalista baseado no lucro, e
de suas devastadoras conseqüências sociais. Enfrentando
uma crise global de superproduçãoexacerbada
pelo surgimento de um novo rival como a Chinatodas companhias
automobilísticas são impelidas a cortar os custos,
impondo ritmos de trabalho mais brutais, transferindo a produção
para áreas de baixos salários, e eliminando dezenas
de milhares de empregos.
A crise da indústria automobilística mundial
foi aprofundada pela estagnação dos mercados na
Europa Ocidental, América do Norte e Japãoque
somam 70% de todos os veículose o fato de que a vasta
maioria da população nos chamados países
em desenvolvimento são muito pobres para sonhar
em ter um carro.
Nos EUA, os trabalhadores estão pagando um alto preço
pela avareza incontrolável da elite corporativa norte-americana,
que, no longo-prazo, acabou sacrificando a saúde de seus
próprios negócios a fim de obter os mais imediatos
e massivos ganhos financeiros para os altos executivos e investidores
de Wall Street.
A sociedade americana inteira está subordinada ao caminho
insano determinado pela busca de uma crescente acumulação
de riqueza por parte de uma elite rica, cujas decisões
socialmente destrutivas afetam as vidas de dezenas de milhões
de trabalhadores. Neste sistema de mercado baseado na propriedade
privada dos meios de produção, no qual os executivos
das corporações exercem poderes ditatoriais no local
de trabalho, os trabalhadores não têm voz e não
têm controle sobre as decisões mais vitais que afetam
suas vidas.
O primeiro passo para proteger os interesses da classe trabalhadora
é instituir o controle democrático sobre todas as
decisões que afetam o trabalho, a segurança, os
salários, os contratos e a jornada. Essas decisões
não devem ser tomadas por alguns ricoscujos interesses
são opostos às necessidades da classe trabalhadoramas
por comitês de trabalhadores do chão da fábrica,
técnicos e especialistas comprometidos com os interesses
da classe trabalhadora. O estabelecimento da democracia operária
requer a abertura dos livros de todas as corporações
para que sejam inspecionados pelos trabalhadores, e a ratificação
da direção da empresa pelo voto democrático
de todos os trabalhadores.
As indústrias de massa, das quais milhões de
trabalhadores e suas famílias dependem, devem deixar de
ser os ativos pessoais da rica elite norte-americana, que tem
feito delas o que bem entender. As últimas três décadas
de decadência industrial, a ruína de Detroit, Cleveland
e outras cidades do cinturão do ferro, e a
criminalidade corporativa na Enron, WorldCom, etc., demonstraram
a incompatibilidade desse sistema com o bem-estar e a saúde
da sociedade como um todo.
Se a indústria automobilística deve garantir
o bem da sociedade, e não o lucro pessoal, ela deve ser
transformada numa propriedade pública. Isso garantirá
não apenas um bom padrão de vida para os trabalhadores
da indústria e suas famílias, mas a produção
de veículos seguros, de alta qualidade e baratos para os
consumidores de todo o mundo. A concentração da
riqueza nos bolsos de 1% dos mais ricos da sociedade norte-americana
deve ser interrompida, e os avanços revolucionários
da tecnologia e da produção integrada globalmente
devem ser postos a serviço das necessidades da sociedade
moderna.
É essencial que os trabalhadores da indústria
automobilística norte-americana rejeitem a bandeira chauvinista
da burocracia do UAW e do partido democrata e juntem-se aos seus
companheiros na Europa, América Latina e Ásia, numa
luta comum para defender seus empregos e os direitos básicos
de todos os trabalhadores.
A luta por esta política socialista e internacionalista
requer o rompimento com o partido democrataum dos dois partidos
da desigualdade social e da guerrae a construção
de um partido socialista de massas da classe trabalhadora. É
com esta tarefa que o Partido da Igualdade Socialista (Socialist
Equality PartySEP) está comprometido.