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20.000 pessoas de manifestam contra o fechamento da fábrica da Volkswagen em Bruxelas

Por nossos correspondentes
13 Dezembro 2006

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 06 de dezembro de 2006.

Mais de vinte mil trabalhadores se manifestaram no sábado (02/12) pelo centro de Bruxelas (Bélgica), para protestar contra as ameaças de fechamento da fábrica da Volkswagen, no distrito de Forest. Aproximadamente 5.000 funcionários da Volks chegaram, em bloco, da fábrica pela estação Sul, onde se uniram aos seus familiares, trabalhadores de outras fábricas, funcionários administrativos, jovens e desempregados. Várias nacionalidades foram representadas, sendo que a maioria veio de Bruxelas e das cidades belgas circunvizinhas.

Delegações de outras empresas belgas que também estavam ameaçadas de demissão, como a Kraft Food, protestaram com cartazes próprios contra a destruição dos empregos. Outras bandeiras incluíam grandes caricaturas com alusões ao escândalo sexual do integrante do comitê de fábrica Klaus Volkert: somente em 2002 ele recebeu quase 700.000 euros, além do pagamento das despesas com sua amante no Brasil.

Havia pouca propaganda política na manifestação. Nos cartazes e faixas havia somente “solidariedade aos trabalhadores, contendo os nomes de diversos sindicatos. Os trabalhadores da fábrica carregaram um chassis de carro quebrado num caixão de defunto. Aposentados da Volkswagen levaram um cartaz, produzido por eles próprios, dizendo: “os aposentados apóiam vocês—com a raiva no coração”.

Enquanto era evidente a raiva, a revolta e a inquietação dos manifestantes, a burocracia sindical utilizou o protesto para tentar aumentar a sua credibilidade e transformar a manifestação em algo inofensivo. Os sindicalistas chamaram uma “manifestação internacional” conclamaram os trabalhadores da Volks de todos os lugares da Europa se unirem contra a destruição dos empregos e contra a transferência da linha de produção. “Nós não deixaremos que nenhuma unidade fabril da Volks seja jogada uma contra a outra”, disse o dirigente do sindicato dos metalúrgicos da Alemanha (IG Metall) em seu discurso.

Na verdade, para tirar a produção do modelo Golf de Bruxelas e transferi-la para a matriz, em Wolfsburg, o sindicato dos metalúrgicos da Alemanha e o comitê de fábrica da Volkswagen fizeram um acordo para o prolongamento da jornada de trabalho sem reajuste dos salários.

Os sindicatos foram extremamente negligentes, evitando a organização de uma manifestação real. Apenas alguns poucos trabalhadores de outras plantas da Volks compareceram à manifestação. As “delegações de solidariedade” constituíram-se, principalmente, de dirigentes sindicais, que haviam recebido ordens na última hora para dirigirem-se a Bruxelas—a maior parte deles em seus próprios carros. Da maior fábrica da Volks, em Wolfsburg, com um quadro de 50.000 trabalhadores, veio apenas um ônibus com representantes do sindicato e alguns trabalhadores.

A manifestação teve um caráter de verdadeiro show quando cinco sindicalistas subiram ao palco em nome da “solidariedade internacional”. A grande massa dos trabalhadores da Volks em toda a Europa, até agora, não foi de maneira nenhuma mobilizada pelo sindicato dos metalúrgicos para defender os postos de trabalho na Bélgica. A secretária geral da FGTB (Federação Geral dos Trabalhadores da Bélgica), Anne Demelenne, gritou, sob aplausos: “Colegas, nós precisamos agora transformar nossa raiva e revolta em energia e determinação. A luta começa agora. Esta é uma luta pelo trabalho”. Na verdade, esta afirmação é completamente hipócrita, pois os sindicatos já aceitaram a transferência da produção do Golf para fora de Bruxelas.

Atualmente, a Volkswagen negocia a fabricação do modelo Audi A1, que deverá ser produzido a partir de 2009, e do Audi A3, que será produzido a partir do próximo ano, em Bruxelas. Isto trará desastrosas conseqüências para os trabalhadores da Volks da Espanha e de Portugal. Mas a direção da empresa está seguindo a risca o seu plano de produzir o Golf nas plantas alemãs. Estima-se que para cada mil trabalhadores que trabalhavam meio expediente na montagem do antigo modelo, em Forest, outros mil perderão seus empregos.

“Nós precisamos salvar tantos postos de trabalho quanto forem possíveis”, afirmou uma dirigente da FGTB durante a manifestação. Esta foi uma clara demonstração de que as direções dos sindicatos se negam a levar a cabo uma luta principista contra as demissões. Isso para não falar de que os mesmos sindicatos não se propõem a lutar pela criação de novos postos de trabalho a fim de resolver o problema dos altos níveis de desemprego entre os jovens belgas.

Integrantes do World Socialist Web Site distribuíram um panfleto (em francês e alemão) propondo a criação de comitês de defesa independentes dos comitês de fábrica e dos sindicatos, e reafirmou que a defesa principista de todos os empregos em todos os lugares somente é possível por meio de uma perspectiva socialista e internacionalista.

Muitos trabalhadores que leram o manifesto concordaram com as propostas. Muitos disseram que a organização de comitês internacionais de defesa, independentes do aparelho burocrático, seria uma boa idéia. Ao mesmo tempo, eles queriam saber como tais comitês poderiam ser organizados. A maioria manifestou a opinião de que os sindicatos, com a globalização, não poderiam sustentar-se. Aqui reproduzimos alguns depoimentos de trabalhadores:

J. M. Waroquier: “eu sou um trabalhador da fábrica da Volkswagen em Forest. Eu trabalho na parte de lâminas: ali 99% de nós estamos certos de que vamos perder nossos empregos. Há duas semanas, nós soubemos pela primeira vez que uma espécie de catástrofe estaria vindo a nosso encontro. Nós esperávamos que os sindicatos fizessem alguma coisa. Para nós é difícil julgar de forma objetiva o que eles propriamente fazem, pois isto é sempre tudo muito secreto”.

Sobre a questão de uma luta internacional dos trabalhadores, Waroquier afirmou: “eu penso que seria genial, mas infelizmente isto é um pouco utópico. Nós já vimos o quanto é difícil na Bélgica reunir wallonenses e flamengos. Então, eu tenho dúvidas se isto é possível a nível mundial. Se isso fosse possível, seria fantástico, pois os trabalhadores têm, em todos os lugares, os mesmos problemas”.

Lucien é professor numa escola pública estadual: “eu penso que a ação precisa continuar; isto precisa se propagar. Só que a esta altura a gente não pode contar com os dirigentes sindicais. No mínimo seria necessário mobilizar o país inteiro, mas o melhor seria uma solidariedade européia e mundial”. Em relação à guerra no Iraque, ele comentou que “o sistema capitalista como um todo deve ser posto em questão. Para isso, falta no momento a célebre vanguarda: o partido dos trabalhadores”.

Najar trabalha há 20 anos na Philips belga e viajou com uma delegação da empresa: “eu trabalho numa seção igual à dos trabalhadores da Volkswagen. Nós viemos para cá para prestar solidariedade aos trabalhadores da Volks, que perderão seus empregos. Eu conheço muitas pessoas que trabalham na Volks. Além disso, nós apoiamos uma Europa social, que coloque como ponto central os interesses dos indivíduos. Realmente, basta ver agora, com o deslocamento dos postos de trabalho, que as pessoas serão eliminadas e famílias inteiras serão jogadas na rua. Isto tudo acontece somente por causa da ganância. Nós estamos insatisfeitos com o governo, que deixa tudo isto acontecer. Ele não oferece nenhuma proteção contra as multinacionais e empresários, etc”.

Ulric: “eu não trabalho na indústria automobilística, ao contrário. Eu trabalho por uma alternativa ecológica, a bicicleta. Mas isto não me impede de estar aqui para expressar meu apoio por uma Europa social e por investimentos, para com isto garantir empregos aqui, para nós, mas também num plano internacional. O que acontece aqui hoje é conseqüência da falta de atenção dada no passado às conseqüências da globalização sobre a economia e o que ela significa de concreto hoje, não somente para nós, mas também para diferentes países, como a Índia, a China ou a África”.

Sobre a questão dos sindicatos, ele diz: “eu penso que os sindicatos não prevêem suficientemente as coisas. Por isso, nós precisamos de uma reorganização. O papel dos sindicatos é, historicamente, muito importante. Eu sei que hoje também usufruo do resultado da luta de outras pessoas que viveram antes de mim. Mas os sindicatos não pensam de forma global. Um exemplo é a questão ambiental, que é muito importante para o futuro. Isto diz respeito a nós e ao mundo todo”.

Adil P. é sudanês e vive há dez anos como um clandestino na Bélgica: “eu vim com meus camaradas para apoiar os trabalhadores da Volkswagen. Eu não tenho documentos—e já faz dez anos—e sofro tanto quanto eles. Por isso eu estou aqui. Eu quero apoiá-los para que possamos ter, no futuro, um trabalho e uma vida digna. Nós gostaríamos que o governo mudasse sua política para que todos pudéssemos ter emprego e boas condições para viver. Toda a Europa deve lutar por isto pois, na verdade, essa coisa toda é um grande problema. Viver sem trabalho é tão difícil quanto viver como clandestino; é a mesma coisa”.

Kristof van Baarle fez uma pesquisa para a Universidade de Antuérpia: “obviamente eu sou solidário às pessoas que perderão os empregos aqui. Eu acho que foi muito bom organizar esta manifestação e ela confirmou aqui a minha pesquisa de que muitas pessoas que não trabalham na Volkswagen estão se solidarizando aos trabalhadores da empresa, e isto é muito importantes”.

Joseph Dammico trabalha para o grupo belga Kraft Food, cujo setor de café será transferido de Lüttich para a França e para Berlim:

“Nossos postos de trabalho também estão sendo fechados. Eles serão transferidos para Lavérune e para Berlim. Nós estamos na mesma situação dos trabalhadores da Volkswagen em Forest. Trata-se de uma transferência de local, embora para a empresa signifique mais lucros. Os sindicatos foram atropelados pela globalização, pois as empresas transnacionais dão o tom. A única preocupação é com os lucros, e isto é lamentável. Por isso, é necessária uma mobilização das bases. Devemos tentar incentivar os sindicatos para que eles pressionem os patrões a cumprirem suas obrigações. Esta situação já perdura há muito tempo, desde que existem a Europa, os patrões e as empresas. Se nós não lutarmos por uma Europa social, seremos conduzidos para uma catástrofe. É necessário que os trabalhadores se organizem e que haja um plano de ação comum, pois em toda a Europa a situação é igual. Esta é a única solução”.