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Ira em Detroit: UAW vende a greve da American Axle

Por Jerry White
23 de maio de 2008

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 19 de maio de 2008.

A oposição ao acordo provisório assinado pela UAW (Sindicato Americano dos Trabalhadores da Indústria Automobilística) explodiu no último Domingo, numa assembléia de centenas de trabalhadores grevistas da American Axle em Detroit, EUA. Na última sexta-feira a UAW anunciou que havia chegado a um acordo envolvendo mais de 3600 trabalhadores que estiveram em greve pelos últimos 3 meses nas plantas de Michigan e Detroit.

Um resumo do acordo foi apresentado aos trabalhadores de Detroit - onde mais da metade da força de trabalho da American Axle trabalha-em preparação para o voto de ratificação pelos comitês locais 235 e 262 ainda esta semana.

Apoiadores do WSWS e do Partido da Igualdade Socialista distribuíram panfletos convocando os trabalhadores para que rejeitassem a traição da UAW e se organizassem contra a redução dos salários.

Os grevistas rechaçaram e vaiaram o presidente da UAW, Ron Gettelfinger, o vice-presidente James Settles e outros burocratas da UAW que tentavam convencer os trabalhadores de que eles não conseguiriam um acordo melhor, caso rejeitassem o acordo proposto. Um trabalhador rasgou uma cópia do acordo e atirou contra os diretores da UAW enquanto os outros trabalhadores gritavam "VENDIDOS!", durante a fala da direção do sindicato.

O sistema de som da escola pública de Detroit, onde acontecia a assembléia estava quebrado - algo que vários trabalhadores acreditavam ser deliberado - e isso aumentou ainda mais o caos. Quando os trabalhadores tomavam o microfone para responder, suas vozes eram abafadas. Depois que vários grevistas denunciavam o acordo, o sindicato desligou o microfone por completo para pôr fim à assembléia.

"Se eles não tivessem desligado o microfone quando eles desligaram, o pau ia quebrar," disse um trabalhador ao WSWS. "Os caras tiveram a cara de pau de apresentar uma proposta daquelas. Antes de ser enxotado, Gettelfinger subiu lá e disse que ninguém gostava daquilo mas era o melhor que a gente podia fazer".

Descrevendo o clima da assembléia outro operário disse: "O pessoal estava apreensivo de ir na assembléia mas depois a gente ficou irado com o tamanho do roubo!"

Com este acordo a American Axle vai reduzir os salários de $28,00 para $18,50 dólares por hora para os maiores salários da produção e $14,35 para os trabalhadores auxiliares. Os salários serão ainda menores na planta de Three Rivers, em Michigan onde os mais bem pagos receberão entre $14,50 e $18,00 a hora e os auxiliares apenas $10 a hora.

Os trabalhadores recém contratados receberão $11,50 a hora sem reajuste no salário mínimo - o que significa que eles não receberão muito mais que os $21,200 dólares por ano que o governo americano considera o limite de pobreza para uma família de 4 pessoas. Eles ainda receberão benefícios de saúde padrão - exigindo que cada um trabalhe pelo menos 3 anos antes de poder usar os serviços dentais e oftalmológicos. A aposentadoria paga pela empresa será substituída por uma previdência privada sustentada por um fundo pago pelos trabalhadores.

A UAW ainda aceitou o fechamento da planta de Detroit e Tonawanda, as forjas de Nova Iorque, que eliminarão 760 empregos e o deslocamento da produção para plantas fora dos EUA.

Outras concessões incluíram: diminuição do auxílio médico, a empresa vai congelar a contribuição com pensão, e o sindicato abre mão do direito de fazer greve contra violações contratuais durante os 4 anos do acordo.

Trabalhadores qualificados terão um corte de salário hora de $6,00 dólares e terão classificação de emprego consolidadas de 15 a 4. Além disso, a empresa vai interromper o benefício desemprego se o teto de $18 milhões for atingido.

Para se livrar dos trabalhadores que ganham mais e substituir por força de trabalho barata, a UAW negociou vários pacotes de demissão "voluntária" incluindo pacotes que variam de $85 mil a $140 mil dólares.

Ainda há pacotes de $105 mil dólares durante três anos para aqueles trabalhadores que aceitarem permanecer no emprego e ter o salário reduzido de 35% a 50%.

O resumo do acordo ainda apontava que as deduções salariais para o sindicato não sofreriam alterações, apesar da gigantesca perda salarial dos trabalhadores. Para agravar ainda mais o insulto que isto significa para os trabalhadores, a UAW apontou ainda que pagamentos em dinheiro, os bônus e PLR seriam contabilizados como renda e assim estariam sujeitos à dedução de 1,15% para pagar a taxa sindical.

Durante a assembléia, os diretores da UAW disseram que caso rejeitassem o acordo os PDVs seriam retirados da negociação. Disseram ainda que o Diretor Executivo da American Axle, Richard Dauch não poderia ser impedido de fechar suas plantas e deslocar a produção para o México e outros países onde há farta oferta de mão de obra barata.

"Eles estavam nos vendendo gato por lebre," disse John para o WSWS. "Os trabalhadores estavam pondo tudo a perder caso aceitassem aquele acordo. O sindicato disse que Richard Dauch traria os pelegos fura-greve para trabalhar na firma e que eles não poderiam fazer nada a respeito porque é assim que a lei funciona. Durante a greve o sindicato não deixou a gente fazer um bloqueio para impedir a retirada e mercadorias."

Numa pergunta, um trabalhador questionou o presidente do sindicato, Gettelfinger, se ele e os outros diretores também teriam cortes salariais iguais àqueles que eles estavam propondo para os trabalhadores. Sem dizer nada sobre os cortes salariais, Gettelfinger reclamou que o sindicato teria que eliminar alguns comitês locais e que alguns cargos foram eliminados.

Uma briga que o sindicato comprou pra valer contra a American Axle foi em defesa dos cargos de diretores e burocratas sindicais. De acordo com o resumo do acordo, a diretoria da AA queria cortar os fundos que eram direcionados para programas sindicais e eliminar vários cargos de sindicalistas financiados pela empresa.

Como parte do acordo, a corporação concordou em pagar 100% dos programas sindicais de treinamento restantes e ainda manter os cargos de representantes sindicais que seriam eliminados. O sindicato também garantiu o pagamento de hora-extra para os diretores sindicais a serviço do sindicato e promoções para os diretores locais.

Um trabalhador antigo, Walter, disse ao WSWS que os programas sindicais eram uma gigantesca fonte de renda para os diretores sindicais. "Enquanto a diretoria tinha o sindicato trabalhando com ela para manter os salários baixos, cortar postos de trabalho e coisas do tipo, ela aceitou pagar os programas sindicais de treinamento. Tudo que a empresa queria era que os diretores sindicais carimbassem os acordos junto com ela. Na verdade, os programas de treinamento bancavam viagens e jantares para os altos executivos como o filho de Dick Dauch. Eles se fartavam como porcos gananciosos."

Ele continuou: "A primeira página desse resumo foi um balde de água fria na gente. O sindicato só quer se livrar do pessoal. A gente está em greve há quase três meses e não ganhamos nada. O consenso geral é que esse acordo será votado mas vários trabalhadores vão pegar o PDV e dar o fora."

"A primeira página tinha uma carta do comitê de negociação que dizia: 'Nós fizemos o melhor que pudemos por vocês dadas as circunstâncias.' Isso é o que a gente deve aceitar depois de ficar debaixo de neve, queimando madeira em tonéis pra esquentar o frio e perder nossas casas? E pior ainda, de uma empresa que não faliu, que teve um lucro gigantesco e que está construindo várias unidades em todo o mundo - especialmente no terceiro mundo pra pagar salários miseráveis? De uma empresa que o presidente enfiou milhões no bolso?"

Ao saírem da assembléia completamente indignados, vários trabalhadores pararam para falar com o WSWS.

Paul Williams disse "Isso é um insulto a todos nós! Nós estivemos nas ruas por meses esperando um acordo decente. Fomos traídos pelo sindicato. O presidente Gettelfinger e o vice James Settles cortaram nossos salários, mas o salário deles não está sendo cortado."

Henry, um trabalhador com 14 anos de empresa disse: "Esse acordo é horrível, mas o sindicato disse que é o melhor que a gente vai conseguir. Eu disse pros meus colegas da Ford que eles serão os próximos. Nós só estamos tentando manter nossos salários num nível decente, mas eles continuam cortando e cortando." Se referindo ao fato de que a Europa está deslocando a produção para os EUA para aproveitar os salários baixos ele disse: "Hoje em dia nós estamos virando o México para a Europa".

Trina Harris disse, "Eu espero que o pessoal rejeite o acordo, mas eles estão passando necessidade. Eu acho que eles compraram o pessoal, mas a gente ainda não tem nenhuma informação. A peãozada está bem irritada".

Ela não tinha nenhuma fé de que a UAW poderia conduzir uma votação justa. "Eu acho que eles vão roubar na votação. Eles vão trabalhar para garantir que eles tenham condições de passar o acordo mesmo que o pessoal não aprove".

"Muita gente não quer aceitar o PDV, é muito difícil achar um emprego. Dauch quer que a gente caia fora, mas muita gente quer ficar".

John Yenson, um trabalhador experiente com 12 anos de empresa saiu da assembléia com uma cópia do acordo. "Isso será uma paulada pra muita gente, até mesmo para trabalhadores não sindicalizados"

Comentando a proposta de reduzir os salários em algumas categorias para menos de $12 dólares a hora, ele disse "Eles contrataram alguns provisórios no verão que ganhavam menos de $12 a hora".

"Trabalhadores experientes vão ter um corte de $4 a $6 dólares por hora e eles querem pagar os benefícios por semana, isso é um outro corte. A gente acabou de sair de um contrato de 4 anos sem pagamento".

"Eu já estive em muitos contratos. Eu trabalhei na Massey Ferguson em Chicago. Nós demos todos os cortes salariais que eles queriam. Em um ano eles se mudaram para o Canadá e demitiram todos os trabalhadores americanos".

"Eles tiraram todo o lucro das plantas daqui pra construir plantas no México, Escócia e China. No México eles ganham $40 dólares por semana."

John disse que ele pensava em votar "não", mesmo sendo um dos que poderia pegar seguro desemprego se aceitasse o PDV. "Eu nunca votei ‘sim' num acordo desses na minha vida. Qualquer um que aceite o PDV não terá mais seguro de saúde. Eles querem que o pessoal aceite o PDV porque assim eles podem demitir os mais velhos e pegar um pessoal novo com o salário lá embaixo".

Chauncey Jarret, um trabalhador, disse ao WSWS "Eu não tenho outra escolha a não ser rejeitar este acordo. Depois de tudo que a gente lutou, eu não vou apoiar o trabalho escravo. Não há nenhuma garantia desses empregos se a gente aceitar o acordo."

Sobre o boato de que os trabalhadores da American Axle são bem pagos, ele disse, "Nós ganhamos apenas uma ninharia do lucro que eles fazem. Eu entendo o que o Dauch está tentando fazer. Eu poderia ficar rico também se eu tivesse uma empresa que paga salário de escravo. pra isso não precisa de nenhuma habilidade especial. Quanto ao papel do sindicato, a UAW se transformou numa empresa como qualquer outra."