Mas 'Elle' é francês. E, por isso, quase cômico-trágico. Ri em várias cenas inapropriadas (para desespero de meu colega de poltrona) e saí da sala incrivelmente mais leve do que há 15 anos. Basta lembrar que durante as mais de 2 horas de projeção, o objetivo principal de Michèle é garantir a seu alter-ego gamer o orgasmo mais intenso da história.
Em lugar de festejar a alegria de "La La Land" e da Hollywood clássica, este é um bom momento para reconhecer as outras coisas que o cinema faz bem e vem fazendo bem há décadas: encontrar esperança em meio à tragédia, triunfo discreto em meio à opressão e beleza em meio ao sentimento doloroso de perda.
Estão fazendo falta as vozes de homens que se manifestem sobre esse assunto. Você não fica de estômago virado quando ouve essas letras? Você se sente representado desse jeito? Não o apavora a ideia de que seus filhos vão crescer vendo esses exemplos?
Dizer que a culpa disso é de nossos políticos, é chover no molhado, portanto convido a fazer outra reflexão. Em Star Wars, é exatamente isso que Palpatine quer: que o povo da Galáxia pare de crer na República para que ele possa ampliar seus domínios e governar a tudo e todos.
Bandida é a identidade afirmativa que Carol carrega desde o início de sua carreira - e da vida. Como ela mesmo já relatou em dezenas de entrevistas, ser mulher negra, vivendo em regiões periféricas violentas, a tornou uma adolescente reativa.
Em sua mais recente "pesquisa" teatral, Antunes Filho mais uma vez nos força a uma experiência teatral completamente nova, que nos deixa com um senso de intimidade. "Blanche", que está sendo apresentada num espaço do Sesc Consolação dedicado ao Centro de Pesquisa Teatral de Antunes, usa apenas "Fonemol", uma língua imaginária na qual os atores parecem fluentes, mas da qual não entendemos nem uma palavra sequer. Só nos resta observar a ação e ouvir as cadências vocais, os gritos e sussurros, a montanha-russa de emoções expressadas sem a ajuda de palavras que possamos compreender. Logo nos acostumamos, e esse estratagema concentra nossa atenção no que os atores estão expressando de modo a romper a barreira às vezes criada pela linguagem. Enxergamos com mais clareza.
Resgatar três meninas que seriam vendidas como prostitutas em uma viagem que fiz à Índia em 2002 mudou minha vida para sempre. Foi meu primeiro encontro com o crime de tráfico de pessoas, também conhecido como escravidão moderna. Saber que a escravidão não era assunto do passado me deixou arrasado e consternado. Depois entendi que ser testemunha de um crime invisível para muitos, mas de proporções epidêmicas, me transformava em cúmplice, se não fizesse nada.
Soma de todas as experiências e temas explorados pelo músico nos últimos trabalhos de estúdio, You Want It Darker reflete a força criativa de Leonard Cohen. Aos 82 anos - dos quais 60 são dedicados à carreira musical -, o cantor e compositor canadense faz de cada composição ao longo do registro um movimento preciso, sutil. Memórias, tormentos, confissões e sussurros melancólicos que se espalham sem pressa, como uma preciosa carta de despedida.
São seis anos de carreira, 10 álbuns e elogiadas participações em diversas coletâneas. Neste ano de 2016, Phillip Long, músico expoente da cena folk independente feita no Brasil, lançou Cat Days, seu último registro em inglês, e ainda os singles "Talvez", "Não faz Seu Estilo" e "Música de Superfície" - faixas para um disco que acabou ficando congelado, à espera de um outro momento para ganhar a luz do dia. Neste momento, Phillip já está em outra sintonia: seu interesse agora é voltar às raízes e lançar um álbum "bem folk e purista, com gaita pra caramba", como define. Com campanha ativa no Catarse, seu próximo disco, batizado de Manifesto de Uma Pequenina Vida, será o primeiro todo em português, marcando não apenas uma fase em que o músico ambiciona se comunicar melhor com o público brasileiro, como também um momento de maior liberdade criativa e artística em sua carreira.
Doutor Estranho é mais uma versão cinematográfica de um personagem de quadrinhos. O filme estreia este mês, e Benedict Cumberbatch está no papel principal. Até agora, as notícias e trailers do filme geraram ótimas respostas e chamaram a atenção de todos os fãs dos quadrinhos da Marvel, especialmente quem adora o personagem Doutor Estranho.
Fã tardia de ficção científica, mas apaixonada por tudo que tivesse remotamente a ver com viagens ao espaço ou inteligência artificial, comecei a ver a série cheia de expectativas. Depois de Game of Thrones, queria a todo custo me agarrar a esta promessa: uma distopia inteligente com produção de cinema.
O seriado "Black Mirror", de origem inglesa (Channel 4; agora pelo Netflix) tem o dom de nos causar pauras e consternações. De uma qualidade roteirística primorosa (uns capítulos melhores que outros..mas vá lá..), ele nos proporciona de antemão aquela sensação que parece o misto perfeito da contemporaneidade consumidora de conteúdos: os picos de sensacionalismos (com situações e cenas de tirar fôlego e de explodir a imaginação), com possibilidades do "deixar você pensando"" porque invariavelmente se conecta com algo bem verossímil. O que é? Tecnologia. Humm.. na verdade não.. é sobre nós mesmos.
Um dos pontos altos da edição nacional - li primeiramente no original - é a tradução de Augusto Calil. Gaiman tem uma cadência peculiar de linguagem, com aliterações, o que torna bem difícil traduzi-lo para o português. (A experiência de leitura dos volumes de Sandman em português, por exemplo, deixa muito a desejar). Calil mantém-se fiel a essas características sem abrir mão da prosa elegante e sucinta.
Silvio Santos bota e "desbota" quem ele julga ser competente em sua emissora. E nenhuma mudança é gratuita. Dudu está apresentador do Primeiro Impacto, pode ser que amanhã não o seja mais. O dono do SBT deixou claro que é uma experiência. Por ora, ruim ou bom, nunca se falou tanto no jornal. Para TV, isso é ótimo porque significa audiência de, até outro dia, uma atração "esquecida" pelo público.
Assistir Luke Cage é uma excelente pedida. Não somente ela. Demolidor e Jéssica Jones também. Recomendo fortemente, ainda mais em tempos onde gente como Doria se elege no primeiro turno e, na vida real, as minorias correm risco de perderem seus espaços de representatividade duramente conquistados.
Vivemos tempos estranhos, com proliferação de discursos de ódio e emprego oficial de soluções que se explicam pela necessidade de atingir objetivos sanadores, independentemente dos meios empregados. Quando a produção artística de alta qualidade começa a refletir essa tendência na forma de ficção com ampla aceitação por parte do público, o que de certa forma acaba legitimando-a, nunca é demais lembrar que a realidade é bastante dura e sempre, sempre pode piorar.