Ana Paula Calabresi' Post

E-books e audiolivros a um clique

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Desde que eu fiz o post sobre o Overdrive eu tinha vontade de fazer uma demonstração em vídeo. Até consegui filmar os vídeos no início do ano, mas só agora consegui editar e finalizar o vídeo pra compartilhar com vocês.

Esse é o serviço que muitas bibliotecas norte-americanas usam para emprestar e-books e audiolivros. Eu uso direto pra ouvir audiolivro quando estou na rua, andando de ônibus ou até mesmo dirigindo. Falando de audiolivro, no início a gente estranha um pouco, mas depois que pega o gosto pela coisa, é uma delícia! E tem audiolivros super bem produzidos, que realmente prendem a atenção do ouvinte.

E não preciso mais escrever muito, porque tudo que quero dizer está aí no vídeo. Aperte o play!


Podcasts para quem gosta de livros

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Eu sou super fã de podcasts. Geralmente ouço enquanto faço outra atividade que não requer muita atenção, como tarefas domésticas (passar ou dobrar roupa, lavar louça, lerê lerê), quando estou na rua, dirigindo ou em transporte público.

Tem uma podosfera imensa nesse nosso Brasil que produz conteúdo de qualidade e entretenimento para quem curte livros como a gente. Aqui estão alguns dos meus preferidos e outros super bem conceituados, mas que ainda não entraram na minha playlist.

Literáriocast
Foi o primeiro podcast que comecei a acompanhar. A equipe é super bem entrosada e bate um papo bem legal sobre livros, autores e tudo que envolve literatura e cultura pop. O Rafael Franças é um mestre na edição do áudio do programa. Em outubro, eu fui convidada pra falar de bibliotecas. (Espero ter defendido a nossa classe bem por lá! 😉 )

Cabulosocast
Depois que comecei a acompanhar o Literáriocast, fiquei curiosa sobre outros podcasts e caí de paraquedas no podcast do Lucien, o bibliotecário, que edita o blog Leitor Cabuloso. Os episódios são bem completos, com convidados especiais, incluindo escritores. Além de bem informados, os participantes também são muito divertidos. Os dois programas que eles fizeram recentemente sobre Neil Gaiman me deixaram ainda com mais vontade de ler a obra desse autor.

30:MIN Homo Literatus
O Vilto Reis já foi convidado no Cabulosocast algumas vezes, mas eu não tinha assinado o podcast dele ainda. Os episódios parecem super interessantes. Que tal começar pela indicação deles dos escritores essenciais da literatura brasileira?

Livrocast
Apesar do conteúdo ser eclético, me parece que o Livrocast foca mais em obras de fantasia e tem bastante coisa sobre quadrinhos também (super heróis, Marvel e companhia). Mas o episódio que eu baixei pra ouvir primeiro foi o sobre A sombra do vento, do Carlos Ruiz Zafón, um dos melhores livros que li em 2014.

Papo lendário
Podcast do blog Mitografias. Pra quem curte mitologias e lendas.

The White Robot
Podcast liderado por um casal apaixonado por fantasia e ficção científica. Eles falam sobre títulos específicos e outras notícias do mundo literário. Fiquei curiosa com o episódio sobre o filme Interestelar, que estou doida pra ver.

E vocês, costumam ouvir podcasts? Tem algum bacana pra indicar? Deixem nos comentários.


20 perguntas de entrevista de emprego para bibliotecários

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Depois de seis meses de procura, eu finalmente fui contratada numa biblioteca pública como auxiliar, trabalhando em turnos de sobreaviso. Durante a busca por emprego, refiz o meu currículo dezenas de vezes, enviei para diversos lugares e sempre dava com a porta na cara. Até que finalmente fui chamada para uma entrevista! Catei na internet recursos que ajudassem a me preparar para a entrevista e procurei por perguntas específicas para bibliotecários. Como minha experiência profissional prévia não era em bibliotecas, meu desafio seria ainda maior, tentando provar como minhas qualificações e experiência anteriores seriam transferíveis para o ambiente e trabalho numa biblioteca.

Fui mal na entrevista. Assim que terminou, eu sabia que não tinha ido bem. Selecionei várias perguntas e ensaiei minhas respostas antes do dia, mas na hora do “vamo vê”, acabei me enrolando e não respondendo satisfatoriamente às perguntas que me fizeram. A maioria das perguntas eram comportamentais, daquelas que você tem que dizer o que fez (ou faria) em tal situação, ou dando exemplos de eventos que aconteceram na sua vida profissional que demonstrem a sua conduta dentro de situações específicas (as situações de conflito são particularmente complicadas de responder de uma forma que você não fique mal na fita). Não me chamaram de volta.

Felizmente, algumas semanas depois, outra biblioteca me chamou pra entrevista e dessa vez fui bem mais tranquila. Resolvi não ensaiar tanto como na primeira, resolvi seguir meu coração nas respostas. E funcionou! No dia seguinte ao da entrevista, recebi a ligação com a oferta de trabalho!

Hoje, compartilho com vocês algumas das perguntas que me fizeram e outras que encontrei durante minha pesquisa. De repente tem alguém aí do outro lado da tela que está disponível no mercado e tem que se preparar para uma entrevista de emprego.

1. Quais são suas fraquezas?

2. Quando você falhou no trabalho? Explique o que aconteceu e o resultado final.

3. Por que você quer trabalhar nessa biblioteca?

4. Qual é a sua filosofia em relação à biblioteconomia e trabalhar em bibliotecas públicas?

5. Onde você se vê em 5 anos?

6. Se você estivesse sozinho na biblioteca e um usuário estivesse bebendo bebida alcoólica (aqui no Canadá é proibido) enquanto usava o computador, o que você faria?

7. Você está no balcão de informação e duas crianças estão correndo pelas estantes. Alguns usuários já reclamaram do barulho. Você já alertou as crianças a não fazer isso, mas elas continuam. O que você faz?

8. Fale sobre um livro que você recomendaria para adultos e por quê?

9. Se tempo e dinheiro não fossem impedimento, que tipo de projeto você gostaria de fazer na biblioteca?

10. Como você lida diante de mudanças?

11. Como você lidaria com uma pessoa que estivesse fazendo algazarra na biblioteca?

12. Se você não concordasse com uma atitude do seu superior, o que você faria?

13. Dê um exemplo de erro de comunicação entre você e um usuário. O que você fez?

14. Você já entrou em conflito com algum chefe ou colega de trabalho? Como lidou com a situação?

15. Por que a gente deve te contratar?

16. Quais são as habilidades ou experiência que você tem e outros candidatos talvez não tenham?

17. “A referência está morta.” Você concorda ou discorda? Qual é o valor do serviço de referência nos dias de hoje?

18. Você está no balcão de informação atendendo um usuário. Outra pessoa entra na fila. O telefone toca. O que você faz?

19. Quais são seus três recursos mais importantes para uso em bibliotecas públicas?

20. O que você faria se não soubesse responder uma pergunta de um usuário?

Como você responderia a essas perguntas?

Imagem: Flazingo, sob licença Creative Commons


Por que leitores brasileiros preferem livrarias a bibliotecas?

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Quando criança, eu não tinha o hábito de frequentar bibliotecas. Até porque elas não existiam no meu bairro, ou nas redondezas onde eu morava. Mas eu amava ler! Adorava bancas de jornal e livrarias, que eram os lugares onde eu encontrava livros e revistas e podia saciar minha sede de leitura. Depois descobri a biblioteca da escola e passava alguns recreios lá dentro, já que não podia levar os livros pra casa. Lembro de uma excursão da escola à Biblioteca Pública Municipal do Rio de Janeiro, que era muito longe da minha casa. Só me restava comprar os livros mesmo. Passeios a livrarias eram – e ainda são – os meus favoritos!

Foi só depois que me mudei para o Canadá que passei a frequentar bibliotecas públicas e me apaixonei. Tantos livros, tantos recursos disponíveis gratuitamente para o público! Sou frequentadora assídua e sempre trago pra casa mais livros do que posso ler dentro do prazo de entrega.

Como expatriada, comecei a questionar sobre os hábitos de leitura dos brasileiros, em especial sobre o uso de bibliotecas públicas. Depois de muita pesquisa, vi que há sim várias bibliotecas públicas em todo o Brasil. Sim, são escassas, e talvez o acervo não seja o dos mais atraentes ou relevantes, mas o recurso está lá. A pergunta então era: será que o povo usa?

No ano passado, em março, fui ao Rio de Janeiro visitar a família e fiz questão de conhecer uma biblioteca pública. Era quinta-feira. Fui no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro da cidade, onde tem uma biblioteca no quinto andar. Fiquei maravilhada com o espaço! Tudo tão novo, tão arrumado! Tão diferente da minha biblioteca universitária na Escola de Comunicação da Praia Vermelha.

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Tive que deixar bolsas na entrada, mostrar identidade e tudo. Sinceramente? Achei que isso já era a primeira barreira para o uso da biblioteca. Entendo a questão da segurança, mas devia haver outra forma de evitar roubo sem ter que obrigar os usuários a deixar seus pertences na porta. (Não preciso nem dizer que isso não existe aqui no Canadá, né? Com exceção de bibliotecas de coleções especiais e materiais raros, claro).

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Fiquei encantada com a biblioteca infantil! Adorei a parede com lombadas de livros, coisa mais linda! Entrei no espaço infantil e encontrei apenas uma mãe com um menino de uns 7 anos talvez. O menino pedia pra mãe ler pra ele. A mãe estava ocupada no seu celular, sem dar atenção ao menino, ignorando o seu pedido. Aquilo me cortou o coração! Uma criança estava ali, sedenta pela leitura, e justamente a pessoa que deveria mais incentivá-lo estava desperdiçando esta oportunidade. Então foi na biblioteca pra quê, alguém pode me explicar?

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Saí de lá e fui ver as outras estantes, com material de pesquisa. Adorei ver o catálogo de fichas, coisa que não vejo mais por aqui, que só consultamos o acervo digitalmente. Vi algumas pessoas estudando em salas de leitura, mas a biblioteca estava bem vazia. Não contei mais de 20 pessoas por lá.

Bem, numa quinta-feira, de manhã, no centro da cidade, como é que eu poderia esperar uma biblioteca cheia, não é mesmo?

Depois do almoço, no mesmo dia, na mesma quinta-feira, eu passei pela porta da Livraria Cultura, na rua Senador Dantas, também no centro da cidade.

A livraria estava LOTADA!

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Na parte infantil tinham algumas famílias com crianças de várias idades, passando pelas estantes e escolhendo livros. Outras sentavam no chão com seus filhos no colo e folheavam livros juntos. Em todos os andares, muita gente. Os caixas, com fila.

E a pergunta: se tem um lugar onde as pessoas podem ter acesso a livros sem pagar um tostão, por que é que preferem gastar dinheiro com os livros em vez de pegar emprestado nas bibliotecas públicas?

Posso imaginar algumas respostas:

1) O acervo das bibliotecas públicas não é adequado e não atende à necessidade do público
Eu sinceramente não tenho ideia de como é feito o gerenciamento do acervo de bibliotecas públicas no Brasil. Elas compram materiais publicados recentemente? Você pode encontrar os best sellers por exemplo? Pelo que vi na biblioteca do CCBB, pelo menos na parte infantil, o acervo não era muito grande. Vi alguns títulos novos, mas a maioria não era. O estado físico das obras também era ruim, com aspecto velho, folhas amareladas, lombadas machucadas. O leitor tem prazer em ler um livro em bom estado. Se o leitor quer ler Nicholas Sparks e não encontra na biblioteca, claro que tem que comprar na livraria (não procurei por este autor naquela biblioteca, então é só um exemplo mesmo).

2) O público não tem conhecimento das bibliotecas públicas
Voltemos ao início do texto, lá quando eu era criança e não tinha a mínima ideia de que poderia existir um espaço de livre acesso aos livros. Biblioteca pra mim era algo que existia na escola e em lugares bem longe da minha casa. Biblioteca pra mim era um lugar onde não se podia falar alto. Biblioteca pra mim era um lugar onde encontrávamos livros velhos, muito antigos, empoeirados e com cheiro de mofo. A minha geração, que teve a mesma experiência que eu tive, provavelmente não vai pensar na biblioteca como opção cultural para levar seus filhos. Esses vão associar livros à livrarias imediatamente.

3) O acesso a bibliotecas é dificultoso
Essa e a última questão estão ligadas. É a questão da escassez. Provavelmente há mais livrarias do que bibliotecas públicas em cidades grandes do Brasil.

Acredito que o acervo deficiente seja uma das principais razões pelas quais o brasileiro prefere comprar o livro do que pegar emprestado. Porque talvez o livro que ele queira ler não esteja na biblioteca. Ou se está, o acesso não é facilitado ou o livro não está em condições boas de uso. Posso estar totalmente enganada, afinal estou longe e não tenho como avaliar essa questão de perto.

Sei que minha amostragem é muito pequena. Eu só visitei uma biblioteca pública. Mas no meu círculo de amizades vejo que essa hipótese não é tão absurda assim. Pouquíssimas pessoas que eu conheço no Brasil, em várias cidades até, têm o hábito de frequentar bibliotecas. Muito mais gente compra livros em livrarias, das pessoas com que me relaciono.

Mas vocês aí, me digam, por que o povo prefere livrarias a bibliotecas? E como podemos inverter essa situação no nosso papel de bibliotecários?


Como funciona o empréstimo de e-books e audiolivros digitais?

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Os e-books estão ganhando um espaço cada vez maior em bibliotecas do mundo inteiro. Há duas formas de promover o acesso a coleções digitais em bibliotecas públicas: pelo empréstimo de e-readers, ou através de softwares que mediam o empréstimo dos arquivos digitais diretamente nos dispositivos eletrônicos dos usuários.

Eu não estou falando de disponibilizar uma lista de arquivos em PDF que você pode baixar gratuitamente, cujos direitos autorais são livres. Estou falando de conteúdo licenciado.

Software para empréstimo de e-books

Aqui no Canadá, muitas bibliotecas públicas usam o Overdrive como software para empréstimo de e-books e audiolivros em MP3.

No catálogo das bibliotecas, você encontra a obra com um link para baixar pelo Overdrive.

O usuário pode instalar o aplicativo do Overdrive no seu tablet,  celular (smartphone) ou no próprio computador. Uma vez instalado, você faz o login no Overdrive com o cadastro da sua biblioteca local (usando o número do cartão e a senha).

Eu uso duas coleções: a da biblioteca pública de Vancouver, e a do consórcio de bibliotecas de British Columbia (a província). Como o licenciamento dessas coleções é caro, muitas bibliotecas da província se juntaram para fazer um consórcio, onde compartilham recursos e coleções. A coleção digital da biblioteca pública da minha cidade (que fica na região da grande Vancouver) é disponível através do consórcio da província.

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Você pode também navegar pelo próprio Overdrive e pesquisar o livro que quer ler ou ouvir.

A coleção é extensa, com títulos de diversos gêneros e categorias.

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Tem até Harry Potter!

A interface de pesquisa é muito bem organizada, com diversos filtros.

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Se o livro não estiver disponível, você pode fazer a reserva e entrar na fila de espera. Assim que o livro for liberado, você recebe um email notificando da disponibilidade do livro e com um prazo de dias para pegar emprestado.

Os e-books e audiolivros são emprestados por um período de 14 ou 21 dias, sem direito a renovação. Quando expira, o conteúdo simplesmente some do seu dispositivo, como mágica!

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Nessa pesquisa, acabei encontrando um livro que queria ler, em formato áudio: Cadê você, Bernadette?, de Maria Semple. (Note que há livros super novos, lançamentos recentes). O livro estava disponível para empréstimo, então baixei.

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Você clica na opção Download. Apesar do programa baixar o mp3 para o seu dispositivo, você não tem acesso ao arquivo em nenhum momento. Ele só é disponível através do Overdrive.

Uma vez baixado, você pode ouvir/ler offline, sem precisar estar conectado à internet. Não é streaming.

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Os audiolivros são divididos em muitas partes, dependendo da extensão do livro. Esse aqui são 8 partes de 1 hora e pouco cada uma.

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E quem paga essa conta?

As editoras ainda estão meio hesitantes em liberar seus livros para empréstimo por bibliotecas. Até dois anos atrás, algumas das grandes editoras internacionais não liberavam e-books para bibliotecas de jeito nenhum. Mas com a crescente demanda, tiveram que encontrar meios para viabilizar os contratos com bibliotecas públicas.

Uma das alternativas foi cobrar incrivelmente caro por cópias digitais para bibliotecas. Eu fiz um estágio em 2012 numa biblioteca pública da cidade e a gerente de aquisições me falou que, na época, um e-book poderia custar até 80 dólares para bibliotecas, enquanto custavam menos de 15 para leitores comuns.

Outra solução foi limitar o número de downloads por cópia. Uma das editoras (não lembro qual, acho que a Harper Collins, uma das gigantes) permitia apenas 26 leituras de cada e-book. Depois disso, a licença expirava e a biblioteca era obrigada a comprar outra licença.

No Brasil

A Biblioteca de São Paulo empresta e-readers a seus usuários, porém eles devem usar os dispositivos dentro da biblioteca.

Eu fico aqui, torcendo pelo progresso das bibliotecas públicas na nossa terrinha, pra que todo mundo um dia possa ter acesso a tecnologias como o Overdrive.

Demonstração

Editando o post pra inserir finalmente o vídeo de demonstração! (agosto de 2015)


Livros censurados

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Esta semana é a semana da liberdade de leitura aqui no Canadá. O evento é uma iniciativa do Conselho de Livros e Periódicos para chamar atenção para a questão de livros que são censurados e às vezes até banidos de escolas e bibliotecas no país. Nos Estados Unidos, a Associação de Bibliotecas Americanas (ALA) promove o evento na terceira semana de setembro.

Em pleno século 21, quem diria que há quem conteste a liberdade de leitura?

Nós sabemos que grande parte da sociedade americana é super conservadora. E são esses que batem de frente com as escolas e bibliotecas e exigem que certos livros sejam removidos de suas coleções por serem ofensivos. De acordo com a ALA, na primeira década do século 21, o Escritório de Liberdade Intelectual recebeu mais de 5 mil notificações de censura. Os livros são questionados pelo seu conteúdo:

  • sexualmente explícito
  • linguagem ofensiva (palavrões)
  • inapropriado para o público alvo
  • violência
  • homosexualidade
  • religiosidade
  • ocultismo

Muitos livros populares – e até clássicos – já entraram na lista negra da censura americana. Nem livro pra criança escapa:

50 Tons de Cinza, de E. L. James
Motivos: linguagem ofensiva, sexualmente explícito

O Caçador de Pipas, de Khaled Housseini
Motivos: homosexualidade, linguagem ofensiva, religiosidade

Procurando Alaska, de John Green
Motivos: linguagem ofensiva, sexualmente explícito, inapropriado para o público alvo

Jogos Vorazes, de Suzanne Collins
Motivos: anti-ético, linguagem ofensiva, falta de sensibilidade, ocultismo, violência

Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley
Motivos: falta de sensibilidade, nudez, racismo, religiosidade, sexualmente explícito

O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Sallinger
Motivos: linguagem ofensiva, sexualmente explícito, inapropriado para o público alvo

Capitão Cueca, de Dav Pilkey
Motivos: linguagem ofensiva, sexualmente explícito

Harry Potter, de J. K. Rowling
Motivos: ocultismo/satanismo

No Brasil, os casos de censura ocorreram na época da ditadura. Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca; Zero, de Ignácio de Loyola Brandão; Dez Histórias Imorais, de Aguinaldo Silva, são algumas das obras vetadas pelo AI-5 entre 1970 e 1988.

Mais recentemente, em 2012, a obra de Monteiro Lobato foi vítima de censura. O Instituto de Advocacia Racial queria banir Caçadas de Pedrinho das escolas por conteúdo racista.

E o que nós, bibliotecários, temos a ver com isso?

Um dos valores da biblioteca é defender a liberdade de expressão, seja do autor, ou do leitor. É nosso dever promover o acesso livre à informação, seja ela de que natureza for. A troca respeitosa de opiniões distintas, às vezes até controversas, é o que nos ajuda a crescer como indivíduos. É o que promove tolerância e aceitação.

Imagem do topo: Lansing Library, no  Flickr, sob licença Creative Commons.


Mestrado de biblioteconomia e ciência da informação no Canadá

Koerner Library, no campus da UBC

Em dezembro, terminei meu mestrado em biblioteconomia e ciência da informação. Eu estudei na Universidade de British Columbia, no Canadá, onde resido há quase sete anos. A convite do Moreno, passo a integrar a equipe de colaboradores do Bibliotecários Sem Fronteiras, e achei que seria legal estrear minha participação aqui falando um pouco de como foi o meu mestrado.

Pra começar, eu não sou graduada em biblioteconomia. Sou jornalista por formação acadêmica, e web-qualquer-coisa por experiência profissional. Foram mais de 10 anos entre a minha graduação e eu finalmente voltar à universidade para fazer um mestrado, que sempre quis. Acabei escolhendo biblioteconomia, mas não vou explicar o motivo aqui agora. O fato é que aqui no Canadá, você não precisa ser necessariamente graduado em biblioteconomia para fazer mestrado na área.

Até porque não existe curso de graduação em biblioteconomia no Canadá.

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Biomedical Library. Foto de UBC Library Community, no Flickr, sob licença Creative Commons

Posso até ver as caras de espanto do outro lado da telinha. Estranhei muito isso também. O que até me fez questionar o quão “mestrado” era esse mestrado que eu estava fazendo, se tudo que estava estudando aqui, em nível de mestrado, meus colegas no Brasil viram na graduação.

Quer saber outra coisa diferente do mestrado aqui? Não precisei fazer dissertação. O MLIS (Master of Library and Information Studies, em inglês) aqui é considerado um mestrado profissional, tipo um MBA. Por isso não exige que você faça dissertação para obter o grau de mestre. A dissertação é opcional e é geralmente feita por aqueles que querem seguir uma carreira acadêmica, prosseguir para um doutorado e fazer pesquisa na área de ciência da informação. Não fiz dissertação e não faço ideia do que vai ser de mim se um dia eu resolver fazer um doutorado.

Exigências do mercado de trabalho para bibliotecários

Para trabalhar como bibliotecário aqui no Canadá, as bibliotecas – sejam públicas, acadêmicas ou corporativas – exigem que o candidato tenha o MLIS, o mestrado em biblioteconomia. Existe um curso técnico de biblioteconomia, que não tem nível de graduação. Os técnicos são mais envolvidos na área de catalogação. Em poucos casos, os técnicos podem atender o público em serviços de referência. A diferença é o salário e a hierarquia dentro da biblioteca. Os bibliotecários com mestrado ganham mais que os técnicos, e podem exercer cargos de gerência.

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Irving K. Barber Learning Centre. Foto de UBC Library Community, no Flickr sob licença Creative Commons

Estrutura do mestrado

O mestrado dura, em média, dois anos. Dá pra fazer em menos tempo se você pegar matérias durante o verão. O ano letivo vai de setembro a abril (dois períodos de 13 semanas cada), e grande parte dos alunos não estuda no verão (de maio a agosto). Ou trabalham, ou somente curtem o pouco sol que temos aqui no hemisfério norte. Pra quem decide estudar no verão, há dois períodos de seis semanas cada com duas aulas por semana em cada disciplina. Durante o outono e inverno, as aulas são semanais.

Para concluir o curso, o aluno deve alcançar 48 créditos. Cada disciplina tem três créditos. Então, com 16 matérias você fecha o curso. Você pode pegar até cinco matérias por período, no máximo. Em dois períodos eu tive quatro e foi muito! Cada aula semanal tem três horas de duração. Mas estima-se que, para cada hora dentro de sala de aula, o aluno deve gastar outras três horas fora de sala de aula com as leituras e trabalhos. Não dá pra estudar e trabalhar nesse ritmo, apesar de que muitos dos meus colegas trabalhavam também.

O que se estuda no mestrado?

São seis as disciplinas obrigatórias. Quatro delas você pega assim que entra no curso: Fundamentos da tecnologia da informação, Fundamentos sobre a sociedade e organizações de informação, Introdução ao controle bibliográfico, Introdução à serviços e fontes de referência. (Desculpem se a nomenclatura não é totalmente correta em português, estou tentando traduzir os nomes das disciplinas. Meu jargão profissional é todo em inglês, desculpem). As outras disciplinas obrigatórias são Gerenciamento de organizações de informação e Métodos de pesquisa.

Fora essas, você pode escolher o que quer fazer de eletivas no resto do curso. Há várias disciplinas dedicadas a serviços para crianças e jovens; disciplinas técnicas como indexação e catalogação (não é obrigatório fazer catalogação para concluir o mestrado. Lembrem, são os técnicos que se especializam nesta área); serviços especializados como biblioteconomia aplicada a registros médico-hospitalares, legais, governamentais ou corporativos; cursos ligados à parte técnica de sistemas, base de dados, programação e tudo ligado a TI; disciplinas sobre o gerenciamento de bibliotecas, arquitetura e planejamento do espaço; livros raros; preservação e arquivo; bibliotecas digitais; e muito mais. Você pode ver a grade de cursos oferecidos na UBC aqui.

O que eu estudei

Eu tentei fazer um pouquinho de tudo, mas tentei focar na parte de serviços para crianças, que é a minha paixão. Contar histórias, cantar músicas para os pequenos. Estudei sobre a formação dos bebês e sobre como é importante ler pra eles desde o nascimento, se possível. Estudei sobre a formação da linguagem, sobre o desenvolvimento motor e intelectual das crianças até cinco anos e como as bibliotecas podem ser fontes super úteis para os pais nesse período crítico de desenvolvimento dos seus filhos. É fascinante!

Também tive que estudar um pouco sobre literatura canadense e norte-americana, conhecer os autores, os livros clássicos de cada geração.

Estudei novas mídias para crianças e jovens e como incorporar a tecnologia dentro das bibliotecas.

Fiz questão de estudar catalogação, mesmo não sendo obrigatório. Acho que essa disciplina faz parte do coração da biblioteconomia.

Também escolhi algumas das disciplinas mais técnicas como Desenho de banco de dados e Sistemas de automação.

Fugi das disciplinas mais teóricas, da ciência da informação.

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UBC Main Library, onde fica a Escola de Biblioteconomia, Estudos de Informação e Arquivo. Foto de Thomas Chung, no Flickr, sob licença Creative Commons

Próximos passos

Agora, estou à procura de trabalho. Com o meu diploma, eu posso trabalhar em bibliotecas públicas, acadêmicas ou especializadas/corporativas. Não posso trabalhar em bibliotecas de escola primária ou secundária. Para isso é preciso ser professor também, ter um certificado em Educação. Isso vale para o Canadá somente. Nos Estados Unidos, podemos trabalhar em escolas também.

Por enquanto, estou tentando me manter envolvida na área voluntariando na biblioteca escolar das minhas filhas. Uma vez por semana vou ajudar a professora-bibliotecária a guardar os livros nas estantes.

Imagem principal: Koerner Library, no campus da UBC. Foto de David Baron, no Flickr, sob licença Creative Commons.