Guerra
Colonial Portuguêsa
Massacres em
Moçambique
“(…a tropa especial e alguns elementos da
DGS, a secreta do Estado, matam em tempo recorde 400 pessoas. Procuram a base do inimigo, mas encontram aldeias indefesas, apenas com mulheres, crianças e velhos desarmados. Fazem-se experiências. Um soldado abre o ventre de uma mulher grávida e mostra-lhe o sexo do feto. Outros colocam os canos das armas na boca de recém-nascidos, à laia de biberão. E as donzelas, depois de satisfazerem o ímpeto dos defensores da pátria, são abatidas. Foi apenas mais uma atrocidade praticada pelo exército colonial, mas esta teve parangonas na imprensa estrangeira porque missionários a denunciaram à opinião pública internacional. (…)”
Massacres em Moçambique, Felícia Cabrita, A Esfera dos Livros, 2008
O excerto acima refere-se àquilo que ficou conhecido como o massacre de Wiryamu, na zona de
Tete, Moçambique, ficando registada como a maior nódoa do exército colonial português, que uns dias antes do
Natal de
1972, roubou a vida a centenas de moçambicanos indefesos…
"Eu ainda me lembro de, nos primeiros meses de
1973, andar a distribuir panfletos de acção psicológica, desmentindo o acontecimento perante os militares da Companhia e da população em geral da área de
Mandimba e
Belém (Belém agora chama-se Mitande). Aliás, para os os altos dirigentes militares (os tais cabeças de ar condicionado), essa povoação nem sequer existia no mapa de
Portugal - leia-se Moçambique -, desmentido esse efectuado pelo nosso então Ministro do Negócios Estrangeiros na
ONU.
Uma vergonha! "
'
Civil Wars' ("
Cutting Heads or
Winning Hearts:
Late Colonial
Portuguese Counterinsurgency and the Wiriyamu
Massacre of 1972").
Mais ou menos pelas pelas 14 horas, 2 reactores bombardearam as povoações de Wiriyamu e Juwau a uns 25 Km de Tete (cidade), no regulado de Gandali; enquanto 5 helicópteros desembarcavam tropas armadas , que cercavam as ditas povoações e metralhavam o povo , que fugia do bombardeamento.
"400", segundo os padres de
Burgos, os primeiros a denunciaram o massacre, "cerca de
200", de acordo com o médico
Rodrigues dos
Santos, que visitou o local pouco depois dos acontecimentos, "63" ou "98", assumidas por autoridades portuguesas, segundo diversas fontes, ou os "450" evocados na base do monumento em Wiriyamu.
Bruno Reis e
Pedro Oliveira defendem, no entanto, que, se pode dizer que se tratou de "matança indiscriminada", já que ninguém foi poupado, também se pode afirmar o seu contrário, no sentido de que "a operação tinha como alvo o que era visto como bases da
Frelimo disfarçadas de aldeias civis" e que os militares portugueses se baseavam em informações aparentemente falsas da
PIDE/DGS.
" O povo tentou fugir, mas os soldados reuniram de novo e imediatamente saquearam as palhotas (roubando dinheiro, roupa, rádios, etc
.).
A seguir as tropas obrigam o povo a bater as palmas, para se despedir da vida, visto que já ia morrer, ordem a que o povo obedeceu. Enquanto batia as palmas, os soldados abriram fogo sobre a população reunida, fuzilando homens, mulheres e crianças. Juntaram os corpos, cobriram-nos de capim e deitaram-lhes fogo."
"Um grupo de soldados juntou uma parte do povo num pátio, para 0 fuzilamento. O povo assim reunido foi obrigado a agrupar-se sentado em dois grupos: 0 grupo dos homens, num lado, e o das mulheres, noutro, a fim de poderem todos ver melhor como iam caindo os fuzilados.
Um soldado chamava por sinal a quem quisesse (quer homem, quer mulher, quer criança),
o designado punha-se de pé, destacava-se do conjunto, 0 soldado disparava sobre ele e a vitima caia fulminada.
Este foi 0 processo que fez mais vitimas. Muitas crianças morreram ao colo das suas maes, fuzilada juntamente com elas."
À operação estão associados o então comandante militar de Moçambique,
Kaúlza de Arriaga, e o seu conceito de luta anti-guerrilha, envolvendo fortes meios aéreos e tropas especiais, e o agente da PIDE/DGS
Chico Kachavi, um moçambicano temido pelos seus conterrâneos.
“"PHANI WENSE !” - ''MATAI-OS A TODOS"
Uma voz autoritaria fazia-se ouvir cam frequencia: "Pham. ,wense!" "Matai-os a todos". "Que não fique nenhum!". Era a voz do agente da
D.G.S., Chico Kachavi.
Diz uma testemunha que um oficial militar tinha sugerido a via da clemencia, no sentido de conduzir aquela pobre gente para um aldeamento. Mas a voz sinistra do agente Chico fez-se ouvir ainda com mais furia: "Sao ordens do nosso chefe" -dizia –“
Matar a todos. Os que se poupam são os que nos têm denunciado".
http://ruilyra.blogspot.pt/2014/11/guerra-do-ultramar-operacao-marosca-o
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- published: 02 Sep 2015
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