Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 06 de dezembro de 2006.
Mais de vinte mil trabalhadores se manifestaram no sábado
(02/12) pelo centro de Bruxelas (Bélgica), para protestar
contra as ameaças de fechamento da fábrica da Volkswagen,
no distrito de Forest. Aproximadamente 5.000 funcionários
da Volks chegaram, em bloco, da fábrica pela estação
Sul, onde se uniram aos seus familiares, trabalhadores de outras
fábricas, funcionários administrativos, jovens e
desempregados. Várias nacionalidades foram representadas,
sendo que a maioria veio de Bruxelas e das cidades belgas circunvizinhas.
Delegações de outras empresas belgas que também
estavam ameaçadas de demissão, como a Kraft Food,
protestaram com cartazes próprios contra a destruição
dos empregos. Outras bandeiras incluíam grandes caricaturas
com alusões ao escândalo sexual do integrante do
comitê de fábrica Klaus Volkert: somente em 2002
ele recebeu quase 700.000 euros, além do pagamento das
despesas com sua amante no Brasil.
Havia pouca propaganda política na manifestação.
Nos cartazes e faixas havia somente solidariedade aos trabalhadores,
contendo os nomes de diversos sindicatos. Os trabalhadores da
fábrica carregaram um chassis de carro quebrado num caixão
de defunto. Aposentados da Volkswagen levaram um cartaz, produzido
por eles próprios, dizendo: os aposentados apóiam
vocêscom a raiva no coração.
Enquanto era evidente a raiva, a revolta e a inquietação
dos manifestantes, a burocracia sindical utilizou o protesto para
tentar aumentar a sua credibilidade e transformar a manifestação
em algo inofensivo. Os sindicalistas chamaram uma manifestação
internacional conclamaram os trabalhadores da Volks de todos
os lugares da Europa se unirem contra a destruição
dos empregos e contra a transferência da linha de produção.
Nós não deixaremos que nenhuma unidade
fabril da Volks seja jogada uma contra a outra, disse
o dirigente do sindicato dos metalúrgicos da Alemanha (IG
Metall) em seu discurso.
Na verdade, para tirar a produção do modelo Golf
de Bruxelas e transferi-la para a matriz, em Wolfsburg, o sindicato
dos metalúrgicos da Alemanha e o comitê de fábrica
da Volkswagen fizeram um acordo para o prolongamento da jornada
de trabalho sem reajuste dos salários.
Os sindicatos foram extremamente negligentes, evitando a organização
de uma manifestação real. Apenas alguns poucos trabalhadores
de outras plantas da Volks compareceram à manifestação.
As delegações de solidariedade constituíram-se,
principalmente, de dirigentes sindicais, que haviam recebido ordens
na última hora para dirigirem-se a Bruxelasa maior
parte deles em seus próprios carros. Da maior fábrica
da Volks, em Wolfsburg, com um quadro de 50.000 trabalhadores,
veio apenas um ônibus com representantes do sindicato e
alguns trabalhadores.
A manifestação teve um caráter de verdadeiro
show quando cinco sindicalistas subiram ao palco em nome da solidariedade
internacional. A grande massa dos trabalhadores da Volks
em toda a Europa, até agora, não foi de maneira
nenhuma mobilizada pelo sindicato dos metalúrgicos para
defender os postos de trabalho na Bélgica. A secretária
geral da FGTB (Federação Geral dos Trabalhadores
da Bélgica), Anne Demelenne, gritou, sob aplausos: Colegas,
nós precisamos agora transformar nossa raiva e revolta
em energia e determinação. A luta começa
agora. Esta é uma luta pelo trabalho. Na verdade,
esta afirmação é completamente hipócrita,
pois os sindicatos já aceitaram a transferência da
produção do Golf para fora de Bruxelas.
Atualmente, a Volkswagen negocia a fabricação
do modelo Audi A1, que deverá ser produzido a partir de
2009, e do Audi A3, que será produzido a partir do próximo
ano, em Bruxelas. Isto trará desastrosas conseqüências
para os trabalhadores da Volks da Espanha e de Portugal. Mas a
direção da empresa está seguindo a risca
o seu plano de produzir o Golf nas plantas alemãs. Estima-se
que para cada mil trabalhadores que trabalhavam meio expediente
na montagem do antigo modelo, em Forest, outros mil perderão
seus empregos.
Nós precisamos salvar tantos postos de trabalho
quanto forem possíveis, afirmou uma dirigente
da FGTB durante a manifestação. Esta foi uma clara
demonstração de que as direções dos
sindicatos se negam a levar a cabo uma luta principista contra
as demissões. Isso para não falar de que os mesmos
sindicatos não se propõem a lutar pela criação
de novos postos de trabalho a fim de resolver o problema dos altos
níveis de desemprego entre os jovens belgas.
Integrantes do World Socialist Web Site distribuíram
um panfleto (em francês e alemão) propondo a criação
de comitês de defesa independentes dos comitês de
fábrica e dos sindicatos, e reafirmou que a defesa principista
de todos os empregos em todos os lugares somente é possível
por meio de uma perspectiva socialista e internacionalista.
Muitos trabalhadores que leram o manifesto concordaram com
as propostas. Muitos disseram que a organização
de comitês internacionais de defesa, independentes do aparelho
burocrático, seria uma boa idéia. Ao mesmo tempo,
eles queriam saber como tais comitês poderiam ser organizados.
A maioria manifestou a opinião de que os sindicatos, com
a globalização, não poderiam sustentar-se.
Aqui reproduzimos alguns depoimentos de trabalhadores:
J. M. Waroquier: eu
sou um trabalhador da fábrica da Volkswagen em Forest.
Eu trabalho na parte de lâminas: ali 99% de nós estamos
certos de que vamos perder nossos empregos. Há duas semanas,
nós soubemos pela primeira vez que uma espécie de
catástrofe estaria vindo a nosso encontro. Nós esperávamos
que os sindicatos fizessem alguma coisa. Para nós é
difícil julgar de forma objetiva o que eles propriamente
fazem, pois isto é sempre tudo muito secreto.
Sobre a questão de uma luta internacional dos trabalhadores,
Waroquier afirmou: eu penso que seria genial, mas infelizmente
isto é um pouco utópico. Nós já vimos
o quanto é difícil na Bélgica reunir wallonenses
e flamengos. Então, eu tenho dúvidas se isto é
possível a nível mundial. Se isso fosse possível,
seria fantástico, pois os trabalhadores têm, em todos
os lugares, os mesmos problemas.
Lucien é professor numa escola pública
estadual: eu penso que a ação precisa continuar;
isto precisa se propagar. Só que a esta altura a gente
não pode contar com os dirigentes sindicais. No mínimo
seria necessário mobilizar o país inteiro, mas o
melhor seria uma solidariedade européia e mundial.
Em relação à guerra no Iraque, ele comentou
que o sistema capitalista como um todo deve ser posto
em questão. Para isso, falta no momento a célebre
vanguarda: o partido dos trabalhadores.
Najar trabalha há
20 anos na Philips belga e viajou com uma delegação
da empresa: eu trabalho numa seção igual
à dos trabalhadores da Volkswagen. Nós viemos para
cá para prestar solidariedade aos trabalhadores da Volks,
que perderão seus empregos. Eu conheço muitas pessoas
que trabalham na Volks. Além disso, nós apoiamos
uma Europa social, que coloque como ponto central os interesses
dos indivíduos. Realmente, basta ver agora, com o deslocamento
dos postos de trabalho, que as pessoas serão eliminadas
e famílias inteiras serão jogadas na rua. Isto tudo
acontece somente por causa da ganância. Nós estamos
insatisfeitos com o governo, que deixa tudo isto acontecer. Ele
não oferecenenhuma proteção contra
as multinacionais e empresários, etc.
Ulric:eu não trabalho na
indústria automobilística, ao contrário.
Eu trabalho por uma alternativa ecológica, a bicicleta.
Mas isto não me impede de estar aqui para expressar meu
apoio por uma Europa social e por investimentos, para com isto
garantir empregos aqui, para nós, mas também num
plano internacional. O que acontece aqui hoje é conseqüência
da falta de atenção dada no passado às conseqüências
da globalização sobre a economia e o que ela significa
de concreto hoje, não somente para nós, mas também
para diferentes países, como a Índia, a China ou
a África.
Sobre a questão dos sindicatos, ele diz: eu
penso que os sindicatos não prevêem suficientemente
as coisas. Por isso, nós precisamos de uma reorganização.
O papel dos sindicatos é, historicamente, muito importante.
Eu sei que hoje também usufruo do resultado da luta de
outras pessoas que viveram antes de mim. Mas os sindicatos não
pensam de forma global. Um exemplo é a questão ambiental,
que é muito importante para o futuro. Isto diz respeito
a nós e ao mundo todo.
Adil P. é sudanês e vive há
dez anos como um clandestino na Bélgica: eu vim
com meus camaradas para apoiar os trabalhadores da Volkswagen.
Eu não tenho documentose já faz dez anose
sofro tanto quanto eles. Por isso eu estou aqui. Eu quero apoiá-los
para que possamos ter, no futuro, um trabalho e uma vida digna.
Nós gostaríamos que o governo mudasse sua política
para que todos pudéssemos ter emprego e boas condições
para viver. Toda a Europa deve lutar por isto pois, na verdade,
essa coisa toda é um grande problema. Viver sem trabalho
é tão difícil quanto viver como clandestino;
é a mesma coisa.
Kristof van Baarle fez uma pesquisa para a
Universidade de Antuérpia: obviamente eu sou solidário
às pessoas que perderão os empregos aqui. Eu acho
que foi muito bom organizar esta manifestação e
ela confirmou aqui a minha pesquisa de que muitas pessoas que
não trabalham na Volkswagen estão se solidarizando
aos trabalhadores da empresa, e isto é muito importantes.
Joseph Dammico trabalha
para o grupo belga Kraft Food, cujo setor de café será
transferido de Lüttich para a França e para Berlim:
Nossos postos de trabalho também estão
sendo fechados. Eles serão transferidos para Lavérune
e para Berlim. Nós estamos na mesma situação
dos trabalhadores da Volkswagen em Forest. Trata-se de uma transferência
de local, embora para a empresa signifique mais lucros. Os sindicatos
foram atropelados pela globalização, pois as empresas
transnacionais dão o tom. A única preocupação
é com os lucros, e isto é lamentável. Por
isso, é necessária uma mobilização
das bases. Devemos tentar incentivar os sindicatos para que eles
pressionem os patrões a cumprirem suas obrigações.
Esta situação já perdura há muito
tempo, desde que existem a Europa, os patrões e as empresas.
Se nós não lutarmos por uma Europa social, seremos
conduzidos para uma catástrofe. É necessário
que os trabalhadores se organizem e que haja um plano de ação
comum, pois em toda a Europa a situação é
igual. Esta é a única solução.