Áden
Áden,[1] Adem[2][nota 1] ou Adém[3] (árabe: عدن ; IPA: [/ˈʕɑdæn/]) é uma cidade no Iêmen, 170 quilômetros a leste do estreito de Bab-el-Mandeb. Seu antigo porto natural jaz na cratera de um vulcão extinto, o qual forma agora uma península, unida à terra firme por um pequeno istmo. Este porto, Front Bay, foi usado inicialmente pelo antigo Reino de Awsan entre o 5º e o 7º século a.C.. O porto moderno está situado no outro lado da península. Áden tem atualmente uma população de cerca de 590.000 habitantes e está localizada em 12º 56' N 45º 02' E.
Áden consiste em um conjunto de pequenas cidades: Crater, a cidade portuária original, a cidade industrial conhecida agora como Little Aden com sua grande refinaria de petróleo, e Madinat ash-Sha'b, o centro governamental. Dois subúrbios, Khormaksar e Sheikh Othman, ficam ao norte de Crater, a cidade velha, com o aeroporto internacional (o antigo aeroporto RAF Khormaksar) situado entre eles. Como Áden envolve o lado oriental do porto, Little Aden forma sua imagem espelhada, envolvendo-a no lado ocidental. Little Aden tornou-se a sede da refinaria de petróleo e porto dos petroleiros. Ambos eram operados pela British Petroleum.
Áden foi a capital da República Democrática Popular do Iêmen até a unificação deste país com a República Árabe do Iêmen quando foi declarada zona de livre comércio. Deu seu nome ao Golfo de Áden.
Índice
História[editar | editar código-fonte]
Antiguidade[editar | editar código-fonte]
A conveniente posição do porto na rota marítima entre Índia e Europa tem feito de Áden objeto de desejo para governantes que buscaram obter sua posse em vários momentos através da História. Conhecido como "Arabia Felix" no século I a.C., era um ponto de baldeação para o comércio do Mar Vermelho, mas viveu dias difíceis quando novas técnicas de navegação permitiram contorná-lo e realizar a ousada travessia direta para a Índia no século I d.C., de acordo com o Périplo do Mar Eritreu. A mesma obra descreve Áden como "um vilarejo praiano", o que seria uma boa descrição da cidade de Crater antes que ela começasse a se expandir. Não há menção de fortificação, mas nesta época, Áden era muito mais uma ilha do que uma península, visto que o istmo não estava ainda tão desenvolvido quanto hoje.
Medieval[editar | editar código-fonte]
Embora a civilização pré-islâmica de Himiar fosse capaz de construir grandes estruturas, parecem ter havido poucas fortificações nesse período. Construções em Marib e em outros lugares no Iêmen e do Hadramaute, tornam isso claro e a cultura sabéia era também capaz disso. Assim, é possível que tenham existido torres de vigia, posteriormente destruídas. Todavia, os historiadores árabes Ibn al Mojawir e Abu Makhramah atribuem a primeira fortificação de Áden à Beni Zuree'a. O objetivo parece ter sido duplo: manter afastadas as forças hostis e garantir as contas públicas através do controle de movimentação de bens – impedindo o contrabando. Em sua form original, parte desta obra era relativamente frágil, mas depois de 1175 d.C., começou a ser reconstruída de forma mais sólida.
Domínio britânico[editar | editar código-fonte]
Em 19 de Janeiro de 1839 a Companhia Britânica da Índia Oriental desembarcou fuzileiros navais em Áden com o intuito de parar os ataques de piratas contra transportes britânicos para a Índia. O porto fica equidistante do Canal de Suez, Bombaim e Zanzibar, os quais eram todos importantes possessões do antigo Império Britânico. Áden tinha sido um local de parada para marujos do mundo antigo. Lá, suprimentos, particularmente água, eram repostos. Assim, em meados do século XIX, tornava-se necessário repôr carvão e água de caldeira. Assim, Áden recebeu um terminal carvoeiro em Steamer Point. Áden permaneceu sob controle britânico até 1967.
Áden foi governado como parte da Índia Britânica até 1º de Abril de 1937, quando se tornou a Colônia de Áden, uma colônia da Coroa britânica. A mudança no governo foi um passo rumo a mudança nas unidades monetárias. Quando o Império Indiano seguiu seu próprio rumo, as rúpias hindus (divididas em annas), foram substituídas em Áden por xelins da África Oriental. O interior de Áden e Hadramaut foram também frouxamente unidos aos britânicos como o Protetorado de Áden, o qual era supervisionado de Áden.
A localização de Áden também o tornou um porto popular de intercâmbio de correspondência transitando entre os lugares em redor do Oceano Índico e Europa. Há registros de correspondência remontando a 15 de Junho de 1839, embora um chefe de correios não tenha sido indicado até 1857. Áden usou selos da Índia Britânica até tornar-se colônia da Coroa em 1937. Embora estes selos não tragam nenhuma identificação especial, podem ser reconhecidos pelo uso do número 124 em cancelamentos postais, o qual foi atribuído à Áden como parte do sistema numérico postal indiano. Logo que Áden tornou-se colônia da Coroa, recebeu uma série de selos ilustrados com o seu nome grafado.
Em 1939, uma nova série de selos incluiu um retrato de Rei Jorge VI, mas os sultões em Hadramaut (cujos territórios estavam sob a jurisdição do Protetorado de Áden desde a década de 1880), levantaram objeções, e então o governo britânico emitiu uma série em separado, em 1942, contendo as inscrições adicionais Estado Kathiri de Seiyun e Estado Qu'aiti de Shihr e Mukalla (posteriormente, Estado Qu'aiti em Hadramaut), além de retratos dos respectivos sultões. Todos estes tipos eram válidos em Áden e no Protetorado de Áden.
Little Aden (de 1955 à 1967)[editar | editar código-fonte]
Little Aden ainda é dominada pela refinaria de petróleo construída pela British Petroleum. Little Aden também ficou bastante conhecida por seu terminal de petroleiros dotado de instalações de apoio completas para os marinheiros, incluindo piscina e bar com ar condicionado. As áreas de alojamento para o pessoal da refinaria eram conhecidas por seus nomes árabes originais, Bureika e Ghadir.
Bureika era constituída por alojamentos de madeira, construídos para acomodar os milhares de técnicos e operários importados para construir a refinaria, posteriormente convertidos em casas para famílias, acrescidos de casas pré-fabricadas, as "Riley-Newsums", também encontráveis em algumas regiões da Austrália (Woomera). Bureika tinha também um balneário protegido e um Clube de Praia.
As casas de Ghaddir foram construídas em pedra, principalmente da pedreira local de granito; muitas destas casas ainda permanecem de pé atualmente, ocupadas agora por moradores nativos abastados de Big Aden. Little Aden tem também uma câmara municipal e vilas de pescadores pitorescas, incluindo a Lobster Pots de Ghaddir. O exército possui grandes acampamentos em Bureika e no Vale do Silêncio, em Falaise Camp; eles protegeram com sucesso o pessoal e as instalações da refinaria durante distúrbios, com algumas poucas exceções. Havia escola para as crianças do jardim de infância até o nível primário; depois disso, as crianças eram levadas de ônibus para a Isthmus School em Khormaksar. Todavia, isto teve de ser interrompido durante a Emergência de Áden.
Federação do Sul da Arábia e a Emergência de Áden[editar | editar código-fonte]
Embora com a perda do Canal de Suez em 1956, Áden tenha se tornado a principal base na região para os britânicos, a crescente influência geopolítica do vizinho Iêmen do Norte, levou-os a buscar tentar gradualmente unir os estados díspares da região, na preparação para uma eventual independência. Em 18 de Janeiro de 1963, a Colônia de Áden foi incorporada na Federação dos Emirados Árabes do Sul, como Estado de Áden (contra os desejos da maioria da população da cidade) e a Federação foi renomeada como Federação da Arábia do Sul (FAS).
Uma rebelião contra o domínio britânico, conhecida como "Emergência de Áden" começou com um ataque com granadas efetuado pela Frente Nacional de Libertação (FNL) contra o Alto Comissariado Britânico em 10 de Dezembro de 1963, matando uma pessoa e ferindo cinquenta. Um "estado de emergência" foi declarado.
Em 1964, a Grã-Bretanha anunciou sua intenção em conceder independência à FAS em 1968, mas também que as tropas britânicas permaneceriam em Áden. Todavia, em Janeiro de 1967, houve levantes em massa organizadas por simpatizantes da FNL e de sua rival, a Frente de Libertação do Sul do Iêmen Ocupado (FLSIO), no velho bairro árabe de Áden, os quais continuaram até meados de Fevereiro, a despeito da intervenção das tropas britânicas. Durante o período, foram feitos muitos ataques contra as tropas, e um avião DC-3 da Aden Airlines foi destruído no ar, não havendo sobreviventes.
Em 30 de Novembro de 1967, os britânicos finalmente partiram, deixando Áden e o restante da FSA sob controle da FNL. Os fuzileiros navais, que haviam sido as primeiras tropas britânicas a ocupar Áden, em 1839, foram as últimas a sair.
Independência[editar | editar código-fonte]
Áden tornou-se a capital da nova República Popular do Iêmen do Sul a qual foi renomeada para República Democrática Popular do Iêmen em 1970. Com a unificação do Iêmen setentrional e meridional em 1990, Áden deixou de ser uma capital nacional, mas permaneceu como a capital do Governorado de Áden, o qual cobria uma área similar àquela da Colônia de Áden.
A partir de 21 de Maio de 1994, Áden tornou-se brevemente o centro da separatista República Democrática do Iêmen mas foi reocupado pelas tropas da República do Iêmen em 7 de Julho de 1994.
Ações terroristas[editar | editar código-fonte]
Em 29 de Dezembro de 1992, a Al Qaeda conduziu seu primeiro ataque terrorista em Áden, explodindo uma bomba no Gold Mihor Hotel, onde sabia-se que militares norte-americanos haviam estado em trânsito para a Operação "Restore Hope" na Somália. Um iemenita e um turista austríaco morreram no ataque.
Membros da Al Qaeda tentaram explodir o USS The Sullivans no porto de Áden como parte de seus planos de ataque para o ano 2000. O bote que carregava os explosivos afundou, e o plano de ataque foi abortado. Em 12 de Outubro do mesmo ano, a organização terrorista obteve sucesso com um ataque ao USS Cole, causando graves avarias à embarcação.
A Arábia Saudita e seus aliados realizaram ataques aéreos contra militantes houthis após seu avanço sobre Áden, em Abril de 2015.[4]
Em 6 de dezembro de 2015, um atentado com bombas, resultou na morte do governador da cidade, Jaarfar Mohammed Saad e mais seis pessoas de sua comitiva, quando se deslocavam de carro para o trabalho no centro da cidade. O ataque foi reivindicado pelo Estado Islâmico (ISIS).[5]
Notas[editar | editar código-fonte]
- ↑ No DOELP, José Pedro Machado afirma: "Esta é a escrita correcta do nome da célebre cidade da Península Arábica. Do ár[abe] 'adan, com acento tónico na sílaba inicial."
Referências
- ↑ «Manual de Redação de O Estado de S. Paulo»
- ↑ Machado, José Pedro (1993) [1984]. Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa. I 2.ª ed. 2.ª ed. Lisboa: Horizonte / Confluência. p. 49. ISBN 972-24-0842-9
- ↑ Fernandes, Ivo Xavier (1941). Topónimos e Gentílicos. I. Porto: Editora Educação Nacional, Lda.
- ↑ http://www.dailystar.com.lb/News/Middle-East/2015/Mar-26/292144-saudi-uae-kuwait-qatar-say-they-are-protecting-yemen-against-houthi-aggression-joint-statement.ashx
- ↑ G1 - Atentado mata governador do Iêmen; Estado Islâmico reivindica ataque
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Norris, H.T. e Penhey, F.W. The Historical Development of Aden's defences. The Geographical Journal, Vol. CXXI, part I (1955).