Pais não deveriam sentir-se desamparados ao ver seus filhos sofrendo. Nenhum professor deveria sentir-se mal equipado para lidar com um aluno com problemas. Nenhum adolescente deveria ter de sair de seu bairro para obter tratamento. Nenhuma criança deveria achar que a vida não vale a pena.
Ao contrário, o amor, dessa vez, me fortaleceu, me encheu de possibilidades, riu das minhas trapalhadas e trouxe sorvete sempre. O amor instalou-se na minha casa sorrateiro, orgânico e sustentável. Fez macarrão à bolonhesa para o jantar. Fez playlist, foi comigo para Paraty, procurou casa e reside comigo agora na Vila Anglo - nosso pedacinho de interior na enorme São Paulo caótica.
O fato é que a linguagem virtual das redes sociais, apesar de ser usada tão superficialmente nos diz muito sobre nossas profundezas, mas o que fazemos e como lidamos com isso aí já é um outro ponto.
Para mim, o outono é quando sempre lembro do fim de 2006. Lembro da dor aguda, mas não consigo senti-la de novo; ela parece distante, um fato que sei que existiu mas que não tenho como verificar. Mas aquela sensação de perceber que posso fazer a porra que quiser com o resto da minha vida - aquela sensação de espaço e maravilhamento - nunca deixa de parecer nova.
É essa a frase que eu vivo repetindo para mim mesma, quase como um mantra. Digo sempre quando bate aquele desespero diante de um prazo urgente que aparece do nada no trabalho; do engarrafamento colossal que brota a caminho de um compromisso do outro lado da cidade; do elevador que teima em não descer enquanto cresce aquela vontade de apertar o botão 1, 2, 3 vezes. "Calma, vai dar tempo!". Na maioria das vezes, não dá. Soa familiar?
Quando chegamos nessa época do ano sempre temos a sensação de que corremos atrás do tempo ou ele corre atrás da gente. Tudo foi tão rápido. Um ano especialmente duro para todos. A cada momento um acontecimento atordoante. Sem tempo para incorporar uma ideia, logo vinha outra notícia que nos fazia engolir a anterior. E, assim, fomos nós os engolidos nesse redemoinho louco que foi 2016.
Por ter tido a oportunidade de amá-la. Ter podido aprender com ela. Porque nossas vidas puderam crescer e florescer porque a conhecemos. Conhecer o grande amor de sua vida e deixá-lo ir embora não precisa ser a maior tragédia de sua vida. Se você permitir, pode ser sua maior bênção. Afinal, algumas pessoas nunca chegam a conhecer seu grande amor.
A maneira como nos fazemos presentes - para onde direcionamos nossa atenção - está integralmente relacionada à realidade que percebemos como verdadeira. Durante a maior parte de nossa existência, temos vivido dentro de uma determinada faixa repetitiva e estreita de atenção. Como consequência, sentimos tédio e mesmo um certo entorpecimento. Muitas vezes vemos até abrir-se um espaço fora desses hábitos, mas raramente nos sentimos capazes de acessá-lo.
Não existe conversa sem argumentos. Uma conversa onde só existe opinião é um ringue. Dali só sai tiro, porrada, bomba e intolerância. E, só para lembrar, não queremos isso. Nem eu, nem você. Nem a tia Léia, nem o 'seu' Zé e nem o Dr. Claudio querem. Muito menos o pessoal do churras na laje. Afinal, estamos todos no mesmo barco e não queremos que ele afunde de vez.
São tempos difíceis. A cada dia que passa, parece que tudo se torna mais nebuloso. Não há dinheiro, não há emprego, não há saúde, não há paciência e muitos governantes e formadores de opinião que influenciam direta e indiretamente a grande massa, se assemelham aos vilões de histórias em quadrinhos com um requinte a mais de crueldade.
Um dos livros mais decepcionantes que li nos últimos tempos foi Sapiens - Uma breve história da humanidade. Não achei um livro ruim, mas decepcionante. Talvez porque eu tenha demorado tanto para ler - e, nos cinco anos desde seu lançamento, ele tenha se tornado tão popular e influente - que já não achei nenhuma ideia original.
Não é normal desejar bater em pessoas desconhecidas nas ruas, nem saudável não poder passar tempo com a família, não é correto desejar que alguém seja morto e estuprado por discordância política e tenho certeza que sua mãe não deve ter te ensinado a xingar pessoas a torto e a direito.
Talvez, a frustração na infância seja um caminho para diminuir a frustração na vida adulta, que normalmente será mais longa e desagradável.
Esqueçam tudo isso, em nome daquilo que você considera sagrado, e volte a olhar uns aos outros como nos olhávamos no recreio da escola, quando tínhamos uns seis anos e todo mundo era amigo e as brigas acabavam quando alguém chorava. Você se lembra dessa época? Se lembra quando a dor do outro nos tocava, e nos abraçávamos para que a dor fosse embora? Alguém ainda se lembra que não vale a pena brigar, xingar, gritar com seu irmão por conta daquilo que ele acredita, seja em Deus, seja que o Lula é inocente?
Tem também quem já tenha desistido de ser sua melhor versão. Quem sou eu para julgar, mas sou das que pensa que sempre vale a pena se esforçar mais um pouquinho. Pode estar ali, no dia a mais de perseverança, a sua vitória: na jornada, não necessariamente em um final feliz, mas em passos felizes na direção certa. É desafiador romper com a lógica ilógica do mundo e, entenda bem, ninguém tem a fórmula.
Não estou nem aí para o que os outros pensam, mas também não sou invulnerável. Posso dizer com bastante sinceridade que não é nem um pouco agradável ver as pessoas julgarem a mim e à minha mulher quando nosso filho tem um ataque. Nos sentimos pais fracassados. Porque no fundo sempre temos aquela dúvida: "Será que poderíamos ter feito algo diferente?"