NOVO BONSAI VOL.01

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• published: 09 Mar 2014
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Rua da Rosa: o encontro, ritual, fotografia Numa determinada realidade, numa cega realidade, o toque é a forma primária de percepção. Numa realidade distinta, condicionada por valores que impõem a distância, é a ultima etapa. Nesta experiência, procurando contornar o senso comum, dois desconhecidos, sobem a um palco vendados e nus, descobrem-se e estabelecem um diálogo táctil. Do outro lado do shôji, o espaço cénico dá lugar ao real onde uma cerimónia do chá sugere um ritmo, rigoroso, visual… "O sentir pelo tacto é […] o principal meio de reconhecimento, que funciona quando há contacto com estranhos […] Este processo em que é usado o sentir corresponde, por assim dizer, à cerimónia de apresentação entre pessoas, na alta sociedade da Spaceland, «tenho muito gosto em pedir que sentis o meu amigo, o sr. Fulano de Tal, e que aceiteis ser por ele também sentido.»" [Edwin A. Abbott em Flatland] Fábrica do Braço de Prata: a projecção Dois desconhecidos, desconhecidos entre eles, desconhecidos para nós, dois indivíduos que se descobrem num palco. E outros dois desconhecidos, agora na plateia, observam que também eles já “inverteram a lei da moral”, reconhecem-se nos corpos nus – os movimentos não se projectam apenas na superfície do papel de arroz, projectam-se neles, antecipam cada gesto como se fosse seu. - Já conheceram alguém sem se protegerem numa redoma de palavras? Percebem quem eu sou apenas pelo tacto? - Não. - Pois não. Mas questionam a percepção que têm de vocês mesmos, o vosso estado social, os vossos medos, o quanto nos afastámos do ser e nos reconhecemos apenas no parecer, o tempo que perdemos a ser “livres” escolhendo as “opções" que nos disponibilizaram. - Não quero. É melhor ficarmos todos atrás da porta a espreitar o corpo pela fresta, sem lhe tocar. - O corpo que espreitas é também o teu. O contacto que evitas é a linguagem que te une mais permanentemente aos outros. - Esquece a retórica, ela já não serve para nos educar e toca-me no peito. “Comprazemo-nos nessa claridade ténue, feita de luz exterior de aparência incerta (…) filtrando-a através do papel dos shôji (…) a luz que ilumina o reverso desses shôji adquire uma cor fria e pálida, como se os raios de sol vindos com dificuldade do jardim até ali, após terem deslizado sob o beirado e atravessado a varanda, tivessem perdido a força de iluminar, como se houvessem ficado anémicos ao ponto de não terem outro poder para além do de sublinhar a brancura do papel do shôji (…) o belo perde a sua existência se lhe suprimirmos o efeito de sombra.” [Junichiro Tanizaki em Elogio da sombra] Rosa Street: encounter, ritual, photography. In a particular reality, in a blind reality, touch is the primary form of perception. In a separate reality, conditioned by values that impose distance, is the last stage. In this experiment, trying to bypass common sense, two blindfolded and naked strangers get on stage, find each other and have a tactile conversation. On the other side of the shôji the stage setting is replaced by reality where a tea ceremony suggests a rigorous visual rhythm. “The tactile feel is [...] the primary means of recognition, which works when there is contact with strangers [...] This process, in which feeling is used, corresponds, so to speak, to the presentation ceremony between people in high society Spaceland, «I am happy to ask that you feel my friend, Mr. John Doe, and that you accept to be felt by him.»" [Edwin A. Abbott in Flatland] Silver Arm Factory: the projection. Two strangers, strangers to each other, strangers to us. Two individuals that find each other on stage. Two other strangers, now in the auditorium, realize that they too have already “inverted the laws of morality” by seeing themselves in the naked bodies. The movements are no longer projections on the surface of the rice paper but projections of themselves, anticipating each gesture as if it were their own. "Let us rejoice in that dim light, made up of dubious exterior light (...) filtering it through the shoji paper (...) the light that illuminates the opposite side of those shoji acquires a cold and pale color, as if the sun's rays, having had difficulty coming up the garden, slipping under the eaves and crossing the balcony, have lost the strength to illuminate, as if they have become anemic to the point of not having any other power but that of emphasizing the whiteness of the shoji paper (...)beauty loses its existence if we suppress the shadow effect. " [Junichiro Tanizaki in Elogio da sombra] conception | photography | vídeo: Filipe dos Santos Barrocas [filbarrocas@gmail.com] music: Henry Leone Johnson

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Rua da Rosa: o encontro, ritual, fotografia Numa determinada realidade, numa cega realidade, o toque é a forma primária de percepção. Numa realidade distinta, condicionada por valores que impõem a distância, é a ultima etapa. Nesta experiência, procurando contornar o senso comum, dois desconhecidos, sobem a um palco vendados e nus, descobrem-se e estabelecem um diálogo táctil. Do outro lado do shôji, o espaço cénico dá lugar ao real onde uma cerimónia do chá sugere um ritmo, rigoroso, visual… "O sentir pelo tacto é […] o principal meio de reconhecimento, que funciona quando há contacto com estranhos […] Este processo em que é usado o sentir corresponde, por assim dizer, à cerimónia de apresentação entre pessoas, na alta sociedade da Spaceland, «tenho muito gosto em pedir que sentis o meu amigo, o sr. Fulano de Tal, e que aceiteis ser por ele também sentido.»" [Edwin A. Abbott em Flatland] Fábrica do Braço de Prata: a projecção Dois desconhecidos, desconhecidos entre eles, desconhecidos para nós, dois indivíduos que se descobrem num palco. E outros dois desconhecidos, agora na plateia, observam que também eles já “inverteram a lei da moral”, reconhecem-se nos corpos nus – os movimentos não se projectam apenas na superfície do papel de arroz, projectam-se neles, antecipam cada gesto como se fosse seu. - Já conheceram alguém sem se protegerem numa redoma de palavras? Percebem quem eu sou apenas pelo tacto? - Não. - Pois não. Mas questionam a percepção que têm de vocês mesmos, o vosso estado social, os vossos medos, o quanto nos afastámos do ser e nos reconhecemos apenas no parecer, o tempo que perdemos a ser “livres” escolhendo as “opções" que nos disponibilizaram. - Não quero. É melhor ficarmos todos atrás da porta a espreitar o corpo pela fresta, sem lhe tocar. - O corpo que espreitas é também o teu. O contacto que evitas é a linguagem que te une mais permanentemente aos outros. - Esquece a retórica, ela já não serve para nos educar e toca-me no peito. “Comprazemo-nos nessa claridade ténue, feita de luz exterior de aparência incerta (…) filtrando-a através do papel dos shôji (…) a luz que ilumina o reverso desses shôji adquire uma cor fria e pálida, como se os raios de sol vindos com dificuldade do jardim até ali, após terem deslizado sob o beirado e atravessado a varanda, tivessem perdido a força de iluminar, como se houvessem ficado anémicos ao ponto de não terem outro poder para além do de sublinhar a brancura do papel do shôji (…) o belo perde a sua existência se lhe suprimirmos o efeito de sombra.” [Junichiro Tanizaki em Elogio da sombra] Rosa Street: encounter, ritual, photography. In a particular reality, in a blind reality, touch is the primary form of perception. In a separate reality, conditioned by values that impose distance, is the last stage. In this experiment, trying to bypass common sense, two blindfolded and naked strangers get on stage, find each other and have a tactile conversation. On the other side of the shôji the stage setting is replaced by reality where a tea ceremony suggests a rigorous visual rhythm. “The tactile feel is [...] the primary means of recognition, which works when there is contact with strangers [...] This process, in which feeling is used, corresponds, so to speak, to the presentation ceremony between people in high society Spaceland, «I am happy to ask that you feel my friend, Mr. John Doe, and that you accept to be felt by him.»" [Edwin A. Abbott in Flatland] Silver Arm Factory: the projection. Two strangers, strangers to each other, strangers to us. Two individuals that find each other on stage. Two other strangers, now in the auditorium, realize that they too have already “inverted the laws of morality” by seeing themselves in the naked bodies. The movements are no longer projections on the surface of the rice paper but projections of themselves, anticipating each gesture as if it were their own. "Let us rejoice in that dim light, made up of dubious exterior light (...) filtering it through the shoji paper (...) the light that illuminates the opposite side of those shoji acquires a cold and pale color, as if the sun's rays, having had difficulty coming up the garden, slipping under the eaves and crossing the balcony, have lost the strength to illuminate, as if they have become anemic to the point of not having any other power but that of emphasizing the whiteness of the shoji paper (...)beauty loses its existence if we suppress the shadow effect. " [Junichiro Tanizaki in Elogio da sombra] conception | photography | vídeo: Filipe dos Santos Barrocas [filbarrocas@gmail.com] music: Henry Leone Johnson