O Huffington Post se firmou globalmente como a voz a ser ouvida em relação às grandes notícias políticas, tendo recebido um Prêmio Pulitzer por suas investigações, e leva igualmente a sério as questões de bem-estar, saúde e comportamento. É perfeito para um país como a África do Sul, onde a política dos cabelos ou os desafios enfrentados pelas mães solteiras podem gerar discussões tão profundas quanto a investigação mais recente sobre a corrupção política sistêmica ou o movimento de protesto estudantil FeesMustFall.
Hoje eu me declaro negro. A ficha caiu tarde, mas caiu. Nunca fui vítima de ataque ou tratamento racista que tenha me causado um grande trauma, talvez por conta dessa ficha caída tardiamente. Mas quando olho para trás, posso pontuar alguns episódios curiosos. O primeiro, quando fui seguido por um segurança em um shopping center, acho que na época do Ensino Fundamental. E os outros foram todas as vezes que, pequenininho, fui apresentado pelo meu pai, que é branco, aos amigos dele como o "caçula" ou "raspa do tacho", sempre com a ressalva sobre o tom da minha pele: "puxou a família da mãe", que é majoritariamente negra de pele escura.
Os mercados financeiros parecem acreditar que o presidente eleito Trump pode trazer maior crescimento e inflação, conforme manifestado na rotação dos portfolios dos mercados de títulos e acionários. Ao mesmo tempo, as ondas de choque já sentidas pelos ativos no exterior pode ser um prenúncio de uma jornada instável à frente. Não é de admirar que Trump tenha suavizado suas declarações--e suas promessas de campanha--após a eleição, o que foi recebido com suspiros de alívio.
Para quem não conhece a sua figura e seu histórico, parece uma cena realmente lamentável. Afinal, não existe nada pior e mais humano do que se sensibilizar diante de uma filha vendo seu pai sendo levado preso - principalmente naquelas condições. Mas eu conheço Garotinho. E assim como boa parte da sociedade, isso não me causou qualquer comoção.
Foi desejada, cobiçada, era exótica. Até teve vários parceiros, beijos escondidos no carro, recebeu mensagens de amor secretas. Viveu breves e intensos relacionamentos com pessoas que nunca estiveram prontas para algo além de sexo. Se sentia usada, reificada, levada à condição de passatempo, distração, acessório, objeto lascivo. Era uma jovem negra cansada.
Esta talvez seja a maior lição que podemos tirar desta eleição. Um movimento de rejeição aos políticos que se espalha por todos os cantos do planeta já é uma realidade. Aqueles que entendem este fluxo do eleitorado são os mais propensos a sobreviver neste novo momento. O eleitor cansou dos políticos, da parcialidade da imprensa e está disposto a aplicar sustos naqueles que continuam a enxergar a política por uma ótica antiga e ultrapassada. Partidos tornam-se movimentos. Seus líderes, os novos eleitos. A sociedade nunca clamou tanto por ser ouvida. Este é o maior ensinamento deste ciclo eleitoral.
Estamos criando homens que não sabem quem são, mas que são obrigados a navegar o mundo fingindo que estão plenamente no controle de suas identidades, sexualidades, corpos e emoções. A realidade é que muitos de nós somos uma bagunça por dentro, por causa das restrições que nos impõem como homens negros. E tudo isso começa quando você questiona pela primeira vez o corte de cabelo daquele menininho negro.
Muitos comemoraram as prisões, e houve até quem se divertisse com a cena deprimente e humilhante de Garotinho protestando, deitado numa maca, contra a sua transferência do hospital Souza Aguiar para o complexo de Bangu. Talvez essas pessoas tenham esquecido quem os elegeu e como esses dois chegaram onde chegaram. Ao que indica, parece que eles finalmente receberam o que merecem. Só não podemos esquecer que a justiça tem ritos a serem seguidos. E que, quando eles são atropelados, a possibilidade de que injustiças sejam feitas é muito grande.
Décadas antes dos brados da atual esquerda contra o genocídio dos pretos e pobres da favela, era Caco Barcellos quem mensurava o tamanho do problema social e racial na periferia de São Paulo. O mesmo jornalista que detalhou a gênese dos traficantes na favela Santa Marta, no Rio de Janeiro, na obra Abusado (Record, 2003). Sem preconceitos, mas com papel, caneta, entrevistas. O mesmo idealizador do programa Profissão Repórter, que abre o microfone para usuários de crack, para garotas de programa, para sem teto. Sem prejulgamentos, mas com sensibilidade e humanidade.
Tal vitória, claro, tem consequências para a América Latina. A primeira delas tem a ver com a região como um todo. Um EUA mais protecionista afeta diretamente a região, pois esta é essencialmente exportadora e tem naquele um dos principais destinos de seus produtos. Individualmente, as relações tendem a ser tensas com México e distantes com Cuba. Tensas com o México por conta da possível revogação do tratado de livre comércio, deportação de imigrantes e construção de um muro entre os países. Com Cuba, é expectável um retrocesso no processo de reaproximação iniciado por Obama. Isto danifica as relações com todos os outros países da região, dada a centralidade do tema na mesma.
Não estou nem aí para o que os outros pensam, mas também não sou invulnerável. Posso dizer com bastante sinceridade que não é nem um pouco agradável ver as pessoas julgarem a mim e à minha mulher quando nosso filho tem um ataque. Nos sentimos pais fracassados. Porque no fundo sempre temos aquela dúvida: "Será que poderíamos ter feito algo diferente?"
Em vez de tentar especular longamente sobre a política externa que Trump adotará em relação ao mundo e, particularmente, ao Brasil, nos incita refletir e indagar como internamente olhamos para esse país do norte da América, agora sob as perspectivas de seu novo governo. Nos detenhamos a alguns aspectos.
Outro dia eu estava discutindo possíveis planos de viagem com um grupo de pessoas, quando uma delas, depois de manifestar seu interesse em conhecer Lyon, falou: "Mas tenho que encontrar alguém para ir comigo - não vou viajar para lá sozinha. Ninguém quer fazer isso."
Tem também quem já tenha desistido de ser sua melhor versão. Quem sou eu para julgar, mas sou das que pensa que sempre vale a pena se esforçar mais um pouquinho. Pode estar ali, no dia a mais de perseverança, a sua vitória: na jornada, não necessariamente em um final feliz, mas em passos felizes na direção certa. É desafiador romper com a lógica ilógica do mundo e, entenda bem, ninguém tem a fórmula.
Desde a Proclamação da República temos uma bandeira com um texto escrito nela. Quase 130 anos depois, temos duas vezes mais adultos analfabetos, fabricados pela imoralidade, com a qual a estrutura educacional "republicana" trata aos pobres. Desde a infância, nossas crianças são apartadas, separando aquelas tratadas com todo cuidado e com boas escolas e as que sofrem fome, não têm escola e caminham para um destino perdido. Isso é mais do que desigualdade social, é imoralidade, corrupção da estrutura educacional, sem que juízes julguem os culpados ao longo das últimas décadas.
Porque o aterrorizador na eleição de Trump não é a sua incapacidade de lidar até mesmo com o Twitter. Que ele seja inapto para governar, preciso dizer que Hilary não me parece muito diferente, com o acréscimo dado por Zizek em um artigo publicado pelo site da Boitempo, de que a Clinton é um fóssil da guerra fria com tendências imperialistas claras.
Resgatar três meninas que seriam vendidas como prostitutas em uma viagem que fiz à Índia em 2002 mudou minha vida para sempre. Foi meu primeiro encontro com o crime de tráfico de pessoas, também conhecido como escravidão moderna. Saber que a escravidão não era assunto do passado me deixou arrasado e consternado. Depois entendi que ser testemunha de um crime invisível para muitos, mas de proporções epidêmicas, me transformava em cúmplice, se não fizesse nada.
A possibilidade de denunciar o assédio sexual sofrido é importante e já deveria existir há muito tempo, mas minha dúvida é outra. O que eu pergunto, em vez disso, é: "Diante de tanta atenção crítica voltada a seu comportamento, será que os homens agora vão mudar seu modo de agir?". Porque, em última análise, é isso que é realmente necessário para que as coisas mudem.