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Trabalhadores protestam contra as demissões da Ford da Austrália

Por nossos correspondentes
28 Noviembre 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 22 de novembro de 2006.

No início de novembro a Ford da Austrália anunciou seus planos de demitir antes do final do ano 640 trabalhadores permanentes nas plantas Broadmeadows e Geelong, em Victoria. Tanto os sindicatos quanto o governo do Labour Party estão colaborando com a Ford para que não haja resistência às demissões.

Ao invés de organizar uma campanha de defesa dos empregos, os sindicatos estão fazendo de tudo para estimular os trabalhadores a aceitarem as demissões “voluntárias”, atendendo assim os interesses da direção da Ford. O governo Braks tem endossado as demissões, afirmando que a Ford não tem escolha devido à queda das vendas e dos lucros.

O World Socialist Web Site conversou com os trabalhadores na Ford e na área de Broadmeadows—onde o desemprego alcança o índice de 13,4%—a respeito da perda iminente dos empregos. Todos eles estavam profundamente preocupados e revoltados com o impacto que as demissões terão sobre as famílias dos trabalhadores e, principalmente, sobre os jovens.

Um trabalhador que trabalhou na Ford por 18 anos comentou: “eles chamam as demissões de voluntárias, mas eles estão oferecendo dinheiro em suaves prestações e dizendo que não há trabalho para vocês aqui, então vocês devem aceitar o dinheiro. Os sindicatos não fazem nada para impedir isso”.

“Alguns trabalhadores que têm entre 50 e 60 anos de idade não se importam de deixar seus empregos, mas isso será difícil para os trabalhadores jovens. Aliás, as demissões significam que não há trabalho para os jovens na comunidade”.

“Ao lançarem um novo modelo eles readmitem os trabalhadores, mas o número sempre é menor. Isso acontece o tempo todo. Quando as pessoas aprendem o trabalho, há demissões. Então, quando você tem um emprego onde há três homens, eles reduzem para dois. Isso é feito também por meio da contratação de trabalhadores temporários, que são chamados quando as empresas necessitam deles”.

“Tem havido muitas demissões desde que eu comecei a trabalhar aqui. Havia 7.000 trabalhadores e agora há somente 5.000. Em 1995, trabalhava-se em dois turnos na velha planta de pintura, com um total de 1.000 trabalhadores. De lá para cá eles construíram uma nova planta e hoje há somente 200 trabalhadores em cada turno”.

“Se você conversar com qualquer trabalhador da Ford todos lhe dirão que não confiam no sindicato. Todos tiveram experiências com o sindicato e sabem que ele está próximo da empresa. Quando os trabalhadores reivindicam um reajuste salarial ou outra coisa qualquer, a direção da empresa diz que nós temos que aceitar isso porque há milhares de outras pessoas querendo nossos empregos. Eles dizem que nós temos sorte em ter um emprego e que nós deveríamos estar agradecidos. Quando nós exigimos uma posição por parte do sindicato, a direção da entidade nos diz a mesma coisa”.

“A Ford não se preocupa com os trabalhadores. Eles estão no negócio para ter lucro e isso é tudo o que importa para eles. Eles dizem que têm que demitir por causa da redução dos lucros, mas se você somar todo o lucro que eles obtiveram no último ano e nos anos anteriores, eles ainda estão ganhando”.

Leon, outro trabalhador da Ford, afirmou: “eu sinto que não há mais segurança na indústria de automóveis. Ela parece o Titanic—está afundando ao navegar num mar agitado. Inicialmente fomos demitidos da Ford e agora foram mais 200 na General Motors. Logo mais iniciarão as demissões nas autopeças”.

“Eu não tenho mais segurança a respeito do nosso futuro. Certamente, a Ford disse que lançará um novo modelo dentro de um ano e meio. Isso faz com que muitos trabalhadores de Ford pensem que seus empregos estão seguros até então e talvez além deste prazo. Mas, na realidade, isso não garante coisa alguma. O mercado muda e talvez eles não consigam vender o novo modelo”.

“Há coisas realmente terríveis acontecendo na indústria de automóveis. Na Ford eles têm trabalhadores temporários a sua disposição, que eles chamam quando eles precisam. Eles contratam estes trabalhadores por três meses ou menos, e então quando a empresa não precisa mais ela se livra deles. Isso é horrível. Eles não dão aos trabalhadores nem o tempo mínimo para se estruturar. Estes são empregos que não tem o menor sentido. Não há segurança para estes trabalhadores. Pelo fato deles serem temporários eles não podem fazer um empréstimo da casa própria e nem mesmo de um carro”, conclui Leon.

Moetu Orangi, uma trabalhadora que veio da Nova Zelândia e que agora vive em Broadmeadows, afirmou que ela está “frustrada e revoltada” com as demissões da Ford.

“Elas vêm justamente no Natal. Isso é muito triste para todas estas famílias. O sindicato deveria fazer alguma coisa a este respeito e não somente dizer para os trabalhadores aceitar isso. Muitos destes operários não conseguirão um emprego permanente de novo e terminarão como eu, uma trabalhadora temporária”.

“Eu vivi na Austrália quase três anos. Eu tinha um emprego permanente. Eu trabalhei numa empresa de auto-peças, mas eu fui demitida quando eles transferiram a empresa para outro lugar. Tanto os empregos permanentes quanto os temporários desapareceram. Agora eu não consigo encontrar um emprego permanente. Não é fácil ser um trabalhador temporário, especialmente quando você tem uma família para sustentar, como é o meu caso”.

“Agora você não é mais contratado diretamente pela empresa, mas deve procurar as agências de emprego. Você encontra uma oferta no jornal, telefona e descobre que é uma agência. Eles enviam você para onde eles quiserem. Se você não assume o trabalho que eles lhe ofereceram, não interessa o que seja, então, eles nunca mais lhe oferecerão alguma coisa”.

“Para conseguir qualquer tipo de emprego você deve caçá-lo. Você tem que saber como trabalhar com as agências. É muito estressante procurar um emprego desta maneira e também trabalhar nas condições existentes nas empresas para onde você é enviado”.

“Isso é estressante porque os trabalhadores permanentes pensam que você está tentando tirar o emprego deles e eles ficam com medo. Os empresários se utilizam disso contra eles. É horrível trabalhar nesse ambiente”.

“Você pode estar numa empresa há três meses e pensar que está se estabilizando. Então eles simplesmente dizem para você ir embora porque, caso você ficar mais de três meses, eles terão que torná-lo um trabalhador permanente. Você não pode fazer nada a respeito disso porque você é um temporário e os sindicatos não farão nada por você. Mesmo para os trabalhadores permanentes eles não fazem muito. Quando eles saem de uma assembléia, você ouve eles dizendo coisas como, “isso foi uma perda de tempo”, ou “isso é uma grande bobagem”.

Moetu disse que ela está preocupada a respeito das novas leis de relações industriais do governo Howard, que abole as condições do trabalho permanente, impõem injustiças em relação às demissões e a perda de outros direitos básicos. “Estas leis piorarão ainda mais a situação. Eu não acho que os sindicatos farão alguma coisa a este respeito. Eles se manifestarão, mas não farão realmente nada mais do que isso”.