Butão
འབྲུག་ཡུལ (Dru Ü) Reino do Butão |
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Hino nacional: Druk tsendhen ("Reino do Dragão do Trovão") |
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Gentílico: Butanês, butanense[1], butani[1], butâni[1] |
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Localização do Butão |
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Capital | Thimbu |
Cidade mais populosa | Thimbu |
Língua oficial | Butanês (Dzonga) |
Governo | Monarquia constitucional |
- Rei | Jigme Khesar Namgyal Wangchuck |
- Primeiro-ministro | Tshering Tobgay |
Formação | |
- Data | ca. século XVII |
Área | |
- Total | 38 394 km² (133.º) |
População | |
- Estimativa para 2015 | 765.650[2] hab. (167.º) |
- Densidade | 18,2 hab./km² |
PIB (base PPC) | Estimativa de 2007 |
- Total | US$ 4,257 bilhões * USD (est. 2009) (171.º) |
- Per capita | US$ 4 700 USD (est. 2009) (147.º) |
IDH (2014) | 0,605 (132.º) – médio[3] |
Moeda | Ngultrum; Rupia indiana (BTN; INR ) |
Fuso horário | (UTC+6) |
Cód. ISO | .bt |
Cód. telef. | +975 |
O Butão (em butanês: འབྲུག་ཡུལ་; transl.: Dru Ü, pronúncia: [ʈʂɦu yː], lit. "terra do dragão"), oficialmente Reino do Butão, é um país interior localizado no sul da Ásia, no extremo leste dos Himalaias. Faz fronteira a norte com a China e para o sul, leste e oeste pela Índia. Mais a oeste, está separado do Nepal pelo estado indiano de Sikkim, enquanto mais ao sul está separado de Bangladesh pelos estados indianos de Assam e Bengala Ocidental. A capital e maior cidade do Butão é Thimbu.
O Butão existia como uma manta de retalhos de pequenos feudos em guerra até o início do século XVII, quando o lama e líder militar Shabdrung Ngawang Namgyal, fugindo da perseguição religiosa no Tibete, unificou a área cultivada e uma identidade distinta butanesa. Mais tarde, no início do século XX, o Butão entrou em contato com o Império Britânico e manteve fortes relações bilaterais com a Índia sobre a sua independência. Em 2006, baseado em uma pesquisa global, a revista BusinessWeek avaliou o Butão o país mais feliz na Ásia e o oitavo país mais feliz do mundo.
A paisagem do Butão varia de planícies subtropicais no sul às alturas sub-alpinas no norte dos Himalaias, onde alguns picos excedem a altitude de 7 000 metros. Em 1997 a área total foi relatada como cerca de 46 500 km² e de 38 394 km² em 2002. A religião oficial é o budismo vajrayana e é seguida pela grande maioria da população, estimada em 765 650 em 2015. O hinduísmo é a segunda maior religião.
Em 2008, o Butão fez a transição da monarquia absoluta para a monarquia constitucional e realizou a sua primeira eleição geral. Além de ser um membro da Organização das Nações Unidas, Butão é um membro da Associação Sul-Asiática para a Cooperação Regional (SAARC) e organizou em abril de 2010 o XVI congresso da SAARC.
Índice
História[editar | editar código-fonte]
A tradição situa o início da sua história no século VII, quando o rei tibetano Songtsen Gampo construiu os primeiros templos budistas nos vales de Paro e de Bumthang. No século VIII, é introduzido o budismo tântrico pelo Guru Rimpoché, "O Mestre Precioso", considerado o segundo Buda na hierarquia tibetana e butanesa.
Os séculos IX e X são de grande turbulência política no Tibete e muitos aristocratas vieram instalar-se nos vales do Butão onde estabeleceram o seu poder feudal.
Nos séculos seguintes, a atividade religiosa começa a adquirir grande vulto e são fundadas várias seitas religiosas, dotadas de poder temporal por serem protegidas por facções da aristocracia. No Butão estabeleceram-se dois ramos, embora antagônicos, da seita Kagyupa. A sua coexistência será interrompida pelo príncipe tibetano Ngawang Namgyel que, fugido do Tibete, no século XVII unifica o Butão com o apoio da seita Drukpa, tornando-se no primeiro Shabdrung do Butão, "aquele a cujos pés todos se prostram". Ele mandaria construir as mais importantes fortalezas do país que tinham como função suster as múltiplas invasões mongóis e tibetanas. O relato da época foi feito por Estêvão Cacella, o primeiro europeu a entrar no Butão. Este missionário jesuíta português, que viajou através dos Himalaias em 1626, encontrou-se com o Shabdrung Ngawang Namgyel e no fim de uma estadia de quase oito meses escreveu uma longa carta do Mosteiro Chagri relatando as suas viagens. Este é o único relato deste Shabdrung que resta[4]. A partir do seu reinado estabeleceu-se um sistema político e religioso que vigoraria até 1907, em que o poder é administrado por duas entidades, uma temporal e outra religiosa, sob a supervisão do Shabdrung.
Desde sempre que o Butão só mantinha relações com os seus vizinhos na esfera cultural do Tibete (Tibete, Ladakh e Sikkim) e com o reino de Cooch Behar na sua fronteira sul. Com a presença dos ingleses na Índia, no século XIX, e após alguns conflitos relacionados com direitos de comércio, dá-se a guerra de Duar em que o Butão perdeu uma faixa de terra fértil ao longo da sua fronteira sul. Ao mesmo tempo, o sistema político vigente enfraquecia por a influência dos governadores regionais se tornar cada vez mais poderosa. O país corria o risco de se dividir novamente em feudos.
Um desses governadores, o "Penlop" de Tongsa, Ugyen Wangchuck, que já controlava o Butão central e oriental, conseguiria dominar os seus opositores de Thimbu e, assim, implantar a sua influência sobre todo o país. Em 1907 seria coroado rei do Butão, após consultas ao clero, à aristocracia e ao povo, e com a aliança dos ingleses. Foi assim criada a monarquia hereditária que hoje vigora.
Geografia[editar | editar código-fonte]
O Butão é uma nação muito montanhosa, de interior, situada na Ásia. Os picos do norte atingem mais de 7 000 metros de altitude, e o ponto mais elevado é o Gangkhar Puensum, com 7 570 m, que nunca foi escalado. A parte sul do país tem menor altitude e contém vários vales férteis densamente florestados, que escoam para o rio Bramaputra, na Índia.
A maioria da população vive nas terras altas centrais. A maior cidade do país, a capital Thimphu (50 000 habitantes), situa-se na parte ocidental destas terras altas. O clima varia de tropical no sul a um clima de invernos frescos e verões quentes nos vales centrais, com invernos severos e verões frescos nos Himalaias.
As montanhas Negras, na região central do Butão, formam um divisor de águas entre dois grandes sistemas fluviais: o Mo Chhu e o Drangme Chhu. Pontos nas montanhas Negras variam entre 1 500 e 4 925 metros acima do nível do mar, e caudalosos rios esculpiram desfiladeiros profundos nas áreas mais baixas da montanha. As florestas das montanhas centrais do Butão consistem em florestas de coníferas subalpinas orientais, em altitudes mais elevadas, e florestas folhosas nas proximidades do Himalaia, em altitudes mais baixas.
Demografia[editar | editar código-fonte]
A cultura do Butão já foi definida como sendo, simultaneamente, patriarcal e matriarcal e o membro que detém a maior estima é considerado o chefe da família. O Butão também já foi descrito como tendo um regime feudal caracterizado pela ausência de uma forte estratificação social.
Nos tempos pré-modernos existiram três grandes classes:
- A comunidade monástica, a liderança da qual veio da nobreza;
- Os empregados civis leigos, que dirigiam o aparato governamental e
- Os agricultores, a maior classe, que vivia em aldeias autossuficientes.
http://www.geonames.org/BT/largest-cities-in-bhutan.html |
Cidades mais populosas de Butão|||||||||||
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Thimphu Phuntsholing |
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Posição | Localidade | Distrito | Pop. | Punakha |
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1 | Thimphu | Thimphu | 62 500 | ||||||||
2 | Phuntsholing | Chukha | 60 400 | ||||||||
3 | Punakha | Punakha | 21 500 | ||||||||
4 | Samdrup Jongkhar | Samdrup Jongkhar | 13 800 | ||||||||
5 | Geylegphug | Sarpang | 6 700 | ||||||||
6 | Paro | Paro | 4 400 | ||||||||
7 | Trashigang | Trashigang | 4 400 | ||||||||
8 | Wangdue Phodrang | Wangdue Phodrang | 3 300 | ||||||||
9 | Taga Dzong | Dagana | 3 100 | ||||||||
10 | Trongsa | Trongsa | 2 300 |
Religião[editar | editar código-fonte]
Estima-se que entre dois terços e três quartos da população do Butão seguem o Budismo Vajrayana, que também é a religião de Estado. Cerca de um quarto a um terço são seguidores do hinduísmo. Outras religiões correspondem a menos de 1% da população.[5] O atual quadro legal, em princípio, garante a liberdade de religião. Entretanto, o proselitismo é proibido por uma decisão do governo real[5] e pela interpretação judicial da Constituição.[6]
Política[editar | editar código-fonte]
O Butão é uma monarquia constitucional. O chefe religioso do Reino, o Je Khenpo, goza de uma importância quase idêntica à do rei.
Depois de um histórico discurso do rei Jigme Singye Wangchuck, no dia nacional, em dezembro de 2006, abdicando a favor do seu filho e anunciando a realização de eleições democráticas, os butaneses foram às urnas em 24 de março de 2008, terminando assim mais de um século de monarquia absoluta [7].
O poder legislativo é exercido por um parlamento bicameral, composto pela Assembleia Nacional do Butão (câmara baixa) com 47 membros,[8] e pelo Conselho Nacional do Butão (câmara alta) com 25 membros,[9] que elegem o primeiro-ministro.[10]
O Butão e a Tailândia são os últimos reinos budistas do mundo.
Símbolos nacionais[editar | editar código-fonte]
A bandeira nacional está dividida diagonalmente desde o canto inferior esquerdo até o canto superior direito, formando assim dois triângulos. O superior amarelo e o inferior cor-de-laranja. Ao centro está um dragão branco olhando para o exterior da bandeira. O dragão apresentado na bandeira, Druk o dragão do trono, representa o nome do Butão em tibetano, que é "A Terra do Dragão" (Druk Yul). O dragão possui joias nas suas garras que representam a abundância. O amarelo por sua vez representa a monarquia secular e o laranja a religião budista.
O brasão de armas mantém vários elementos da bandeira do Butão, ligeiramente diferentes dos originais, e contém muito simbolismo budista. A designação oficial é: "O emblema nacional, contido num círculo, é composto por um duplo diamante-raio (dorji) colocado acima de um loto, encimado por uma joia e emoldurado por dois dragões. O raio representa a harmonia entre o poder secular e o poder religioso. O lótus simboliza pureza, a joia manifesta o poder soberano, e os dois dragões, macho e fêmea, defendem o nome do país que proclama com a sua grande voz, o trovão".
Druk tsendhen ("Reino do Dragão do Trovão") é o hino nacional do Butão. Com música de Aku Tongmi e letra de Gyaldun Dasho Thinley Dorji, foi adoptado em 1953.
Economia[editar | editar código-fonte]
O Butão tem sua economia essencialmente baseada na agricultura, extração florestal e na venda de energia hidroelétrica para a Índia. A agricultura, essencialmente de subsistência, e a criação animal, são os meios de vida para 90% da população. É uma das menores e menos desenvolvidas economias do mundo.
Em 2004, o Butão foi o primeiro país do mundo a banir o consumo público e a venda de cigarros.[11][12]
Embora a economia do Butão seja uma das menores do mundo, tem crescido rapidamente nos últimos anos, registrando 8% de crescimento em 2005 e 14% de crescimento em 2006.[13] Em 2007, o Butão teve a segunda economia com maior crescimento no mundo, com uma taxa de crescimento de 22,4%. Isso ocorreu, principalmente, devido à Hidrelétrica Power Station Tala, que passou a operar a partir daquele ano. Em 2014, o Produto interno bruto (PIB) butanês foi de US$ 5,235 bilhões,[14] e o PIB per capita foi de US$ 2.133 dólares americanos.[15]
Cultura[editar | editar código-fonte]
O Butão tem uma herança cultural rica e única que tem, em grande parte, permanecido intacta por causa de seu isolamento do resto do mundo até o início dos anos 1960. A cultura butanesa é uma das principais atrações para os turistas, assim como as tradições do país. Os costumes tradicionais do Butão estão profundamente impregnados em sua herança budista.[16][17] O hinduísmo também serviu como influência e referência nos costumes de tradição e cultura butaneses, predominantemente nas regiões do Sul.[18] O governo está fazendo cada vez mais esforços para preservar e manter a cultura atual e as tradições do país. Por causa de seu ambiente natural - grande parte ainda intocado - e do património cultural, o Butão tem sido referido como "O Último Shangri-La".[19]
A cultura butanesa já foi definida como sendo, simultaneamente, patriarcal e matriarcal e o membro que detém a maior estima é considerado o chefe da família. O Butão também já foi descrito como tendo um regime feudal e caracterizado pela ausência de uma forte estratificação social.
Nos tempos pré-modernos existiram três grandes classes:
- A comunidade monástica, a liderança da qual veio a nobreza;
- Os empregados civis leigos, que dirigiam o aparato governamental;
- E os agricultores, a maior classe, que viviam em aldeias auto-suficientes.
Enquanto que os cidadãos butaneses são livres para viajar para o exterior, o Butão é visto como inacessível por muitos estrangeiros. Outra razão para que seja um destino impopular é o custo econômico, que é considerado alto para os turistas e no setor econômico turístico. A entrada é gratuita para os cidadãos da Índia e Bangladesh, mas os estrangeiros de outros países são obrigados a inscrever-se com um operador turístico butanês e pagar cerca de US$ 250 dólares americanos por cada dia em que permanecer no país, embora esta taxa cobre a maioria das despesas de viagem, alojamento e refeições.[20] O país recebeu 37.482 visitantes em 2011, sendo um dos países menos visitados no mundo.[21]
Arquitetura[editar | editar código-fonte]
A arquitetura do Butão permanece distintamente tradicional, empregando métodos de construção locais, com materiais como acácia, pique, pedras e madeiras, trabalhadas em torno das janelas e telhados. A arquitetura tradicional não utiliza pregos ou barras de ferro em suas construções.[22][23] Uma característica da arquitetura da região é um tipo de castelo (ou fortaleza) conhecida como dzong. Desde os tempos antigos, os Dzongs serviram como centros religiosos e seculares de administração para seus respectivos distritos.[24]
A arquitetura butanesa serviu de inspiração ou foi adotada em algumas construções em outros países, como nos Estados Unidos, onde a Universidade do Texas, em El Paso, usou-a como base na construção de seus prédios no campus, assim como nas proximidades do Hilton Garden Inn e outros edifícios na cidade de El Paso.[25]
Ver também[editar | editar código-fonte]
- Lista de Estados soberanos
- Lista de Estados soberanos e territórios dependentes da Ásia
- Missões diplomáticas de Butão
Referências
- ↑ a b c Portal da Língua Portuguesa - Dicionário de Gentílicos e Topónimos
- ↑ CIA. The World Factbook - Bhutan. Consultado em 15 de novembro de 2010.
- ↑ «Human Development Report 2015» (PDF) (em inglês). Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 14 de dezembro de 2015. Consultado em 24 de dezembro de 2015
- ↑ Estêvão Cacella - página em Bhutannica.org
- ↑ a b Bhutan
- ↑ Pastor sentenced to 3 yrs in prison
- ↑ CNN- Notícia sobre as eleições de 24 de Março de 2008
- ↑ «Assembleia Nacional do Butão» (em inglês). www.nab.gov.bt. Consultado em 30 de outubro de 2016
- ↑ «Conselho Nacional do Butão» (em inglês). www.nationalcouncil.bt. Consultado em 30 de outubro de 2016
- ↑ «Gabinete do primeiro-ministro do Butão» (em inglês). www.cabinet.gov.bt. Consultado em 30 de outubro de 2016
- ↑ «Butão proíbe a venda de tabaco». BBC. Consultado em 14 de maio de 2011
- ↑ Reuters (17 de dezembro de 2004). «Butão é o primeiro país do mundo a proibir o fumo». UOL. Consultado em 14 de maio de 2011
- ↑ «World development idicators». The World Bank Group. Consultado em 6 de janeiro de 2014
- ↑ «Country Comparison: GDP (Purchasing Power Parity)». CIA - The World Factbook. Consultado em 6 de janeiro de 2014
- ↑ «Field listing: GDP (Official Exchange Rate)». CIA - The World Factbook. Consultado em 6 de janeiro de 2014
- ↑ Kharat, Rajesh (2000). «Bhutan's Security Scenario». Contemporary South Asia. 13 (2) [S.l.: s.n.] pp. 171–185. doi:10.1080/0958493042000242954
- ↑ Martin Regg, Cohn. "Lost horizon." Toronto Star (Canada) n.d.: Newspaper Source Plus. Web. 8 December 2011.
- ↑ Zurick, David (2006). «Gross National Happiness And Environmental Status In Bhutan» (PDF). Geographical Review. 96 (4) [S.l.: s.n.] pp. 657–681. doi:10.1111/j.1931-0846.2006.tb00521.x
- ↑ «Bhutan – the Last Shangri La». PBS online. Consultado em 6 de janeiro de 2015
- ↑ «Travel Requirements». Tourism Council of Bhutan. Consultado em 6 de janeiro de 2015
- ↑ «New MICE hardware on the cards for Bhutan». TTGmice. Consultado em 6 de janeiro de 2015
- ↑ Rael, Ronald. Earth Architecture. [S.l.: s.n.], 2008. ISBN 1-56898-767-6
- ↑ «Country profile – Bhutan: a land frozen in time» BBC News online [S.l.] 9 de fevereiro de 1998. Cópia arquivada desde o original em 11 de novembro de 2010. Consultado em 6 de janeiro de 2015
- ↑ Ingun B, Amundsen (2001). «On Bhutanese and Tibetan Dzongs» (PDF). Journal of Bhutan Studies. 5 Winter ed. [S.l.: s.n.] pp. 8–41. Consultado em 6 de janeiro de 2015 (JBS)
- ↑ «1.1 University History». UTEP Handbook of Operations. Universidade do Texas, El Paso. Cópia arquivada desde o original em 23 de julho de 2011. Consultado em 6 de janeiro de 2015