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Uma bruxa chamada Caterina

Quando o homem muito magro entrou pela primeira vez na biblioteca, ninguém prestou muita atenção. A magreza exagerada e o aspecto cinzento do homem foram devidamente criticados em discretos cochichos, logo encerrados por um veredito do funcionário mais velho da equipe, “deve estar doente, coitado”.

O homem muito magro fez as perguntas de praxe que fazem os usuários novatos ou pouco familiarizados com o mundo das bibliotecas e só. Mas depois de 3 dias de consultas febris ao acervo e catálogos, um detalhe saboroso chamou a atenção do pessoal que guardava material: os livros e revistas consultados pelo homem eram quase todos ligados a assuntos sombrios como ocultismo, magia, bruxaria, artes divinatórias e outros babados do mundo sobrenatural. Até o Malleus Maleficarum foi encontrado na mesa usada pelo possível doente, para irritação da Lúcia, militante feminista bem informada e a única na equipe que sabia do que tratava aquele manual.

Capricho 43

Aí o pessoal resolveu comentar com a chefia, a bibliotecária Ilana, mesmo correndo o risco de levar bronca por preconceito com pessoas diferentes, por julgar o outro pelo aspecto físico etc. “Se nós fôssemos avaliados pelos mesmos critérios que vocês usam para reclamar dos usuários estaríamos todos desempregados, porque aqui todo mundo é muito bizarro”, era o discurso habitual nessas situações. Lúcia foi a porta-voz, deixando claro que não estavam pegando no pé do coitado, apenas queriam deixá-la avisada sobre Potenciais Problemas com Malucos. Era o famoso alerta PPcM, uma brincadeira que eles haviam inventado depois que descobriram um doido de pedra comendo um dicionário de sinônimos e antônimos, uma página por dia.

Sim, Ilana já havia reparado no Homem Muito Magro e na aflição expressa nos gestos dele. E no olhar incerto que ele lhe lançava em alguns momentos, um olhar que ela conhecia muito bem, um olhar com vontade de pedir ajuda, mas com medo ou vergonha demais para se arriscar. Ilana sentia culpa por ignorar esses olhares, mas como estava ocupada demais com usuários que conseguiam verbalizar suas questões e angústias, deixava para depois. A preocupação do pessoal a fez decidir tomar uma atitude, antes que começasse o zum-zum-zum e os bicos que normalmente se seguiam aos relatórios para a chefia. Usou seu procedimento não invasivo padrão, lançar um olhar firme-porém-simpático, um sorriso caloroso e um direto “tudo bem aí com o senhor? ”. O Homem Muito Magro assustou-se um pouco, como tantos usuários que não esperam simpatia, respondeu com um vacilante “tudo bem” e voltou a esquadrinhar as estantes esotéricas. Depois de alguns vinte minutos criou coragem e se aproximou da mesa da bibliotecária.

– Moça, estou procurando uma coisa, uma informação importante, mas estou tendo dificuldades. Será que você, a senhora, poderia me ajudar?
– Claro, me chame de você. O que está procurando?

Aparentando alguma dificuldade para emitir a voz, o Homem Muito Magro engoliu em seco, suspirou e soltou:

– Preciso encontrar uma bruxa chamada Caterina.

O sorriso solícito da bibliotecária congelou ligeiramente. O homem sentiu a mudança e começou a se explicar, num discurso angustiado, mas sem qualquer sinal de incoerência ou delírio. Paciente de câncer há alguns meses, recebera dias atrás o desengano final do médico. O tumor ignorou tanto a quimioterapia quanto as preces da família, e estava prestes a derrotar completamente seu portador. O Homem Muito Magro saiu desnorteado do consultório, praticamente decidido a buscar formas de abreviar o próprio sofrimento. Seu fim, avisou o médico, não seria bonito. Naquele momento, sentiu uns dedos ossudos segurarem seu braço com força. “Procure uma bruxa chamada Caterina”, sussurrou a mulher de cabelos compridos e olhos avermelhados.

– Do que a senhora está falando?
– Eu disse uma bruxa chamada Caterina. Só ela pode te curar.

O Homem ficou sem ação enquanto a mulher sumia no meio da multidão que deixava o hospital. Naquele momento, o choque da notícia e a surpresa com a abordagem da desconhecida não o deixou raciocinar direito. Mais tarde, aquelas palavras começaram a martelar em sua cabeça “uma bruxa chamada Caterina pode te curar”. E se fosse sua última chance? Por que não arriscar? Voltou ao hospital, perguntou em vão pela mulher que conseguia descrever apenas vagamente. Uma funcionária simpática mostrou fotos de várias enfermeiras, médicas e outras trabalhadoras do hospital, suas amigas de redes sociais, mas nenhuma se parecia nem de longe com a mulher dos olhos vermelhos. A moça disse que iria assuntar no pronto socorro da oftalmologia, se ela estava com os olhos irritados talvez fosse uma paciente. Anotou seu telefone para avisar se descobrisse alguma coisa. Nada.

Então ele resolveu procurar. Seu filho mais velho frequentava a biblioteca e sempre achava coisas tão interessantes, que pareciam tão impossíveis de encontrar, de repente não custava tentar. O que mais ele poderia fazer, já que nem a internet não ajudou muito? Quem sabe aprendendo um pouco sobre bruxaria, assunto que nunca foi de seu interesse, ele conseguiria encontrar alguma pista. O Homem Muito Magro queria viver, pelo menos mais alguns anos, só para ver os três filhos crescidos.

A bibliotecária nem tentou disfarçar a comoção. Deu uns tapinhas solidários na mão do Homem Muito Magro e disse “eu não acredito em bruxas, mas vamos tentar encontrar essa aí”. E Ilana tentou mesmo, com afinco e sem nenhum constrangimento, de todas as formas que sabia procurar informações e mais algumas que improvisou na hora. Procurando artigos sobre curandeirismo, encontrou uma tese sobre o assunto com transcrições de entrevistas com vários curandeiros, mas ninguém chamado Caterina (ou Catarina, ou Katerina, ou Ekaterina). Achou o blog pessoal de uma delas, uma pilantragem total com várias dicas de receitas milagrosas, mas nenhuma referência que pudesse ser útil. Mandou e-mail para o autor da tese, perguntando onde poderia encontrar mais informações e pessoas decentes que praticassem curas, sem obter resposta. Inscreveu-se em grupos de bruxaria no Facebook, enviou pedidos de amizade para algumas pessoas que se diziam bruxas ou curandeiras. Ligou para uma amiga praticante de candomblé e para uma tia espírita, e levou bronca das duas, porque suas religiões nada têm a ver com bruxaria. “Sim, mas você não conhece uma mãe-de-santo (ou médium), que se chame Caterina ou algo assim? ”. Ficaram de procurar e entrar em contato caso encontrassem uma pista. Ilana passava dicas para o Homem Muito Magro para que ele não perdesse o ânimo, combinavam estratégias, dividiam tarefas. Recebendo ajuda e atenção, o desespero do homem parecia diminuir um pouco. Foram dois dias de buscas, depois ele sumiu. Nunca mais apareceu. Talvez tenha morrido, talvez tenha desistido. Ou, como aventava Lúcia, tentando consolar a chefe que havia ficado meio tristonha com a história toda, pode ter encontrado a bruxa e se curado.

Em sua próxima ida ao dermatologista, uns dois meses depois, os olhos de Ilana se encheram de lágrimas, inconformada por não ter pensado no óbvio. Bem no alto do painel com os nomes dos profissionais que tinham salas no edifício, lia-se: Dra. Caterina Maria Almeida Schmidt, oncologista.


Três anos de referência

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Em três anos trabalhando na referência da Biblioteca da Escola de Comunicações e Artes da USP, além de confirmar que atender ao público é um dos trabalhos mais legais que uma bibliotecária velha e desiludida pode fazer, observei algumas outras coisas nem tão alegres.

Bibliotecas atraem quantidades surpreendentes de pessoas malucas, para usar um termo técnico. Isso eu já esperava, porque sou maluca e gosto de bibliotecas, mas eu não sabia que a gente só percebe a maluquice de alguns usuários depois de uns três anos de convivência. É assim, o indivíduo vem todos os dias à biblioteca, não fala com ninguém, não diz nem bom dia. Só fica lá, quietinho, lendo eternamente um livro de culinária que ele mesmo trouxe, até que um belo dia resolve denunciar que o controle eletrônico da saída está falando com ele, dizendo coisas como “reúna um exército e liberte a França”. Essas máquinas são traiçoeiras, vocês sabem.

Mas não é sobre as peculiaridades desse público colateral que eu quero escrever hoje, mas sobre meus usuários principais, os alunos da Universidade. Aquele pessoal que recebeu na infância proteína suficiente, frequentou escolas minimamente adequadas e conseguiu passar em vestibulares e processos seletivos altamente excludentes. É entre eles que eu identifico, com frequência suficiente para chamar minha atenção, as seguintes façanhas:

  • chegar ao final da graduação sem nunca ter entrado na biblioteca;
  • ingressar no doutorado sem saber encontrar um livro no acervo ou usar o catálogo;
  • não conseguir encontrar um documento de seu interesse buscando pelo Google. Sim, é isso mesmo que vocês leram, há jovens universitários que não conseguem fazer isso;
  • ser capaz de localizar o número de classificação na estante, ficar perplexo ao encontrar um monte de livros com o mesmo número e não cogitar que as letras e números que vem depois devem estar dispostos em algum tipo de ordem;
  • terminar a dissertação sem ao menos se dar conta de que há outras fontes disponíveis para localizar informações, além do acervo pessoal de seu orientador e do Google (nem sempre acadêmico);
  • escandalizar-se quando a bibliotecária avisa que não se deve botar na lista de referências da TESE documentos que não foram citados no texto (“mas eu fiz isso no mestrado e ninguém me falou nada”);
  • descobrir, lá pelo meio da graduação, que a biblioteca não se resume à estante da reserva didática dos professores, aquela que tem menos de uma centena de livros e fica perto da porta de entrada;
  • surpreender-se ao ver que o texto deixado pelo professor na copiadora saiu de um livro que está na biblioteca e pode ser emprestado inteirinho e de graça;
  • vagar entre as estantes sem saber que existe um mecanismo chamado “catálogo” que permite descobrir se o livro desejado existe e se está emprestado ou não;
  • usar o catálogo regularmente e não se dar conta da existência de recursos básicos para ajudar na recuperação, como busca em campos específicos, filtros etc;
  • perguntar aflitamente no Facebook por um texto que não apenas está na biblioteca mas também disponível na web, de graça e mais fácil de encontrar do que digitar o vocábulo “migues”.

Essas situações acontecem na escola onde trabalho, mas tenho razões para acreditar que nas demais unidades da USP não é muito diferente. E estamos falando, senhoras e senhores, de uma instituição de ensino tradicionalíssima, onde ninguém jamais ousou dizer em voz alta que as bibliotecas não são importantes no processo de aprendizado e no desenvolvimento da pesquisa. Onde gente que não sabe onde fica a sua biblioteca bate no peito bradando que nada é mais importante do que uma biblioteca. E onde a Pró-Reitoria de Graduação, tentando ser simpática, publica uma relação de 13 motivos para os alunos ficarem felizes com o fim das férias (provocando hilaridade geral no corpo discente) e não menciona a existência de bibliotecas (provocando um educado comentário do Sistema Integrado de Bibliotecas).

E aí esta bibliotecária velha pergunta pra uma mocinha que passou toda a graduação dentro da biblioteca como é possível que tanta gente estude sem nem passar pela porta e obtém essa resposta singela: “não é possível. Eles não estudam”. Certo. Mas se formam e entram na pós-graduação.

E por que isso ocorre? Respostas simplistas do tipo “as bibliotecas são ruins” ou “os alunos são preguiçosos e os professores indiferentes” não me convencem, primeiro porque não são exatamente verdadeiras, segundo são sintomas, não causas. Parece-me que estamos presos num sistema perverso dimensionado para dificultar o desenvolvimento das bibliotecas, por meio de barreiras impostas pela legislação e incompetência gerencial crônica em vários níveis, que acaba por favorecer o comodismo acadêmico. E que existe há anos, bem antes de existir internet, portanto não venham culpar a tecnologia. Como o sistema garante que ninguém tenha muito tempo pra nada, inclusive para tarefas prioritárias como ensinar, estudar e pesquisar, é muito mais fácil pra todo mundo criar atalhos para evitar que o aluno precise ir à biblioteca.

O lado bom é que “minha” biblioteca não está vazia, muito pelo contrário. Às vezes me pergunto como vamos dar conta de atender todas as pessoas que começam a responder aos nossos chamados. Os jovens professores começam a levar seus alunos para aprenderem a usar os recursos da biblioteca ou estimulá-los a participar de visitas monitoradas e treinamentos.

Fico contente, mas ainda não sei muito bem o que pensar disso. Pode ser apenas uma fase boa que vai durar até que esses docentes animados sejam engolidos pelo sistemão. Ou talvez seja o início de uma reação ao processo de queda de frequência às bibliotecas, cujos efeitos se fazem sentir há algum tempo.

De qualquer forma, continuo curtindo demais encontrar aluninhos perdidos na biblioteca e descobrir que,  quando alguém lhes explica como funciona a coisa toda, eles acham tudo “da hora”.


Armazenamento do Formato MARC em Sistemas de Gerenciamento de Bibliotecas


Armazenamento do Formato MARC em Sistemas de Gerenciamento de Bibliotecas

Introdução

O Formato MARC (Machine-Readable Cataloging) é um formato controverso. Muitos autores o defendem, mas já existem diversos autores que questionam a sua adoção. O presente estudo irá se aprofundar nessa discussão, ao estudar como o MARC está sendo adotado pelos Sistemas de Gerenciamento de Bibliotecas (SGBs) para compreender as implicações da sua adoção.

Formato MARC

Segundo  AVRAM (1975), as pesquisas sobre as possibilidades de uso de técnicas automatizadas para as operações internas da Library of Congress (LC) se iniciaram no final da década de 1950. Devido ao interesse generalizado por essas pesquisas, o Bibliotecário do Congresso solicitou um financiamento para o Council on Library Resources (CLR) e como resultado foi publicado o estudo: “Automation and the Library of Congress: a Survey Sponsored by the Council on Library Resources, Inc.” em 1963. Neste período, a CLR firmou um contrato com a LC para estudar possíveis métodos de conversão de dados das fichas catalográficas da LC em um formato legível por máquina com a finalidade de imprimir produtos bibliográficos por computador. Em 1965, foi publicado o relatório preliminar: “A Proposed Format for a Standardized Machine-Readable Catalog Record: A Preliminary Draft”. Que resultou em um financiamento em dezembro de 1965 para testar a viabilidade e utilidade da distribuição de dados catalográficos em formato legível por máquina da LC para outras bibliotecas, este projeto foi chamado de MARC (Machine-Readable Cataloging). O projeto piloto foi concluído em junho de 1968 e neste mesmo ano, a LC iniciou seu serviço de distribuição MARC (MARC Distribution Service).

O Formato MARC tem sua essência descrita de seguinte maneira por AVRAM (1975):

“The philosophy behind MARC II was the design of one format structure (the physical representation on a machine-readable medium) capable of containing bibliographic information for all forms of material (books, serials, maps, music, journal, articles, etc). The structure, or “empty container”, the content designators (tags, indicators, and subfield codes) used to explicitly identify or to additionally characterize the data elements, and the content, the data itself (author's name, titles, etc), are the three components of the format.” (AVRAM, 1975)

Problema de pesquisa

THOMALE (2010) fez uma comparação entre o desenvolvimento do formato MARC ao longo do tempo e o desenvolvimento de tecnologias de representação de dados de computador:

“O formato MARC foi pensado no início dos anos 1960 e teve seu primeiro piloto em 1966. Agora tem mais de 40 anos de idade. Considerando somente os avanços na representação de dados de computador que ocorreram desde então, o mundo é diferente deste MARC como foi concebido. 1966 foi três anos antes em que o Dr. Edgar F. Codd publicou seu primeiro artigo descrevendo um modelo relacional de dados como um IBM Research Report, e quatro anos antes dele rever o documento e publicá-lo mais amplamente em Communications for the ACM. Oito anos antes de Donald Chamberlin e Raymond Boyce publicarem seu primeiro trabalho em SEQUEL (SQL) e dez anos antes de Peter Chen propor seu primeiro modelo de Entidade-Relacionamento. Nós que trabalhamos com tecnologia e sistemas de biblioteca não podemos ver o MARC somente através de uma lente colorida por 44 anos de rápida mudança tecnológica (Figura 1)" (THOMALE, 2010)

fig1.png

Figura 1. Linha do tempo comparando a criação do MARC aos principais desenvolvimentos em software, redes e representação de dados entre 1960 e 1980 (THOMALE, 2010)

E THOMALE (2010) nos demonstra o problema, ao afirmar que o MARC não foi inventado para modelar sistemas de recuperação da informação computadorizados. Sua proposta original era automatizar os processos e tarefas do departamento de serviços técnicos da LC. As mesmas regras que determinaram como os dados bibliográficos eram armazenados e exibidos nas fichas bibliográficas são as regras que determinaram como os dados são formatados e armazenados nos registros MARC. De fato, apesar de ter mudado ao longo do tempo, as regras de catalogação foram criadas antes do advento da tecnologia dos computadores modernos.

KOSTER (2009) também questiona: “A questão está posta: o que na terra pode ter sido a razão para armazenar metadados bibliográficos em formatos de intercâmbio como o MARC?”

O armazenamento de registros uma questão negligênciada na gestão dos SGBs. Se leva em conta a compatibilidade com o formato MARC, mas em nenhum momento se questiona como o SGB armazena e gerencia os registros.

Levantamento Bibliográfico

Foram pesquisadas as Bases BRAPCI, utilizando o termo mais abrangente (MARC) e não foram encontrados nenhum resultado sobre a temática deste artigo na literatura nacional.

Objetivos

Realizar um mapeamento de como os Sistemas de Gerenciamento de Bibliotecas atuais armazenam os registros em sua Base de Dados  para  compreender as implicações da escolha do formato nestes sistemas.

Metodologia

A presente metodologia terá os seguintes passos:

  • Identificar SGBs compatíveis com o formato MARC;
  • Analisar a estrutura dos bancos de dados destes sistemas no que se refere ao armazenamento de registros bibliográficos;
  • Consolidar os modelos;
  • Identificar as implicações resultantes das escolhas destes modelos.

Como amostra, foram selecionados somente softwares livres, uma vez que é necessário ter amplo acesso ao software, código, banco de dados e documentação do sistema. Foram escolhidos os seguintes softwares: Koha e OpenBiblio, em que criamos 1 registro em cada um deles para estudarmos como as informações bibliográficas são armazenadas. Os banco de dados foram diagramados utilizando o software: SchemaSpy[1]

Catalogado o Livro: Introdução à Biblioteconomia, do Edson Nery da Fonseca

Registro original:

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Resultados

Koha

O Koha[2] é o primeiro Software de Gerenciamento de Bibliotecas Livre. Foi desenvolvido inicialmente na Nova Zelândia pela Katipo Communications Ltd em 2000 para a Horowhenua Library Trust. Atualmente é mantido por uma comunidade distribuida globalmente de desenvolvedores e empresas de softwares.  

O Koha armazena os registros bibliográficos nas seguintes tabelas:

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Podemos observar que o Koha armazena os dados em linhas para a criação da página de detalhes e o MARC completo em um Blob, conforme Nelson (2013): “Currently MARC stored in MARCxml and Zebra reads the MARCxml blob”. Esse blob será posteriormente será usado para a indexação no banco de dados textual Zebra.

OpenBiblio

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Introdução à biblioteconomia

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Edson Nery da Fonseca ; prefácio de Antônio Houaiss

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Library science

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2010, c2007

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N

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152 p

3

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N

a

1.ª reimpressão da 2.ed. de 2007

3

12

700

N

N

a

Houaiss, Antônio

3

13

700

N

N

4

pref

O OpenBiblio utiliza a tabela biblio para armazenar as informações que serão disponibilizadas para a busca ou para a geração das páginas de detalhes do registro, e a tabela biblio_field para as demais informações.

Discussão

Apesar de o MARC ser um bom formato para intercâmbio, utilizá-lo dentro dos sistemas de informação impedem de se utilizar todo o potencial informativo do registro. Além de dificultar o gerenciamento desta informação pelos bibliotecários. É importante re-pensar os sistemas de armazenamento das informações bibliográficas nos sistemas de informações.

Referências

AVRAM, H. D. (1975). MARC; its history and implications. Washington, DC: Library of Congress. Disponível em: http://catalog.hathitrust.org/Record/002993527 . Acesso em: 30 dez 2014.

CHARLTON, Galen. Extending Koha using Linked Data. KohaCon 2014. Disponível em: http://zadi.librarypolice.com/~gmc/koha-linked-data/ . Acesso em: 01 jan 2015.

KOSTER, Lukas. Who needs MARC?. COMMONPLACE.NET, 2009. Disponível em: http://commonplace.net/2009/05/who-needs-marc/ . Acesso em: 30 dez 2014

NELSON, Joy. KohaCon13: What is after MARC???. ByWater Solutions, 2013. Disponível em: http://bywatersolutions.com/2013/10/16/kohacon13-marc/ . Acesso em: 30 dez 2014

OVERMYER, LaVahn Marie. Libraries, Technology, and the Need to Know. Ci. Inf, Rio de Janeiro, 1(2):67-71,1972. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/1663 . Acesso em: 01 jan 2015.

TENNANT, Roy. MARC must die. Library Journal, 2002. Disponível em: http://lj.libraryjournal.com/2002/10/ljarchives/marc-must-die/ . Acesso em: 30 dez 2014

THOMALE, Jason. Interpreting MARC: Where’s the Bibliographic Data?. Code {4} Lib Journal. Issue 11, 2010-09-21. Disponível em: http://journal.code4lib.org/articles/3832 . Acesso em: 30 dez 2014

THE EUROPEAN LIBRARY. The European Library Open Dataset. Disponível em: http://www.theeuropeanlibrary.org/tel4/access/data/opendata . Acesso em: 01 jan 2015.

THE LIBRARY OF CONGRESS. MARC Standards (Network Development and MARC Standards Office, Library of Congress). Disponível em: http://www.loc.gov/marc/ . Acesso em: 30 dez 2014


[1] http://schemaspy.sourceforge.net/

[2] http://koha-community.org/


Como eu faço para organizar um acervo de DVDs?

DSCN9047

Trabalhando há mais de 30 anos numa biblioteca com acervo de documentos audiovisuais, já respondi alegremente a essa pergunta incontáveis vezes, só que antigamente me perguntavam sobre acervos de vídeos. Antes de começar a longa e maçante resposta ou de convidar o colega para me fazer uma visitinha, costumo perguntar:

DVDs do quê? Filmes?

Sim, porque faz toda a diferença. DVD é apenas o suporte no qual podem ser gravados filmes, fotos, textos, partituras, música, o diabo. E o suporte é o menor dos problemas de quem precisa organizar filmes, fotos ou diabos.

Mas o DVD não está acabando? Sim, mas isso é outra história. Além do mais, em bibliotecas as coisas costumam demorar mais tanto para chegar quanto para acabar.

Enfim, para organizar um acervo de filmes em DVD, vídeo ou mesmo película, primeiro é precisa saber por quem e para que esse acervo vai ser usado. Uma coleção de filmes de ficção montada para entreter público geral numa biblioteca pública provavelmente não será tratada da mesma forma que vídeos de cirurgias num escola de medicina. O mesmo vale para qualquer outro tipo de acervo, mas penso, sem ter como provar, que vale intensamente mais para acervos audiovisuais.

Em segundo lugar, é necessário ter gravado na mente em letras de fogo que um filme não é um livro, portanto não deve ser tratado como se o fosse.

Que dados eu devo colocar na catalogação?

Uma das dúvidas mais frequentes é sobre catalogação, essa eterna praga. Um jeito simples de começar é pensar no que nós mesmos queremos saber quando escolhemos um filme para assistir. Esquecer um pouquinho os manuais de catalogação e examinar boas bases de dados como a Internet Movie Database (IMDB), catálogos de mostras de cinema, dicionários e sites oficiais de filmes e outras fontes de informação especializadas.

Pensem em trabalhar, no mínimo, com as seguintes informações:

Título original
Título no Brasil
País de produção
Empresa ou instituição produtora
Ano de produção
Equipe realizadora
Idioma dos diálogos (explicitando se originais ou dublados) e das legendas
Descrição física: duração, suporte, cromia etc.
Resumo
Assunto
Gênero

A partir daí, melhorem ou simplifiquem a coisa, equilibrando o que o usuário precisa (ideal) e que vocês conseguem efetivamente dar conta de fazer (dura realidade), não esquecendo dessas dicas básicas aí na sequência.

Informação importante pro usuário tem que ser dada, mesmo que não apareça naquela edição de DVD que vocês estão catalogando. Pesquisem. Esqueçam a velha besteira de “catalogar o item em mãos” e lembrem que existe uma obra cinematográfica registrada nesse suporte. Essa dica vale muito especialmente para títulos de filmes, data e país de produção.

A equipe realizadora de um longa comercial pode ser uma verdadeira multidão com funções nem sempre inteligíveis. É preciso selecionar com cuidado quem vai ser mencionado na catalogação. Analisar os nomes em destaque na capa do DVD ou registrar os primeiros que aparecem nos créditos nem sempre funciona, porque a capa foi feita para vender, não para informar, e os créditos nem sempre seguem a ordem de importância do sujeito na produção. Nada de transcrever literalmente parte dos créditos em seu idioma original e sem saber o que significa “casting”, “production design” ou “second unit diretor” e qual é o grau de responsabilidade desses indivíduos no resultado final da coisa. Fazer isso não é informar seu usuário, é se livrar de um problema de catalogação seguindo uma regra furada. Não tem jeito, precisa entender um pouco a linguagem do documento tratado.

Minha sugestão, que geralmente funciona para filmes de cinema, mas não necessariamente para óperas, videoarte ou telenovelas: Direção, Produção; Produção executiva; Direção de produção; Roteiro; Argumento; Fotografia ou Cinematografia; Montagem ou Edição; Som; Desenho de produção; Figurinos; Cenografia; Animação; Música; Câmera; Efeitos especiais.

Quem precisar ser mais detalhista, porque atende usuários exigentes, pode registrar a tropa toda. Caso contrário, o que está em negrito deve bastar.

Quem usa formato MARC pode botar o diretor e mais um ou dois nomes da área de responsabilidade, para não poluir visualmente o registro. Os demais podem ser registrados no campo 700 (se for visível para o usuário e permitir a indicação da função do indivíduo) ou no campo 508 (Notas de créditos). Solução ruinzinha, mas o que dá para esperar do Querido MARC? Bom mesmo seria ter um campo indexado para a equipe realizadora ou poder definir um campo para cada função importante. Exagero? Bem, vejam  o que faz a IMDB, por exemplo. À propósito, quem quiser ter uma boa experiência de catalogação de filmes, experimente inserir um registro lá.

Resumo bom é aquele feito por alguém que assistiu ao filme todo, ou seja, se puder faça você mesmo. Se não for possível, tente ao menos checar minimamente o conteúdo do filme para ver se resumo copiado não contém bobagens ou erros. O resumo de um filme atualmente em cartaz na cidade de São Paulo, publicado na programação de um órgão de imprensa, diz o seguinte:

Enquanto Kate e Geoff organizam a festa de aniversário que deve celebrar os 45 anos do casamento deles, uma carta anuncia que o corpo do primeiro grande amor de Kate foi encontrado congelado nos Alpes suíços.

Só que o corpo encontrado é o do grande amor do marido, não da Kate e o erro besta poderia ser evitado simplesmente assistindo a um trailer de dois minutos.

Filmes, em geral, são sobre alguma coisa, portanto são passíveis de indexação por assunto. Não se pode ter medo de atribuir descritores de assuntos a obras de arte intimidadoras como Terra em transe, por exemplo, por mais que pareça difícil. E não vale usar o velho truque bibliotecário de sair pela tangente indexando obras de ficção pela forma, mais termos geográficos e cronológicos. Maldição eterna aos que ousarem indexar o citado Terra em transe como “Cinema – Brasil – Século 20”. Que o seu exemplar do AACR2 entre em combustão espontânea feito um filme de nitrato!

O gênero é uma das formas de busca mais populares para filmes de ficção, mas os intrépidos indexadores de filmes precisam estar muito conscientes do abacaxi que têm em mãos, pelos seguintes motivos: as listas de gêneros que rodam por aí são bem ruins e contêm termos vagos e difíceis de definir; nem todo filme tem gênero, enquanto outros se encaixam facilmente em mais de um; as distribuidoras de filmes em DVD ou sites de filmes atribuem gêneros por critérios comerciais que nem sempre podem ser levados a sério; embora a ideia de gênero muitas vezes se misture um pouco com a de assunto nas listas de gêneros (Guerra, Crime etc), não podemos esquecer que, para efeitos de indexação, são coisas diferentes.

E como classificar o acervo?

Se você quiser que seu usuário tenha acesso direto ao acervo, ou pelo menos aos estojos, classifique da forma que for mais prática e viável, não esquecendo que nenhum esquema de classificação existente há 200 anos vai funcionar muito bem, e aquele que você inventar também não.

Vejam o exemplo simpático de organização da biblioteca Méjanes, em Aix-en-Provence:

DSCN8564 (800x600)

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Se a coleção, por razões de conservação ou falta de espaço for de acesso fechado, um sistema qualquer de numeração sequencial será a melhor opção.

Acervo de DVDs da Biblioteca da ECA

Acervo de DVDs da Biblioteca da ECA

Empresto os originais, faço uma cópia para circulação ou não empresto?

Depende. O custo – e o o consumo de espaço – de duplicar sistematicamente um acervo só se justifica se forem materiais raros ou muito difíceis de substituir, ou exemplares únicos produzidos na própria instituição. É precisa estabelecer uma política para isso, incluindo quando comprar mais de um exemplar, quais itens copiar, quais manter restritos ao uso local etc. A legislação brasileira de direitos autorais não permite a realização de cópias, portanto, um pouco de cuidado com isso.

Emprestar DVDs é um ótimo serviço para se oferecer aos usuários e, em nome disso, neuroses em relação à conservação do material precisam ser deixadas de lado. DVDs riscam facilmente, e quem administra o acervo precisa saber conviver com inevitáveis perdas por desgaste natural e consequentes despesas com reposição. Campanhas educativas de usuários e um bom monitoramento da circulação do material, incluindo examinar os disquinhos na entrada e na saída, ajudam bastante. Recomendo o uso de estojos com luvas para evitar a quebra do miolo central dos DVDs provocada pelo sistema assassino de encaixe dos estojos comuns, mas não sei se ainda é possível encontrar fornecedores para esse tipo de material.

No meu blog sobre documentação audiovisual e no Manual de catalogação de filmes da Biblioteca da ECA há mais informações sobre “o que fazer” com um acervo de filmes. Também tenho apresentações sobre o tema:

Catalogação de filmes

Indexação e resumo

No mais, estou disponível para trocar ideias, me escrevam ou me liguem na Biblioteca da ECA/USP.

 

imagem destacada: acervo de DVDs da Openbare Bibliotheek Amsterdam.


PL 2606/15 e nós bibliotecários 

IMG_1491.JPG

O PL 2606/2015 não faz parte da pauta bomba do Deputado Cunha mas caiu como uma petardo nas cabeças dos nossos colegas arquivistas. É que o PL trata do exercício da profissão de arquivologia e busca permitir que profissionais não graduados exerçam a profissão.

Diz a ementa:
“Altera a Lei nº 6.546, de 4 de julho de 1978, que Dispõe sobre a regulamentação das profissões de Arquivista e de Técnico de Arquivo, e dá outras providências, para permitir o exercício da atividade aos profissionais graduados em áreas afins com especialização em arquivologia.”

O PL gerou uma petição pública e várias moções de repúdio e campanhas para dissuadir o Congresso de levar a ideia à frente. 

Isso interessa diretamente aos bibliotecários e é bom que acompanhemos o desenrolar dessa história. Para mim, seremos diretamente afetados caso venha a se tornar lei este projeto, por duas razões, uma boa e uma má, ou vice-versa, a depender do ponto de vista: uma é que poderá ocorrer o mesmo com a biblioteconomia em alguns anos, e a outra é que os bibliotecários, que diga-se já ocupam espaço de trabalho em arquivos Brasil afora, terão mais um campo de atuação de modo legal, basta uma especialização em arquivologia.

Somos uma profissão mais antiga no Brasil (nossa lei nasceu em 62), temos reserva de mercado e conselho profissional. Só pode exercer a profissão quem é bacharel em biblioteconomia devidamente em dia com o Conselho. Porém o que vemos é que a profissão não conseguiu ainda o status social almejado, as bibliotecas no Brasil continuam precárias em geral e não damos conta de ocupar todos os espaços reservados para nós, especialmente pela lei da Biblioteca Escolar. E na realidade todo mundo conhece alguém que não é bibliotecário trabalhando em biblioteca como se o fosse, incluindo pessoas aprovadas em concursos públicos para o cargo de bibliotecário sem ter a formação. 

Por isso, corremos risco de mais cedo ou mais tarde surgir um projeto de lei parecido. Já há o PL 6038/2013 que regulamenta a profissão de técnico em biblioteconomia. O que a meu ver fortalece a nossa profissão mas abre espaço para outras medidas inclusive para pessoas com pós-graduação em biblioteconomia atuarem na área. 

Duvida? A justificação do PL 2606/2015 é ótima para entendermos o que está ocorrendo:

JUSTIFICAÇÃO

O ordenamento jurídico em vigor que disciplina a profissão de arquivista é a Lei no 6.546, de 1978, que foi concebida antes da Constituição de 1988, em uma época marcada por medidas inspiradas nos princípios do corporativismo e do autoritarismo que prevaleciam sobre os valores da liberdade e da autonomia dos indivíduos e das categorias profissionais em relação ao Estado. Nessa linha de pensamento, a norma restringiu o exercício da profissão apenas aos portadores de diplomas em cursos de arquivologia devidamente registrados.
Porém as qualificações necessárias ao exercício dessa profissão também podem ser apreendidas por outros profissionais de áreas afins, que poderiam executar as atividades próprias de arquivista sem qualquer
dano ao usuário de seus serviços.
Dessa forma, nossa proposta vem no sentido de reformular e atualizar a Lei no 6.546/78, em consonância com o mandamento constitucional brasileiro atual, que é o de assegurar a plena liberdade de exercício de atividade laborativa, pois qualquer restrição profissional apenas se
justifica se o interesse público a exigir.
Por meio da inclusão da alínea b no inciso IV do art. 1o da Lei no 6.546/78, o Projeto introduz a possibilidade de um profissional não graduado em arquivologia, mas com pós-graduação na área, exercer legalmente a profissão, pois, modernamente, profissionais de outras áreas de conhecimento afins podem, por meio de cursos de especialização, mestrado ou
doutorado, se habilitar ao exercício da profissão de Arquivista de forma eficaz.
Assim, por entendermos que nossa iniciativa possibilitará a abertura deste mercado de trabalho para profissionais também devidamente qualificados para o exercício da profissão, esperamos poder contar com os
caros Colegas para a sua aprovação.

Caso seja aprovado, por outro lado, vários bibliotecários que já atuam em arquivos e/ou já possuem pós na área poderão exercer suas funções tranquilamente. Como são poucas graduações em arquivologia pelo Brasil, vários estados sequer possuem o curso, então não imagino um cenário promissor quanto a graduação, que é bem mais difícil de ser criada que uma especialização. Talvez os profissionais de história e biblioteconomia acabem ocupando ainda mais os arquivos, e para os bibliotecários é um bom campo de atuação. 

De que lado estamos?



Livros bonitos

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Livros bonitos me atraem muito. Quando estou de bobeira na livraria sem nada específico em mente, o livro que tem mais chance de vir morar comigo é aquele que tem um projeto gráfico bacana ou uma capa diferente. E se a capa tiver texturas, então, as chances do livro aumentam de forma quase injusta. Claro que logo depois do encantamento visual vem o senso crítico e dou aquela espiadinha no texto. Não sou louca de comprar conteúdo vagabundo por mais que aprecie a beleza do objeto e, por falar nisso, estou querendo saber quando os e-books também vão ser visualmente atraentes.

Foi assim, a partir de critérios inicialmente sensoriais que comprei dois livros da editora Dark Sides, especializada em terror e fantasia e, noto agora, com péssimo gosto no quesito desenho de site.  Apenas ouçam esse trovão …  Mas os livros Onde cantam os pássaros, de Evie Wild, e O demonologista, de Andrew Pyper, são bem lindinhos.

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E a lombada do Demonologista é especialmente projetada para encantar bibliotecários. Eu testei.

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Onde cantam os pássaros é um bom livro, escrito por uma autora que conhece bem o serviço de contar uma boa história de mistério e terror, mantendo sempre vivo o interesse pela protagonista, a sofrida Jake, que cuida sozinha de uma fazenda de ovelhas no meio do nada. Alguém ou alguma coisa começa a matar os animais, e a explicação pode ou não se esconder no passado de Jake, que aos poucos vai sendo desvendado, numa narrativa que corre de trás para frente. Uma das qualidades especiais da obra é ser um livro escrito por mulher, contando uma história na qual o terror maior é a trajetória marcada por abusos da personagem feminina durona e corajosa. Outra graça do livro é a hesitação entre a explicação natural e sobrenatural, característica essencial do gênero fantástico descrita por Tzvetan Todorov em seu clássico Introdução à literatura fantástica, que se dá de forma sutil, mas eficiente.

Já o livro de Andrew Pyper não é tão bem-sucedido. É apenas uma história não muito original de pessoas x demônios, dessas que já vimos em centenas de filmes de terror, sem nada particularmente marcante na forma ou no conteúdo. Um professor cético é chamado para testemunhar um caso de suposta possessão demoníaca. As coisas dão muito errado e o infeliz tem que sair numa espécie de jornada contra as trevas na tentativa de salvar sua filha.  As referências ao Paraíso perdido de Milton conferem algum charme erudito à obra, mas é só.

De qualquer forma, os dois são leituras fáceis e agradáveis, daquelas que a gente não se arrepende de ter começado nem tem vontade de largar. Para um leitor rápido e que goste de ler no transporte coletivo, duram pouco mais de dois dias cada um. E são livros que um bibliotecário pode tranquilamente recomendar para apreciadores de terror ou fantástico, em busca de leitura leve, mas não idiota. Além disso, devem ficar muito decorativos e atraentes no expositor de livros novos da biblioteca.


Morada das lembranças: como as bibliotecas podem ajudar imigrantes e refugiados

Morada das lembranças conta a história de uma família de refugiados de guerra, saídos da Europa e chegando ao Rio de Janeiro. A saga é narrada pela filha mais velha, ainda criança, uma daquelas tragédias de gente inocente vítima de guerras, fome ou distúrbios climáticos, que precisa largar tudo pra trás e encarar uma nova terra estranha e geralmente inóspita. O livro trata em paralelo das mulheres que ficaram conhecidas aqui como polacas, que saíam da miséria camponesa na Europa apenas para descobrir que nas Américas a dignidade humana ia muito abaixo daquilo que foi capaz de convencê-las a deixar seus países. É um relato duro de ler, mas talvez necessário, porque é uma das maneiras de nos colocarmos nos pés dessas pessoas e compreendermos o que se passa além dos nossos preconceitos. O livro valoriza também a ideia do resgate da memória oral, porque a maior parte dessas pessoas perdem suas línguas e vozes, deixadas nas cidades de origem, em certos casos optando por esquecê-la por completo, como uma necessidade de ajuste à nova vida, livre das dores do passado. É a neta, a segunda geração já nascida no Brasil que decide recontar a história da avó. Vale a leitura.

Em tempos de crise econômica, guerras e mudanças climáticas, as migrações (não confundir migrantes com refugiados) se intensificam, e considerando o Brasil como um dos países que mais atraem refugiados ou imigrantes, certamente este aspecto deve aparecer na agenda dos bibliotecários daqui, para agora e os próximos anos.

Os refugiados e imigrantes vêm com diversas formações e experiências, e ainda encontram uma miríade de desafios para se adaptarem às suas novas vidas. Existem muitas maneiras que uma biblioteca, de qualquer tipo, pode oferecer apoio aos indivíduos destas diferentes comunidades (étnicas, religiosas, etc.) com recursos e serviços que os ajudam a se adaptar ao novo país.

Algumas recomendações e materiais servem de referência, como o Manifesto da Biblioteca Multicultural da IFLA, e acredito que William Okubo seja a melhor pessoa para documentar e apresentar as experiências brasileiras no relacionamento com Haitianos, Bolivianos, Sírios, entre tantos outros potenciais usuários de bibliotecas públicas e universitárias. Então em vez de montar uma lista de atividades sugeridas que podem ser realizadas dentro de bibliotecas em apoio aos refiguados/migrantes, vou indicar alguns projetos de bibliotecas ou criados por bibliotecas em situações de crise, que servem de inspiração e exemplo para nós:

Ideas Box – Depois de ter construído dezenas de bibliotecas em tendas no Haiti, após o terremoto de 2010, o Bibliotecas Sem Fronteiras (Libraries Without Borders) passou a testar seu projeto Ideas Box no Burundi. Usando apenas duas caixas transportadoras e 20 minutos para montar, o box fornece o equivalente a uma biblioteca de uma pequena cidade. Ela vem com seus próprios livros, e-readers, tablets, laptops e ferramentas digitais, bem como acesso à internet e energia elétrica. A as caixas que contêm todos estes objetos transformam-se em cadeiras e mesas. Em abril deste ano o projeto chegou em campos de refugiados sírios na Jordânia.

Jungle Library – voluntários criaram uma biblioteca improvisada no acampamento de migrantes em Calais, norte da França, que as autoridades estimam abrigar pelo menos 3.000 refugiados, que fugiram da repressão e da guerra em países como a Eritreia, Afeganistão e Síria. Muitos querem chegar ao Reino Unido por causa das conexões familiares ou simplesmente melhores oportunidades. A professora britânica Mary Jones era uma dos voluntários que iniciou a biblioteca, e queria oferecer ajuda real, prática. “Muitas pessoas aqui são bem-educadas – eles querem entrar e querem livros que irão ajudá-los a ler e escrever Inglês, se candidatar a empregos, preencher formulários.” A biblioteca recebe doações e oferece livros, dicionários, textos, zines, etc- em qualquer e todas as línguas, inglês, francês, italiano, árabe, pashto, farsi, tigrinya, amárico e grego. A biblioteca também empresta potes, panelas, utensílios domésticos, coisas práticas como ferramentas para consertar bicicletas, jogos de cartas, jogos de tabuleiro e instrumentos musicais.

Resgate de livros na Síria – Entre tiros e destruição na cidade de Darayya, um grupo de jovens sírios conseguiu criar um lugar de refúgio – uma biblioteca. Depois que os moradores da cidade sitiada fugiram, esses estudantes resgataram livros de suas bibliotecas privadas abandonadas. Em alguns casos, os edifícios ainda estavam pegando fogo, por conta das bombas. Até agora eles já recolheu mais de 11.000 livros. Os jovens criaram um sistema de empréstimos e passam longos dias catalogando os livros, e por isso, se os proprietários voltarem depois da guerra, poderão tê-los de volta.

Enchentes no Myanmar – Localizada nas proximidades de cinco campos de refugiados que acomodam cerca de 1.500 pessoas deslocadas pelas inundações recentes, a biblioteca de Taikkyi tem desempenhado um papel-chave nos esforços de socorro. Equipada com tablets, um roteador móvel com conectividade, revistas, e os mais recentes jornais, a bibliotecária San Khaing monta sua moto e fez rondas para alcançar os membros da comunidade nos campos de refugiados. Lá, ela distribui materiais impressos e atividades organizadas com os tablets para as crianças, que ficaram presas nos campos durante semanas sem o mínimo de acompanhamento educacional.

Outra biblioteca, destruída no dilúvio, continuou a prestar serviços para as comunidades locais, principalmente através do uso de dispositivos móveis da biblioteca. A bibliotecária Ko Aung e seus colegas coorderam esforços de evacuação, ajudando as pessoas deslocadas a chegar a um dos 18 campos de refugiados da região. Ko também identificou aldeias afetadas e coordenou a distribuição de suprimentos para aldeias remotas e inacessíveis nas áreas rurais do país. Os bibliotecários passaram a transmitir informações de socorro para as autoridades, permitindo-lhes cobrir uma área maior e fornecer serviços de emergência para mais pessoas.

Bubisher – esta biblioteca móvel nasceu no acampamento para refugiados do Saara Ocidental, na Argélia, em 2008, e é agora parte de uma rede que trabalha com professores locais e organiza clubes do livro para crianças e adultos. Seu nome, Bubisher, refere-se a um pássaro do deserto cuja chegada traz boa sorte na tradição saariana.


Kista: Biblioteca Pública de Estocolmo, a melhor do mundo em 2015

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A Biblioteca de Kista, localizada em um subúrbio de Estocolmo, na Suécia foi escolhida como a melhor do mundo por representantes da Federação Internacional de Associações de Bibliotecas (IFLA), no dia 16 de agosto de 2015, durante sua reunião anual, este ano realizada na Cidade do Cabo, na África do Sul.

Almejando alcançar o “Public Library of the Year Award 2015“, cinco bibliotecas públicas inovadoras concorreram pelo título.

O prêmio faz parte do Programa Modelo para o projeto de Bibliotecas Públicas da Agência Dinamarquesa para a Cultura e Realdania (associação dinamarquesa privada que apóia projetos nas áreas de arquitetura e planejamento).

Haviam pré-requisitos para participação, como por exemplo, o fato de que a biblioteca deveria ser recém-construída ou reformada em edifício que não houvesse sido utilizado antes como biblioteca. Era também preciso ter sido inaugurada entre 1 de Janeiro de 2013 e 15 de junho de 2015.

Dentre as cinco bibliotecas finalistas constavam Devonport Library, de Nova Zelândia, Narok Biblioteca, do Quênia, Sant Gervasi – Joan Maragall, da Espanha, Biblioteca no Dock, da Austrália (amplamente descrita pelo Bibliotecário Moreno Barros, no blog Caçadores de Bibliotecas) e por fim Kista Biblioteca, da Suécia.

O Programa da Agencia Dinamarquesa tem por objetivo contribuir com a promoção de uma proposta de biblioteca do futuro. Foram levados em consideração questões voltadas para o desenvolvimento digital, demandas por serviços, aspectos da cultura local e as possibilidades de atender anseios de diferentes grupos populacionais.

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E foi Kista, da Suécia a vencedora. Projetado pela Wester + Elsner Architects, a biblioteca construída em um shopping center, recebeu destaque por sua arquitetura e design de interiores, também ao uso de tecnologias digitais, contudo, principalmente pela diversidade populacional que atende na região aonde foi instalada. O blog da IFLA ao apresentar previamente cada uma das bibliotecas candidatas ao título destacou que:

A nomeação da Biblioteca Kista foi baseada em sua posição significativa, localizada em um ambiente multicultural. O interior apresenta ideias conceituais diferentes que criam uma diversidade intensiva, espacial, com base na utilização particular do espaço. A biblioteca centra-se na contratação de pessoal com uma vasta gama de conhecimentos e competências linguísticas, um rico programa de digitalização do tradicional para o criativo e um alto envolvimento com a mídia social interativa.

Localizada em um subúrbio de Estocolmo, a região concentra vários empreendimentos comerciais, além de empresas de telecomunicações e industrias, contudo em termos populacionais, vive na região uma gama considerável de imigrantes de diferentes países.

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Em 2012, em minha primeira visita a Suécia tive a oportunidade de conhecer a antiga Biblioteca de Kista, localizada naquela época na Praça de Kista. Os centros comerciais de Estocolmo sempre dispõem de uma praça e a biblioteca era bastante visível logo na saída do metrô. Comentei sobre minhas impressões tempos depois sem saber que o espaço (que já era excelente) havia sido mudado e com grandes investimentos.

A ideia de colocar bibliotecas no interior de shoppings é relativamente comum. Outras do Sistema de Bibliotecas Públicas de Estocolmo também foram adaptadas para esse fim, contudo em Kista o empreendimento foi realmente grande.

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A Biblioteca de Kista é a segunda maior biblioteca de Estocolmo e creio, pode ser considerada uma das mais confortáveis e dotadas de infraestrutura tecnológica. Possui acesso extremamente fácil (como geralmente são todas as bibliotecas suecas), contudo por estar localizada no interior de um grande shopping center, alguns desavisados podem sair do local sem tomar conhecimento de sua existência, contudo os grandes letreiros da biblioteca competem com os de outros espaços comerciais na busca por chamar a atenção de clientes, mas creio que são os letreiros da biblioteca vem chamando mais atenção por que o fluxo de pessoas ali é intenso.

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Inovações tecnológicas estão espalhadas por vários espaços, inclusive na apresentação dos funcionários que atuam na casa, onde suas imagens físicas são mostradas em telas em uma das entradas da biblioteca. As telas exibem também os serviços oferecidos.

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A Biblioteca oferece muito! Há livros dos diversos ramos do conhecimento (ficção e não-ficção) e para todos os públicos, atendendo ao pré-requisito das diversidades linguísticas. Ainda no tocante ao acervo, dispõe de jornais de todo o mundo e cerca de 350 revistas digitais.

O espaço reservado para o público infantil (onde geralmente é o ambiente que mais me encanta nas bibliotecas públicas suecas), mas parece um grande quarto de dormir. O mobiliário (com tamanho para atender a estatura dos pequenos) e a decoração das paredes e do teto são detalhes significativos.

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Computadores e acesso gratuito a internet, salas para estudos individuais, em dupla e em grupos podem ser reservadas de segunda a domingo para uso em horários das 10h00 às 21h00 horas.

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Ainda tem mais? Sim! a Biblioteca dispõe também de um café e para ações e atividades culturais possui um palco, um auditório e ambientes para encontros com escritores, palestras, teatro, música e muito mais.

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Enquanto escrevia e refletia sobre a Biblioteca de Kista (neste momento escrevo de Estocolmo), aproveitei para perguntar para algumas pessoas sobre o que pensam sobre esse espaço. Contrariando minhas expectativas pude perceber que há quem se enfade com os grandes investimentos voltados para atender ampla clientela formada por jovens, desempregados e imigrantes, haja vista que na concepção destes, muitos aproveitam horas ociosas para estar em seus celulares sem nenhum atenção aos livros.

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O fato de que qualquer usuário pode utilizar o ambiente para deitar em uma rede, ou em confortáveis poltronas para ler dados em seus celulares ou tablets em detrimento ao livro ainda é um elemento que incomoda. Por isso me pergunto, será que existe algum tipo de mediação para introduzir os usuários a outros suportes e serviços?

De minha parte vejo essa biblioteca como um espaço de futuro. Uma biblioteca pública que efetivamente oferece acesso e oportunidades. Parabenizo ao Sistema de Bibliotecas Públicas de Estocolmo pelo feito!

O prêmio Public Library of the Year Award foi criado pela Agência Dinamarquesa para a Cultura e esse ano foi patrocinado pela empresa de TI Systematic que fez uma doação de US $ 5.000 para a Biblioteca vendedora.

Fontes: Blog IFLA


O apocalipse zumbitecário

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Cansada, mas ainda não inteiramente derrotada, a bibliotecária envelhecente sorri ao terminar a leitura dos posts do Bibliotecários Sem Fronteiras que discutem o futuro da profissão. Parte dela, a que se orgulha dos colegas mais jovens e acha que ainda vale a pena estar numa trincheira com gente assim, luta contra a outra parte, a que se distancia cada vez mais do interesse pela profissão. Ela sabe que, no seu caso, o futuro é algo que deve acabar mais cedo e provavelmente mal.

Naquela noite, a bibliotecária envelhecente tem um sonho vívido e rico em detalhes.

Num mundo praticamente sem bibliotecas como hoje as conhecemos, no qual os livros que simplesmente apareciam em lugares inusitados, como centros cirúrgicos e elevadores, eram considerados krönir *, recolhidos rapidamente e vendidos a preços impossíveis para misteriosos colecionadores, os bibliotecários há muito tido como extintos começaram a voltar.

Não, não eram krönir biológicos. Apesar dos insistentes rumores sobre a existência desses seres quase humanos criados pela imaginação de homens e mulheres, os únicos bio-krönir efetivamente documentados eram tigres e outros grandes felinos extintos, um rinoceronte branco e alguns pássaros dodôs, todos ligeiramente diferentes de seus paralelos já extintos no que poucos lunáticos ainda insistiam em chamar de mundo real.

Não, esses bibliotecários em nada lembravam os tigres vermelhos de olhos de chama nem os dodôs com esporões letalmente venenosos. Pareciam antes zumbis pálidos, alguns exibindo sinais de decomposição e marcas dos ferimentos ou doenças que os haviam matado. Surgiam enfurecidos nas imediações das grandes piscinas de leitura que tomaram o lugar de algumas antigas bibliotecas, piscinas azuis onde o leitor podia sonhar as histórias que gostaria de ler e transmiti-las mentalmente em forma de texto, filme ou música para outros que as completavam, modificavam ou apenas usufruíam. Outros foram vistos rondando as casas onde supostamente viveriam colecionadores de livros krönir.

Não eram realmente muitos, mas começaram a despertar o interesse dos fãs de filmes de terror antigos e a preocupar as autoridades. Mas os zumbitecários – como logo começaram ser chamados – nada faziam de errado ou realmente perigoso. Não atacavam, não mordiam, não tentavam devorar cérebros, apenas gritavam o quanto eram importantes e não reconhecidos, lembravam a todos da importância da padronização. Coisas assim que ninguém mais compreendia. Alguns seguravam, com orgulho, pequenos cartazes afirmando que “O Google te oferece 100 mil opções, o bibliotecário te oferece a certa“. Alguns andavam abraçados às regras de catalogação com as quais supostamente teriam sido sepultados. Outros tentaram carregar tabelas de classificação, mas os braços de zumbi não aguentavam tanto peso e se quebravam.

De fato, os zumbitecários não pareciam saber que atitude tomar. Muito comportados para agirem como zumbis normais e mordedores, dividiram-se. Metade queria mudar o paradigma, metade preferia ir para um congresso que oferecesse um bom coffee-break. Uma discussão acalorada começou, mas alguns indivíduos com pose e voz de autoridade aproximaram-se do grupo e pediram silêncio. Obedientes, os zumbitecários se calaram e se dispersaram. Apenas desapareceram quietamente, ninguém soube como. Os últimos foram vistos sentadinhos em frente às piscinas onde não os deixaram entrar, e lá ficaram até se desintegrarem. Um pterodáctilo com asas de prata passou gritando: extinção é para sempre!

A bibliotecária envelhecente acorda com o despertador berrando incoerências e levanta, sacudindo do peito o peso do sonho estranho. No espelho do fundo do corredor, um velho bibliotecário sorri, cego.

* Objetos formados pela duplicação de objetos perdidos originários das “regiões mais antigas de Tlön”, “filhos fortuitos da distração e do esquecimento”. Do conto Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, de Jorge Luís Borges.