Após tantos anos
de carreira, Steve Hackett poderia simplesmente descansar e aposentar com a
consciência tranquila em relação a sua contribuição musical para os séculos XX
e XXI, deixando pra trás um legado musical que começou dentro do rock
progressivo com o Genesis e depois seguiu por outros infinitos caminhos sempre
trilhados de maneira brilhante. Mas ele está longe de querer fazer isso, muito
pelo contrário, continua a ser um dos mais produtivos músicos entre todos os
que apareceram para o mundo através dos anos 70. Sendo assim, seis dias antes
de completar dois anos desde o lançamento do seu último disco, Wolflight de
2015, o guitarrista reaparece em 2017 e com novidade, The Night Siren.
Gravado em
diferentes países com a colaboração de músicos de todo o mundo e fazendo uso de
vários instrumentos nem sempre convencionais em sua música como sitar, tabla e
gaita, com certeza é um disco de rock progressivo de um guitarrista de world
music. Nota-se bastante influência dos seus últimos trabalhos, assim como o seu
amor pela música clássica e pela guitarra flamenca. Um disco que abrange
incontáveis atmosferas da música cinematográfica, oriental, baladas entre
outras. Outro fator importante é o título do disco que é um uma espécie de
aviso dos tempos sombrios para os quais possamos está seguindo na direção se a
humanidade escolher seguir no caminho da política nacionalista e da xenofobia.
Mas durante o álbum, Steve Hackett através de sua música, também mostra
alternativas pra passar por esses tempos no qual inclui a prática do
companheirismo e compaixão.
Logo na faixa de
abertura é dado o tom do que vai ser todo o álbum. “Behind the Smoke” traz uma
mistura de arranjos de corda árabes mesclados com guitarras de metal oriental
onde o músico fala sobre refugiados de países destruídos pela guerra, tendo
como resultado uma faixa com bastante sentimento. “Martian Sea” sem dúvida
alguma vai lembrar a era mais psicodélica dos Beatles, uso bem acentuado de
sitar, ode árabe, ótimos trabalhos de guitarras e flautas sobre um baixo e
bateria pesados. É uma faixa romântica que lida com alienação e um
relacionamento errado. “Fifty Miles from the North Pole” é uma música que foi
composta pelo guitarrista durante uma visita a Islândia, onde ele se encontrava
a exatas 50 milhas do círculo polar ártico. Realmente trata-se de uma canção
bastante fria, sombria onde o trabalho de guitarra lembra os usados em alguns
filmes do James Bond. Possui um ótimo coro e excelentes trombetas suaves.
“El Niño”, peça
instrumental com magníficos tambores tribais e temas orquestrais assombrosos,
onde com isso, Steve Hackett e sua banda conseguem criar uma perfeita
representação auditiva deste fenômeno natural muitas vezes catastrófico. “Other
Side of the Wall” segue mostrando o quão globalizada que foi a confecção desse
trabalho, teve inspiração em uma visita do músico a um jardim de Wimbledon no
sul de Londres durante um dia quente de verão, onde Steve Hackett e sua esposa
se deparam com uma parede de tijolos e imaginaram a história se desenrolando
naquela mesma localização, história sobre um casal impossibilitado de
permanecerem juntos. Musicalmente apresenta um clima onírico perfeitamente
adornado por camadas de melodias orquestrais e guitarra acústica. Destaque
também para os vocais emotivos.
“Anything but
Love” mostra que a ideia de rodar o mundo através de um álbum realmente pode
ter como resultado um disco sensacional. Agora com influência espanhola com a
guitarra flamenca reminiscente em Gipsy King combinadas em melodias mais
pesadas. Também contem uma grande harmônica dando um clima mais “festivo” e de
ótimas nuances a música. Em “Inca Terra” como é de se imaginar a aterrissagem
foi em terras peruanas. Tem percussão latina, músicas indígenas locais,
berimbau brasileiro e ótima orquestra de cordas tudo bem misturando e de
resultado que a torna um verdadeiro deleite aos ouvidos. “In Another Life” traz
consigo um clima folk e vocais femininos acompanhando Steve Hackett tanto no
refrão como fazendo coros isolados. Tem em sua segunda metade um crescimento na
instrumentação através de forte harmonia e grande solo até terminar de maneira
amena.
“In the Skeleton
Gallery” foi o primeiro single do álbum, é uma composição padrão e bela, usando
arranjos de cordas do Oriente Médio com letras muito sonhadoras. Possui um
interlúdio jazzístico seguido por um riff pesado da guitarra de Steve Hackett.
Em “West to East”, novamente além da ótima construção musical orquestral e
consistente, Steve Hackett trabalhou muito bem a parte lírica, sugerindo que a
guerra nunca é a resposta e a paz é o que devemos estar procurando, linda
canção. O álbum finaliza com “The Gift”, onde o guitarrista mostra claramente o
motivo de ser um dos mais bem dotados na história do rock quando a abordagem
sugerida é a de que na guitarra muitas vezes “menos é mais”.
The Night Siren
apresenta Steve Hackett tocando fortemente como sempre, junto de músicos que já
o acompanham regularmente, além de convidados de várias partes do mundo que se
juntaram a ele nessa celebração da diversidade e unidade multicultural. Um
álbum sensacional e que há nele uma mensagem para a aceitação de nossas
diferenças culturais nestes tempos sombrios com cada música impulsionando o
ouvinte a uma viagem musical ao redor do mundo. Visitar vários países sem
necessariamente pisar neles e ter como plano de fundo uma trilha sonora
esplendorosa. Steve Hackett mais uma vez acerta em cheio.
- Tiago Meneses -
Track Listing
1.Behind the Smoke - 6:57
2.Martian Sea - 4:40
3.Fifty Miles from the North Pole - 7:07
4.El Niño - 3:51
5.Other Side of the Wall - 4:00
6.Anything but Love - 5:56
7.Inca Terra - 5:52
8.In Another Life - 6:06
9.In the Skeleton Gallery - 5:09
10.West to East - 5:14
11.The Gift - 2:44
2.Martian Sea - 4:40
3.Fifty Miles from the North Pole - 7:07
4.El Niño - 3:51
5.Other Side of the Wall - 4:00
6.Anything but Love - 5:56
7.Inca Terra - 5:52
8.In Another Life - 6:06
9.In the Skeleton Gallery - 5:09
10.West to East - 5:14
11.The Gift - 2:44
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