As frases na parede não saem

Artista carioca faz obra politizada entre música e a experimentação


Durante as manifestações de 2013, o músico Lucas Santos, 22 anos, lembra de se perceber em uma situação cada vez mais comum na era das redes sociais. Uma discussão infrutífera .”Uma pessoa me mandou uma mensagem e quis debater porque o fascismo havia sido, segundo ele, uma solução para a Itália de Mussolini e como a democracia era um atraso etc” disse. Após persistir na tentativa de diálogo, o artista logo se percebeu em um beco sem saída argumentativo, concluindo. ” Me vi de frente à uma parede”.

Foi esse tipo de experiência que o influenciou a discutir artisticamente a popularização via internet de um pensamento dogmático que, em parte, é cada vez mais fortalecido pelos próprios algoritmos das redes sociais.”O EP Dogma que estou lançando é sobre isso. Sobre como todos esses recortes da realidade são subordinados ao espetáculo ou à invisibilidade. Todos eles parecem que acontecem sem nenhuma relação com a nossa vontade” disse Santos, enquanto citava o caso recente de nepotismo de Marcelo Crivella que nomeou seu filho Marcelinho Crivella enquanto Secretário da Casa Civil do Rio de Janeiro. Tudo isso enquanto cantava ao povo que chegara “a hora de cuidar das pessoas”.

Uma dessas canções “Bolsonaro Presidente 2018“,  tenta entender essa parede pichada cujo spray Lucas percebe como uma das grandes ameaças à democracia brasileira. Não é sobre o político em si, mas essencialmente sobre os dogmas que seus seguidores se mostram incapazes de debater democraticamente. “Essa frase, ´Bolsonaro Presidente 2018´, tem sido repetida como um mantra fascista em todo lugar, por toda faixa etária e recorte de classe. É algo que é possível ouvir nas ruas de Realengo até Copacabana. Essa música fala de imagens que possibilitam e reforçam estruturas de opressão. E a imagem que mais me abalava era essa frase, que sintetizava todo um projeto fascista que progride com uma velocidade assustadora.”

A maneira que o músico carioca arranjou de alcançar tais argumentos foi juntando jazz fusion e rock progressivo com poesia oral, nos moldes de Paola Perdida e Vitor Brauer, da geração perdida de Minas Gerais. “Eu sei que não é popular, mas é o que tava martelando a minha mente e o que eu podia fazer em cima dessas composições”comentou Santos, que irá lançar o EP “Dogma”muito em breve. Dia 27 de fevereiro sai a primeira faixa. 6 de março o primeiro clipe e dia 20 do mesmo mês o EP.

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Leonardo Soares Coelho

Leonardo Soares Coelho

Fotógrafo e jornalista

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