[Rio Grande do Sul] Indígenas ocupam antigo centro de pesquisa da Fepagro para retomar território ancestral

Retirando de Centro de Mídia Independente:

Sábado, 28 de Janeiro de 2017.

Durante todo o dia, famílias indígenas Guarani Mbyá chegaram à área da Fundação Estadual de Pesquisas Agropecuárias (FEPAGRO) no município de Maquiné-RS. Reivindicando esta área como parte de território tradicional ancestral, desde ontem um grupo deste povo está acampado na fundação, que recentemente foi extinta pelo governo do estado.

José Cirilo, uma das lideranças mbyá presentes explicou a necessidade de retomar os territórios onde viviam seus antepassados pelo futuro das crianças mbyá, lembrando que “não são os Guarani que vivem em desequilíbrio com a natureza”.

“Nós vivemos com a natureza. Nossos ancestrais viveram aqui durante muitos anos e depois os massacraram. Agora nosso futuro são as crianças. As crianças daqui pra frente vão se criando, nós pensamos para o futuro.” – José Cirilo

Após passarem a noite acampados, um grupo formado em grande parte por mulheres e crianças, foi até o escritório administrativo da FEPAGRO, utilizando estas dependências para utilizar água.

Segundo os próprios guarani mbyá, o diretor da unidade Rodrigo Favreto esteve pela manhã deste sábado entre os indígenas e afirmou que acreditava que sua demanda era legítima, e não um “caso de polícia”. Mas ainda assim, disse que precisaria reportar as autoridades o ocorrido por conta de qualquer possível dano ao patrimônio. Os indígenas afirmam que não possuem interesse em danificar o patrimônio da extinta fundação, sua luta é por seu território ancestral.

Após convidarem os parentes de outras localidades a se unir a eles na luta por esta terra através de um vídeo postado na internet, as lideranças do grupo mbyá pediram auxílio a todos os apoiadores e apoiadoras de sua causa, afirmando que precisam de lonas, ferramentas e alimentos para que sigam acampados. Solicitaram ainda aos meios de informação – em especial às mídias alternativas – que sua história seja divulgada.

Pela tarde, uma equipe da rádio local esteve no acampamento pedindo uma entrevista sobre o assunto, e vizinhos, amigos e apoiadores da causa indígena de diferentes localidades, visitaram o acampamento na unidade da FEPAGRO em Maquiné, levando mantimentos.

Posted in Notícias | Tagged , , , , , , | Comentários desativados em [Rio Grande do Sul] Indígenas ocupam antigo centro de pesquisa da Fepagro para retomar território ancestral

Lançado o Flechas de Fogo – Zine informativo do CLAPA – Verão de 2017

Retirado desde o blog do CLAPA:

Download

Posted in Livros e Zines | Tagged , , , , , , , , , , , | Comentários desativados em Lançado o Flechas de Fogo – Zine informativo do CLAPA – Verão de 2017

“Navio de Tolos”, por Theodore Kaczynski

Texto pego do Protopia:

13525564

Era uma vez, um capitão e os imediatos de um navio que ficaram tão vaidosos de sua marinheiraria, tão cheios de insolência e tão impressionados com eles mesmos, que eles enlouqueceram. Eles viraram o navio para o norte e velejaram até eles encontrarem com icebergs e campos de gelo, e eles continuaram a velejar para o norte para águas mais e mais perigosas, somente para dar-lhes oportunidades para realizarem façanhas cada-vez-mais-brilhantes de marinheiraria.

À medida que o navio alcançava latitudes cada vez mais altas, os passageiros e a tripulação ficaram cada vez mais desconfortáveis. Eles começaram a terem disputas entre eles e a se queixarem das condições em que viviam.

“Meus ossos tremem”, disse um marinheiro hábil, “se essa não é a pior viagem que eu já estive. O convés está escorregadio com gelo; quando eu estou de vigia o vento corta pela minha jaqueta como uma faca; toda vez que eu enrolo as velas eu quase congelo meus dedos; e tudo que eu ganho com isso são miseráveis cinco xelins por mês!”

“Você acha que está mal!” disse uma dama passageira. “Eu não consigo dormir à noite por causa do frio. As damas nesse navio não têm a mesma quantia de cobertores do que os homens. Não é justo!”

Um marinheiro mexicano soou junto: “¡Chingado! Eu só estou ganhando a metade do salário dos Anglo marinheiros. Nós precisamos de bastante comida para nos mantermos quentes nesse clima, e eu não estou ganhando a minha parte; os Anglos ganham mais. E o pior de tudo é que os imediatos sempre me dão ordens em Inglês ao invés de em Espanhol.”

“Eu tenho mais razão para reclamar do que todos,” disse um marinheiro Índio Americano. “Se os cara-pálida não tivessem me roubado de minhas terras ancestrais, eu nem estaria nesse navio, aqui entre icebergs e ventos árticos. Eu só estaria remando em uma canoa em um lago agradável e plácido. Eu mereço compensação. No mínimo, o capitão deveria permitir que eu organizasse um jogo de dados para que eu pudesse ganhar algum dinheiro.”

O contramestre falou: “Ontem o primeiro imediato me chamou de “fruta” só porque eu chupo paus. Eu tenho direito chupar paus sem ser chamado de nomes por isso!”

“Não são apenas os humanos que são maltratados nesse navio,” exclamou um amante de animais entre os passageiros, sua voz tremendo de indignação. “Ora, semana passada eu vi o segundo imediato chutar o cachorro que vive no navio duas vezes!”

Um dos passageiros era um professor universitário. Apertando suas mãos ele exclamou,

“Isso tudo é terrível! É imoral! É racismo, sexismo, especismo, homofobia, e exploração da classe trabalhadora! É discriminação! Nós temos que ter justiça social: Salários iguais para o marinheiro Mexicano, maiores salários para todos os marinheiros, compensação para o Índio, cobertores iguais para as damas, um direito garantido para chupar paus, e não mais chutar o cachorro!”

“Sim, sim!” gritaram os passageiros. “Ai-ai!” gritou a tripulação. “É discriminação! Nós temos que exigir nossos direitos!”

O camaroteiro limpou sua garganta.

“Ha-ham. Todos vocês têm boas razões para se queixar. Mas me parece que o que nós realmente precisamos fazer é virar esse navio e rumar de volta para o sul, porque se nós continuarmos indo para o norte nós com certeza iremos cedo ou tarde naufragar, e então seus salários, seus cobertores, e seu direito de chupar paus não vão te adiantar nada, porque nós todos iremos afogar.”

Mas ninguém prestou atenção nele, porque ele era apenas o camaroteiro.

O capitão e os imediatos, de seus postos na popa, estavam observando e ouvindo. Agora eles sorriam e piscavam-se entre si, e com um gesto do capitão o terceiro imediato desceu da popa, passeou para onde os passageiros e a tripulação estavam reunidos, e abriu caminho entre eles. Ele fez uma expressão muito séria em sua face e disse exatamente assim:

“Nós oficiais temos que admitir que algumas coisas realmente indesculpáveis têm acontecido nesse navio. Nós não havíamos percebido o quão ruim a situação estava até ouvirmos suas queixas. Nós somos homens de boa vontade e queremos fazer o certo para vocês. Mas – bem – o capitão é um tanto conservador e tem seus modos, e talvez tenha que ser cutucado um pouco antes dele fazer quaisquer mudanças substanciais. Minha opinião pessoal é que se vocês protestarem vigorosamente – mas sempre pacificamente e sem violar quaisquer das regras do navio – vocês irão tirar o capitão da inércia e forçá-lo a ele dar atenção aos problemas dos quais vocês se queixam tão justamente.”

Tendo dito isso, o terceiro imediato dirigiu-se de volta para a popa. Enquanto ele ia, os passageiros e a tripulação gritaram para ele, “Moderado! Reformista! Bom-liberal! Bobo do capitão!” Mas contudo eles fizeram como ele disse. Eles se reuniram em um grupo ante a popa, gritaram insultos aos oficiais, e exigiram seus direitos: “Eu quero maiores salários e melhores condições de trabalho,” clamou o marinheiro hábil. “Cobertores iguais para as mulheres,” clamou a dama passageira. “Eu quero receber minhas ordens em Espanhol,” clamou o marinheiro Mexicano. “Eu quero o direito de organizar um jogo de dados,” clamou o marinheiro Índio. “Eu não quero ser chamado de fruta,” clamou o contramestre. “Sem mais chutar o cachorro,” clamou o amante de animais. “Revolução agora,” clamou o professor.

O capitão e os imediatos se amontoaram e deliberaram por vários minutos, piscando, concordando com a cabeça e sorrindo uns aos outros enquanto isso. Então o capitão deu um passo à frente da popa e, com uma grande demonstração de benevolência, anunciou que o salário do marinheiro hábil seria aumentado para seis xelins por mês; o salário do marinheiro Mexicano seria aumentado para dois-terços dos salários dos Anglo marinheiros, e a ordem para enrolar as velas seria dada em Espanhol; as damas passageiras iriam receber um cobertor a mais; o marinheiro Índio seria permitido de organizar um jogo de dados nos Sábados à noite; o contramestre não seria chamado de fruta contanto que ele mantivesse a sua chupação de pau estritamente privada; e o cachorro não seria chutado a menos que ele fizesse algo realmente malcriado, como roubar comida da cozinha do navio.

Os passageiros e a tripulação celebraram essas concessões como uma grande vitória, mas na manhã seguinte, eles estavam novamente se sentindo insatisfeitos.

“Seis xelins por mês é uma ninharia, e eu ainda congelo meus dedos quando enrolo as velas,” resmungou o marinheiro hábil. “Eu ainda não estou ganhando os mesmos salários dos Anglos, ou comida suficiente para esse clima,” disse o marinheiro Mexicano. “Nós mulheres ainda não temos cobertores suficientes para nos manterem aquecidas,” disse a dama passageira. Os outros tripulantes e passageiros exprimiram queixas similares, e o professor os encorajou.

Quando eles terminaram, o camaroteiro falou – mais alto dessa vez para que os outros não pudessem ignorá-lo facilmente:

“É realmente terrível que o cachorro seja chutado por roubar um pedaço de pão da cozinha do navio, e que as mulheres não tenham cobertores iguais, e que o marinheiro hábil tenha seus dedos congelados; e eu não vejo porque o contramestre não deva chupar paus se ele quiser. Mas olhem quão densos os icebergs estão agora, e como o vento sopra cada vez mais severo! Nós temos que virar esse navio de volta para o sul, porque se nós continuarmos indo para o norte nós iremos nos naufragar e afogar.”

“Oh, sim,” disse o contramestre, “É realmente horrível que nós continuemos rumando ao norte. Mas porque eu tenho que continuar chupando paus no armário? Porque eu tenho que ser chamado de fruta? Eu não sou bom como todos os outros?”

“Velejar ao norte é terrível,” disse a dama passageira. “Mas você não vê? É exatamente por isso que as mulheres precisam de mais cobertores para mantê-las aquecidas. Eu exijo cobertores iguais para as mulheres agora!”

“É realmente verdade,” disse o professor, “que velejar para o norte impõe grandes apuros em todos nos. Mas mudar o rumo em direção ao sul seria irrealístico. Você não pode voltar o relógio. Nós devemos encontrar um modo maduro de lidar com a situação.”

“Olhem,” disse o camaroteiro, “Se nós deixarmos esses quatro loucos lá na popa fazerem como querem, nós todos nos afogaremos. Se nós conseguirmos retirar esse navio do perigo, então nós poderemos nos preocupar com as condições de trabalho, cobertores para mulheres, e o direito de chupar paus. Mas primeiro nós temos que virar essa embarcação para o outro lado. Se alguns de nós nos juntarmos, fizermos um plano, e demonstrarmos alguma coragem, nós podemos nos salvar. Não seria preciso muitos de nós – seis ou oito dariam. Nós poderíamos atacar a popa, atirar aqueles lunáticos ao mar, e virar o navio para o sul.”

O professor elevou seu nariz e disse austeramente, “Eu não acredito em violência. É imoral.”

“Não é ético usar violência jamais,” disse o contramestre.

“Eu tenho pavor de violência,” disse a dama passageira.

O capitão e os imediatos estavam observando e ouvindo durante tudo aquilo. A um sinal do capitão, o terceiro imediato desceu para o convés principal. Ele passou pelos passageiros e a tripulação, dizendo que ainda haviam muitos problemas no navio.

“Nós fizemos muito progresso,” disse ele, “Mas resta muito ainda a ser feito. As condições de trabalho para o marinheiro hábil ainda são duras, o Mexicano ainda não está ganhando os mesmos salários dos Anglos, as mulheres ainda não têm o mesmo tanto de cobertores que os homens, o jogo de dados aos Sábados à noite do Índio é uma compensação insignificante por suas terras perdidas, é injusto para o contramestre que ele tenha que manter sua chupação de pau no armário, e o cachorro ainda é chutado às vezes.”

“Eu acho que o capitão precisa ser cutucado novamente. Iria ajudar se vocês todos fizessem outro protesto – contanto que ele permaneça não-violento.”

Enquanto o terceiro imediato caminhava de volta à popa, os passageiros e a tripulação gritaram insultos para ele, mas eles mesmo assim fizeram o que ele disse e se reuniram à frente do convés da popa para outro protesto. Eles discursaram e se enfureceram e brandiram seus punhos, e eles até mesmo atiraram um ovo podre no capitão (que ele se esquivou habilmente).

Após ouvir as queixas, o capitão e os imediatos se amontoaram para uma conferência, durante a qual eles piscaram e ficaram amplamente risonhos entre eles. Então o capitão deu um passo à frete do convés da popa e anunciou que seria dado luvas ao marinheiro hábil para manter seus dedos aquecidos, o marinheiro Mexicano iria receber salários iguais a três-quartos dos salários de um Anglo marinheiro, as mulheres iriam receber mais um cobertor, o marinheiro Índio iria poder organizar um jogo de dados nas noites de Sábados e Domingos, o contramestre seria permitido a chupar paus após escurecer, e ninguém poderia chutar o cachorro sem permissão especial do capitão.

Os passageiros e a tripulação estavam em êxtase sobre essa grande vitória revolucionária, mas pela manhã seguinte eles estavam novamente se sentindo insatisfeitos e começaram a resmungar sobre os mesmos velhos sofrimentos.

O camaroteiro dessa vez estava ficando furioso.

“Seus tolos malditos!” ele gritou. “Vocês não vêem o que o capitão e os imediatos estão fazendo? Eles estão mantendo vocês ocupados com suas queixas triviais sobre cobertores e salários e o cachorro sendo chutado para que vocês não pensem sobre o que realmente está errado com esse navio — que ele está indo cada vez mais longe para o norte e nós todos iremos nos afogar. Se somente alguns poucos de vocês recuperarem a razão, se juntarem, e atacarem o convés da popa, nós poderemos virar esse navio de volta e nos salvarmos. Mas tudo o que vocês fazem é choramingar sobre questões insignificantes e triviais como condições de trabalho e jogos de dados e o direito de chupas paus.”

Os passageiros e a tripulação estavam exasperados.

“Insignificantes!!” gritou o Mexicano, “Você acha que é razoável que eu ganhe somente três-quartos dos salários de um Anglo marinheiro? Isso é trivial?”

“Como você pode chamar minha queixa de trivial?” gritou o contramestre. “Você não sabe quão humilhante é ser chamado de fruta?”

“Chutar o cachorro não é uma “questão insignificante e trivial!” berrou o amante de animais. “É insensível, cruel, e brutal!”

“Tudo bem então,” respondeu o camaroteiro. “Essas questões não são insignificantes e triviais. Chutar o cachorro é cruel e brutal e é humilhante se chamado de fruta. Mas em comparação com o nosso problema real – em comparação com o fato de que o navio ainda está rumando ao norte – suas queixas são insignificantes e triviais, porque se nós não virarmos esse navio logo, nós todos iremos nos afogar.”

“Fascista!” disse o professor.

“Contra-revolucionário!” disse a dama passageira. E todos os passageiros e a tripulação soaram um após o outro, chamando o camaroteiro de fascista e de contra-revolucionário. Eles o afastarampra longe e voltaram a resmungar sobre salários, e sobre cobertores para mulheres, e sobre o direito de chupar paus, e sobre como o cão era tratado. O navio continuou a navegar para o norte, e após um tempo ele foi esmagado entre dois icebergs e todos morreram.

Ted Kaczynski, 1999.

Posted in Textos | Tagged , , , , , , , , , | Comentários desativados em “Navio de Tolos”, por Theodore Kaczynski

[Documentário] La Guerra Eco-anarquista Contra el Progreso en Chile

Esta publicação foi enviada pelo blog Tocaia Eco-extremista:

incendioandresbello01

Há pouco tempo os afins de Nahual publicaram o trabalho audiovisual no Globin Refuge com este nome. Nele reunem ataques na região “chilena” reivindicados por grupos eco-anarquistas, os quais Maldición Eco-extremista e Tocaia Eco-extremista consideram ferozes guerreiros dignos de uma menção especial, já que a eco-anarquia é uma das tantas formas que assume a guerra contra a civilização e o progresso humano, reivindicando o Selvagem e desferindo duros golpes contra as estruturas da própria civilização.

Então, orgulhosamente apresentamos este vídeo. Que sirva para a perversão da mente, para reapropriação de tudo aquilo que temos perdido e pelo apoderamento dos espíritos de nossos antepassados nos corpos dos individualistas que fizeram e farão arder e botar abaixo os andaimes da sociedade industrial e tecnológica.

Afinidade com os eco-anarquistas de guerra!
Que o fogo caótico e ameaçante se estenda a todos os cantos das podres cidades!

Posted in Documentários, Notícias | Tagged , , , , , , , , , , , , , , , | Comentários desativados em [Documentário] La Guerra Eco-anarquista Contra el Progreso en Chile

[Nota] Novo endereço de email

Devido a problemas ainda não esclarecidos que pairam sob os servidores do Coletivo Riseup nós do blog Kataklysma decidimos mudar nosso endereço de contato. O email insurreicaosocial@riseup.net não será mais utilizado e kataklysmablog[arroba]riseup.net será nosso novo endereço.

Kataklysma blog

Posted in Comunicados, Notícias | Tagged | Comentários desativados em [Nota] Novo endereço de email

Como fazer temporizadores & acionadores elétricos caseiros

Pego do blog Tocaia Eco-extremista:

photo_2016-05-14_21-41-21

As imagens contidas no arquivo compartilhado neste post foram retiradas de um livro infantil. Apesar da fonte as informações podem com excelência serem aproveitadas por qualquer eco-extremista que queira facilmente e com baixo custo criar um acionador através de um relógio à corda ou criar algum acionador por meio de fios disparadores. Os conhecimentos transmitidos aqui podem ser utilizados para criar bombas-relógio (que dependendo dos detonadores podem acionar qualquer tipo de explosivo em qualquer artefato), podem criar “minas” explosivas (que podem ser utilizadas contra o turismo, por exemplo, ou em regiões em constante invasão e destruição ou em zonas de construção e de avanço urbano) e podem também criar armadilhas explosivas ou incendiárias por meio de “cordas acionadoras”, sendo um dos exemplos um pacote bomba.

Usem a criatividade!

Todas as imagens em alta resolução estão neste arquivo.

Posted in Livros e Zines, Manuais | Tagged , , , , , , , | Comentários desativados em Como fazer temporizadores & acionadores elétricos caseiros

[Nota] Divulgação de meios afins à temática do blog

Compartilhamos aqui três serviços de colaboradores que consideramos importante para levar adiante a crítica contra a civilização e o sistema-tecnoindustrial. Apesar de não possuirmos participação direta nas iniciativas (com excessão da lista de email onde também foi nos dada a possibilidade de gerenciá-la) nós do blog apoiamos e as incentivamos. São elas:

Grupo de discussões na rede social “We” do Riseup: https://we.riseup.net/coalizacaoanticiv

Canal no Youtube: https://www.youtube.com/channel/UC-XwU1VGs2hpr3w15dXYIGA

E a lista de email que para participar pode também nos enviar um pedido por meio do nosso contato: insurreicaosocial[at]riseup.net

O blog Kataklysma agradece o esforço dos indivíduos que se prestam a seguir com as iniciativas informativas contra a civilização!

Kataklysma blog

Posted in Comunicados | Tagged | Comentários desativados em [Nota] Divulgação de meios afins à temática do blog

[Texto] Ontem, Hoje, Amanhã

Este texto foi enviado a nosso email por um leitor e aqui o divulgamos:

greenwash

Ontem, Hoje, Amanhã

Não há mais saída nem recuo, já é o fim consumado
As guerras são dialetos, conflitos por todos os lados
Cataclismas previstos estão a arrasar povoados
Nem o sertão não virará mar, nem o mar virará sertão
Estrelas escurecerão, biomas morrerão
Se tu quiseste aí está o custo da tua omissão
Ergueste a Babilônia do derradeiro milênio,
Onde se arrastam por gotas d’água e se matam por oxigênio
Tu permitiste a causa e este é o efeito bumerangue
H2o esgotado, organismos bebendo sangue
Onde as abelhas fabricam fel, catarse da Natureza, o amargo desce ao céu
As cinzas engolem a vida, chuva ácida rega transgênico
Que alimenta a sexta extinção, radiação
Humanos contra humanos, os mortos prevalecerão
Hecatombes o saldo de cada dia, sem mais forças para uma lágrima
E o desespero pulsando agonia pela hipocrisia de cada Estado
Porque se a natureza fosse um banco já teriam a salvado
Bomba de metano, novo Permiano-Triássico,
Civilização organização drástica, lobbying
Extrema no esquema desta tua prática, onde tudo é capital
Pessoas, animais ou um pedaço do natural
E o colapso pela escassez…
Terra, ar, água, no fim já chegaste a tua vez
Chamas ou motosserras dizimam todas as florestas
Consomem a natureza para gerarem o que não nos presta
Nesse antropocentrismo tal qual terrorismo
Onde o humano é o centro de tudo, egoísmo contra outros organismos
Na Era Industrial do tecnológico todo o mal,
Não usamos, somos usados, me diz quem é o racional
Da sociedade totalitarista tecno-industrial
Na taxonomia de teu processo cada ação é fatal
Onde o cancro civilizatório infecta o ar mundano
Necrosa as veias da Terra pelas ações dos tiranos
Que instalam em cada canto ditaduras mercantis
Privatizam a riqueza, socializam a pobreza
Sim, são ações hostis.
Independente de gestões teu sistema consome o natural
Mata solos igual humanos, gera patrimônios para a realeza
E onde fica a natureza?
Mero produto mistificado
Operada pelas máquinas e morta pelas leis do mercado.
Cova aberta e sepultada pelos etiquetados civilizados
Indiferentes, medíocres que não movem um dedo em seu cuidado.
Não se informam, não se importam e consomem demasiado
Operam a engrenagem destrutiva para comprarem produtos não necessários
Consumismo é o ideário, seres escravos de seu próprio salário
Endeusam corporações, indústrias e empresas passam a ser santuários
Onde lhes servem com a fé monetária
Mas guiados pelo racionalismo de que a avareza é diária
Tu estás condenado por não se opor à Grande Máquina
Leviatã mercadológico que transforma todas as vidas em pura desgraça
Enjaulados em concreto e fumaça, onde só existir já é uma ameaça
Moradias são confins, o nascimento já és o próprio fim
Radiações por todas as partes e os fósseis queimados queimam dentro de mim
Tu dormindo na calçada em meio a quem não tem nada
Porque tua casa já está sem espaço, pois está lotada de bens
Mas tu ainda não se sentes bem e ninguém te quer bem
E só quando lhe convém tu paras e pensas na tua vida medíocre
Vês que está sozinho frente a todo este apocalipse
Integrando uma família de desconhecidos
Onde filhos, filhas, pai, mãe, nem se conhecem no próprio convívio
Encarcerados em cubículos escravos de tecnologias
Smartphone, PC, TV tomam-lhes todo o tempo do dia
Para à noite no sonho a ambição
E quando os servos despertarem darem seguimento à exploração.
Caminhando na servidão que todo vivente pagará.
Onde dentro do mar de petróleo por busca de riquezas o navio de tolos afundará.

Posted in Textos | Tagged , , , , , , , , , , , , | Comentários desativados em [Texto] Ontem, Hoje, Amanhã

Tecnologia Primitiva

Recebemos esta sugestão de publicação e a acatamos!

Primitive Technology é um interessante canal no YT que ensina diversas técnicas para levar adiante uma vida primitiva de caçador-coletor e/ou autossuficiente mediante o cultivo do próprio alimento.

Nós do blog Kataklysma acreditamos que a guerra contra a civilização não se trata apenas de desferir danos físicos à sua estrutura, mas também de desenvolver habilidades individuais de caça e produção do próprio alimento e o desenvolvimento/confecção de objetos e ferramentas que ajudam a própria sobrevivência individual de cada indivíduo.

Porque um retorno às nossas origens é possível!

Segue alguns vídeos:

maxresdefault

Blog: https://primitivetechnology.wordpress.com
Canal: https://www.youtube.com/channel/UCAL3JXZSzSm8AlZyD3nQdBA

Posted in Notícias, Vídeos | Comentários desativados em Tecnologia Primitiva

Resposta de Ted Kaczynski a alguns comentários feitos na “Green Anarchist”

O texto RESPUESTA DE TED KACZYNSKI A ALGUNOS COMENTARIOS REALIZADOS EN “GREEN ANARCHIST” foi traduzido por um colaborador anônimo e a nós compartilhado. Agradeços e aqui o divulgamos.

cats

Por Ted kaczynski

Gostaria de comentar algumas afirmações que foram feitas a respeito do manifesto Unabomber no nº 40-41 da Green Anarchist. Em um artigo que aparece nas páginas 21-22, Anti-Authoritarians Anonimous escreveram:

[O] retorno a modos de vidas autônomos e não domesticados não se daria somente mediante a eliminação do industrialismo. Mesmo com tal remoção ainda permaneceria a dominação da natureza, subjugação das mulheres, guerra, religião, estado e divisão do trabalho, para citar algumas patologias sociais básicas. É a própria civilização que deve ser desmontada para chegar onde Unabomber quer ir.

Concordo com grande parte disso. No entanto, a questão da viabilidade deve ser tida em conta. Como observado no Industrial Society and Its Future (ISAIF), parágrafos 208-210, a sociedade moderna depende de um elevado grau de organização social. Se essa organização se visse suficientemente perturbada, então a tecnologia afundaria, como consequência disso o que restasse da organização social entraria em colapso e a sociedade retornaria a um estado pré-industrial. Levaria séculos para reconstruir a tecnologia e uma forma de organização social correspondente. Visto que o sistema tecno-industrial está doente e é provável que se torne ainda pior, sua destruição é uma meta que podemos razoavelmente esperar obter nas próximas décadas.

No entanto, a remoção da própria civilização é uma proposição muito mais difícil, porque a civilização em suas formas pré-industriais não requer uma estrutura tecnológica elaborada e altamente organizada. Uma civilização pré-industrial requer apenas tecnologia relativamente simples, cujo elemento mais importante é a agricultura.

Como evitar que as pessoas pratiquem a agricultura? Dado que as pessoas praticariam a agricultura, como impedir que vivessem em comunidades densamente povoadas e formassem hierarquias sociais? É um problema muito difícil e eu não vejo como resolvê-lo.

Não estou sugerindo que o ideal ou o objetivo final da eliminação da civilização deva ser abandonado. Apenas afirmo que ninguém conhece nenhuma forma viável de alcançar esta meta em um futuro próximo. Por outro lado, a eliminação do sistema tecno-industrial é uma meta plausível para as próximas décadas e, de forma geral, podemos ver o que fazer para alcançá-la. Por consequência, o objetivo que devemos concentrar a nossa atenção neste processo é a destruição do sistema industrial. Uma vez que tenhamos alcançado poderemos pensar em eliminar a civilização.

Mesmo se a civilização não pudesse ser eliminada, a destruição do sistema industrial seria uma grande conquista. (ver ISAIF, parágrafo 184).

Primeiro, grandes áreas da Terra são inadequadas para a agricultura, e na ausência da tecnologia moderna, que permite o transporte de produtos agrícolas, essas áreas teriam de voltar a uma economia pastoril ou de caçadores-coletores (complementadas, sem dúvida, por uma quantidade limitada de comércio com áreas agrícolas).

Segundo, (Como já foi sugerido no ISAIF, parágrafos 184 e 198), a dominação da natureza que mantém o homem moderno depende da sua tecnologia. O retorno a uma tecnologia pré-industrial reduziria enormemente a capacidade do homem de dominar a natureza, embora não a eliminaria por completo.

Terceiro, mesmo que a guerra possa existir em sociedades não-industriais, em nenhuma delas é nem de longe tão destrutiva quanto a guerra moderna.

Quarto, embora a eliminação da tecnologia moderna não destruísse necessariamente o estado, reduziria muito seu poder.

Quinto, apesar de que a divisão do trabalho possa existir em sociedades não industriais, nessas sociedades o trabalho está muito menos dividido que na sociedade moderna. Ou seja, o trabalho está muito menos especializado nas sociedades industriais.

Portanto, a eliminação do sistema industrial, além de ser uma meta realista, seria um grande passo na direção correta. No entanto, embora acabar com o industrialismo seja uma meta realista, isso não implica que tal meta vá a ser alcançada com facilidade. Pelo contrário, É muito provável que ganhar essa batalha nos exija o esforço mais extremo. Não podemos permitir que nossas esforços se dispersem nos preocupando com outras metas. Ao invés disso, devemos considerar a destruição do sistema industrial como o único e exclusivo objeto para o qual devemos direcionar nossos esforços. (ISAIF, parágrafo 200).

No artigo “Neither Left Nor Right But Forwards”, no GA 40-41, páginas 26-27, Shadow Fox disse que segundo FC/Unabomber, “os verdes/militantes primitivistas deveriam se distanciar ativamente das ideologias ‘esquerdistas’. Isso inevitavelmente inclui a ideologia ultrapassada do conflito de classes”.

Essa pergunta é respondida em um artigo não assinado, “Greens, Get Real”, na mesma edição do GA, páginas 27-28:

No ISAIF, a classe, a raça e as demais opressões são reconhecidas, mesmo que apenas como subsidiárias da opressão tecnológica -FC discorda com os esquerdistas ideológicos que fazem uma “causa” da opressão dos outros.

Shadow Fox foi quem chegou mais perto de interpretar corretamente o significado de ISAIF. A luta contra o sistema industrial poderia provavelmente ser entendida como uma luta de classes, mas, nesse caso, não é uma luta de classe do tipo tradicional. Na luta de classes tradicional, os trabalhadores lutam contra a burguesia para controlar o sistema, e para obter uma maior quantidade dos benefícios materiais que o sistema oferece. Portanto, a luta de classes tradicional é incompatível com nossa meta, que é destruir o sistema. As classes sociais, no seu sentido tradicional, são irrelevantes para o nosso objetivo. Do nosso ponto de vista são apenas duas classes sociais relevantes: uma classe é a elite tecnocrática e a outra são os demais. A luta contra o sistema poderia ser vista como uma luta de classes contra a elite tecnocrática, mas é melhor vê-la como uma luta contra a tecnologia, já que ao vê-la como luta de classe corremos o risco de cair na ilusão de que aquilo de que precisamos nos livrar é meramente uma classe particular de pessoas. Claro que, se nos livrássemos da atual elite tecnocrática mas mantivéssemos a tecnologia, logo haveria uma nova elite tecnocrática. Devemos focar na tecnologia, ao invés de na classe social que a controla, de modo que nunca esqueçamos que é a própria tecnologia que deve ser eliminada.

Ao eliminar a tecnologia estaríamos, de certo modo, ganhando todas as lutas de classe, já que a eliminação da tecnologia moderna destruiria a atual forma de organização social, de modo que todas as classes sociais deixariam de existir. Isto não assegura que não surjam novas classes sociais depois, mas essas classes existiriam em um tipo de sociedade completamente diferente e os problemas apresentados deverão ser tratados de um modo completamente diferente.

Insisto que a revolução contra a tecnologia não deva ser destinada a resolver problemas de raça, gênero, orientação sexual, etc. Há várias razões para isso.

  • 1. Mesmo que todas as desigualdades de raça, gênero, etc. fossem eliminadas, isso não resultaria em nenhum progresso em direção à destruição do sistema tecno-industrial. Na verdade, acabar com a discriminação racial ou de gênero seria bom para o sistema atual por que eliminaria conflitos que interferem no seu funcionamento e facilitaria o processo de integração dos negros, mulheres, etc., para agir obedientemente como dentes nas engrenagens da máquina social.
  • 2. O ativismo em prol da igualdade racial e de gênero e dos direito homossexuais desviam a atenção e a energia da meta principal, que é, repito, a destruição do sistema tecno-industrial.
  • 3. Se você tem um carro velho do qual queira se livrar, poderia consertá-lo para que ele funcione melhor? Se você se pusesse a arrumá-lo, suspeito que a sua intenção de livrar-se dele fosse realmente sincera. Queremos nos livrar de todo o sistema tecno-industrial, por isso, por que deveríamos nos preocupar em tentar corrigir suas falhas? Por que deveríamos nos esforçar para dar aos negros as mesmas oportunidade de virarem executivos de multinacionais ou cientistas, quando o que queremos é um mundo no qual não haja executivos de multinacionais nem cientistas? Após a remoção do sistema, pode haver questões de raça, gênero, etc. mas esses problemas deveriam ser resolvidos no contexto da nova sociedade. Qualquer solução que poderíamos levantar agora, no contexto da sociedade industrial, será inútil quando a sociedade industrial deixar de existir. Seria fútil tentar planejar agora uma sociedade não industrial livre de racismo, etc. Podemos destruir a sociedade industrial, mas não podemos prever ou controlar a forma como se tornará a nova sociedade. (veja em ISAIF, parágrafo 100-108). Não sabemos que tipo de problemas raciais ou de gênero poderão existir na nova sociedade, ou o que poderá ser feito para solucioná-los. Estes problemas deverão ser deixados para as pessoas que vivam nessa sociedade.
  • 4. Qualquer grupo ou movimento que faça dos problemas relativos à raça ou gênero uma parte importante de seu projeto, muito provavelmente atrairá gente de perfil psicológico “esquerdista”, como havíamos denominado. No ISAIF (parágrafos 213-230) se trata extensamente do perigo que isso representa. É essencial que os revolucionários anti-tecnológicos se separarem rigorosamente do esquerdismo.
  • 5. As pessoas não vão parar de discriminar as minorias só porque foi dito que não se deve fazer. Para acabar com a discriminação seria necessário achar um meio para que as pessoas exerçam e recebam um tratamento justo. Isto implicaria em algum tipo de organização, forte e extensa, capaz de impor tal tratamento, e é provável que uma organização assim acabasse se tornando algo tirânico e opressivo. Além disso, para realizar o trabalho dessa organização seria necessário sistemas de transporte e comunicação rápidos e de longa distância e, por consequência, toda a tecnologia necessária para manter esses sistemas de transporte e comunicação; o que na prática significa que teriam que seguir mantendo todo o sistema tecnológico. (veja ISAIF, parágrafos 200 e 201). Portanto, a tentativa de acabar com a injustiça social faria com que fosse muito mais difícil se livrar da tecnologia.

Depois da eliminação do sistema tecno-industrial, as pessoas poderiam e deveriam lutar contra a injustiça onde quer que se deparassem com ela. No entanto, sendo realista, não podemos nunca esperar acabar totalmente com a injustiça social, só podemos atenuar.

A injustiça social sempre existiu, inclusive em algumas sociedade primitivas, e as pessoas de cada sociedade tiveram que lidar como puderam com suas formas particulares de injustiça. Mas o problema que o sistema tecno-industrial representa é muito maior e completamente novo. Ou o crescimento desenfreado da tecnologia nos conduziria a um desastre de uma magnitude sem precedentes na história da humanidade, ou se escravizará definitivamente não só o corpo humano, como também a mente humana e o mundo natural (veja ISAIF, parágrafos 143, 144, 169 e 170-178). Em comparação, o problema da injustiça, entendida em seu sentido tradicional, se reduz a algo insignificante. Nosso objetivo não deve ser a justiça social, mas sim a destruição do sistema tecno-industrial.

Theodore John Kaczynski

Nota Final para aqueles que duvidam que o problema da tecnologia seja incomparavelmente maior que o velho problema da injustiça social:

Creio que a inteligência artificial está a ponto de triunfar. (Cougals B. Lenat, Scientific American, setembro, 1995, página 80).

Quando os tecnocratas se armarem com computadores de inteligencia super humana, não serão capazes de antecipar-se a cada passo nosso?

Os robôs que nos sirvam pessoalmente em um futuro próximo… não são ficção científica. Temos a capacidade – tudo o que se precisa é de uma engenharia sólida. (Joseph F. Engelberger, Scientific American, setembro de 1995, página 166).

Os robôs e os computadores inteligentes farão com que o trabalho humano se torne obsoleto, de maneira com que os tecnocratas não precisem mais de trabalho humano. Os exércitos e forças policiais, compostos por robôs, serão incorruptivelmente leais aos seus amos, dando a esses tecnocratas um poder absoluto sobre todos nós.

Para alongar nossas vidas e melhorar nossas mentes, precisaremos mudar nossos corpos e cérebros… Devemos imaginar maneiras em que novas peças para partes do corpo gastas poderiam resolver nossos problemas de saúde ruim… Finalmente, usando nanotecnologia, substituiremos completamente nossos cérebros… As ciências necessárias para realizar esta operação já estão sendo desenvolvidas.. Agora os indivíduos são concebidos por acaso. Um dia, no entanto, eles poderiam ser “compostos” de acordo com certos desejos e projetos… Os sistemas de pensamento ético tradicionais se centram principalmente nos indivíduos… Obviamente, devemos considerar também os direitos e papéis de seres de escala maior – tais como super pessoas que denominamos culturas e os grandes e crescentes sistemas chamados ciências… Os robôs que herdarão a Terra? Sim, mas eles serão nossos filhos. (Marvin Minsky, Scientific American, outubro, 1994, páginas 109-113).

De maneira mais clara, os robôs serão filhos dos tecnocratas que os idealizam. Não serão filhos teus nem meus.

Ralph E. Gomory, antigo diretor de investigação da IBM e que agora é presidente da Fundação Alfred P. Sloan… Tem uma sugestão para facilitar o trabalho da ciência: fazer com que o mundo seja mais artificial. Os sistemas artificiais, afirma Gomory, tendem a ser mais previsíveis que os naturais. Por exemplo, para simplificar as previsões meteorológicas, os engenheiros podem envolver a terra dentro de uma cúpula transparente. (Scientific American, agosto, 1994, página 22).

É duvidoso que esse projeto em específico se torne algo factível, mas dá uma ideia do tipo que futuro que os tecnocratas reservaram para nós.

Posted in Notícias, Revistas, Textos | Tagged , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , | Comentários desativados em Resposta de Ted Kaczynski a alguns comentários feitos na “Green Anarchist”

[Porto Alegre] Portas da paróquia São Pedro queimadas no bairro Floresta

Recebemos via email:

church-burn

A terra costuma, de tempos em tempos, fazer rebrotar rebeldemente aquilo que se pensava extinto.
São brotos de raízes rebeldes e sementes que se espalham com o vento.

Aqui, esta terra já cansada, conheceu o projeto da civilização ocidental a poucos 500 e tantos anos e, desde então as empreiteiras do domínio tem drenado toda a vida disponível para executar seus desejos.
Para cada navio de expedição e conquista, chegavam com eles os objetos de adoração, a mística que, ao serviço do poder, pretendia dominar mentes, corpos e espíritos.

Em cada novo povoado o projeto civilizatório tentou se impor: a igreja no centro, omnipresente, um mercado, um governo, uma cadeia… Missa, sermão, leis e castigos. A tarefa educativa da igreja soube muito bem vigiar e punir. O espancamento em praça pública e as execuções eram espetáculos que afirmavam a norma: “faz o que digo ou te arrebento”.

Seu projeto se implantou com mentiras, fogo e bala
Falar a língua, escutar as vozes, se tornou proibido
E à aquelxs que se resistiam, arrancavam-lhes língua e orelhas
Acaso queriam que não ouvíssemos as vozes do mundo que nos rodeava?
Essas vozes nem sempre humanas…

O motor da civilização é a violência, o terror e a obrigação que busca o benefício de alguns provocando o sofrimento do resto. O olho conquistador, opressor, hoje burguês, transforma tudo o que vê em objeto de desejo, de possessão e benefício, assegurando para si o privilegio e a dominação.

O mundo inteiro se consome no interesse das elites. Se produz, se consome, se morre, sem ser donos das vontades e destinos.
O carrasco, fala em moral e bem-estar. Educa no “bom viver” e oferece a salvação. Com sua boca nojenta devora tudo o que pode, e assim devora, as vidas.
Fala de paz. Fabrica armas.
Fala em bem-estar. Envenena com seus negócios.
Fala em liberdade e impõe a escravidão da obediência.

Porém o sangue dxs guerreirxs correu em rios e córregos e alimentou a terra calada. E em cada pedra, cada rio, cada árvore está escrito o inominável…

Hoje, festejamos pelos nossxs mortxs, festejamos com nossxs antepassadxs. Suas vidas nos acompanham, seus passos são os nossos. Festejamos suas vidas combativas e rebeldes, as pontas de lanças que perfuraram os olhos dos conquistadores portugueses, franceses, ingleses e espanhóis, civilizadxs. Celebramos suas rebeldias contra a inquisição, as insurreições contra os inmigxs civilizadorxs. Sua vingança é a nossa. Festejamos sua memória através das chamas que provocamos nas portas duma igreja. A mesma Igreja civilizadora de faz 500 anos, símbolo da moral civilizatória e cidadã …porque sabemos que o deus que criaram é um ditador eterno…

Guerra contra a civilização e seu Estado…

Posted in Comunicados, Notícias | Tagged , , , , , , , , , | Comentários desativados em [Porto Alegre] Portas da paróquia São Pedro queimadas no bairro Floresta

Brasil pode perder 30% de suas línguas indígenas nos próximos 15 anos

Notícia compartilhada da Agência Brasil.

banner_linguas_indigenas

indios_-2333

Maricá (RJ) – Na Aldeia Mata Verde Bonita, 20 famílias Guarani Mbyá se comunicam na língua materna, um idioma indígena do tronco tupi-guarani.

O Brasil corre o risco de perder, no prazo de 15 anos, um terço de suas línguas indígenas, estima o diretor do Museu do Índio, José Carlos Levinho. Atualmente, os índios brasileiros falam entre 150 e 200 línguas e devem ser extintas, até 2030, de 45 a 60 idiomas.

“Um número expressivo de povos, inclusive na Amazônia, tem cinco ou seis falantes apenas. Nós temos 30% [das línguas] dos cerca de 200 povos brasileiros com um risco de desaparecer nos próximos dez ou 15 anos, porque você tem poucos indivíduos em condições de falar aquela língua”, alerta Levinho.

Segundo ele, desde que o Museu do Índio iniciou um trabalho de documentação de línguas dos povos originais, chamado de Prodoclin, em 2009, os pesquisadores do projeto viram dois idiomas serem extintos, o apiaká e o umutina.

“Tem também a situação de [línguas faladas por] grupos numerosos, em que você tem um número expressivo de pessoas acima de 40 anos falando o idioma mas que, ao mesmo tempo, tem um conjunto de jovens que não falam mais a língua e não estão interessados em mantê-la. Então, você não tem condições de reprodução e manutenção dessa língua. A situação é um tanto quanto dramática. Esse é um patrimônio que pertence não só à comunidade brasileira como ao mundo”, destaca Levinho.

É uma perda irreparável tanto para as culturas indígenas quanto para o patrimônio linguístico-cultural mundial. Especialistas e indígenas ouvidos pela Agência Brasil afirmam que esses idiomas, que levaram séculos para se desenvolver, são fundamentais para a manutenção de outras manifestações culturais, como cantos e mitos.

Além disso, as línguas são sistemas complexos que, uma vez estudados e compreendidos, podem contribuir para uma melhor compreensão da própria linguagem humana. Indígenas ouvidos pela reportagem também consideram seu idioma materno um instrumento de autoafirmação da identidade e da cultura.

Quem também acredita que essa extinção possa ocorrer nos próximos anos é o linguista Wilmar da Rocha D’Angelis, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenador do grupo de pesquisas Indiomas, especializado em línguas nativas do território brasileiro. Sua estimativa é que pelo menos 40 línguas sejam perdidas no prazo de 40 anos.

“Nenhum linguista gosta de fazer esse tipo de vaticínio, até porque nosso papel costuma ser o de contribuir para que tais línguas minoritárias se fortaleçam e desenvolvam estratégias de sobrevivência”, destaca D’Angelis. “Eu arriscaria dizer que devem se extinguir, nos próximos 40 anos, a média de uma língua por ano”, completa.

O número de idiomas falados por indígenas brasileiros varia de uma fonte para outra, já que a definição de fronteiras entre as línguas é um exercício subjetivo, que depende de fatores como critérios gramaticais, linguísticos e até políticos. D’Angelis estima que existam no Brasil entre 150 e 160 idiomas.

No site do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas da Universidade de Brasília (UnB) há uma lista com 199 idiomas.

O portal Ethnologue.com, que funciona como um banco de dados das línguas faladas hoje no mundo, lista cerca de 170 línguas indígenas com falantes vivos no Brasil. Entre esses idiomas, 37 são considerados quase extintos, ou seja, os falantes são idosos e têm pouquíssima oportunidade de usar o idioma. Há ainda 23 línguas consideradas moribundas, ou seja, são faladas apenas pela faixa etária mais velha da população, mas ainda são usadas no cotidiano por essas pessoas.

Excluindo-se essas 60 línguas, sobram cerca de 110 que ainda são usadas pelas parcelas mais jovens da população. Mesmo assim, é preciso considerar que muitas delas têm poucos falantes. D’Angelis diz, por exemplo, que 100 línguas brasileiras têm menos de mil falantes.

O pesquisador lembra que cerca de mil idiomas indígenas brasileiros foram extintos nos últimos 500 anos. “Na esmagadora maioria dos casos, a extinção se deu junto com a extinção da própria comunidade de falantes, isto é, os próprios índios”, afirma o pesquisador.

Segundo ele, hoje o maior risco para a existência desses idiomas não está mais no extermínio da população indígena. “Ainda que se conserve, em áreas como Mato Grosso do Sul, Rondônia e algumas outras partes da Amazônia, uma situação de violência institucionalizada que ainda tem essa marca genocida, a destruição das línguas minoritárias, no Brasil atual, não depende do extermínio dos falantes. Os processos de escolarização, a exploração da mão de obra indígena e diversos programas sociais, incluindo aqueles que favorecem a entrada da televisão em todas as aldeias, vêm causando impacto considerável.”

Para o diretor da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, no Amazonas, Isaías Pereira, quando um índio deixa de falar sua própria língua, perde-se também uma parte importante de sua cultura. “Com o descobrimento do Brasil e a colonização, desde aquela época, começamos a perder nossa cultura. A gente tem que ficar lutando para manter nossa própria cultura, nossa própria fala.”

Já o pesquisador Glauber Romling da Silva, que participa do projeto de documentação do Museu do Índio, compara a perda de uma língua à extinção de uma espécie. “Quando se preserva uma língua, se está preservando os costumes e tudo que vem junto com isso. Muitas vezes o perigo de extinção não é só na língua em si. Às vezes, a língua até mostra uma vitalidade, mas seus estilos formais, cantos, a parte cultural em que ela está envolvida somem muito rápido. De uma geração para outra, isso pode sumir”, diz.

Romling lembra que a Constituição garante uma educação diferenciada aos indígenas, com escolas próprias, que ensinem o idioma nativo. No entanto, segundo ele, há uma série de dificuldades que comprometem o ensino do idioma e até a qualidade da escola como um todo, como a falta de professores treinados e de material didático, além de problemas estruturais na própria unidade de ensino. Diante disso, muitos jovens passam a frequentar escolas urbanas.

O diretor do Museu do Índio, José Carlos Levinho, acredita que, da forma como são estruturadas hoje, as escolas nas aldeias não contribuem para a preservação da cultura e da língua desses povos.

“A educação é um processo de socialização e quando ela é mal fundamentada cria mais problemas do que soluções. Você encontra aberrações desde a maneira como as escolas são construídas até sua lógica de funcionamento. A estrutura não tem a flexibilidade necessária para dar conta daquela realidade. O grande problema na relação com os índios é não considerar as particularidades”, diz.

Segundo ele, é preciso que os governos dialoguem com os indígenas e levem em consideração a singularidade de cada povo. “É preciso enxergar o outro de verdade, respeitar o outro do jeito que ele é. E criar as condições para que se possa atendê-lo.”

A secretária nacional de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, Macaé Evaristo, diz que o governo tem buscado investir na formação de professores indígenas por meio do projeto Saberes Indígenas na Escola, para garantir que o idioma nativo seja passado para as crianças nas escolas.

“Nós organizamos redes com as universidades para atender à diversidade de línguas indígenas. Hoje no Projeto Saberes Indígenas estamos trabalhando na formação de professores em 77 línguas indígenas”, explica. “Mas é uma longa caminhada. É uma agenda complexa.”

Segundo ela, o Ministério da Educação (MEC) também tem investido na pesquisa e documentação de línguas indígenas, na preparação de materiais didáticos e na construção de escolas indígenas.

“Nós partimos do pressuposto da garantia da educação a crianças, adolescentes, jovens e adultos, independente de sua etnia em qualquer lugar do país. Nossa orientação aos sistemas de ensino é que se escute as populações no desenvolvimento do planejamento da oferta educativa. Que [os sistemas] garantam que aquelas populações que têm uma língua própria tenham acesso ao ensino em sua língua materna e acesso ao português como segunda língua”, diz a secretária.

Posted in Notícias, Textos | Tagged , , , , | Comentários desativados em Brasil pode perder 30% de suas línguas indígenas nos próximos 15 anos

Esquerdismo: Função da pseudocrítica e pseudorevolução na sociedade tecnoindustrial.

Este texto, IZQUIERDISMO: Función de la pseudocrítica y la pseudorrevolución en la sociedad tecnoindustrial, em seu original, foi traduzido por um colaborador anônimo.

8842352325_94ef0711e8_b

Esquerdismo:

Função da pseudocrítica e pseudorevolução na sociedade tecnoindustrial.[1,2]

Definição:

Último Reducto entende por “esquerdismo” qualquer corrente ou tendência social que se fundamenta nos seguintes valores: igualdade, solidariedade indiscriminada e compaixão alegada por grupos de supostas vítimas (com estes ou outros nomes como “justiça social”, “cooperação”, “fraternidade”, “amor universal”, “paz”, etc.). [3]

Em geral, o conceito de esquerdismo inclui quase qualquer corrente aparentemente crítica que não trate realmente de combater a sociedade moderna, mas sim de “melhorá-la”.[4] O esquerdismo, em geral, não pretende acabar com a sociedade tecnoindustrial, só quer que essa cumpra os valores acima citados. Que seja (mais) “justa”, (mais) “igualitária”, (mais) “solidária”, etc. Embora também haja esquerdismos radicais que dizem pretender combater o sistema (geralmente eles acrescentam o adjetivo “capitalista” e / ou “patriarcal”), sempre o fazem se baseando nestes valores.

O esquerdismo inclui, em geral, o que normalmente se entende por esquerda, mas não somente isso. O conceito de “esquerda” costuma ser quase um sinônimo de socialismo (em quase todas as suas versões – inclusive as libertárias ou anarquistas), mas também há “esquerdismos” não socialistas (por exemplo, todas as correntes e iniciativas humanitárias derivadas exclusivamente do liberalismo filosófico ou da filantropia cristã – algumas associações de base, certas instituições de caridade, algumas missões, etc.). De fato, ao menos alguns dos valores e ideais fundamentais da maior parte disso que hoje em dia se pode chamar “direita” são no fundo os mesmo dos que se denominam “esquerda”.

O esquerdismo, em particular, abrange todas as lutas e iniciativas governamentais ou não, pela igualdade e os direitos alegados por grupos de supostos “oprimidos” (“antipatriarcalismo” em geral e feminismo em particular, “liberação” homossexual, antirracismo, solidariedade com imigrantes, ajuda aos pobres, iniciativas para a integração social de marginalizados e excluídos, defesa dos trabalhadores, dos desempregados, desvalidos, dos animais, etc.), a favor do desenvolvimento (“sustentabilidade”, é interessante acrescentar), da justiça, da paz, das “liberdades” e dos direitos e da democracia em geral (lutas pela divisão de riquezas, correntes favoráveis à “regulamentação” das drogas e da “liberdade sexual”, antimilitarismos, pacifismos, “ecologismos” sociais – as correntes que se denominam ecologistas estão focados prioritariamente em assuntos sociais do que os ecológicos em si – e ambientalismos – correntes cuja função real é manter o ambiente suficientemente habitável para que a população possa seguir cumprindo com as exigências da sociedade tecnoindustrial-, anticapitalismos, etc.). Abrangendo praticamente tudo isso que se chama “movimentos sociais”, “antagonistas”, “alternativos”, etc. assim como a imensa maioria das ONGs, além de qualquer iniciativa, oficial ou não, baseada em favorecer igualdade, solidariedade (indiscriminada) e defesa de supostas vítimas ou pessoas com pouca força (as quais hoje em dia cobrem boa parte das atividades de governos e instituições).

Costuma-se considerar “progressismo” e “esquerdismo” como sinônimos, o que normalmente acontece, mas nem sempre. Se a ideia de progresso [5] defendida num progressismo está baseada em aumentar a igualdade, solidariedade (para além do grupo natural composto por pessoas próximas) e a defesa de supostas vítimas ou pessoas menos favorecidas, que geralmente é considerada a noção de progresso de quase todos os progressismos atuais, pode se considerar progressismo como esquerdismo. Mas nem todo progressismo tem essa ideia humanitária de progresso: o colonialismo do século XIX, por exemplo, se baseava nisso para justificar suas demandas em outra ideia de progresso muito menos “delicada”, e em nada compatível com o progressismo esquerdista.

Por outro lado, ainda que o esquerdismo seja abertamente progressista, há também correntes esquerdistas minoritárias alegadamente contrárias ao progresso, ou seja, supostamente não progressistas. [6] Hoje em dia, desde de mais ou menos uma década, [7] a ideologia dominante na sociedade tecnoindustrial é esquerdista. As instituições e os meios de comunicação de massas se baseiam em valores fundamentalmente esquerdistas de igualdade, solidariedade (indiscriminada) e vitimismo, e os transmitem e os colocam em prática adotando, apoiando e fomentando muitas das propostas que antes defendiam exclusivamente setores minoritários (os esquerdistas de alguns anos atrás). Basta observar minimamente a propaganda institucional, as notícias, as formas massivas de arte e entretenimento, a publicidade… para se dar conta disso. Como consequência, a população em geral assumiu valores esquerdistas dessas propagandas em maior ou menor grau.

Porém, muita gente se convenceu de que os ditos valores esquerdistas são, não apenas minoritários, como contrários aos da sociedade moderna atual a qual consideram não solidária e promotora da desigualdade. Esta própria crença, por sua vez, é parte essencial do esquerdismo, pois o justifica e o promove.

Avaliação:

Todos aqueles que realmente aspiram em combater eficazmente o sistema tecno-industrial, deveriam rechaçar o esquerdismo, por que:

a) A igualdade, a solidariedade com indivíduos e grupos que não seja os seus e a ajuda a supostas vítimas e menos favorecidos são imprescindíveis para evitar conflitos, tensões e comportamentos antissociais contrários ao eficiente funcionamento da máquina social. Estes valores são necessários para manter a coesão do sistema tecno-industrial e evitar a sua desintegração e desorganização. Ao assumi-los como seus e promovê-los, o esquerdismo ajuda o sistema.

b) O esquerdismo se baseia em valores que são essencialmente voltados à sociedade tecno-industrial. Por consequência, o que o esquerdismo põe em questão não é o sistema em si, mas apenas o que, segundo os esquerdistas, o sistema não cumpre suficientemente com base nesses valores e nem, portanto, procura de maneira satisfatória os fins que eles implicam. Assim, o efeito do esquerdismo nunca poderá acabar com o sistema, mas apenas “aperfeiçoá-lo”, de modo que este funcione de maneira mais eficaz. Portanto, o esquerdismo é, inevitavelmente, reformista e nunca é realmente revolucionário. Quando o esquerdismo não se reconhece como reformista, e se apresenta como “revolucionário” ele é pseudo revolucionário (algo comum entre as formas de esquerdismos mais radicais).

c) O esquerdismo é um mecanismo de alarme, autorreparação, automanutenção e autocatálise do funcionamento e do desenvolvimento do próprio sistema tecnoindustrial. Com suas pseudocríticas, o esquerdismo atua como um mecanismo de alarme apontando as fraquezas, contradições, limites e falhas do sistema. E com suas propostas favorece sua reparação e reajuste, promovendo “melhoras”, ou ao menos paliativos, ações que servem para reduzir as tensões sociais, psicológicas e ecológicas que podem dificultar a manutenção, operação e desenvolvimento da sociedade tecno-industrial. O esquerdismo lubrifica a máquina social, não a destrói.

d) Com as suas propostas, ativismo, grupos, ambiente, estética, parafernália, ideologia, etc., aparentemente críticos, combativos, rebeldes e radicais oferece substitutos artificiais, inócuos para a sociedade tecno-industrial, de certas tendências e necessidades psicológicas humanas naturais incompatíveis com a manutenção e desenvolvimento do sistema (por exemplo, substitui a sociabilidade humana natural que exige, para poder ser plenamente satisfatória, que os grupos sociais sejam em pequena escala – grupos nos quais todos os membros sejam capazes de se conhecerem e relacionarem entre si -, através do sentimento de pertencer a grandes organizações e / ou ambientes e subgrupos de esquerda). Também direciona e converte em inofensivos ao sistema certos impulsos e reações que, se expressados de maneira espontânea, poderiam ser danosos e inclusive destrutivos para a estrutura e o funcionamento da sociedade tecno-industrial (por exemplo, o ativismo esquerdista serve para trazer um frescor à hostilidade provocada pela frustração crônica gerada pelo modo de vida tecno-industrial, de modo que esta não danifique real e gravemente o funcionamento da estrutura do sistema). Assim, o esquerdismo com suas propostas oferece aos indivíduos a falsa ilusão de que abraçando-o podem agir de maneira natural e livremente dentro da sociedade tecno-industrial, e com suas práticas passa a impressão, não menos falsa, de estarem se rebelando. Funciona, então, também como válvula de escape psicológica do sistema.

e) Além disso, devido ao seu papel como uma válvula de escape psicológico e sua aparência muitas vezes pseudocrítico e pseudo revolucionário, o esquerdismo atua como uma armadilha que atrai as pessoas e grupos realmente críticos e potencialmente revolucionárias, desativando-os e os transformando em esquerdistas ao invés de revolucionários. Os entornos e correntes esquerdistas utilizam da socialização politicamente correta (tabus e dogmas) para aniquilar dentro dos esquemas ideológicos e psicológicos esquerdistas as ideias, os valores, as motivações, os fins. etc., naturais, originais e potencialmente revolucionários de muitos daqueles que estavam em contato com eles. Assim, aqueles que de forma independente chegam a se sentirem descontentes com o que a sociedade tecnoindustrial está fazendo com o mundo não artificial e com a natureza humana, com a intenção de entrar em contato com outras pessoas com inquietudes semelhantes, se aproximam frequentemente a correntes, ambientes e grupos esquerdistas, já que estes aparentam ser críticos. Muitos ficam inconsciente e psicologicamente presos a esses ambientes por criarem laços afetivos e sócio afetivos que anulam sua capacidade de reação e crítica, e acabam assim, em maior ou menor nível, tácita ou explicitamente, de boa e de má vontade, abandonando ou colocando de lado os seus próprios valores e atitudes originais e adotando os valores, dogmas, tabus, discursos, teorias e a (sub)cultura esquerdistas. E também acontece no sentido inverso: quando surgem lutar, ambientes, correntes teorias ou iniciativas críticas à sociedade tecnoindustrial, a princípio diferentes ou pouco afim ao esquerdismo, muitos esquerdistas (em especial os mais pseudoradicais) sentem-se atraídos por elas. Invadem esses ambientes e lutas críticas originalmente fora do esquerdismo, e/ou adotam seus discursos como próprios adulterando-os para que se ajustem às teorias e aos valores básicos esquerdistas, tendo como resultado a conversão ao esquerdismo dessas lutas ou iniciativas inicialmente não esquerdistas, e com isso sua desativação como lutas potencialmente revolucionárias. O esquerdismo atua, por tanto, também como mecanismo de autodefesa do sistema ao anular impulsos, iniciativas e atitudes rebeldes, disfuncionais e potencialmente perigosas ao sistema e utiliza-os (ao modo do “jiu-jitsu” psicológico e ideológico) a favor da sociedade industrial, integrando-os aos ambientes e correntes esquerdistas.

f) O esquerdismo é o resultado de alienação, de um estado de fraqueza e alienação psicológica muitas vezes causada por condições de vida inerentes à sociedade tecno-industrial. A tecnologia moderna nega aos indivíduos a possibilidade de desenvolvimento e satisfação plena e autônoma de suas tendências, habilidades naturais e necessidades, ou seja, a liberdade, inibindo ou pervertendo a expressão de sua natureza. Os priva totalmente da possibilidade de exercer controle sobre as condições que afetam suas próprias vidas e viola sua dignidade, ao convertê-los em seres desvalidos e totalmente dependentes do sistema. Os obriga a viver em condições antinaturais para a qual não estão biologicamente preparados (ruídos, alta densidade populacional, o ritmo de vida, mudanças rápidas no ambiente, ambientes hiperartificializados, etc.). Regula e restringe seu comportamento natural em muitos aspectos. etc. Tudo isso gera mal estar psicológico em muitos indivíduos (baixa auto estima e sentimento de inferioridade, tédio, frustração, depressão, ansiedade, raiva, vazio, etc.). E esse desconforto se expressa na forma de vitimização, hedonismo, hostilidade, etc. Esses sentimentos e atitudes são comuns na sociedade tecno-industrial e dão lugar a diversos comportamentos antinaturais. O esquerdismo é um desses comportamentos. Seus valores fundamentais são inspirados pelos sentimentos de inferioridade por trás de suas teorias, discursos e atividades estão a falta de confiança em si mesmo, a hostilidade e o tédio. Como o esquerdismo, na realidade, favorece o desenvolvimento da sociedade tecnoindustrial, ele atua como um mecanismo de realimentação da alienação e, com ela, de si mesmo.[8]

g) Os valores e ideias esquerdistas são contrários à realidade, razão, verdade e à natureza (humana ou não). Em muitos casos isso é efeito da alienação inerente a sociedade tecno-industrial em geral, e ao esquerdismo em particular, que por sua vez os realimenta. A maioria das teorias esquerdistas são lógica, empírica e filosoficamente absurdas. E a teoria e os valores básicos esquerdistas, bem como alguns outros que são frequentemente associados com o esquerdismo, são, na melhor das hipóteses, perversões de valores naturais e corretos (por exemplo, a solidariedade indiscriminada é uma adulteração coletivista de uma solidariedade natural entre parentes) e , na pior das hipóteses, mera bobagem (o relativismo, por exemplo). O esquerdismo necessita, portanto, distorcer os fatos para se adequar a sua teoria e os seus valores.

h) O esquerdismo é uma ameaça para a autonomia da natureza selvagem, incluindo a verdadeira liberdade humana. Ao colocar a igualdade, solidariedade indiscriminada ou a defesa de vítimas acima de qualquer outro valor, descuida, ou mesmo deprecia a autonomia do não artificial – porque, na verdade, este é incompatível com esses valores básicos esquerdistas.

Conclusão:

[Este ponto é direcionado especialmente a todos aqueles que desejariam poder fazer algo para tentar acabar realmente com o sistema tecno-industrial, mas, devido que sentem um genuíno e justo sentimento de rejeição ao esquerdismo, se mostram corretamente muito suspeitos com a maioria das correntes supostamente críticas à sociedade industrial atual].

Como agir a respeito do esquerdismo?

– Criticá-lo, revelando o que ele realmente é: um engano, uma armadilha, um mecanismo do próprio sistema para se perpetuar e crescer de maneira mais fácil e eficiente, um substituto pobre da verdadeira revolução e uma loucura fruto das condições antinaturais inerentes à vida moderna. Mas sem que a crítica se converta a um objetivo em si. É apenas um meio, um requisito prático, imprescindível hoje em dia, para tentar conseguir um efeito muito mais importante: eliminar o sistema tecno-industrial e acabar com a submissão da natureza selvagem – interna e externa aos seres humanos – que este inevitavelmente conduz

– Evitar cair na armadilha. Tentar nos manter estritamente separados do esquerdismo, da sua influência, seu ambiente, seus valores, teorias e discursos. E vice e versa, manter o esquerdismo afastado de nós; Cuidar para que nossos valores, teorias e discursos não sejam absorvidos, pervertidos e desativados pelo esquerdismo. [9]

– Não se envergonhar de ter valores e ideias não esquerdistas; não deixar que as reações sobresocializadoras [10], os dogmas e tabus esquerdistas politicamente corretos nos influenciem. Isto, por sua vez, ajudará a manter os esquerdistas afastados de nossas teorias, discursos e ambientes, de nossas lutas, evitando assim sua nefasta influência.

– Criar e difundir uma ideologia realmente crítica, não esquerdista, verdadeiramente revolucionária e contrária ao sistema tecno-industrial, à civilização e a toda forma de sistema social que inevitavelmente atente contra a autonomia do funcionamento dos sistemas não artificiais.

Notas:

[1] Talvez “esquerdismo” não seja o termo mais adequado para expressar o conceito ao qual o Último Reducto quer referir aqui. Todo mundo tem certa noção intuitiva do que é o ‘esquerdismo’, mas muitas vezes essas noções podem variar consideravelmente de um indivíduo para outro e poucos são capazes de explicar corretamente e coerentemente qual a sua ideia de ‘esquerdismo’. Além disso, como no manicômio (e não por acaso), neste noções intuitivas do esquerdismo, normalmente, nem estão todos os que são, nem são todos os que estão (certas noções e definições incompletas, muitas vezes não abrangem todas as formas de esquerdismo realmente existente -por exemplo, consideram esquerdismo apenas o marxismo-leninismo, ou apenas o anarcosindicalismo, ou somente a subcultura “antagonista”, etc. – e certas noções e definições excessivamente vagas ou amplas poderiam agrupar correntes que não são realmente esquerdistas – por exemplo, certos islamismos-).

[2] Versão atualizada em março de 2015 © copyright 2007, Último Reducto.

[3] Existe outra característica que também seja, provavelmente, comum a praticamente toda forma de esquerdismo: a crença na possibilidade de alcançar algum tipo de utopia, ou seja, um mundo ou ao menos uma sociedade de ideias harmonioso, sem conflitos ou problemas. A maioria, se não todos os tipos de esquerdismos, têm como fim alcançar alguma forma de utopia. No entanto, a crença em mundos e sociedades ideais e perfeitas, o desejo de alcançá-los e sua adoção como fins a alcançar não é necessariamente exclusividade do esquerdismo.

[4] A sociedade tecno-industrial deve ser combatida, não reformada, porque viola inevitavelmente a autonomia do funcionamento dos sistemas não artificiais, ou seja, da natureza selvagem, tanto interna como externa aos seres humanos. Para se aprofundar nesse assunto, veja por exemplo La Sociedad Industrail y Su Futuro, Freedom Club ()Ediciones Isumata, 2011.

[5] Progresso: crença na bondade absoluta de algum tipo de processo de desenvolvimento.

[6] Embora, na realidade, todos defendem, de uma forma ou outra, algum tipo de progresso, mesmo que seja apenas um progresso imaterial, moral, “espiritual”.

[7] Isto deve ser entendido por referência à data em que foi publicada a primeira versão deste texto: 2007.

[8] Esta é apenas uma abordagem geral sobre a psicologia do esquerdismo. Pode-se fazer muitas nuances sobre, como por exemplo, que nem sempre é a alienação causada pela vida moderna a causa de traços psicológicos próprios do esquerdismo.

[9] Nesse aspecto, não caia na ingenuidade e superficialidade de crer que todo aquele que aparenta rechaçar o esquerdismos realmente não é esquerdista. Não é suficiente simplesmente usar o termo “esquerdismo” de forma depreciativa. Muitos esquerdistas que cumprem pragmaticamente a definição de esquerdismo dada neste texto (por exemplo, muitos anarcosocialistas, autônomos, anticapitalistas, insurrecionalistas, situacionistas, anarcoprimitivistas, marxistas, etc.) muitas vezes criticam algo que eles chamam de “esquerdismo”, dando a entender que eles mesmo não se reconhecem com o que de fato são: esquerdistas a sua maneira. Para identificar os esquerdistas é necessário atentar em quais são seus valores básicos, seus ideais, objetivos, referências e ascendentes ideológicos, etc. e não apenas se eles expressam explícito ou aparente rechaço ao “esquerdismo” em seus discursos.

[10] Sobresocialização: internalização excessiva por indivíduos dos valores de seu ambiente social, grandemente favorecida por este, de modo que são incapazes de contrariá-los sem sentir vergonha ou remorso. Afeta, de uma maneira ou de outra, quase todas as pessoas, mas em especial aqueles indivíduos que são mais suscetíveis às influências que os rodeia. É um fenômeno comum na atual sociedade tecno industrial (ainda que não apenas nela) e especialmente abundante e intenso nos subsistemas esquerdistas. Tem muito a ver, por exemplo, com a noção do “politicamente correto”, já que é o que permite que esta se imponha.

Posted in Textos | Tagged , , , , , , , , , , , , , , | Comentários desativados em Esquerdismo: Função da pseudocrítica e pseudorevolução na sociedade tecnoindustrial.

[México] Olhem quem eliminou seu pasamontañas!. Sobre a candidatura zapatista para 2018 e os anarquistas

Texto compartilhado da Agência de Notícias Anarquistas.

mexico-olhem-quem-eliminou-seu-pasamontanas-sobr-1

Apenas com uma pequena surpresa me veio a notícia que o EZLN e o Congresso Nacional Indígena (CNI) postulariam uma candidata independente e indígena para as sondagens presidenciais em 2018, confirmando, pela milésima vez, que as guerrilhas não deixam de ser o que são: grupos políticos armados, autoritários e vanguardistas para a tomada do Poder. Isto parece para muitos; e em particular, para alguns setores do “anarquismo” civil ou libertário [1] tinham esquecido disso, e esta situação em si n&ati lde;o é algo que você pode culpar aos guerrilheiros, uma vez que eles são aqueles que estão sabendo jogar o jogo da política, mas sim a falta de clareza e análises entre os ácratas mesmos. Tempo atrás vimos como o EZ – ao contrário de outras guerrilhas de hoje como o EPR, ERPI, TDR, etc -, abandonaram as classificações proletárias do século XIX, para transformá-las em uma mais moderna, mas com a mesma essência; já não era mais a luta aberta contra o capitalismo (embora eles se digam anticapitalistas) mas contra o neoliberalismo, já não são mais os proletários e burgueses, agora são os de baixo e os de cima, já não era a destruição do Estado Burguês, mas a luta contra o Mau Governo, já não era a estrutura clássica do partido de quadros, mas nós vimos a transforma&cc edil;ão da Frente Zapatista em individualidades e coletivos aderentes à Sexta, afirmando que autônomos cumpriam as ordens do comando; mas disfarçada sob o pretexto de solidariedade com os zapatistas, suas comunidades e seus setores de luta fora de Chiapas (a CNTE só para mencionar algum), vimos como criticavam os governantes e promoviam seu mandar obedecendo, e também vimos como eles promoveram a “autonomia” através de recursos obtidos por Associações Civis e Organizações Não Governamentais (AC’s e ONG’s). Tudo isso tragaram certos “anarquistas”, mas obviamente NEM TODOS.

Eu me lembro muito bem como levantaram a Outra Campanha em tempo de eleição em 2005, quando o Subcomandante Marcos , então “Delegado Zero”, excursionou qual político por todos os cantos do país que lhe abriu as portas para dizer-lhe das suas dores e suas lutas, denunciando principalmente a ineficiência orgânica dos partidos políticos (com registro, claro!), falando da democracia representativa, bem como a podridão da classe política, solicitando a abstenção e boicote eleitoral, a organiza&c cedil;ão de baixo para cima e à esquerda e a construção de redes de luta autônoma, porque “de cima já não se pode fazer nada”. Para a época, isso trouxe a atenção de outras gerações de anarquistas que não tinham sido enganadas quando aconteceu o levantamento de 94. Mas não foram só os anarcos que responderam ao chamado, mas praticamente cada grupo ou pessoa que se encontrava na luta social, fazendo uma mistura de tudo com todos na Outra Campanha, amontoando tendências que inclusive eram contrárias entre elas, mas que em verdade iriam servir os fins políticos próprios do zapatismo e que não deixou de mostrar a clássica estratégia comunista da Frente Ampla, mas como sempre usando outras palavras talvez mais poéticas.

Pouco depois começaram a surgir críticas e distanciamentos dentro dos espaços anarquistas. Uns prontamente cortaram os laços e outros ainda timidamente erigiram críticas como as que promoveram o Bloco Anti-Constitucionalista da Outra Campanha [2], para a proposta de uma nova constituição política ou a crítica bem sucedida (salvando nossas grandes distâncias), que na época fez o Grupo Socialista Libertário de Monterrey, intitulada “A Sexta Declaração e a Outra Campanha: um programa e um projeto para a continuação do Capitalismo”[3].

Porque eu trago isto em questão? Primeiro para refrescar a memória um pouco e, em segundo lugar, para demonstrar a facilidade com a qual se tem adoçado orelha de muitos anarquistas, que ingenuamente quiseram ver anarquia onde não há, chegando a conformar não oficialmente a falácia do “anarco-zapatismo” falacioso não pela novidade da candidatura zapatista que finalmente revela seu verdadeiro rosto escondido debaixo do capuz, mas porque o zapatismo sempre foi reformista, mediador e recuperador. REFORMISTA porque ele s empre buscou a legalidade, a revogação, a aprovação e a conformidade com as leis ou acordos, o reconhecimento legal de povos indígenas dentro do sistema com base no ‘direitos’, o paternalismo de estado com apoio econômico, entre outras coisas; MEDIADOR porque ele está sempre usando os recursos que o Estado concede àqueles que vão fazer o trabalho social lá onde não se chegaria, fornecendo os meios e infraestrutura que, em última análise, servirá para fazer o trabalho – não é por acaso que em San Cristóbal de las Casas é um dos lugares onde abundam ONG’s e AC’s com ligação com o EZ (que grande negócio!) e que tem servido de todos os lados como apaziguador do confronto direto contra o Estado/Capital, propiciando a convivência, a civilidade e o pacifismo contra um inimigo que é brutal; e RECUPERADOR, porque suas ações não sendo um ponto de ruptura anti-estatal acaba jogando com os valores do sistema, assim como nos mostram abertamente hoje.

Agora que as coisas são claras, quantos anarquistas vão continuar apoiando esta luta? Agora que o anarco-zapatismo foi dividido em dois, com a qual metade permanecerá as pessoas que vagueiam nessa ideia, com os anarco ou com os zapatistas? Se você escolher metade do zapatismo lá onde tudo se encaixa, já nos deixe de chamar de companheiros, mas o problema com o lado dos “anarcos” é que aqui não se tem metades, ou se é ou não. Quando aqui um projeto anarquista promoveu um projeto de governo, um projeto de Poder? Jamais! Não vale tirar da manga as traições históricas da Espanha de 36, porque embora fossem traições, a crítica anarquista que muitos fizemos avançar tenha desfeito o anarquismo obreiro, industrialista e progressista, e muito menos não queiram nos aparentar com os politiqueiros marxistas da Frente de Estudantes Libertários do Chile que andam de presidentes de federações estudantis por essas terras, ou com aqueles que querem mostrar as experiências anarquistas como exemplos do Poder Popular.

Pobre daqueles, que minha memória deixa recordar, que diziam – eu que não vou marchar junto com o PRD, fazendo coro de que já tinha a consciência de que os partidos políticos e a via eleitoral estavam fadadas ao fracasso e eram em si parte do problema; devem estar a beira de um colapso porque seus heróis fizeram o que eles disseram que não fariam: buscar o Poder, ou talvez estão tomando com bons olhos a nova faceta e acatem os requisitos, as ordens porque, sim, disfarçadas de “solidariedade” e realismo pol&iac ute;tico.

Agora, mais hipster não poderia ter sido a proposta do EZ: uma mulher, indígena, de esquerda, para a presidência. Valha-me Deus! Por acaso ouviram o novo disco do Manu Chau? É típico do esquerdismo pós-modernista que procura tirar vantagem e endeusar a marginalidade para ganhar seguidores. Eles talvez pensem em um candidato que seja queer, vegano, de preferência moreninho e pobre, com lentes de macarrão, que sofreu bullying na escola primária, ou não!, melhor ainda, eles deveriam acabar com as intrigas com o AMLO (Andrés Manuel López Obrador) e fazer uma coalizão de esquerda, já que sabemos que para o zapatismo o AMLO não é de esquerda mas de centro, mas que importa pois o fim justifica os meios, “o que importa é salvar o país!”. Somente desta forma você pode resgatar e reutilizar a bandeira tricolor; herança do primeiro império e bandeira da consolidação do Estado-nação mexicano, que agora terá nesta bandeira um símbolo purificado da resistência e da dignidade…

Enquanto alguns tenham sonhos masturbatórios sobre isso, este lado continuará ateando fogo a qualquer símbolo do sistema, à suas bandeiras mexicanas, como aconteceu em 2014, no 1 de maio em Oaxaca, ou atacando o quartel-general do INE (Instituto Nacional Eleitoral), como ocorrido em Oaxaca, Puebla, Xalapa ou da cidade do México [4].

Valeria a pena mencionar as merdas que foram os governos de esquerda na América Latina, como seu amigo Evo Morales Presidente da Bolívia, o indígena Aimara de esquerda que teria vindo para salvar tudo, ou a Presidenta Bachelet que também veio para acertar a vida dos cidadãos chilenos por ser uma mulher de esquerda…! E nós não dizemos que esses governos foram uma porcaria porque eles têm exercido uma má gestão, mas porque em si, qualquer um desde que governo – e mais, que um presidente – servem para dar continui dade ao sistema: ao Estado, ao progresso, à sociedade tecno-industrial. Já não falo nem dos irmãos Castro em Cuba, nem de Chávez ou Maduro da Venezuela [5].

Mas além de tudo, nos é ridículo, que a proposta de EZ e do CNI surjam de um ambiente indígenas para organizar e gerir a sociedade de massas [6], buscando uma governança e ordem generalizada, porque estes tendem a homogeneizar, a controlar; especialmente se a dinâmica do capital se encontra mediando tudo. Um mundo governado por Estados-nações que degradam, invadem e destroem os territórios ancestrais; que impõe identidades nacionais, criadas para manter juntos os indivíduos sob o disfarce de suas leis; que destroem a biodiversidade e a própr ia natureza, é precisamente o mundo contra o qual lutamos. Eu não entendo como, hipoteticamente pensando, se sua candidata ganhasse, se poderia parar o avanço do progresso [7] e do industrialismo, que vai marginalizando cada dia mais esses setores indígenas com os quais dizem estar. Em última análise, o que vemos é que a proposta zapatista visa administrar o progresso.

Na hipótese que isso ocorresse, se tivéssemos um presidente da esquerda zapatista para 2018, teriam eles que se preparar para a insurreição não só anarquista, mas também de outros grupos que reconhecem o Estado um garantidor do progresso; o grande problema aqui é o seguinte: eles nos conhecem muito.

Rebelião Imediata

MÉXICO, 18/10/2016

[1] Ao conceito de anarquismo civil me refiro aquele que busca afirmação social, que é tratado dentro da lei e que condena e às vezes aponta diretamente para os anarquistas que passaram para o ataque; que tanto pede permissões e direitos quanto apela para reformas sociais e buscando influenciar mesmo postos políticos nos espaços que pertencem ao Poder, sob as limitações que ele impõe; que está lado a lado com grandes setores da esquerda, que é populista e termina, muitas vezes chamando-se apenas como um “libertário” para não assustar as massas, escondendo a natureza ofensiva que tem tido sempre o anarquismo. Este anarquismo não concreta de todo uma ruptura com o Estado, porque na maioria dos casos, seus paradigmas são baseadas nas teorizações do início do século XX, que não são adaptadas para os dias atuais e além disso, contaminados por experiências históricas próximas do marxismo, o que o faz flertar com a social-democracia e seu cidadanismo.

[2] http://anticonstitucionalistas.blogspot.mx/

[3] https://webgsl.wordpress.com/2007/11/30/la-sexta-declaracion-y-la-otra-campana-un-programa-y-un-proyecto-para-la-continuidad-del-capitalismo/

[4] Aqui enumera-se mais ou menos recentes ações apenas para mostrar uma das formas e objetivos que tiveram os anarquistas no México, mas que são não somente restritas a este tipo de intervenção: ataque a sede do PRI (Partido Revolucionário Institucional) em Oaxaca, lançado em 1 de maio de 2015. Ataque explosivo nas instalações do INE em Puebla em 27 de março de 2015. Incêndio no INE e SEDESOL (Secretaria de Desenvolvimento Social) em 1 e 2 de junho (respectivamente) de 2015 em Xalapa. Ataque em uma sede do PRI-DF em plena marcha de comemoração do 43 aniversário do Halconazo em 10 de junho de 2014. A tentativa fracassada de atacar o Instituto Federal Eleitoral (IFE agora INE) e uma sede do PRD (Partido Democrático da Revolução) no DF (agora CDMX) em 27 de junho de 2012, onde foi ferido pela explosão de sua bomba o anarquista Mario López, aprisionado e hoje em fuga clandestina.

[5] Também vimos na Venezuela aparecer monstros chamados de “anarco-chavistas” ou o “anarco-maduristas”, inseminadas por setores pseudo-anarquistas do Chile.

[6] A sociedade de massa: Organização social de grande escala e complexidade que unifica a indivíduos e grupos que perdem suas próprias características essenciais (ou que suas características são as que o próprio sistema amolda) e se juntam em uma comunidade fictícia para a reprodução do Capital; que necessariamente precisam ser regulados por um Estado e, portanto, perdem sua autonomia, delegando a outros indivíduos ou corporações cada vez mais os aspectos de suas vidas.

[7] Para evitar confusão semântica, por progresso estou me referindo ao desenvolvimento de vários fatores de produção: tecnologia complexa, avanços científicos, geração de conhecimento ligado aos interesses capitalistas, expansão das áreas do fluxo de mercadorias, crescimento da expansão urbana; fatores que afetam a cada um dos aspectos da sociedade e tendem a torná-la complexa, dizimando e artificializando ecossistemas e formas de vida (humanas e não-humanas) que foram desenvolvidas f ora do atual sistema de dominação. O industrialismo é parte inerente do progresso. Tudo isto sob a ideia de um desenvolvimento em benefício da “humanidade”.

Posted in Notícias, Textos | Tagged , , , , , , , , | Comentários desativados em [México] Olhem quem eliminou seu pasamontañas!. Sobre a candidatura zapatista para 2018 e os anarquistas

“Atinja Onde Dói”, por Theodore Kaczynski

Este texto foi extraído do portal Protopia.

incendioandresbello01

O Propósito Deste Artigo

O propósito deste artigo é apontar um princípio muito simples do conflito humano, um princípio que os oponentes do sistema tecno-industrial parecem estar negligenciando. O princípio é o de que em qualquer forma de conflito, se você quer vencer, você deve atingir seu adversário aonde dói.

Eu tenho que explicar que quando eu falo sobre “atingir aonde dói” eu não estou necessariamente referindo a golpes físicos ou a qualquer outra forma de violência física. Por exemplo, em um debate oral, “atingir aonde dói” significaria fazer argumentos do qual a posição do seu oponente é a mais vulnerável. Em uma eleição presidencial, “atingir aonde dói” significaria ganhar do seu oponente os estados que tiverem o maior número de votos. Mesmo assim, ao discutir este princípio eu irei utilizar a analogia de um combate físico, porque é vívido e claro.

Se uma pessoa te dá um murro, você não pode se defender atingindo de volta no punho dela, porque você não conseguirá ferir a pessoa dessa forma. Para você vencer a luta, você deve atingir a pessoa aonde dói. Isso significa que você deve passar por trás do punho e atingir as partes sensíveis e vulneráveis do corpo da pessoa.

Suponha que uma escavadeira pertencente a uma madeireira esteja destruindo a mata perto de sua casa e você quer parar com isso. É a lâmina da escavadeira que rasga a terra e derruba as árvores, mas seria uma perda de tempo pegar uma marreta e atingir a lâmina. Se você gastar um longo e duro dia marretando a lâmina, você pode até conseguir danificar a lâmina o suficiente para que ela fique inutilizável. Mas, em comparação com o resto da escavadeira, a lâmina é relativamente barata e fácil de substituir. A lâmina é apenas o “punho” em que a escavadeira atinge a terra. Para derrotar a máquina você deve passar por trás do “punho” e atacar as partes vitais da escavadeira. O motor, por exemplo, pode ser arruinado com muito pouco tempo e esforço por meios bem conhecidos por muitos radicais.

Neste ponto eu devo deixar claro que eu não estou recomendando que alguém deva danificar uma escavadeira (ao menos que seja propriedade sua). Nem qualquer outra coisa neste artigo deve ser interpretada como recomendando atividade ilegal de qualquer tipo. Eu sou um prisioneiro, e se eu fosse encorajar atividade ilegal esse artigo nem sairia da prisão. Eu uso a analogia da escavadeira somente porque é claro e vívido e será apreciado por radicais.

A Tecnologia É O Alvo

É amplamente reconhecido que “a variável básica que determina o processo histórico contemporâneo é o resultado do desenvolvimento tecnológico” (Celso Furtado). A tecnologia, acima de tudo, é responsável pela atual condição do mundo e irá controlar o seu desenvolvimento futuro. Portanto, a escavadeira que nós temos que destruir é a tecnologia moderna em si. Muitos radicais estão conscientes disso, e sabem então que suas tarefas são eliminar todo o sistema tecno-industrial. Mas infelizmente eles têm prestado pouca atenção para a necessidade de atingir o sistema aonde dói.

Destruir o McDonald’s ou o Starbuck’s é inútil. Não que eu me importe com o McDonald’s ou o Starbuck’s. Eu não me importo se alguém os destrói ou não. Mas isso não é uma atividade revolucionária. Mesmo se cada rede de fast-food no mundo fossem arrasadas o sistema tecno-industrial sofreria danos mínimos como resultado, já que ele consegue sobreviver facilmente sem redes de fast-food. Quando você ataca o McDonald’s ou o Starbuck’s, você não está atingindo aonde dói.

Alguns meses atrás eu recebi uma carta de um jovem na Dinamarca que acreditava que o sistema tecno-industrial tinha que ser eliminado porque, em suas palavras, “O que acontecerá se continuarmos dessa forma?” Entretanto, aparentemente sua forma de atividade “revolucionária” era atacar fazendas de peles. Como um meio de enfraquecer o sistema tecno-industrial essa atividade é totalmente inútil. Mesmo se os libertadores de animais sucedessem em eliminar completamente a indústria de peles eles não causariam qualquer dano ao sistema, porque o sistema consegue se manter perfeitamente sem peles.

Eu concordo que manter animais selvagens em gaiolas é intolerável, e pôr um fim a tais práticas é uma causa nobre. Mas existem muitas outras causas nobres, como prevenir acidentes de trânsito, prover abrigo para os moradores de rua, reciclagem, ou ajudar pessoas velhas atravessar a rua. Mesmo assim ninguém é tolo o bastante para confundir essas atividades com atividades revolucionárias, ou imaginar que elas fazem algo para enfraquecer o sistema.

A Indústria Madeireira É Um Caso À Parte

Como outro exemplo, ninguém em sã consciência acredita que qualquer coisa em relação à natureza selvagem conseguirá sobreviver por muito tempo se o sistema tecno-industrial continuar a existir. Muitos radicais ambientalistas concordam que esse é o caso e esperam que o sistema entre em colapso. Mas na prática tudo o que eles fazem é atacar a indústria madeireira.

Eu certamente não tenho objeção aos seus ataques na indústria madeireira. Na verdade, é um assunto que está próximo do meu coração e fico contente por qualquer sucesso que os radicais podem ter contra a indústria madeireira. Mais ainda, por razões que eu preciso explicar aqui, eu penso que a oposição à indústria madeireira deva ser um componente dos esforços para acabar com o sistema.

Mas, por ela mesma, atacar a indústria madeireira não é um modo eficiente de ir contra o sistema, porque mesmo que os radicais consigam parar todo o desmatamento em todo o mundo, isso não iria destruir o sistema. E não iria salvar permanentemente a natureza selvagem. Cedo ou tarde o clima político mudaria e o desmatamento recomeçaria. Mesmo que o desmatamento não recomeçasse, existiriam outras formas nas quais a natureza selvagem seria destruída, ou se não destruída ao menos domada e domesticada. Mineração, chuva ácida, mudanças climáticas e extinção de espécies destróem a natureza selvagem; a natureza selvagem é domada e domesticada por recreação, estudo científico, e gerenciamento de recursos, incluindo entre outras coisas rastreamento eletrônico de animais, barragem de córregos para a criação de peixes, e plantio de árvores geneticamente modificadas.

A natureza selvagem só pode ser salva permanentemente eliminando o sistema tecno-industrial, e você não consegue eliminar o sistema atacando a indústria madeireira. O sistema sobreviveria facilmente a morte da indústria madeireira porque produtos de madeira, apesar de muito úteis ao sistema, podem se necessário, serem substituídos por outros materiais.

Consequentemente, quando você ataca a indústria madeireira, você não está atingindo o sistema aonde dói. A indústria madeireira é apenas o “punho” (ou um dos punhos) no qual o sistema destrói a natureza selvagem, e, como em uma luta de punhos, você não consegue vencer atingindo o punho. Você tem que passar por trás do punho e atingir os órgãos mais vitais e sensíveis do sistema. Por meios legais, é claro, como protestos pacíficos.

Porque O Sistema É Forte

O sistema tecno-industrial é excepcionalmente forte devido a sua chamada estrutura “democrática” e sua flexibilidade resultante. Devido ao fato de que sistemas ditatoriais tendem a ser rígidos, tensões sociais e resistências podem crescer ao ponto em que elas danificam e enfraquecem o sistema e podem levar à revolução. Mas em um sistema “democrático”, quando a tensão social e a resistência crescem perigosamente, o sistema cede o suficiente, ele abre mão o suficiente, para baixar as tensões a um nível seguro.

Durante os anos de 1960 as pessoas começaram a se dar conta que a poluição ambiental era um problema sério, mais ainda porque a sujeira visível e cheirável no ar sobre nossas grandes cidades estavam começando a deixar as pessoas desconfortáveis. Protestos apareceram e uma Agência de Proteção Ambiental foi criada e outras medidas foram tomadas para aliviar o problema. É claro que todos sabemos que nossos problemas de poluição estão a um longo, longo caminho de serem resolvidos. Mas o suficiente foi feito para que as queixas do público abaixassem e a pressão no sistema fosse reduzida por muitos anos.

Portanto, atacar o sistema é como atacar um pedaço de borracha. Um golpe de martelo pode estilhaçar ferro fundido, porque ferro fundido é rígido e frágil. Mas você pode golpear um pedaço de borracha sem danificá-lo porque ele é flexível: Ele cede espaço diante de um protesto, só o suficiente para que o protesto perca sua força e impulso. E então o sistema cresce de volta.

Então, para atingir o sistema aonde dói, você deve selecionar os assuntos dos quais o sistema não irá ceder, dos quais ele irá lutar até o fim. O que você precisa não é um acordo com o sistema mas uma luta de vida ou morte.

É Inútil Atacar O Sistema Em Termos De Seus Próprios Valores

É absolutamente essencial atacar o sistema não em termos de seus próprios valores tecnologicamente-orientados, mas em termos de valores que são inconsistentes com os valores do sistema. Enquanto você atacar o sistema em termos de seus próprios valores, você não atinge o sistema aonde dói, e você permite que o sistema reduza o protesto abrindo caminho, recuando.

Por exemplo, se você ataca a indústria madeireira primeiramente com base em que florestas são necessárias para preservar recursos naturais e oportunidades recreativas, então o sistema pode ceder para neutralizar o protesto sem comprometer seus próprios valores: recursos de água e recreação são totalmente consistentes com os valores do sistema, e se o sistema recua, se ele restringe o corte de árvores em nome de recursos hídricos e recreação, então ele apenas faz um recuo tático e não sofre uma derrota estratégica em seu código de valores.

Se você empurra questões vitimizadoras (como o racismo, sexismo, homofobia, ou pobreza) você não está desafiando os valores do sistema e você não está nem ao menos forçando o sistema a recuar ou ceder. Você está ajudando o sistema diretamente. Todos os proponentes mais sábios do sistema reconhecem que o racismo, sexismo, homofobia, e pobreza são prejudiciais ao sistema, e é por isso que o próprio sistema trabalha para combater estas e outras formas similares de vitimização.

“Estabelecimentos escravizantes” com seus baixos salários e condições de trabalho miseráveis, podem dar lucro para certas corporações, mas proponentes sábios do sistema sabem muito bem que o sistema como um todo funciona melhor quando trabalhadores são tratados decentemente. Ao questionar estabelecimentos escravizantes, você está ajudando o sistema, e não o enfraquecendo.

Muitos radicais caem na tentação de focarem-se em questões não essenciais como racismo, sexismo e estabelecimentos escravizantes porque é fácil. Eles escolhem um problema do qual o sistema pode firmar um acordo e o qual vão receber apoio de pessoas como Ralph Nader, Winona La Duke, as uniões trabalhistas, e todos os outros comunistas partidários. Talvez o sistema, sob pressão, irá recuar um pouco, os ativistas irão ver algum resultado visível de seus esforços, e eles terão a ilusão satisfatória de que conseguiram algo. Mas na verdade eles não conseguiram nada em relação a eliminar o sistema tecno-industrial.

A questão da globalização não é completamente irrelevante para o problema da tecnologia. O pacote de medidas políticas e econômicas denominado “globalização” promove o crescimento econômico e, consequentemente, o progresso tecnológico. Mesmo assim, a globalização é uma questão de importância mínima e não um alvo bem escolhido de revolucionários. O sistema pode ceder na questão da globalização. Sem abandonar a globalização como tal, o sistema pode tomar medidas para mitigar as consequencias econômicas e ambientais negativas da globalização para neutralizar os protestos. Por quase nada, o sistema poderia até mesmo arcar em desistir totalmente da globalização. O crescimento e progresso mesmo assim continuariam, apenas em um ritmo mais lento. E quando você luta contra a globalização você não está atacando os valores fundamentais do sistema. A oposição à globalização é motivada nos termos de assegurar salários decentes para trabalhadores e proteger o meio ambiente, ambos dos quais são completamente consistentes com os valores do sistema. O sistema, para sua própria sobrevivência, não pode deixar a degradação ambiental aumentar demais. Consequentemente, ao lutar contra a globalização você não atinge o sistema aonde realmente dói. Seus esforços podem promover a reforma, mas elas são inúteis no propósito de abolir o sistema tecno-industrial.

Radicais Devem Atacar O Sistema Em Pontos Decisivos

Para trabalhar efetivamente em direção à eliminação do sistema tecno-industrial, os revolucionários devem atacar o sistema em pontos dos quais o sistema não pode ceder. Eles devem atacar os órgãos vitais do sistema. É claro, quando eu uso a palavra “atacar”, eu não estou me referindo a ataque físico mas somente formas legais de protesto e resistência.

Alguns exemplos de órgãos vitais do sistema são:

A. A indústria de energia elétrica. O sistema é totalmente dependente de sua rede elétrica.

B. A indústria de comunicações. Sem comunicações rápidas, como por telefone, rádio, televisão, e-mail, e assim por diante, o sistema não sobreviveria.

C. A indústria de computação. Todos nós sabemos que sem os computadores o sistema iria prontamente entrar em colapso.

D. A indústria de propaganda. A indústria de propaganda inclui a indústria do entretenimento, o sistema educacional, o jornalismo, a publicidade, as relações públicas, além da política e da indústria de saúde. O sistema não funciona ao menos que as pessoas sejam suficientemente dóceis e conformistas e tenham atitudes que o sistema necessita que tenham. É função da indústria de propaganda ensinar as pessoas esse tipo de pensamento e comportamento.

E. A indústria de biotecnologia. O sistema ainda não está (até onde eu saiba) fisicamente dependente da biotecnologia avançada. No entanto, o sistema não pode deixar de lado a questão da biotecnologia, que é uma questão criticamente importante para o sistema, como eu irei argumentar logo.

Novamente: Quando você ataca esses órgãos vitais do sistema, é essencial não atacá-los em termos dos próprios valores do sistema, mas em termos de valores inconsistentes com aqueles do sistema. Por exemplo, se você ataca a indústria de energia elétrica com base em que ela polui o meio ambiente, o sistema pode neutralizar o protesto desenvolvendo métodos mais limpos de geração de eletricidade. Se o pior acontecesse, o sistema poderia até mesmo mudar totalmente para a energia eólica e solar. Isso pode ajudar bastante para reduzir danos ambientais, mas não ajudaria a pôr um fim ao sistema tecno-industrial. Nem iria representar uma derrota para os valores fundamentais do sistema. Para conseguir qualquer coisa contra o sistema você deve atacar toda a geração de energia elétrica como uma questão de princípio, com base em que a dependência em eletricidade faz as pessoas dependentes do sistema. Isso é fundamento incompatível com os valores do sistema.

A Biotecnologia Pode Ser O Melhor Alvo Para Ataque Político

Provavelmente o alvo mais promissor para ataque político é a indústria da biotecnologia. Apesar do fato de que revoluções são geralmente conduzidas por minorias, é muito útil ter algum grau de apoio, simpatia, ou pelo menos consentimento da população geral. Se você concentrasse, por exemplo, seu ataque político na indústria de energia elétrica, seria extremamente difícil conseguir qualquer tipo de apoio além de uma minoria radical, porque a maioria das pessoas resistem a mudanças em seus estilos de vida, especialmente qualquer mudança que seja inconveniente para elas. Por essa razão, poucos estariam dispostos a abandonar a eletricidade.

Mas as pessoas ainda não se sentem dependentes da biotecnologia avançada como elas se sentem com a eletricidade. Eliminar a biotecnologia não irá mudar radicalmente suas vidas. Pelo contrário, seria possível mostrar às pessoas que o desenvolvimento contínuo da biotecnologia irá transformar seus modos de vida e acabar com valores humanos antigos. Portanto, ao desafiar a biotecnologia, os radicais devem conseguir mobilizar a seu próprio favor a resistência humana natural por mudanças.

E a biotecnologia é uma questão da qual o sistema não pode perder. É uma questão da qual o sistema terá que lutar até o fim, o que é exatamente o que precisamos. Mas – para repetir mais uma vez – é essencial atacar a biotecnologia não em termos dos próprios valores do sistema mas em termos de valores inconsistentes com daqueles do sistema. Por exemplo, se você atacar a biotecnologia, primeiramente com base em que ela pode causar danos ao meio ambiente, ou que alimentos geneticamente modificados podem ser prejudicais à saúde, então o sistema pode e irá amortecer seu ataque cedendo ou recuando – por exemplo, introduzindo maior supervisão em pesquisas genéticas e mais testes e regulamentos rigorosos de plantações geneticamente modificadas. A ansiedade das pessoas irá então acalmar e o protesto irá enfraquecer.

Toda A Biotecnologia Deve Ser Atacada Como Uma Questão De Princípio

Então, ao invés de protestar contra uma ou outra consequência negativa da biotecnologia, você deve atacar toda a biotecnologia moderna como princípio, com base em por exemplo (a) que é um insulto a todas as coisas vivas; (b) que ela põe muito poder nas mãos do sistema; (c) que ela irá transformar radicalmente valores humanos fundamentais que têm existido por milhares de anos; e fundamentos similares que são inconsistentes com os valores do sistema.

Em resposta a esse tipo de ataque o sistema terá que levantar e lutar. Ele não possui recursos para se proteger do seu seu ataque cedendo em qualquer nível que seja, porque a biotecnologia é muito central para todo o empreendimento do progresso tecnológico, e porque ao ceder, o sistema não estará fazendo apenas um recuo tático, mas estará levando uma grande derrota estratégica em seu código de valores. Esses valores estariam minados e a porta estaria aberta para ataques políticos que poderiam destruir as fundações do sistema.

É verdade que a Casa dos Representantes dos E.U.A. recentemente votou para banir a clonagem de seres humanos, e pelo menos alguns congressistas até tinham os tipos de razões certas para isso. As razões que eu li estavam enquadradas em termos religiosos, mas seja o que for o que você pensa sobre os termos religiosos envolvidos, essas razões não eram razões tecnologicamente aceitáveis. E é isso o que importa.

Portanto, os votos dos congressistas sobre clonagem humana foi uma derrota genuína para o sistema. Mas ela foi apenas uma derrota muito, muito pequena, por causa da área estreita da proibição – apenas uma minúscula parte da biotecnologia foi afetada – e já que de qualquer forma para o futuro próximo a clonagem de seres humanos seria de pouco uso prático para o sistema. Mas a ação da Casa dos Representantes sugere que isso pode ser um ponto do qual o sistema é vulnerável, e que um ataque mais amplo em toda a biotecnologia pode causar um dano severo no sistema e em seus valores.

Os Radicais Ainda Não Estão Atacando A Biotecnologia Efetivamente

Alguns radicais atacam a biotecnologia, tanto politicamente quanto fisicamente, mas até aonde eu saiba eles explicam sua oposição à biotecnologia em termos dos próprios valores do sistema. Ou seja, suas queixas principais são os riscos de danos ambientais e de ser prejudicial a saúde.

E eles não estão atingindo a indústria da biotecnologia aonde dói. Utilizando uma analogia de combate físico novamente, suponha que você tenha que se defender contra um polvo gigante. Você não poderia contra-atacar efetivamente golpeando as pontas de seus tentáculos. Você tem que atingir na cabeça. Do que eu li de suas atividades, os radicais que trabalham contra a biotecnologia ainda não fazem mais do que golpear as pontas dos tentáculos do polvo. Eles tentam persuadir fazendeiros comuns, individualmente, de não plantarem sementes geneticamente modificadas. Mas existem milhares de fazendas na América, e então persuadir fazendeiros individualmente é um modo extremamente ineficiente para combater a engenharia genética. Seria muito mais eficaz persuadir cientistas que atuam trabalhando em pesquisas biotecnológicas, ou executivos de empresas como a Monsanto, a saírem da indústria biotecnológica. Bons cientistas pesquisadores são pessoas que possuem talentos especiais e treinamento extensivo, e por isso eles são difíceis de substituir. O mesmo é verdade de altos executivos Corporativos. Persuadir somente um pouco dessas pessoas a saírem da biotecnologia causaria mais dano à indústria da biotecnologia do que persuadir mil fazendeiros a não plantarem sementes geneticamente modificadas.

Atinja aonde dói

Está aberto a argumentação se eu estou certo em pensar que a biotecnologia é a melhor questão a qual atacar o sistema politicamente. Mas está além da argumentação de que os radicais atualmente estão gastando muito de suas energias em questões que têm pouca ou nenhuma relevância para a sobrevivência do sistema tecnológico. E mesmo quando eles dirigem-se às questões certas, os radicais não atingem aonde dói. Então ao invés de correrem para a próxima cúpula mundial do comércio para perderem a calma e terem ataques de raiva sobre a globalização, os radicais deveriam gastar mais tempo pensando em como atingir o sistema onde realmente dói. Por meios legais, claro.

Green Anarchy #8, 2002

Posted in Textos | Tagged , , , , , , , , , , , , , , | Comentários desativados em “Atinja Onde Dói”, por Theodore Kaczynski

“Sobre as Bases Místicas da “Neutralidade” da Tecnologia”, por Willful Disobedience

Este texto foi compartilhado do blog Sobre as Ruínas da Civilização.

Nós recomendamos também este post: Tecnologia Verde e Energia Renovável – O Mito da Sustentabilidade

1458586564_336590_1458592778_noticia_fotograma

… A produção de robôs é naturalmente (ou melhor, anti-naturalmente) acompanhada pelo desenvolvimento de um ambiente adequado apenas para robôs.

Enciclopédia des Nuisances

Existe uma suposição popular entre os esquerdistas e outros radicais que sentem sempre algum apego pelo conceito de progresso ou inclusive pelas construções teóricas marxistas, de que a tecnologia como tal é neutra. Esta suposição é particularmente divertida porque aqueles que a mantêm acusam os críticos da tecnologia de terem uma concepção mística e não histórica da tecnologia. O que estes apologistas da tecnologia reclamam, é que as criticas promovem o “determinismo tecnológico”, fazendo da tecnologia o fator central determinante no desenvolvimento social, e dessa maneira perdendo a visão sobre o fator social. Terminam proclamando que os problemas não procedem do sistema tecnológico como tal, senão de quem os utilizam e como utilizam.

Evidentemente, também há aqueles que têm atribuído poderes determinantes inerentes à tecnologia. Um dos maiores defensores deste ponto de vista foi Marx, cujo economicismo foi decididamente um economicismo tecnológico. Desde sua perspectiva, a necessidade econômica criou o desenvolvimento tecnológico (tal como o antigo sistema fabril) que posteriormente criou as bases para a substituição do sistema dominante. De tal maneira, o economicismo de Marx incorpora também um tipo de determinismo tecnológico.

O erro de Marx repousa precisamente em seu determinismo (uma conseqüência inevitável do fato de que sua crítica à Hegel se limitou a inverter a ideia deste – um determinista histórico – “com o lado certo para cima” mais que em recusar suas construções básicas). Uma abordagem verdadeiramente histórica, em oposição à mística, da luta social e de todos os fatores mesclados com ela, tem que recusar qualquer forma de determinismo, e partir da idéia de história como atividade humana, no lugar de fazê-lo a partir da idéia de que a história é uma expressão de qualquer valor ou concepção metafísica global. Assim, qualquer produto da história deve ser visto como um produto de seu contexto, nos termos das relações sociais concretas nas quais se desenvolve. A partir desta perspectiva, não pode existir tal coisa como tecnologia “neutra”.

A tecnologia sempre se desenvolve dentro de um contexto social, com o objetivo explícito de reproduzir esse contexto. Sua forma, seu propósito e suas possibilidades são determinadas por este contexto, e isto é precisamente o que faz com que a tecnologia não seja neutra. Se entendermos tecnologia como um sistema de técnicas em grande escala (assim como o industrialismo, cibernética, etc), então não conhecemos nenhum sistema tecnológico que não tenha sido desenvolvido dentro de um contexto de dominação, de classes dominantes e exploração. Se Marx, em sua míope visão Hegeliana, pôde de alguma maneira ver comunismo num sistema industrial, é unicamente porque sua visão de comunismo era a negação da liberdade individual, a absorção do individuo em “species being” (seres espécie) que se manifestou no processo obrigatório de produção coletiva da fábrica. De fato, o sistema industrial se desenvolveu com um propósito; maximizar a quantidade de benefícios que pode ser obtido de cada minuto de trabalho, aumentando o nível de controle sobre todos e cada um dos movimentos do trabalhador durante a produção. Cada novo desenvolvimento tecnológico dentro do sistema industrial capitalista, simplesmente aumenta o nível de controle sobre os processos, até o ponto onde atualmente todos estão praticamente automatizados, e a nanotecnologia e a biotecnologia estão criando as bases para introduzir esse controle diretamente em nossos corpos, um controle em nível molecular.

Exatamente como as ideologias de qualquer época são a expressão do sistema dominante desse período de tempo, a tecnologia de cada época também reflete o sistema dominante. A concepção de que as tecnologias são neutras e de que podemos nos re-apropriar do sistema tecnológico e utilizá-los para nossos fins é uma concepção mística que concede uma inocência não histórica à tecnologia. Como a ideologia, aqueles sistemas de ideias reificados através do qual a ordem dominante reforça sua dominação, a tecnologia é um produto da ordem dominante criada para reforçar essa ordem. A destruição da ordem dominante envolve a destruição de sua tecnologia, do sistema de técnicas que ela desenvolveu para reforçar sua dominação.

Até este ponto, os sistemas tecnológicos desenvolvidos pela ordem dominante são tão intrusos e prejudiciais, que pretender que possam ser utilizados para qualquer propósito de libertação é um absurdo. Se Marx, seguindo Hegel, afirmou que a historia teria um final, um fim determinado, nós agora sabemos que este ponto de vista é demasiadamente cristão para ser de alguma forma verdadeiramente revolucionário.

A revolução é uma aposta, e esta aposta baseia-se precisamente na ideia de que pelo desconhecido, que oferece a possibilidade do fim da dominação e exploração, vale a pena arriscar, e que correr este risco envolve a destruição da totalidade desta civilização de dominação e exploração – incluindo seus sistemas tecnológicos – que têm sido tudo que já conhecemos. A vida está em outro lugar. Será que temos a coragem e a vontade de encontrá-la?

_________________________________________________

Autor: Willful Disobedience
Fonte: On the Mystical Basis of the “Neutrality” of Technology. Willful Disobedience – Selections for Volume 4: Theory and analysis for discussion, debate and development of an insurrectional anarchist project.
Tradução: Coletivo Erva Daninha
Revisão: Carlos Teixeira (maio de 2015)

Posted in Textos, Vídeos | Tagged , , , , , , , , , , , , , , , , | Comentários desativados em “Sobre as Bases Místicas da “Neutralidade” da Tecnologia”, por Willful Disobedience

Esquerdismo: qual é o problema? — primeira parte

Texto compartilhado do blog da editora Natura Naturans.

okupaesc

In: Revista Renuncia,* Ediciones Isumatag, 2014.

Título do original em espanhol:
Izquierdismo:¿cuál es el problema? (1ª parte)

* A Revista Renuncia é formada pela edição de artigos, resenhas e outras matérias específicas publicadas no blog de Ediciones Isumatag.

Mesmo que, hoje em dia, o termo “Esquerda” seja utilizado com muita frequência nas discussões sobre política, o termo “Esquerdismo” é utilizado apenas ocasionalmente. Os dois termos, frequentemente, são usados sem que se saiba claramente a que se referem. Assim, em muitas ocasiões, pode-se lançar um questionamento sobre alguma organização ou alguma pessoa ser ou não de esquerda. Além da ambiguidade na utilização desses termos, ocorre que, de acordo com os critérios que sejam usados, alguém poderá ser de esquerda algumas vezes, e outras não. E para agregar mais confusão a tal assunto, há pessoas de esquerda que dizem que não são de esquerda.

Por outro lado, em uma sociedade de massas, as questões políticas têm de ser tratadas em um nível simples o bastante para serem compreendidas por toda a população (ou por sua maioria). Disso decorre que assuntos complexos são simplificados a tal ponto que os representantes políticos parecem simples manipuladores em busca do benefício de seu bando. Por isso, nessas condições, uma análise crítica que afete mais a um bando que a outro será sempre mal interpretada por alguma das partes, para usá-la em seu favor no jogo Direita/Esquerda – muito embora não fosse essa a intenção de tal análise. Analisar o esquerdismo não implica defender a Direita política, ainda que alguns encarem isso dessa forma. O enfoque deste artigo não seguirá essa linha, pois se manterá dentro de certas coordenadas totalmente distintas e distanciadas das perspectivas dicotômicas da política convencional.

Este artigo irá se focar mais nos conceitos do que nos termos linguísticos empregados para designá-los. É uma questão de não se perder tempo, nem fazê-lo perder o leitor.

Ser de Esquerda e Ser Esquerdista

Para se começar, convém esclarecermos o que esses conceitos significam neste artigo e, desde logo, fixarmos uma ideia do que se pretende dizer com cada termo ou com o rótulo aplicado a cada conceito. Assim, pois, o que é ser de esquerda? Resumidamente, pode-se dizer que é acreditar que a sociedade deve organizar-se para cuidar igualmente de todas as pessoas, assegurar-lhes um mínimo de bem estar e garantir-lhes que algumas de suas necessidades sejam satisfeitas. Consequentemente, os ideais que uma pessoa de esquerda geralmente assume são a igualdade, a solidariedade para além daqueles que lhe são afins, e a felicidade. Claro, esses ideais podem ser entendidos das mais variadas maneiras; a depender de a quem se deseja aplicá-los, vale dizer, da escala em que se deseja implantá-los (regional, nacional, mundial, universal), teremos uma ou outra corrente de esquerda. E o mesmo vale para as distintas interpretações de “igualdade” ou “felicidade”. A Esquerda se caracteriza por uma grande pluralidade de correntes. Talvez mesmo se possa dar o caso em que algumas correntes, inevitavelmente, se ponham em confronto (ou, por vezes, pode parecer assim). Mencionamos antes que havia pessoas de esquerda que negam fazer parte da Esquerda; um exemplo disso é a grande maioria dos anarquistas: eles têm valores de esquerda, mas afirmam não fazer parte dela.

Por outro lado, o que é ser esquerdista? Aqui, o ser esquerdista não está sendo considerado como uma sinonímia para o ser de esquerda. Eis a razão: para nós, é grande o interesse em distinguirmos entre os ideais e as atitudes psicológicas (e o comportamento a que estas induzem), porque isso assinala nuances importantes que não deveriam passar despercebidas. Ainda que não haja um traço psicológico definidor de uma pessoa esquerdista, há sim uma série de traços psicológicos que ocorrem com notável frequência entre as pessoas esquerdistas, de modo que possam ser tomados como indicadores bastante confiáveis. Não que possa haver nisso uma completa confiabilidade, porque o comportamento humano é muito versátil e pode ser causado por diversos motivos. Por exemplo, enquanto esses traços conduzem uma pessoa a ser esquerdista, outra pessoa poderá chegar a sê-lo simplesmente por imitar seus amigos (uma pessoa dessas que, simplesmente, “vai com as outras…”).

Considerado como uma categoria de tipo, o esquerdista se caracteriza por manifestar certas atitudes psicológicas concretas. Se aqui usamos o termo esquerdista, que compartilha a mesma raiz semântica de Esquerda, isso é porque a maioria das pessoas de esquerda também apresentam essas atitudes, embora não sejam comuns a todas elas. Ou seja, ser de esquerda e ser esquerdista caracteriza-se de tal modo que, frequentemente, são formas que surgem associadas. A respeito da definição de esquerdista, para a qual o que conta é a atitude psicológica, existem duas abordagens a se considerar. Uma delas, a de como uma pessoa desenvolve a sua vida e, a segunda, como a sociedade a afeta.

Na atualidade, as pessoas que vivem na sociedade tecnoindustrial estão enfrentando a situação da ausência de metas significativas em suas vidas. Quando ouvimos tanto falatório acerca de sentimento de vazio, de mal estar psicológico, de depressão e de outros problemas psicológicos, resta inevitável perguntar o que está acontecendo. Há que se ter em mente que essa sociedade tem permitido às pessoas realizar uma variedade de atividades que nunca antes os seres humanos tinham realizado. E, mesmo assim, há pessoas que sentem as suas vidas vazias – ou até mesmo algo menos que inúteis. É bem possível que a peça que completa esse quebra-cabeças esteja na forma como a sociedade obriga as pessoas a viver, ao imiscuir-se nos aspectos importantes da vida humana. Os seres humanos, por natureza, buscam alcançar alguns objetivos vitais empregando certa quantidade de esforço e, em maior ou menor grau, à sua maneira – vale dizer, de modo autônomo. Tentar alcançar tal categoria de objetivos (objetivos que são importantes para sua existência, como conseguir alimento, um lugar no qual viver ou um parceiro sexual) em se esforçando e se sentindo partícipe dessa realização, é isso o que dá o necessário incentivo para se viver; de fato, para muitos, esse é o tempero da vida. Mas acontece que, nessa sociedade, ou bem os objetivos vitais significativos estão assegurados com um mínimo de esforço, ou bem são alcançados seguindo-se um processo excessivamente pautado por regulações e normas de todo tipo. (Em alguns casos, alguns desses objetivos não são imediatamente acessíveis.) O leitor terá que desculpar a generalização; seguramente, nem todos vivem dessa maneira, porém, o certo é que uma maioria, nessa sociedade, assim o faz. É desse modo que a pessoa comum é obrigada a levar a sua vida: de um modo insatisfatório – isso em relação ao processo antes descrito, que alguns denominam “processo de poder” ou “processo de autonomia”. Diante dessa insatisfação, busca-se todo tipo de atividades que entretenham, que deem sentido à vida, que produzam o que essa vida nega a dar. E assim, as pessoas são capazes de qualquer coisa para escapar ao aborrecimento, ao tédio; ora, em geral, podem chegar a fazer qualquer coisa para conseguir algo de significativo em sua vida, mesmo que não cheguem a sequer saber bem o que procuram.

O segundo enfoque trata do modo como a sociedade influencia e condiciona as pessoas. Desde há algum tempo, a sociedade vem aumentando a sua capacidade de influenciar os indivíduos. Diversas instituições têm a tarefa de levar as pessoas a se comportarem de um modo determinado para que participem de maneira maximizada do funcionamento da sociedade tecnoindustrial. Ou seja, são responsáveis pela socialização dos indivíduos para que estes possam realizar o melhor possível as tarefas que a sociedade, como um sistema, “necessita” que sejam realizadas. Essas instituições têm alcançado um grande controle sobre o que as pessoas podem chegar a pensar e a fazer. Em alguns casos, as pessoas chegam a assimilar, nas profundezas do seu ser, aquilo que a sociedade lhes tem “ensinado”. Os valores da sociedade ficam, assim, bem inculcados pelo processo de socialização.

Pois bem, tendo-se tudo isso em conta, chegamos ao fato de que uma pessoa esquerdista pode ser caracterizada por um alto grau de socialização, ou seja, que tem profundamente assumidos os valores da sociedade (igualdade, solidariedade em grande escala, etc.). E dado que sua vida seria insatisfatória em relação ao processo de poder, ou seja, que não teria propósitos significativos pelos quais se esforçar e de uma maneira que pudesse considerar como sua, aí então essa pessoa usaria a política como um campo no qual buscar algo para obinubilar sua insatisfação. O resultado, no mais das vezes, costuma ser o de se usar os valores da sociedade para criticar a própria sociedade. Isso significa criticar a sociedade por seu mau funcionamento, significa buscar contradições da sociedade entre seus valores declarados e o seu funcionamento, significa manter uma luta política que, no fundo, trata de melhorar o funcionamento da sociedade.

Finalmente, sob este enfoque, o esquerdismo seria para a Esquerda o que o esquerdista é para o ser de esquerda. Não é completamente o mesmo – porém é quase. O esquerdismo não é apenas ideologia (um sistema de ideias de esquerda, no mais), conquanto se caracterize também por atitudes psicológicas que o inclinam em direção a essas ideias. Já há décadas, a tendência do esquerdismo é de ser o componente social de maior preponderância, quanto à ideologia e quanto às atividades. Se poderia dizer que a Direita, todavia, tem ainda grande força e relevância social, porém, como já foi apontado por algum comentador, já há muito a Direita está “jogando” um jogo marcado pelo esquerdismo. Os temas da agenda política atual são, em sua maioria, temas estabelecidos pela Esquerda. A Direita está na defensiva e, ao menos ideologicamente, ultrapassada. Alguns exemplos desses temas são o casamento entre homossexuais, o aborto, os serviços sociais, a igualdade de gêneros, etc. A rapidez com que se produziu essa transformação é mais um sinal das mudanças vertiginosas que estão ocorrendo na sociedade tecnoindustrial (crescimento populacional, concentração em grandes centros de população, desenvolvimento de todos os tipos de infraestruturas e tecnologias, as crescentes tentativas de ingerência sobre a natureza, etc.). Essas mudanças parecem que não irão se deter nas próximas décadas, e ameaçam a liberdade humana e a Natureza selvagem de uma maneira nunca antes vista.

A essa definição de esquerdista se poderia objetar que não é possível entrar na cabeça das pessoas, e saber, então, o que estas pensam e o que as guia. De início, é um tema difícil, com bastantes dificuldades empíricas. Entretanto, depois de se haver observado o esquerdismo durante anos – inclusive tendo dele participado –, sim, atrevo-me a descrever a psicologia que está por detrás de padrões de conduta recorrentes, que têm ocorrido em diferentes lugares e momentos, nas últimas décadas. Existe um vínculo entre a psicologia esquerdista e a ideologia de esquerda, de modo que, em diferentes lugares e momentos em que aparecem determinadas atitudes psicológicas, costumam ocorrer algumas atividades políticas concretas. Os seus tons, serão quaisquer que sejam; contudo, haverá uma correlação entre um fenômeno e outro. Não reconhecê-la, certamente, significará ignorar um dos problemas mais característicos da sociedade tecnoindustrial. Ignoro se esse problema tem uma solução (tampouco digo que esse seja um problema prioritário), porém, se nem sequer for reconhecido, dificilmente se poderia solucioná-lo e, pior ainda, isso continuaria atravancando a resolução dos problemas verdadeiramente importantes.

Primeiro Problema: os fins políticos terminam por reforçar o desenvolvimento da sociedade

O ideal de uma sociedade igualitária e solidária, na qual todos tivessem a chance de ser felizes, inspira o esquerdismo. Mas esses ideais, esses fins políticos cumprem, inconscientemente ou não, um papel no presente. E não é exatamente o de trazer a aproximação desse futuro “idílico”. De verdade, a sociedade tecnoindustrial é uma ferramenta muito eficaz para considerar e provar esses fins esquerdistas. Atentemo-nos bem para o fato do que fazem os valores como a igualdade e a solidariedade em grande escala – isto é, que aperfeiçoam o funcionamento dessa sociedade. Evitando que as pessoas sejam discriminadas por seu sexo, sua raça, sua etnia, sua nacionalidade, etc., consegue-se dispor da potencialidade de pessoas capacitadas para o desenvolvimento das tarefas necessárias dentro da sociedade atual. Se houver qualquer discriminação ou preconceito, essa potencialidade estará perdida, será desperdiçada. O mesmo vale para a solidariedade. O esquerdismo potencializa uma solidariedade extensiva, muitas vezes contrária à solidariedade natural que ocorre entre os seres humanos, aquela dirigida aos familiares, amigos e pessoas afins. O nepotismo (favorecimento de parentes), agora, é considerado mais como um problema do que como algo de positivo ou normal, uma vez que é um tratamento discriminatório, contrário aos critérios de eficiência ou mérito que deveriam prevalecer em um sistema social com um funcionamento otimizado. É necessário que a solidariedade vá além dos pequenos grupos e que se espalhe por toda a sociedade para que a cooperação entre as diferentes partes da sociedade funcione melhor. Em uma sociedade, como esta nossa, altamente especializada, uns dependem dos outros para viver, e se não cooperassem entre si isso seria uma catástrofe. Por isso, incentivá-los à cooperação pode melhorar o funcionamento da sociedade.

Como tem sido dito na Revista Renuncia, o desenvolvimento e o funcionamento da sociedade tecnoindustrial pressupõem o impedimento da liberdade humana e da autonomia do selvagem. Assim então o esquerdismo, sob sua aparência de boas intenções, de fato provoca uma piora da situação ao perseguir esses fins políticos. Sem dúvida, agravará os problemas psicológicos as pessoas já têm, ao conseguir assegurar a todos um bem estar ou uma felicidade básica. Como já foi dito antes, o que as pessoas necessitam é fazer coisas importantes para a sua vida, e por si mesmas, experimentar seu próprio valor em atividades significativas para a vida. E também, seguramente, uma solução para esses problemas psicológicos será buscada em novos desenvolvimentos tecnológicos, tais como novos medicamentos ou novas tecnologias médicas que venham a “solucionar” os problemas, vale dizer, eliminando apenas os seus sintomas, ou então, encobrindo-os.

Posted in Textos | Tagged , , , , , , | Comentários desativados em Esquerdismo: qual é o problema? — primeira parte

A diferenciada cultura dos índios Pirarrã

Esta publicação foi retirada do site Hypescience.

Pirarrã é um povo amazônico caçador-coletor e seminômade que possui grande diferença cultural não apenas da grande civilização ocidental, mas também de muitos povos indígenas. Temporalmente falando eles vivem no aqui e agora sem futuro nem passado distante e não utilizam nem compreendem a linguagem simbólica. Não acreditam em deuses e muito menos num mito de criação, são extremamente céticos e apenas crêem naquilo que conseguem ver e sentir, coisas que de modo lógico podem com facilidade serem provadas no próprio momento. Possuem também uma diferenciada língua que desafia a lógica do humano moderno e de todas as outras línguas existentes já conhecidas.

Sua língua e toda a sua cultura pode ter sido o que fez com que este povo resistisse com tranquilidade à feroz domesticação e ocidentalização que a grande civilização ocidental promove contra os povos primitivos.  Estes selvagens construíram sua cultura ao redor de tudo aquilo que é unicamente útil à sua própria sobrevivência.

É certeza de que podemos aprender com o seu modo de vida e com suas crenças para regredirmos do civilizado beco sem saída.

i212917-600x358

Eles não sabem contar, não diferenciam cores, não conhecem arte ou mitos, não entendem ficção, não acreditam em nenhum deus. Vivem no agora, sem futuro, sem passado. Esses são os pirarrãs: 150 a 350 índios que vivem na selva amazônica e desafiam nosso entendimento da linguística moderna.

Os pirarrãs ou piraãs, também chamados de pirahãs ou mura-pirahãs, são um povo indígena brasileiro de caçadores-coletores, monolíngues e semi-nômades, que se destacam de outras tribos pela diferença cultural e linguística.

pirarra1

Eles habitam as margens do rio Maici, afluente do rio Marmelos ou Maici, que por sua vez é um afluente do rio Madeira, um afluente do rio Amazonas. Se autodenominam hiaitsiihi, categoria de seres humanos ou corpos que se diferenciam dos brancos e dos outros índios.

Antes mesmo de nascer, ainda no ventre materno, os pirarrãs recebem um primeiro nome, que eles acreditam ser responsável pela criação de seus corpos. Durante a vida, recebem nomes de seres que habitam camadas superiores e inferiores do cosmos, responsáveis pela criação de suas almas e destinos, e também de inimigos de guerra.

Linguagem

A língua pirarrã é um língua da família linguística mura. É a única língua do grupo mura ainda não extinta, sendo que todas as demais desapareceram nos últimos séculos. Essa língua não tem nenhuma relação com qualquer outra língua existente. Havia cerca de trezentos e cinquenta falantes em 2004, distribuídos em oito aldeias ao longo do rio Maici.

Apresenta características peculiares, não encontradas em outras formas de expressão oral. Foi identificada e teve sua gramática elaborada em 1986 pelo linguista estadunidense Daniel Everett em cerca de doze artigos. Everett viveu entre os Pirarrã por sete anos, dos anos 1970 aos 1980.

Entre suas peculiaridades, destacam-se:

  • Uma das menores quantidades de fonemas entre os idiomas existentes. Identificam-se os sons de apenas três vogais (A, I e O) e seis consoantes: G, H, S, T, P e B;
  • A pronúncia de muitos fonemas depende do sexo de quem fala;
  • Apresenta dois ou três tons, quantidade discutida entre estudiosos;
  • O falar pirarrã pode ser expresso por música, assobios ou zumbidos (como “M” com lábios fechados);
  • Apenas alguns dos homens, nunca mulheres, conseguem se expressar em nheengatu ou em português;
  • Sentenças muito limitadas, sendo o único idioma sem orações subordinadas;
  • Não tem numerais, apenas a noção do unitário (significando também “pequeno”) e de muito. Sua cultura e seu modo de vida, como caçadores e coletores, não exige conhecimento de numerais (um trabalho recente de Everett indica que a língua não trata nem mesmo de “um” e “dois”; não usam números, mas quantidades relativas);
  • Não há palavras para definir cores, exceto “claro” e “escuro”, embora isso seja discutido entre diversos autores;
  • Tudo é falado no presente, não há o tempo futuro, nem o passado. Trata-se de um povo, portanto, sem mitos da criação;
  • Não tem termos que identifiquem parentesco, descendência. A palavra para Pai e Mãe é uma única;
  • Os pronomes pessoais parecem ter-se originado na língua nheengatu, uma língua franca de origem tupi.

Daniel Everett: sete anos entre os Pirarrãs

Entre as coisas que separam os homens dos outros animais, estão as sutilezas da linguagem. Os animais até são capazes de transmitir mensagens simples – em geral relacionadas a comida, sexo ou disputa de território –, porém não conseguem encaixar uma mensagem dentro de outra.

Por exemplo, um golfinho treinado pode transmitir a mensagem “A bola está na piscina” ou “Pegue a bola”, mas não é capaz de juntar as duas expressões dizendo “pegue a bola que está na piscina”. Esse é um atributo exclusivamente humano que os linguistas chamam de recursividade – que, salvo casos de deficiência mental, é considerado um denominador comum a todos os indivíduos da nossa espécie.

O que aconteceria se um grupo humano não dominasse isso? Essas pessoas seriam menos humanas que outras?

O pesquisador americano Daniel Everett chegou à tribo na década de 1970 como um missionário cristão com a missão de converter os índios. Nunca conseguiu. Everett fazia parte de uma organização internacional que espalha a palavra de Deus por meio da tradução da Bíblia para línguas sem escrita. Mas foi a falta da tal recursividade que ele identificou nos indígenas que o pôs em conflito com seus colegas linguistas.

Ele diz que os índios não são recursivos pelo que chamou de “Princípio da Experiência Imediata”. O nome é mais complicado do que a coisa em si: os pirarrãs só vivem e falam do aqui-agora. Fazem apenas sentenças relacionadas ao momento em que estão falando, aos fatos vistos por eles. “As sentenças dos pirarrãs contêm somente situações vividas pelo falante ou testemunhadas por alguém vivo durante a vida do falante”, define Everett em um de seus artigos. Por isso eles têm problema com as abstrações e tudo o que resulta delas: cores, números, mitos, ficção e a bendita recursividade. Também é isso que faz com que os pirarrãs, ao contrário de todas as outras comunidades linguísticas já estudadas, não aprendam a contar em outro idioma. “Eles não querem saber de nada que esteja fora do seu mundo”, afirma Everett.

Outros linguistas rebatem: “A contagem ‘1, 2, bastante’, por exemplo, é típica de vários outros indígenas”, afirma Maria Filomena Sândalo, linguista da UNICAMP (Campinas, Brasil) que fez sua dissertação de mestrado sobre a tribo. “Isso não quer dizer que eles não reconheçam quantidades. Eles simplesmente fazem recortes diferentes da realidade, como qualquer outra língua”.

A professora argumenta que, enquanto esteve com os pirarrãs, encontrou uma linguagem tão complexa e recursiva como qualquer outra. Ela interessou-se pela questão pirarrã e, junto com dois outros pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA) e da Universidade Harvard (EUA), analisou os dados colhidos por Everett. Em 2007, o grupo publicou um artigo concluindo que a língua é normal. “Ela não é inexplicável ou especial. É tão interessante quanto uma língua de qualquer outro lugar do mundo. Não tem essa história de experiência imediata ou falta de recursividade”, diz a professora.

O linguista e filósofo estadunidense Avram Noam Chomsky, um dos maiores ícones dessa ciência, argumenta que os pirarrãs não são um “contra-exemplo” à gramática universal (termo usado no último século para a teoria do componente genético que habilita os humanos a se comunicar). Como os pirarrãs não são diferentes geneticamente do resto da humanidade, não há nada de extraordinário aí.

Cultura e crença

Os pirarrãs concebem o tempo como uma alternância entre duas estações bem marcadas, definidas pela quantidade de água que cada uma possui: piaiisi (época da seca) e piaisai (época da chuva). O modo de vida é simples, baseado em caça, coleta e pesca, sem traços de prática agrícola.

Outra questão curiosa dos Pirarrãs é a ausência de uma ideia criacionista, algo literalmente único entre povos de cultura primitiva. Eles não acreditam em nada que não possa ser provado, visto ou sentido. Logo, não possuem quaisquer deidades ou mitos de criação, e para eles o céu e a terra sempre existiram. No entanto, acreditam em espíritos menores na forma de coisas no ambiente, segundo experiência pessoal de alguns, e tem uma ideia de cosmologia baseada em camadas existenciais, sendo eles corpos em uma delas (hiaitsiihi).

Enquanto viveu entre eles, o missionário Daniel Everett tentou evangelizar a tribo. Segundo ele, os indígenas perderam o interesse em Jesus quando descobriram que Everett nunca o viu de fato. Seu constante contacto com este tipo de pensamento acabou o transformando. “Os pirarrãs me modificaram profundamente. Eu era um missionário que evangelizava e hoje sou ateu”, disse.

Posted in Documentários, Notícias, Textos, Vídeos | Tagged , , , , , , , , | Comentários desativados em A diferenciada cultura dos índios Pirarrã

Uma mentira ecológica – o mito vegetariano

Texto extraído do blog Low Carb.

vegetarianmyth

SOBRE O MITO DE QUE O VEGETARIANISMO É ECOLÓGICO

Essa é tradução do capítulo um do livro: “O mito vegetariano: Alimentação, Justiça e Sustentabilidade” da escritora Lierre Keith. É uma reflexão pujante, de uma mulher que suponha estar fazendo o melhor em termos éticos e na compreensão do sofrimento da existência. Ela repara suas percepções, abandona um estilo de vida – que sabemos que dificilmente poderia ser saudável – mas principalmente recoloca o tema no devido espectro do que é mais árduo no existencial humano: participar da roda da vida! O ser humano, recluso em seu abjeto antropocentrismo, eventualmente quer se sentir mais próximo do divino – para isso nega e se afasta de sua biologia. Uma forma moderna da face perversa das sociedades “marianistas”, (referência ao fato de que Maria – a virgem – concebeu um filho sem o pecado original – e das diversas formas de celibato que tem como alvo a obtenção do perdão desse estigma inevitável – naquele tempo não comer carne era simplesmente não fazer sexo – na visão fundamentalista virou não comer carne de fato – afinal, nem todo mundo entende a leitura – impiedosamente metafórica – das escrituras, fábulas e outras formas de poesias…)

The Vegetarian Myth: Food, Justice and Sustainability

Tradução do capítulo um do livro:
O mito vegetariano: Alimentação, Justiça e Sustentabilidade

Vamos então ao texto:

Este não foi um livro fácil de escrever. Para muitos de vocês sei que não será um livro fácil de ler. Eu sei. Eu fui uma vegana por quase vinte anos. Eu sei as razões que me compeliram a adotar uma dieta extrema e elas são honradas, enobrecedoras de fato. Razões como justiça, compaixão, um desesperado e abrangente desejo de consertar o mundo. Para salvar o planeta – as últimas árvores que testemunham o passar do tempo, os restos de deserto que ainda nutrem espécies em desvanecimento, silenciosos em suas peles e penas. Para proteger os vulneráveis, que não têm voz. Para alimentar os famintos. No mínimo, para abster-me de participar do horror da agro-indústria.

Essas paixões políticas nascem de uma fome tão profunda que ela toca no espiritual. Ou elas eram para mim, e elas ainda o são. Eu quero que a minha vida seja um grito de guerra, uma zona de guerra, uma seta apontada e solta no coração da dominação: o patriarcado, o imperialismo, a industrialização, qualquer sistema de poder e sadismo. Se a imagem marcial aliena você, eu posso reformulá-la. Eu quero minha vida, meu corpo – se tornar um lugar onde a terra é valorizada, não devorada; onde o sadista não tenha qualquer espaço; onde a violência termine. E eu quero comer – uma necessidade primordial – mas que isso seja um ato que sustenta em vez de matar.

Este livro foi escrito para promover essas paixões, esse tipo de fome. Não é uma tentativa de ridicularizar o conceito dos direitos dos animais ou para zombar das pessoas que querem um mundo mais gentil. Em vez disso, este livro é um esforço para honrar os nossos mais profundos anseios por um mundo justo. E esses anseios – de compaixão, para a sustentabilidade, para uma distribuição equitativa dos recursos não são proporcionados pela filosofia ou prática do vegetarianismo. Temos sido desviados. Os flautistas vegetarianos têm a melhor das intenções. Eu irei expor agora o que eu vou repetir mais tarde: tudo o que dizem sobre a agroindústria é verdade. É cruel, esbanjador e destrutivo. Nada neste livro destina-se a desculpar ou promover as práticas de produção industrial de alimentos em qualquer nível.

Mas o primeiro erro está em assumir que essa prática agroindustrial – que é um mal com pouco mais de 50 anos de idade, signifique a única maneira de criar animais. Seus cálculos em matéria de energia utilizadas, calorias consumidas, de seres humanos em jejum, são todos baseados na noção de que os animais comem grãos.

Pode se alimentar os animais com grãos, mas que não é essa a dieta para a qual foram concebidos. Os cereais não existiam até que seres humanos domesticassem as vegetações anuais, no máximo, 12.000 anos atrás, enquanto os auroques, os progenitores selvagens da vaca doméstica, surgiram em torno de dois milhões de anos antes disso. Para a maioria da história humana, ruminantes e outros herbívoros não estiveram em competição com os humanos. Eles comiam o que o ser humano não pode comer – celulose – e a transforma em algo que poderíamos – proteína e gordura. Os grãos irão aumentar dramaticamente a taxa de crescimento de bovinos de corte (há uma razão para a expressão “Cornfed”) e a produção de leite das vacas leiteiras. Eles também irão matá-los. O equilíbrio bacteriano delicado do rúmen de uma vaca fica ácido e o transforma – fica séptico. Galinhas obtém a doença hepática gordurosa ao se alimentar exclusivamente de grãos, e elas não precisam de qualquer grão para sobreviver. Ovinos e caprinos, também ruminantes, deveriam realmente nunca ter contato com isso.

Este mal-entendido nasce da ignorância, uma ignorância que percorre o comprimento e a largura do mito vegetariano, através da natureza da agricultura e terminando na natureza da vida. Estamos em meio a um espaço urbano industrial, e nós não conhecemos as origens da nossa comida. Isso inclui os vegetarianos, apesar de suas reivindicações pela verdade. Isso me incluiu, também, por vinte anos. Qualquer pessoa que comeu carne estava em negação; eu encarei os fatos. Certamente, a maioria das pessoas que consomem carne de confinamento nunca se perguntou onde ou como foi feito o abatimento. Mas, francamente, tampouco a maioria dos vegetarianos.

A verdade é que a agricultura é a coisa mais destrutiva que os seres humanos têm feito para o planeta, e mais da mesma não vai nos salvar. A verdade é que a agricultura exige a destruição em massa de ecossistemas inteiros. A verdade é também que a vida não é possível sem a morte, que não importa o que você come, alguém tem que morrer para alimentá-lo.

Eu quero uma contabilidade completa, uma contabilidade que vai muito para além do que está morto no seu prato. Eu estou perguntando sobre tudo o que morreu no processo, tudo o que foi morto para conseguir que haja comida em seu prato. Essa é a pergunta mais radical, e é a única questão que vai produzir a verdade. Quantos rios foram represados e drenados, quantas pradarias e florestas foram derrubadas pelo arado, quanto solo virou pó e soprado para os fantasmas? Eu quero saber sobre todas as espécies, não apenas os indivíduos, mas toda a espécie – o chinook (raça de cachorro silvestre), o bisão, os pardais gafanhoto, os lobos cinzentos. E eu quero mais do que apenas o número de mortos e enterrados. Eu os quero de volta.

Apesar do que lhe foi dito, e apesar da seriedade dos escrutinadores, comer soja não vai trazê-los de volta. Noventa e oito por cento das pradarias americanas se foi, se transformou em uma monocultura de grãos anuais. O arado no Canadá já destruiu 99 por cento dos húmus originais. Na verdade, o desaparecimento da camada superficial do solo “rivaliza com o aquecimento global como uma ameaça ambiental.” Quando a floresta se transforma em carne, os progressistas ficam indignados, conscientes, prontos para boicotar. Mas o nosso apego ao mito vegetariano nos deixa inquietos, silenciosos, e, finalmente imobilizados quando o culpado é o trigo e a vítima é a pradaria. Nós nos abraçamos como um artigo de fé que o vegetarianismo era o caminho para a salvação, para nós, para o planeta. Como poderia ser destrutivo também?

Temos que estar dispostos a enfrentar a resposta. O que está aparecendo nas sombras da nossa ignorância e negação é uma crítica da própria civilização. O ponto de partida pode ser o que nós comemos, mas o fim é todo um modo de vida, um acordo global de poder, e não uma pequena medida de um apego pessoal. Lembro-me do dia na quarta série, quando Miss Fox escreveu duas palavras na lousa: a civilização e a agricultura. Lembro-me por causa do silêncio em sua voz, a seriedade de suas palavras, a explicação de que era quase uma oratória. Isso foi importante. E eu entendi. Tudo o que era bom na cultura humana fluiu a partir deste ponto: tudo com facilidade, de graça, com justiça. A religião, a ciência, a medicina e a arte nasceram, e a luta sem fim contra a fome, a doença, a violência poderia ser ganha, tudo porque os seres humanos descobriram como cultivar seu próprio alimento.

A realidade é que a agricultura criou uma perda líquida dos direitos humanos e da cultura: a escravidão, o imperialismo, o militarismo, as divisões de classe, a fome crônica e a doença. “O verdadeiro problema, então, não é explicar por que algumas pessoas demoraram a adotar a agricultura, mas por que alguém a tomou como ordinário, quando é tão obviamente bestial”, escreve Colin Tudge da Escola de Economia de Londres. A agricultura também tem sido devastadora para as outras criaturas com quem partilhamos a terra, e, finalmente, para os sistemas de apoio à vida do próprio planeta. O que está em jogo é tudo. Se queremos um mundo sustentável, temos de estar dispostos a examinar as relações de poder por trás do mito fundacional da nossa cultura. Qualquer coisa a menos e vamos falhar.

Questionar a esse nível é difícil para a maioria das pessoas. Neste caso, a luta emocional inerente resistindo a qualquer hegemonia é agravada pela nossa dependência da civilização, e em nosso desamparo individual para pará-la. A maioria de nós não teria nenhuma chance de sobrevivência se a infra-estrutura industrial desabasse amanhã. E nossa consciência está igualmente impedida por nossa impotência. Não existe uma lista de Dez Coisas Simples no último capítulo, porque, francamente, não existem dez coisas simples que vai salvar a terra. Não há uma solução pessoal. Existe uma rede interligada de arranjos hierárquicos, vastos sistemas de poder que têm de ser confrontados e desmantelados. Podemos discordar sobre a melhor forma de fazer isso, mas devemos fazê-lo, se é para a Terra ter alguma chance de sobreviver.

No final, toda a coragem do mundo será inútil sem informações suficientes para traçar um curso sustentável para a frente, tanto pessoalmente como politicamente. Um dos meus objetivos ao escrever este livro é fornecer essa informação. A grande maioria das pessoas nos EUA não produzem comida, muito menos fazem caça e coleta. Nós não temos nenhuma forma de avaliar o quanto da morte é personificada em uma porção de salada, um prato de frutas, ou um prato com carne. Nós vivemos em ambientes urbanos, no último sussurro das florestas, a milhares de milhas distantes de devastados rios, pradarias, zonas húmidas, e os milhões de criaturas que morreram para os nossos jantares. Nós nem sequer sabemos o que perguntar para ser descoberto.

Em seu livro “Long Life, Honey in the Heart”, Martin Pretchel escreve do povo maia e seu conceito de kas-limaal, que pode ser traduzido como “endividamento mútuo, mútua troca de fogo.” “O conhecimento que cada animal, planta, pessoa, vento e estação do ano está em dívida com o fruto de todo o resto é um conhecimento adulto. Para sair da dívida significa que você não quer ser parte da vida, e você não quer crescer para ser um adulto”, um dos anciãos explicou a Pretchel.

A única saída do mito vegetariano é através da prossecução de kas-limaal, do conhecimento adulto. Este é um conceito que precisamos, especialmente aqueles de nós que são apaixonadamente contra a injustiça. Eu sei o que eu precisava. Na narrativa da minha vida, a primeira mordida de carne após os meus 20 anos desse hiato marca o fim da minha juventude, o momento em que assumi as responsabilidades da vida adulta. Foi o momento em que eu parei de lutar contra uma álgebra básica da concretização: para alguém viver, alguém tem que morrer. Em que essa aceitação, com todo o seu sofrimento e tristeza, é a capacidade de escolher uma maneira diferente, uma maneira melhor.

Os ativistas – os agricultores têm um plano muito diferente do polemista-escritor para nos transportar da destruição com a sustentabilidade. Os agricultores estão começando com informações completamente diferentes. Eu ouvi ativistas vegetarianos afirmarem que um acre de terra pode suportar apenas dois frangos. Joel Salatin, um dos sacerdotes de uma agricultura sustentável e alguém que, na verdade, cria galinhas, coloca esse número em 250 por acre. Em quem você acredita? Quantos de nós sabemos o suficiente para ainda ter uma opinião? Frances Moore Lappe diz que se gasta doze a dezesseis libras de grãos para fazer uma libra de carne. Enquanto isso, Salatin cria gado com nenhum grão ao final, são ruminantes em policulturas perenes rotativa, construindo um novo solo ano a ano. Habitantes de culturas industriais urbanas não têm nenhum ponto de contato com grãos, galinhas, vacas, ou, nessa matéria, com o solo de vegetação. Nós não temos nenhuma base na experiência para superar os argumentos de vegetarianos políticos. Nós não temos nenhuma ideia do que as plantas, os animais ou o próprio solo comem ou quanto. O que significa que não temos ideia do que nós mesmos estamos comendo.

Confrontar a verdade sobre a agroindústria – torturante para animais, e com custo ambiental – foi para mim, aos dezesseis anos um ato de profunda importância. Eu sabia que a terra estava morrendo. Era uma emergência diária que eu tinha vivido desde sempre. Nasci em 1964. “Silêncio” e “Primavera” eram inseparáveis: três sílabas, e não duas palavras. O inferno era aqui, com as refinarias de petróleo do norte de New Jersey, o inferno de asfalto da expansão suburbana, na crescente onda de humanos afogando o planeta. Chorei com Iron Eyes Cody, ansiando por sua canoa em silêncio e em um continente não molestado nos seus rios e pântanos, aves e peixes. Meu irmão e eu gostávamos de subir uma macieira silvestre antiga no parque local e sonhar com alguma forma de comprar uma montanha inteira. Ninguém seria permitido entrar, nenhuma discussão seria necessária. Quem poderia viver lá? Esquilos, era tudo com o que eu poderia conviver. Caro leitor, não ria. Além de Bobby, o nosso hamster de estimação, esquilos eram os únicos animais que eu já tinha visto. Meu irmão, bem-socializado em sua masculinidade, passou a torturar insetos e visar pardais com estilingues. Eu me tornei vegan.

Sim, eu era uma criança muito sensível. Minha música favorita aos cinco anos – e agora você está autorizado a rir – era Mary Hopkin’s Those Were the Days. Que passado romântico e trágico eu poderia ter lamentado aos cinco anos de idade? Mas era tão triste, tão requintado; gostaria de ouvir a música mais e mais vezes até que eu ficasse exausta de tanto chorar.

Ok, é engraçado. Mas eu não posso rir da dor que senti sobre o meu testemunho impotente da destruição de meu planeta. Isso foi real e tomou conta de mim. E os vegetarianos políticos ofereciam uma salvação convincente. Sem a compreensão da natureza da agricultura, da natureza da natureza, ou, finalmente, da natureza da vida, eu não tinha como saber que apesar de seus honrados impulsos, isso seria uma prescrição para um beco sem saída, para a mesma destruição que eu ansiava parar.

Esses impulsos e ignorâncias são inerentes ao mito vegetariano. Por dois anos depois de voltar a comer carne, eu era obrigada a ler fóruns vegans online. Eu não sei por quê. Eu não estava procurando por uma briga. Eu nunca postei nada a meu respeito. Inúmeras pequenas subculturas, intensas têm elementos sectários, e o veganismo não é uma exceção. Talvez a compulsão tinha a ver com minha própria confusão, espiritual, política, pessoal. Talvez eu estivesse a revisitar a visão de um acidente: foi onde eu tinha destruído meu corpo. Talvez eu tivesse perguntas e eu queria ver se eu poderia segurar minha própria história contra as respostas que eu tinha anteriormente me prendido com vigor, respostas que tinha sentido serem justas, mas agora me sentia vazio. Talvez eu não saiba por quê. Isso tem me deixada cada vez mais ansiosa, irritada e desesperada.

Mas um post marcou como um ponto de mudança. Um vegan divulgou sua ideia de manter os animais livres de serem mortos – não por humanos, mas por outros animais. Alguém deveria construir uma cerca no meio do Serengeti (um ecossistema da África oriental), e separar os predadores de suas presas. Matar é errado e nenhum animal jamais deveria morrer, então os grandes felinos e caninos selvagens ficariam de um lado, enquanto os gnus e zebras viveriam em outro lado. Ele sabia que os carnívoros ficariam muito bem porque eles não precisam ser carnívoros. Isso foi uma mentira que a indústria da carne, afirmava. Ele tinha visto seu cão comer grama; por isso, os cães poderiam viver de grama.

Ninguém se opôs. Na verdade, outros opinaram. “Meu gato come grama, também”, uma mulher acrescentou, com todo entusiasmo. “O mesmo acontece com o meu! “ outro alguém postou. Todos concordaram que essa barreira seria a solução contra a morte de animais.

Note bem que o site para este projeto libertador era para a África. Ninguém mencionou a pradaria norte-americana, onde os carnívoros e os ruminantes têm igualmente sido extintos pelos grãos anuais que os vegetarianos abraçam. Mas eu vou voltar ao Capítulo 3.

Eu sabia o suficiente para entender que isso era insano. Mas ninguém mais no quadro de mensagens conseguia ver nada de errado com o esquema. Assim, na teoria de que muitos leitores não têm o conhecimento para julgar este plano, eu vou passar por isso.

Carnívoros não podem sobreviver com a celulose. Eles podem, ocasionalmente, comer grama, mas usá-la medicinalmente, geralmente como um purgante para limpar seus aparelhos digestivos de parasitas. Os ruminantes, por outro lado, evoluíram para comer grama. Eles têm um rúmen (daí, ruminantes), o primeiro de uma série de múltiplos estômagos que atua como uma cuba de fermentação. O que está realmente acontecendo dentro de uma vaca ou um gnu é que as bactérias comem a grama, e os animais comem as bactérias.

Leões e hienas e os humanos não têm sistema digestivo de um ruminante. Literalmente – dos seus dentes até a porção final, o reto – foram projetados para a carne. Nós não temos nenhum mecanismo para digerir a celulose.

Então, no lado do carnívoro da cerca, a fome vai devorar cada animal. Alguns vão durar mais tempo do que outros, e alguns ao final vão terminar seus dias como canibais. Os oportunistas vão ter uma festa de terça-feira gorda, mas quando os ossos forem encontrados limpos, eles vão morrer de fome também. O cemitério não termina aí. Sem herbívoros para comer a grama, a terra acabará por se transformar num deserto.

Por quê? Porque sem herbívoros, que literalmente, nivelam o campo, as plantas perenes amadurecem, e a sombra encobre o ponto de crescimento basal na base dessa planta. Em um ambiente frágil como o Serengeti, a decadência é principalmente física (intempéries) e química (oxidativo), não bacteriana e biológica como em um ambiente úmido. Na verdade, os ruminantes assumem a maior parte das funções biológicas do solo através da digestão da celulose e retornando os nutrientes disponíveis, uma vez mais, sob a forma de urina e fezes.

Mas sem ruminantes, a matéria vegetal se acumula, reduzindo o crescimento, o que começa a matar as plantas. A terra nua está agora exposta ao vento, sol e chuva, os minerais são levados para longe, e a estrutura do solo é destruída. Em nossa tentativa de salvar os animais, nós matamos tudo.

No lado do ruminante da cerca, os gnus e amigos vão se reproduzir de forma tão eficaz como sempre. Mas sem a verificação de predadores, haverá mais rapidamente herbívoros do que grama. Os animais vão superar sua fonte de alimento, comer todas as plantas possíveis, e depois morrerão de fome, deixando para trás uma paisagem seriamente degradada.

A lição aqui é óbvia, embora seja profundo o suficiente para inspirar uma religião: temos de ser comidos tanto quanto nós precisamos comer. Os herbívoros precisam de sua celulose diariamente, mas a grama também precisa dos animais. Ele precisa do estrume, com seu nitrogênio, minerais e bactérias; é necessária a verificação mecânica da atividade de pastejo; e ele precisa os recursos armazenados em corpos de animais e libertos pelas predadores quando os animais morrem.

A grama e os herbívoros precisam um do outro tanto como predadores de suas presas. Essas não são relações de sentido único, e não acordos de dominação e subordinação. Nós não estamos explorando um ao outro por comer. Estamos apenas nos revezando.

Essa foi a minha última visita aos fóruns vegan. Percebi, então, que essas pessoas que são tão profundamente ignorantes da natureza da vida, do ciclo mineral e das trocas de carbono, os seus pontos de equilíbrio em torno de um antigo círculo de produtores, consumidores e predadores, não estariam sendo capazes de me orientar ou, na verdade, tomar qualquer decisão útil sobre uma cultura humana sustentável. Ao girar a partir do conhecimento adulto, o conhecimento de que a morte está incorporada no sustento de toda criatura, a partir das bactérias aos ursos pardos, eles nunca seriam capazes de alimentar a fome emocional e espiritual que doía em mim de aceitar esse conhecimento. Talvez no final, este livro seja uma tentativa de acalmar o que me faz sentir essa dor.

Posted in Textos | Tagged , , , , , , , , , , , , , | Comentários desativados em Uma mentira ecológica – o mito vegetariano

Vida moderna alterou bactérias corporais de humanos, diz estudo

Confira também: Índios têm mais bactérias benéficas à saúde, diz estudo

Diminuição na diversidade de micróbios no corpo pode ter contribuído para o desenvolvimento de doenças como asma, alergias, diabetes e obesidade.

Diminuição na diversidade de micróbios no corpo pode ter contribuído para o desenvolvimento de doenças como asma, alergias, diabetes e obesidade.

Os corpos de todas as pessoas são repletos de bactérias, e estes micróbios fazem muitas coisas boas, como formar o sistema imunológico e ajudar a digestão. Mas dietas modernas, antibióticos e até a higiene parecem estar reduzindo a variedade de micróbios presentes em nossa anatomia.

Um estudo publicado na última semana no periódico “Science Advances” analisou micróbios no estômago, na boca e na pele de indígenas de uma tribo pequena e isolada da selva amazônica, localizada ao sul da Venezuela, e revelou o quanto a vida moderna pode estar alterando as bactérias corporais da humanidade.

Os índios yanomami, afastados do mundo exterior até 2009, possuem a coleção mais diversificada de bactérias já encontrada em pessoas, inclusive algumas jamais detectadas em humanos, disseram cientistas.

Os pesquisadores se surpreenderam ao descobrir que os micróbios dos yanomami abrigam genes resistentes a antibióticos, entre eles os que conferem resistência a antibióticos feitos pelo homem, levando em conta que nunca foram expostos a antibióticos comerciais.

img_9310

Índios yanomami têm o dobro do número de variedades de micróbios. Grande parte tem efeito benéfico.

Malefícios da modernidade

Todas as pessoas têm trilhões de micróbios, coletivamente chamados de microbiota, que vivem dentro ou na superfície de virtualmente todas as partes do corpo. Eles contribuem para funções essenciais à saúde humana, como o desenvolvimento do sistema imunológico, o processamento de alimentos e o combate a patógenos invasores.

“Nosso estudo indica que a microbiota pré-humana moderna era composta por uma variedade maior de bactérias e uma variedade maior de funções de bactérias quando comparada a populações afetadas por práticas modernas, como comida processada e antibióticos”, afirmou Gautam Dantas, professor de patologia e imunologia da Universidade de Washington na cidade de St. Louis.

A redução na diversidade da microbiota pode estar ligada ao aumento de doenças imunológicas e metabólicas como asma, alergias, diabetes e obesidade nas últimas décadas, declarou Maria Dominguez-Bello, professora de medicina no Centro Médico Langone da Universidade de Nova York.

Os pesquisadores analisaram amostras microbiais de 34 dos 54 índios yanomami. Elas foram comparadas a um grupo dos Estados Unidos, outro povo indígena da Amazônia venezuelana, os Guahibo, e a moradores do interior do Malaui, no sul da África.

Os yanomami revelaram ter o dobro do número de variedades de micróbios das cobaias norte-americanas e de 30% a 40% mais variedades que os Guahibo e os habitantes rurais do Malaui. Algumas das bactérias encontradas nos yanomami, mas não em outros, têm efeitos benéficos, como proteger contra o cálculo renal.

Notícia extraída deste site.

Posted in Notícias, Textos | Tagged , , , , , | Comentários desativados em Vida moderna alterou bactérias corporais de humanos, diz estudo