Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 22 de novembro de 2006.
No início de novembro a Ford da Austrália anunciou
seus planos de demitir antes do final do ano 640 trabalhadores
permanentes nas plantas Broadmeadows e Geelong, em Victoria. Tanto
os sindicatos quanto o governo do Labour Party estão
colaborando com a Ford para que não haja resistência
às demissões.
Ao invés de organizar uma campanha de defesa dos empregos,
os sindicatos estão fazendo de tudo para estimular os trabalhadores
a aceitarem as demissões voluntárias,
atendendo assim os interesses da direção da Ford.
O governo Braks tem endossadoas demissões,
afirmando que a Ford não tem escolha devido à queda
das vendas e dos lucros.
O World Socialist Web Site conversou com os trabalhadores
na Ford e na área de Broadmeadowsonde o desemprego
alcança o índice de 13,4%a respeito da perda
iminente dos empregos. Todos eles estavam profundamente preocupados
e revoltados com o impacto que as demissões terão
sobre as famílias dos trabalhadores e, principalmente,
sobre os jovens.
Um trabalhador que trabalhou na Ford por 18 anos comentou:
eles chamam as demissões de voluntárias, mas
eles estão oferecendo dinheiro em suaves prestações
e dizendo que não há trabalho para vocês aqui,
então vocês devem aceitar o dinheiro. Os sindicatos
não fazem nada para impedir isso.
Alguns trabalhadores que têm entre 50 e 60 anos
de idade não se importam de deixar seus empregos, mas isso
será difícil para os trabalhadores jovens. Aliás,
as demissões significam que não há trabalho
para os jovens na comunidade.
Ao lançarem um novo modelo eles readmitem os trabalhadores,
mas o número sempre é menor. Isso acontece o tempo
todo. Quando as pessoas aprendem o trabalho, há demissões.
Então, quando você tem um emprego onde há
três homens, eles reduzem para dois. Isso é feito
também por meio da contratação de trabalhadores
temporários, que são chamados quando as empresas
necessitam deles.
Tem havido muitas demissões desde que eu comecei
a trabalhar aqui. Havia 7.000 trabalhadores e agora há
somente 5.000. Em 1995, trabalhava-se em dois turnos na velha
planta de pintura, com um total de 1.000 trabalhadores. De lá
para cá eles construíram uma nova planta e hoje
há somente 200 trabalhadores em cada turno.
Se você conversar com qualquer trabalhador da Ford
todos lhe dirão que não confiam no sindicato. Todos
tiveram experiências com o sindicato e sabem que ele está
próximo da empresa. Quando os trabalhadores reivindicam
um reajuste salarial ou outra coisa qualquer, a direção
da empresa diz que nós temos que aceitar isso porque há
milhares de outras pessoas querendo nossos empregos. Eles dizem
que nós temos sorte em ter um emprego e que nós
deveríamos estar agradecidos. Quando nós exigimos
uma posição por parte do sindicato, a direção
da entidade nos diz a mesma coisa.
A Ford não se preocupa com os trabalhadores. Eles
estão no negócio para ter lucro e isso é
tudo o que importa para eles. Eles dizem que têm que demitir
por causa da redução dos lucros, mas se você
somar todo o lucro que eles obtiveram no último ano e nos
anos anteriores, eles ainda estão ganhando.
Leon, outro trabalhador da Ford, afirmou: eu sinto que
não há mais segurança na indústria
de automóveis. Ela parece o Titanicestá afundando
ao navegar num mar agitado. Inicialmente fomos demitidos da Ford
e agora foram mais 200 na General Motors. Logo mais iniciarão
as demissões nas autopeças.
Eu não tenho mais segurança a respeito
do nosso futuro. Certamente, a Ford disse que lançará
um novo modelo dentro de um ano e meio. Isso faz com que muitos
trabalhadores de Ford pensem que seus empregos estão seguros
até então e talvez além deste prazo. Mas,
na realidade, isso não garante coisa alguma. O mercado
muda e talvez eles não consigam vender o novo modelo.
Há coisas realmente terríveis acontecendo
na indústria de automóveis. Na Ford eles têm
trabalhadores temporários a sua disposição,
que eles chamam quando eles precisam. Eles contratam estes trabalhadores
por três meses ou menos, e então quando a empresa
não precisa mais ela se livra deles. Isso é horrível.
Eles não dão aos trabalhadores nem o tempo mínimo
para se estruturar. Estes são empregos que não tem
o menor sentido. Não há segurança para estes
trabalhadores. Pelo fato deles serem temporários eles não
podem fazer um empréstimo da casa própria e nem
mesmo de um carro, conclui Leon.
Moetu Orangi, uma trabalhadora que veio da Nova Zelândia
e que agora vive em Broadmeadows, afirmou que ela está
frustrada e revoltada com as demissões da Ford.
Elas vêm justamente no Natal. Isso é muito
triste para todas estas famílias. O sindicato deveria fazer
alguma coisa a este respeito e não somente dizer para os
trabalhadores aceitar isso. Muitos destes operários não
conseguirão um emprego permanente de novo e terminarão
como eu, uma trabalhadora temporária.
Eu vivi na Austrália quase três anos. Eu
tinha um emprego permanente. Eu trabalhei numa empresa de auto-peças,
mas eu fui demitida quando eles transferiram a empresa para outro
lugar. Tanto os empregos permanentes quanto os temporários
desapareceram. Agora eu não consigo encontrar um emprego
permanente. Não é fácil ser um trabalhador
temporário, especialmente quando você tem uma família
para sustentar, como é o meu caso.
Agora você não é mais contratado
diretamente pela empresa, mas deve procurar as agências
de emprego. Você encontra uma oferta no jornal, telefona
e descobre que é uma agência. Eles enviam você
para onde eles quiserem. Se você não assume o trabalho
que eles lhe ofereceram, não interessa o que seja, então,
eles nunca mais lhe oferecerão alguma coisa.
Para conseguir qualquer tipo de emprego você deve
caçá-lo. Você tem que saber como trabalhar
com as agências. É muito estressante procurar um
emprego desta maneira e também trabalhar nas condições
existentes nas empresas para onde você é enviado.
Isso é estressante porque os trabalhadores permanentes
pensam que você está tentando tirar o emprego deles
e eles ficam com medo. Os empresários se utilizam disso
contra eles. É horrível trabalhar nesse ambiente.
Você pode estar numa empresa há três
meses e pensar que está se estabilizando. Então
eles simplesmente dizem para você ir embora porque, caso
você ficar mais de três meses, eles terão que
torná-lo um trabalhador permanente. Você não
pode fazer nada a respeito disso porque você é um
temporário e os sindicatos não farão nada
por você. Mesmo para os trabalhadores permanentes eles não
fazem muito. Quando eles saem de uma assembléia, você
ouve eles dizendo coisas como, isso foi uma perda de tempo,
ou isso é uma grande bobagem.
Moetu disse que ela está preocupada a respeito das novas
leis de relações industriais do governo Howard,
que abole as condições do trabalho permanente, impõem
injustiças em relação às demissões
e a perda de outros direitos básicos. Estas leis
piorarão ainda mais a situação. Eu não
acho que os sindicatos farão alguma coisa a este respeito.
Eles se manifestarão, mas não farão realmente
nada mais do que isso.