Michel Temer muito provavelmente só chegará ao fim do seu mandato se o PSDB quiser. Se não, sairá do cargo em 2017 - por renúncia forçada, por impeachment, já que ele também foi citado por delatores da operação Lava Jato, ou pela cassação da chapa Dilma/Temer pelo TSE -, o que nos levará a uma eleição indireta. Com um presidente eleito pelos congressistas, o caos político e institucional será aprofundado. E a crise nos assombrará por mais tempo do que deveria.
A política brasileira é tão patética e repetitiva que podemos antecipar os discursos que eles utilizarão quando anunciarem o rompimento com o governo Temer: "Acreditávamos que o novo governo cumpriria suas promessas e tiraria o país da crise. Quando notamos que isso não aconteceria, passamos a criticá-lo. Somos totalmente coerentes e sempre pensamos, acima de tudo, no Brasil".
O Brasil está cheio de problemas seríssimos, que demandam uma série de medidas duras. Mas esse governo e esse parlamento, nesse contexto, não têm quaisquer condições de impor tal sorte de sofrimentos goela à baixo da população. É muita maldade concentrada num pequeno espaço de tempo, e sem qualquer perspectiva de melhor relevante no curto prazo. Eles estão cavando a própria cova com as próprias unhas.
Dom Hélder hoje nos diria: sejam brasileiros antes de serem políticos; tenham compromisso com a verdade antes de terem compromisso com suas interpretações e preconceitos. Sobretudo, que é pelo diálogo com paz que se constrói o futuro; a paz, com lucidez e com responsabilidade.
O Legislativo só legisla conforme seus interesses; o Executivo, além de não ter legitimidade, não vê diferenças entre público e privado; e o Judiciário ou rasga a Constituição ou se acovarda diante dela. Chegamos ao ponto de o presidente do Senado desobedecer uma decisão judicial expedida por um ministro do Supremo Tribunal Federal - e não sofrer nenhuma sanção. Pelo contrário: após a desobediência, o plenário do STF decidiu em favor do senador.
Começou com Aécio Neves, candidato derrotado na última eleição presidencial, contestando o resultado e solicitando recontagem de votos. Depois, veio o ex-deputado Eduardo Cunha e suas pautas-bomba, que travaram o governo Dilma (que, a propósito, era uma bagunça por si só).
O fato é que as denúncias contra o governo de Temer já se avolumam nos últimos seis meses, tanto que o presidente teve um ministro demitido por denúncias gravíssimas a cada 30 dias. Some-se a isso as gravações que revelam que a ideia deste grupo político era embarreirar investigações da Lava jato e de impor um projeto atrasado e derrotado nas urnas inúmeras vezes.
É por isso que a PEC do teto dos gastos públicos é muito mais do que uma mera política de austeridade e ajuste das contas públicas. Por trás de seu discurso de que se trata de um mal necessário e inevitável oculta-se uma mudança radical na orientação política das prioridades do Estado brasileiro. Ao mesmo tempo, escamoteiam-se interesses que buscam privilegiar aqueles poucos que lucram com os títulos da dívida pública em detrimento dos milhões de brasileiros que serão prejudicados por terem seus direitos a serviços públicos de qualidade negados.
De nada adianta a esquerda aderir festivamente ao espetáculo da Lava Jato, como se nos regozijássemos porque agora chegou a vez dos outros. É preciso firmeza e coerência. É preciso separar a Justiça, bandeira a ser retomada pelos progressistas, da revanche e da autofagia.
Se no futebol as verdades não duram 24 horas, na política elas só duram até o próximo áudio. Michel Temer vai cavando seu próprio buraco com mais propriedade, quem diria, que sua antecessora.
No debate sobre os impactos da PEC, a posição oficial do governo defende que ela é o único meio para salvar o Brasil da crise. Essa posição, no entanto, tem sofrido duras críticas que afirmam que as medidas são desnecessárias, que alternativas de enfrentamento da crise existem e que caso aprovada, a PEC 55 terá efeitos perversos para o Brasil como um todo.
Com isso, o Supremo praticamente elimina a possibilidade de funcionários públicos entrarem em greve. Afinal, quantos estarão dispostos a entrar em greve sabendo que terão seus salários cortados? Goste-se ou não delas, as greves são um dos melhores mecanismos de pressão. Ao se recusarem a trabalhar e interromper serviços públicos importantes, os funcionários chamam a atenção não apenas do governo para as suas causas, mas de toda a sociedade.
Após os deslizes iniciais de sua estratégia de comunicação a retórica está ajustada. Se esse é o melhor plano de inserção internacional do país, só os resultados dirão, o que é certo é que essas são as bases atuais da inserção internacional brasileira nas relações internacionais.
Aliás, parte fundamental da narrativa é reduzir o afastamento de Dilma às pedaladas, como se não houvesse as suspeitas sobre sua conduta (por ação ou omissão) na diretoria da Petrobras, no relacionamento com as empreiteiras, nos financiamentos de campanhas do partido; como se pudéssemos abstrair as denúncias de Delcídio - o líder do governo preso por oferecer uma rota de fuga e um cala-boca milionário para um delator (em nome de quem?) - ou as gravações das conversas de Dilma com Lula.
É lamentável que parte da esquerda, por preconceito e corporativismo, caia na cegueira de preconceitos que a impede de ver o que é melhor para o Brasil e para o povo. E ainda se considera de esquerda, embora presa a mitos e reacionarismos. Para ser de esquerda, é preciso ter utopia para o futuro, é preciso ver a realidade do presente como ela é. E quem não tem utopia e nem capacidade de ver a realidade, não é de esquerda, é de exquerda.
Diante dessa prisão inesperada - o comentário nas redes sociais era o de que o preso da semana seria o ex-presidente Lula (se bem que a semana ainda não acabou) -, só nos resta aguardar os desdobramentos, que podem novamente surpreender.