Navegação – Mapa do site

Portugal dos Pequenitos: a cristalização de um império ou uma brincadeira de crianças?1

Portugal dos Pequenitos: an empire’s cristalization or a child’s play?
Ricardo Jerónimo Silva

Resumos

Este texto pretende contribuir para a interligação das ideias de nação, império, colonialismo, regionalismo, museologia, e discurso e poder no contexto do século XX português. Para tal, utiliza como cenário físico e simbólico o Portugal dos Pequenitos, parque construído em Coimbra, entre 1938 e 1962. O objetivo é debater o papel desempenhado por este parque com componente museológica, num período de plena afirmação do Estado Novo, mas igualmente explicar a sua edificação no âmbito da obra político-sanitária da Junta de Província da Beira Litoral (a instituição de política regional de maior importância à época) e do plano holístico do seu presidente, o médico Bissaya Barreto (1886-1974). Assim, partindo de um ponto de vista arquitetónico, são analisadas as características físicas deste espaço, tendo em conta a sua relação com a Exposição do Mundo Português (1940), as implicações simbólicas das construções, os subtextos da sua representação e o perfil do seu arquiteto, Cassiano Branco (1897-1970).

Topo da página

Notas da redacção

Artigo recebido a 23.03.2015

Aprovado para publicação a 08.12.2015

Texto integral

Introdução

  • 1 O presente artigo parte das reflexões desenvolvidas no âmbito da tese de doutoramento do autor: Arq (...)

1A expressão de Portugal como nação imperial foi corporizada no Portugal dos Pequenitos, construído em Coimbra, entre 1938 e 1962, sob promoção do médico e político Bissaya Barreto (1886-1974), com projeto arquitetónico de Cassiano Branco (1897-1970). O resultado, apesar de possuir características próprias e diferenciadoras que explicitaremos, seguiu uma lógica que, em boa medida, privilegiava determinados vetores da ideologia estadonovista. Esta evocava estereótipos habitualmente presentes em estruturas propagandísticas e com traços museológicos deste tipo, como a contemporânea Exposição do Mundo Português (1940), em Lisboa, inevitavelmente parcelar e decorrente de uma simplificação da realidade.

A nação e a sua identidade

  • 2 Vejam-se as relações estabelecidas por Matos (2010), neste contexto, com os autores Johannes Fabian (...)

2A ideia de primitivismo, associada aos territórios portugueses de além-mar, evidenciava o posicionamento soberano da metrópole, apelando ao mesmo tempo ao prazer da descoberta através do exotismo das formas e dos objetos. Tratava-se de uma «incorporação da periferia» (Matos 2010, 21) não apenas geográfica, que tomava como adquirida a posição central portuguesa, mas também civilizacional, em que o papel dado ao “outro”2 (Matos 2010, 17) exterior é de permanente dependência da orientação imperial. Com efeito, «não há nada mais internacional do que a formação das entidades nacionais» (Thiesse 2000a, 15), sendo que estas decorrem de pontos de vista unívocos que o pensamento nacionalista privilegia (Conrad 2004). Era, portanto, uma cadeia de relações que estava longe de ser mútua, o que convergia num tipo de hetero-representação que, apesar de aspirar a ser entendida como parte coerente de um todo auto-representado, não deixava de transparecer, de forma evidente, a parcialidade do ângulo de abordagem preferencial, isto é, o «lado civilizador e voluntarioso do português» (Garcia 1992, 416).

  • 3 Veja-se uma síntese deste processo, desde o Acto Colonial, em 1930, até à legislação aprovada em 19 (...)

3Um congelamento mitificado de um somatório de culturas e territórios estilhaçados pelo mundo foi obtido no Portugal dos Pequenitos segundo uma visão de autenticidade unitária, resultado do esforço agregador da nação, enquanto entidade abstrata, sem a qual seria impossível consolidar ou manter o comando do império. Este agrupamento concertado de realidades opostas e distantes visava conferir uma sensação de harmonia, unidade e até complementaridade, aspetos decisivos para um país que, tendo em conta a sua situação político-estratégica, adivinhava dificuldades nas províncias ultramarinas e compreendia a necessidade de conferir nuances ao conceito de império3.

Fig. 1 – Portugal dos Pequenitos: Painel das Rotas Marítimas Portuguesas, com o Infante D. Henrique, 2011

© Ricardo Jerónimo Silva

4Para se atingir a essência desta almejada unidade e se conseguir «orientar a nação para o seu destino singular» era necessário que a verdade se mostrasse «tão evidente e incontestável que se torne coisa natural». Este desígnio é perseguido com base em três eixos: a história, «representação de um passado exemplar»; a alma do povo, «efabulação de traços de carácter tomados por imperecíveis»; e a vocação imperial, «expressão de um génio civilizador e fautor de mundos». Deste modo, procurava assegurar-se uma «identidade inconfundível e inquestionada», construída pela «vontade de heróis e de santos» (Cunha 1994, 98), que culminava no período histórico vigente, exemplarmente posto em prática pelo Estado Novo e devidamente fundamentado no discurso histórico.

  • 4 Traduções do autor, directamente do original, em francês.

5A conceção moderna de nação, enquanto «adesão a uma entidade política», concebe a comunidade como sendo constituída por indivíduos que partilham a mesma cultura material e simbólica, gerando uma «herança coletiva e inalienável» que é transmitida ao longo das gerações, por forma a consolidar um «património cultural nacional»(Thiesse 2000b, 51-55). Mas independentemente das variações nacionais, o modelo de implementação identitário das nações é genericamente baseado nas mesmas categorias: «ancestrais fundadores, uma história que estabelece a continuidade da nação ao longo das vicissitudes da mesma, uma língua, heróis, monumentos culturais, monumentos históricos, lugares da memória, tradições populares, uma paisagem típica»4 (Thiesse 2000b, 52). Todos estes elementos que, por vezes, constituem uma certa «tradição inventada» (Hobsbawm 1983), pretendem atestar a validade histórica dos legados nacionais que, em larga medida era, no Estado Novo, o objetivo principal de eventos comemorativos de datas emblemáticas da narrativa nacional, ou de exposições celebrativas, desfiles nacionalistas ou coloniais, bem como de museus etnográficos (Ramos 2004, 67-69).

O regionalismo e o Mundo Português

  • 5 Veja-se os quatro pontos principais do «núcleo consensual do ideário colonial» apontados for Fernan (...)

6O Portugal dos Pequenitos surgiu precisamente neste enquadramento, associado cronologicamente às comemorações dos centenários de 1940, mas direcionado para duas realidades específicas: a afirmação político-regionalista das Beiras e a dedicação à Criança enquanto símbolo de futuro. No que toca ao regionalismo promovido por Bissaya Barreto, em que Coimbra figurava como capital de um centro com forte autonomia política, este apresentava-se integrado na lógica de um Portugal imperial, segundo uma «herança ideológica do liberalismo e republicana» (Rosas 1995, 23), consolidada no século XIX5. Já o cariz pueril e lúdico daquele espaço remetia para uma aproximação aparentemente ligeira, mas em que imperava também a solenidade histórica, onde as crianças e os adultos seus acompanhantes podiam, em poucos passos, percorrer diferentes continentes e épocas, cristalizados na evocação de uma realidade áurea, mas apontada a uma desejada continuidade geracional.

7Num espaço como este Parque, que albergava uma componente etno-museológica no interior dos Pavilhões das Colónias, o papel da memória, enquanto evocadora da atualidade do passado, tinha como função garantir a carga identitária de um coletivo (Felgueiras 2005, 89). Este enquadramento ajudava a sintetizar as permanências da nossa História, às quais ser fiel era apontado por António de Oliveira Salazar como uma «missão histórica» da nação (Salazar 1943, VIII), ao mesmo tempo que se enaltecia a instauração da ordem. Estas eram também, em parte, as premissas para a idealização do Portugal dos Pequenitos, compaginadas com o pensamento político e perfil ideológico de Bissaya Barreto, que pugnava pela implementação de um Estado autoritário «como a saída para os principais problemas de então, e pela valorização da criança, da infância, na qual tais regimes depositam a esperança da sua continuidade» (Paulo 1990, 406). Assim, queria-se a criação de um mundo perfeito, controlado, harmonioso, higiénico, no qual a ancestralidade se confundisse com o porvir, reflexo de todo um programa político-sanitário. As consequências da sua influência não se desejavam efémeras, nem tão pouco etéreas. A confluência de significados, expressa na formalização quase surreal dos elementos construtivos feitos à escala das crianças, visava a materialização física da perpetuidade dos valores perfilhados e atuando de geração em geração. Daí a vontade, concretizada, de edificar este parque numa lógica de espaço perene, fugindo às manifestações passageiras associadas a eventos meramente comemorativos, como a Exposição do Mundo Português.

  • 6 Responsável pela tradução para português da biografia escrita por Pierre Goemaere (1942) e também p (...)

8Apesar de representar um certo decalque conceptual inescapável à grandiosidade cenográfica do evento da capital, maioritariamente desmantelada com o encerrar das festividades, o Portugal dos Pequenitos respondia com a amabilidade de um espaço acolhedor, também ele indutor de mentalidades, mas menos impositivo e com uma vantagem, ser eterno. Esta subtileza é indissociável do público-alvo determinado como utilizador primordial do espaço, as crianças. Num ambiente de jogo, de aprendizagem, de são contacto com a natureza, de fruição espacial e de deambulação lúdica, procurava-se um espírito fértil e não passageiro, visão para a qual terá tido importância a relação de Bissaya Barreto com Henrique Galvão6. Este capitão do exército, a quem fora atribuída a responsabilidade da Secção Colonial da Exposição do Mundo Português, expressou abertamente e sem constrangimentos verbais o seu descontentamento com a forma como boa parte das construções daquele certame tinha sido programada, não dispondo, ao contrário da sua Secção, de «um plano definido e de um pensamento nítido». Um dos principais motivos desta divergência prendia-se com o facto de considerar desadequada e descabida a opção de projetar construções maioritariamente efémeras e que cumpririam o seu propósito de imponente encenação apenas durante o período de vigência do evento. No seu entender, era mais lógico «aumentar o rendimento das verbas despendidas na Exposição pela conservação, para outros fins, das obras realizadas por motivo do certame», utilizando «materiais definitivos» e prevendo a criação «de um Museu que, incompreensivelmente, ainda não existe na capital da terceira potência colonial do Mundo: o Museu Popular das Colónias». Encontramos, assim, na sua visão global, a comunhão com os objetivos de Bissaya Barreto para o Portugal dos Pequenitos, ficando isso uma vez mais claro na vontade de erigir não «o museu palaciano a que a Europa está habituada», mas antes um «museu-parque, onde além de ser possível a exposição de tudo o que nos palácios se pode apresentar, se poderiam ainda demonstrar, em mais alguma coisa do que maquettes, os estilos e as formas da arquitectura das colónias» (Galvão 1940, 17-19).

9O Portugal dos Pequenitos, tal como a exposição lisboeta, não pretendia explanar, com rigor, a História de Portugal, antes visava apresentar e exaltar uma História, aquela que mais fácil e firmemente canalizava os conteúdos necessários à solidificação do ideário que lhe estava subjacente. Em Coimbra encontrava-se esse espelho da regeneração nacional, através de um traço que, por ser infantilizado, poderia ser menorizado, mas que se revelava, em consonância com a narrativa vigente, autêntico e duradouro. Perante o almejado ressurgimento da nação, fortemente apoiado no campo da moralidade, a saúde dos corpos e dos espíritos deveriam progredir de mãos dadas, sendo esta uma vertente seminal do pensamento político-sanitário de Bissaya Barreto, segundo a qual construiu toda uma rede de equipamentos de cariz hospitalar, assistencial e educacional, mediante um pressuposto holístico.

O autor e a autoridade

10Em sentido lato, um aspeto em constante presença na ação de Bissaya Barreto prende-se com os canais usados durante a elaboração de um projeto e a sua edificação, estabelecendo-se numa orientação de triplo sentido: no seio das relações políticas e institucionais (desde as diversas entidades políticas, assistenciais, culturais e económicas da região, passando pelas mais altas esferas de poder nacional, incluindo naturalmente Salazar); no fundamental diálogo com os técnicos que participavam nas obras, fossem eles arquitetos, engenheiros, construtores ou paisagistas, determinando em grande medida o tipo de implantação, a “traça” dos edifícios, os materiais a usar, a organização funcional, as relações espaciais de interior e exterior, o desenho dos jardins, o mobiliário e a decoração; e, por último, na projeção pública, criando uma narrativa operacional que acompanhava e era cenário do crescimento de cada geração, envolto numa diegese funcional, estética, ética, política e médica, que solidamente instituía dispositivos de poder.

11Embora tenha sido uma obra quase autónoma relativamente ao conjunto de equipamentos por si promovidos, maioritariamente ligados à saúde, também o Portugal dos Pequenitos foi exemplo desta estratégia de comunicação. E esta terá mesmo sido a obra que, de forma mais patente, sintetizou os diversos níveis de interpretação e representação autoral, não apenas de um ponto de vista de planificação sociopolítica, mas também numa perspetiva idiossincrática pessoal.

12Na conferência O que é um autor?, proferida em 1969, Michel Foucault referia-se ao papel da crítica literária moderna, mas estabelecendo um pressuposto que, no nosso entender, se pode aplicar também ao papel de Bissaya Barreto enquanto promotor de obras: o autor «é igualmente o princípio de uma certa unidade de escrita, pelo que todas as diferenças são reduzidas pelos princípios da evolução, da maturação ou da influência» (Foucault 2002, 53). Ainda neste contexto, reconhecia que a autoria «comporta ainda novas determinações quando se procura analisá-la em conjuntos mais vastos, como grupos de obras ou disciplinas inteiras» (Foucault 2002, 67). Deste modo, esta problemática de análise pode ser facilmente enquadrada na atividade político-sanitária de Bissaya Barreto, uma vez que a valorização autoral das obras colocava-as num plano no qual a autoridade, expressa «à vista de todos e em nome de todos, publicamente e oficialmente» as subtraía «ao arbitrário, sanciona-as, santifica-as, consagra-as, fazendo-as existir como dignas de existir» (Bourdieu 1989, 114).

13Este tipo de existência possuía um carácter intrinsecamente regionalista que permaneceu, desde o período de juventude, embebido nas lutas antimonárquicas e que foi determinante para a sua ação e posicionamento. Deste modo, impulsionado pelos cargos políticos que ocupava, Bissaya Barreto procurou assumir-se como representante máximo de uma região que tinha Coimbra como seu polo central e na qual desejava deixar marca.

14Como afirma Pierre Bourdieu, «o discurso regionalista é um discurso performativo» que, de forma consciente, procura «impor como legítima uma nova definição das fronteiras e dar a conhecer e fazer reconhecer a região assim delimitada». Daqui decorre que, enquanto representante de uma região, o médico atuava inevitavelmente «contra a definição dominante, portanto, reconhecida e legítima, que a ignora» (Bourdieu 1989, 116), sendo constantes as suas intervenções no sentido de contrariar a acentuada bicefalização do país. O mesmo autor sublinha ainda que a constante atitude de «reivindicação regionalista» funciona como uma «resposta à estigmatização que produz o território de que, aparentemente, ela é produto», pois, de facto, «se a região não existisse como espaço estigmatizado, como “província” definida pela distância económica e social (e não geográfica) em relação ao “centro”», então esta não teria fundamentos para «reivindicar a existência». Assim, é pela consumação da região enquanto «unidade negativamente definida pela dominação simbólica e económica, que alguns dos que nela participam podem ser levados a lutar» (Bourdieu 1989, 126-127).

15A permanente atividade de Bissaya Barreto, analisando os problemas, traçando os programas, promovendo as soluções e divulgando os resultados, era decorrente de uma inegável obsessão concretizadora, sendo o seu dínamo realizador alimentado, também, por uma vontade em transformar a obra «numa espécie de projeção psicológica de si próprio» (Bandeirinha 1996, 32). Esta situação era particularmente clara no Portugal dos Pequenitos, materialização que funcionava como catalisador de uma afirmação de domínio, pois um «acto de categorização, quando consegue fazer-se reconhecer ou quando é exercido por uma autoridade reconhecida, exerce poder por si» (Bourdieu 1989, 116). E, assim, estabelecia e consolidava o seu «poder estruturante», porque estruturado e simbólico, construído segundo uma «ordem gnoseológica», enquanto forma «transfigurada e legitimada» de «outras formas de poder» (Bourdieu 1989, 9-15).

A arquitetura e a construção

16Sendo verdade que, na esfera da relação entre poder e arte, «o sentido que se dá às coisas é mais importante do que a forma que possam assumir» (Cunha 1994, 102), no caso do Portugal dos Pequenitos, a concetualização das formas construídas está indelevelmente vinculada aos desígnios almejados pelo seu arquiteto, Cassiano Branco, e pelo seu ideólogo, Bissaya Barreto que, como promotor de obras, era profusamente interventivo nas mesmas, desde a idealização à construção, passando pelo projeto.

17Construído entre 1938 e 1962, pretendia-se que o Portugal dos Pequenitos fosse entendido não como uma caricatura ou um simples «museu de miniaturas arquitectónicas», mas sim como um verdadeiro parque pedagógico «com o objectivo de ensinar a criança, recreando-a» (Branco 1946, 8). Ao mesmo tempo e no mesmo espaço, coabitavam a ruralidade e a simplicidade vivencial portuguesas, com a grandiosidade e a nobreza dos seus heróis e do seu império, concebendo o enquadramento imperial da nação como crucial para o destino do país, estando as colónias incluídas no património sagrado de Portugal (Marques 1988).

Fig. 2 – Portugal dos Pequenitos: Jardim da Casa da Criança Rainha Santa Isabel

© Estúdio Mário Novais, Biblioteca de Arte Gulbenkian (CFT003-60259)

  • 7 Um de muitos jardins de infância que o médico promoveu em diversos municípios da região centro.

18Originalmente, a idealização do Portugal dos Pequenitos surgiu no seguimento da vontade de criar um jardim de recreio para a Casa da Criança Rainha Santa Isabel7. O objetivo era claro e transparecia no desenho do espaço, desde os primeiros esboços: concentrar, num recinto fechado, uma síntese da nação à escala das crianças. Esta área queria concentrar e materializar a mitologia veiculada pelo Estado Novo, em que a ruralidade, enquanto reflexo da simplicidade moral, juntamente com a austeridade e a decência, coabitavam com a celebração das épicas glórias do passado, cuja esplendorosa herança era o império português.

  • 8 Veja-se alguns dos discursos de inauguração das Casas da Criança, escritos pelo médico em Uma Obra (...)

19Como resultado, este Parque, espaço onde se pretendia que as crianças, intuitiva e ludicamente, percebessem o seu lugar na gloriosa evolução histórica de Portugal, funcionava à semelhança de uma «biblioteca para crianças» (Branco 1946, 8). A analogia ia ao encontro dos ideais republicanos da Escola Nova8, valorizados por Bissaya Barreto e fortemente devedores do pensamento de figuras como Friedrich Fröbel, Jean-Jacques Rousseau, Johann Pestalozzi e Maria Montessori, que defendiam um ensino baseado em atividades práticas e ao ar livre, em contraponto à visão salazarista de um ambiente retórico e tradicional das salas de aula. Assim, o Portugal dos Pequenitos era visto pelos seus criadores como a materialização de três “lições” adequadas às idades dos visitantes e baseadas num somatório de “livros” (Branco 1946, 8), da mesma forma que o Pavilhão de Lisboa, na Exposição do Mundo Português, era considerado pelo seu comissário-geral, Augusto de Castro, uma «revista ilustrada» e a Exposição, no seu todo, um «grande livro colorido» (Acciaiuoli 1998, 160-164). Este imaginário era ainda potenciado pelas inscrições colocadas em alguns dos edifícios-miniatura, com citações de famosas personalidades portuguesas, mas também com ditados populares, numa atitude semelhante à usada nos livros escolares com a mesma intenção moralizante (Mónica 1978, 283).

20A estratégia de Bissaya Barreto e Cassiano Branco acompanhou também a ideia de plano-síntese defendido por Augusto de Castro, no entanto, conferiu fulcral importância a um fator adicional: a região, em amplo senso, enquanto modelo organizativo do território português. Com efeito, para além da inspiração no referido evento da capital, foi com os alicerces neste substrato ideológico de organização territorial que surgiram no Portugal dos Pequenitos as casas típicas de cada região, os aglomerados de monumentos organizados mediante as várias zonas do país e um pavilhão para cada colónia além-mar. A planta geral deste livro a céu aberto transparecia também os modelos frequentemente utilizados naquele tipo de exposições, organizado em diferentes secções que funcionavam em conjunto. Mais uma vez, a influência do projeto da Exposição lisboeta foi certamente decisivo, visto que esta também contava com várias secções como a histórica, a de etnografia metropolitana e a colonial, sendo que a Secção Regional evidenciava algumas semelhanças, não só em termos de organização interna, como também do próprio traçado do seu perímetro.

Fig. 3 – Portugal dos Pequenitos: Secção Metropolitana

© Estúdio Mário Novais, Biblioteca de Arte Gulbenkian (CFT003-110336)

21A primeira fase de construção do Portugal dos Pequenitos, junto à já referida Casa da Criança, foi inaugurada a 8 de junho de 1940, tendo sido designada Secção Metropolitana. Tratava-se da primeira lição «destinada às classes infantis até aos 10 anos» e era constituída por um aglomerado de casas típicas das diversas regiões de Portugal. Apesar de ter em vista uma aspiração universalista, o Parque buscava uma conexão entre esse paradigma e as noções de simplicidade, ruralidade e tradicionalismo, indo ao encontro da ideia da «casa portuguesa» (Rosmaninho 2002), na qual a cristalização de modelos arquitetónicos, a que correspondem tipos, era apresentada como representativa das habitações de cada região do país. Para além destas casas, dispostas circularmente, estavam previstos outros elementos que constituíam a “Aldeia”: hortas, estábulos e capoeiras, uma escola, um espigueiro e uma eira, um canal aquático com uma azenha, um solar, um castelo, um moinho, umas minas e, finalmente, uma capela. Este espaço foi marcado, de forma simbólica, pela estátua equestre de Afonso Henriques, também ela a uma escala apropriada aos olhos das crianças, sendo a figura realizada por Leopoldo de Almeida que, juntamente com Cottinelli Telmo, desenhara o Padrão dos Descobrimentos. Neste, o Infante D. Henrique, olhando dramaticamente o horizonte, simbolizava os heróis dos descobrimentos portugueses, mas, no Portugal dos Pequenitos, o mesmo surgia numa pose bem mais serena, junto a um mapa mundial, admirando as rotas marítimas dos navegadores lusos.

Fig. 4 – Portugal dos Pequenitos: Secção Colonial, Pavilhão da Guiné-Bissau, 2011

© Ricardo Jerónimo Silva

22Entre 1940 e 1950 foram construídos, no extremo norte do terreno, os Pavilhões das Colónias, representando o Portugal insular e ultramarino. Esta secção abria a possibilidade de, em pequenos passos, percorrer diferentes continentes e séculos (Bandeirinha 1996), o que emprestava ao Portugal dos Pequenitos uma importante força simbólica no que respeita à validação da identidade da nação imperial, enquanto entidade coerente. A afirmação física da presença dos portugueses nas colónias era olhada como algo que ia para além da lógica de supremacia militar, económica e política. No interior de cada pavilhão deste sector estavam expostas coleções etnográficas, representando os costumes e tradições da respetiva colónia, para que cada pavilhão fosse um «stand permanente das atividades comercial, industrial, cultural e artística de Povos das nossas Colónias», permitindo a que cada visitante «grande e pequenito», pudesse estar «em contacto com a terra e a vida das nossas possessões insulares e ultramarinas» (Barreto 1944, 198). O próprio desenho desses edifícios procurava transparecer a sua arquitetura superficialmente característica, funcionando como uma apropriação cultural, sedimentada no domínio dos povos colonizados e transparecendo uma noção de diversidade que interessava evidenciar, no sentido de contribuir para a explanação historicista do império.

Fig. 5 – Portugal dos Pequenitos: Secção Monumental, 2011

© Ricardo Jerónimo Silva

23Finalmente, a partir dos primeiros anos da década de 1950 até 1962, desenvolveu-se a Secção Monumental que, juntamente com a Colonial, era mais direcionada para as crianças maiores de dez anos e se dividia em cinco áreas, cada uma delas representando uma região de Portugal continental: Coimbra, Norte, Lisboa, Ribatejo/Santarém e Sul. Esta secção era constituída por construções que justapunham elementos formais emblemáticos de vários monumentos de cada região, compondo uma estrutura unificada por acumulação. Cada bloco era designado por “Pavilhão”, embora a sua configuração arquitetónica não fosse a de um edifício isolado, formalmente autónomo. Assim, o modo como os monumentos eram colocados fora do seu contexto, seguia apenas em parte a linha do «entendimento estadonovista de monumento enquanto sistema de representação» (Bandeirinha 1996, 60). Com efeito, o regime vinha fazendo um grande esforço para recuperar ou reconstruir um grande número de monumentos ao longo do território português, numa perspetiva de unificar, o mais possível, a sua feição. O desígnio era que a própria força simbólica da construção ganhasse portabilidade no imaginário coletivo, principalmente através da sua imagem icónica e não tanto pelo seu particular desenho arquitetónico. Mas esta interpretação não estava totalmente sintonizada com a usada no Portugal dos Pequenitos. A Secção Monumental continha representações de partes de monumentos em mini-escala, agrupadas em unidades que se reuniam por assemblagem, organizadas e unificadas não pelo estilo ou período temporal, mas pela sua localização geográfica, resultando em edificações quase surrealistas. A título de exemplo, a chamada “Casa de Coimbra” incluía, num mesmo conjunto, os decalques formais das seguintes referências arquitetónicas da cidade: Mosteiro de Santa Cruz, Sé Velha, Paço Episcopal, Aqueduto de S. Sebastião, Muralha da Cidade, Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Torre d’Anto, Igreja de S. António dos Olivais, Páteo da Universidade, Mosteiro de Celas, Portal de S. Tomás, Igreja de S. Tiago, Arco de Almedina, Casa da Nau, Casa de Sub-Ripas.

24Analisando o resultado final não só desta mas de todas as construções, facilmente reconhecemos a capacidade em Cassiano Branco para, inteligentemente, jogar com o dinamismo de vários volumes. Esta era, conscientemente, uma conceção artística e plástica, mas representava também um resultado natural, ainda que em paradoxo, do espírito dos objetos pretendidos. Ou seja, a absoluta necessidade de concentrar, em áreas ou edifícios limitados, uma enorme variedade de informação, elementos e símbolos, resultava da necessidade de evocar diversas eras históricas. O habitual toque interventivo de Bissaya Barreto foi igualmente sentido nesta obra. Cassiano Branco enviava os desenhos diretamente para o médico e, se compararmos os esboços originais e as construções, é evidente que aqueles eram muito mais depurados, tendo uma abordagem modernista. Em alguns deles, o arquiteto não incluía grandes detalhes, deixando elementos apenas representados pelo seu contorno (como janelas ou torreões), pois sabia que, posteriormente, ele próprio (como acontece em alguns desenhos de visita à obra) ou o promotor, por intermédio dos construtores, se encarregaria de ocupar os espaços vazios in situ (Bandeirinha 1996, 57).

25Aliando ao que vimos aflorando a sensibilidade artística e o perfil estoico de Bissaya Barreto, é fácil compreender o elevado grau de obsessão envolvido neste projeto. Para além disso, o facto de a conclusão dos trabalhos ter acontecido cerca de 25 anos após o seu início, tornou esta autenticamente na obra de uma vida. A metáfora maçónica da permanente e melhorada construção do ser e de uma nova sociedade era abraçada pelo médico como uma utopia individual que, ao mesmo tempo, idealmente conduziria para uma utopia coletiva (Sousa 1999). Estas duas vertentes encontraram uma expressão perfeita não só no Parque em si, mas na sua história e evolução. Assim, o Portugal dos Pequenitos era, ao mesmo tempo, a expressão de uma quimera projetada no futuro, mas enraizada no passado, criando a ambivalência de uma utopia-pretérita. O cenário em miniatura, juntamente com a sua fronteira bem definida, direcionava-se, obviamente, para o imaginário infantil. Mas, acima de tudo, fazia transparecer uma premissa essencial do seu promotor: a capacidade ou, pelo menos, a expressão do desejo em controlar e guardar todo o futuro de um império, através das suas crianças, na palma da sua mão. Quase como um supremo general, debruçando-se sobre um mapa militar, mas com a presença de uma forte componente filosófica e pedagógica.

  • 9 Nomeadamente, Nuno Teotónio Pereira, Paulo Varela Gomes, Raúl Hestnes Ferreira e José Manuel Fernan (...)

26A materialização deste anseio foi também um desafio para o arquiteto que, para além de usar neste projeto uma ironia arquitetónica erudita (Gomes 1991), também se deixou entusiasmar pelo sentido de jogo lúdico que se relacionava com a representação – e a representatividade – deste pequeno mundo português. Aceitando, tal como defendem alguns autores9, que as expressões tradicionalistas e nacionalistas, incluídas em determinadas obras de Cassiano Branco, resultavam de uma abordagem irónica ou quase caricatural aos valores anacrónicos estabelecidos – na sociedade, nos encomendadores e no poder político –, então o Portugal dos Pequenitos foi o auge dessa postura. Enquadrando ainda o planeamento desta obra numa envolvência de cariz utópico, é importante ter também em conta que Cassiano Branco tinha-o já demonstrado em dois projetos, de 1930, nunca construídos: o Plano para a Costa da Caparica e a Cidade do Filme Português, em Cascais. No entanto, estes trabalhos encerravam um sonho feito de cosmopolitismo urbano, enquanto em Coimbra a essência deste tema foi confiada de modo privilegiado aos significantes simbólicos, perpetuando uma evocação nostálgica, que decorria num palco marcado pelas formas arquitetónicas singulares.

Conclusão

  • 10 Para um maior aprofundamento sobre a construção do Portugal dos Pequenitos, veja-se os livros 16-23 (...)

27Tal como referia no seu discurso de inauguração, Bissaya Barreto pretendia que o Portugal dos Pequenitos10 se tornasse um espaço onde crianças e adultos pudessem apreender «o orgulho de ser Português, o culto de tudo o que é Português» (Barreto 1940, 5-7). Expressando o mesmo pensamento, alguns meses antes, Thomaz Ribeiro Colaço, nas páginas de uma revista por si dirigida, afirmava: «ali se procura que a criança brinque, alegremente, despreocupadamente; mas põe-se-lhe ao alcance um delicioso brinquedo que elucida e instrui; mas um brinquedo de sonho, que nele cria uma visão e uma noção Portuguesas» (Colaço 1939, 10). A intenção era que, pelo enaltecimento da grandiosidade e glória portuguesas, mas apreciando também a sua simplicidade e humildade, quem visitasse o Portugal dos Pequenitos, aprendesse não apenas a amar Portugal, mas principalmente como o amar. Ali se experienciaria a boa e verdadeira maneira de ser português.

28Como indicámos, o paradigma histórico do regime ditatorial induzia a ideia de um passado heróico que devia ser reverenciado e que era o pano de fundo para uma ainda grande nação. Contudo, e apesar dos esforços para o esconder atrás da exaltação do império, este era um país fechado em si mesmo.

29Deste modo, o Portugal dos Pequenitos funciona atualmente como um espelho, a vários níveis. Por um lado, na forma como, quando foi construído, cristalizou um passado secular; por outro, na maneira como hoje expressa a realidade vigente no período ditatorial. A concetualização arquitetónica do Parque permitia às crianças fingir que eram adultas, dando-lhes liberdade espacial e imaginativa, mas igualmente possibilitava aos adultos conduzir pedagogicamente a sua descendência, ao mesmo tempo que estavam integrados num meridiano da sua própria melancolia infantil. Este aspeto era reforçado pela circunstância de todo o espaço estar preenchido com referências onde os parâmetros mentais que estabelecem a fronteira entre o sonho e a realidade, simultaneamente se desvaneciam e se entrecruzavam.

30Embora, como afirmámos, o Portugal dos Pequenitos se inspire evidentemente no programa da Exposição do Mundo Português, era olhado de maneira absolutamente diversa: um Parque feito especificamente para a Criança, um lugar de reverência mas de divertimento, um espaço totalmente controlado e fechado em si mesmo, um mundo de sonho onde a nação, perfeita, descansava. E, ao contrário da exposição de Lisboa, este não foi efémero, perdurando até hoje.

31Além deste espaço, que continua a ser frequentado anualmente por milhares de visitantes, estão ainda em atividade muitos dos equipamentos hospitalares e educacionais promovidos por Bissaya Barreto no século passado, ao longo da região centro. Foi, pois, no entrelaçamento desta rede sistémica que se consubstanciou uma visão político-sanitária, onde o pendor historicista e moralizante era fundamental, sendo a narrativa da extrapolação região-nação-império claramente valorizada. Os indivíduos integrados nesta rede, desde a infância, transformavam a sua existência numa «vida perfeitamente higiénica» (Barreto 1970, 294), holisticamente planeada pelo médico. No Portugal dos Pequenitos, todos estes elementos confluíram numa síntese diegética, posta em prática ludicamente, através de um fantástico enredo arquitetónico.

Topo da página

Bibliografia

Acciaiuoli, Margarida. 1998. Exposições do Estado Novo: 1934-1940. Lisboa: Livros Horizonte.

Bandeirinha, José António Oliveira. 1996. Quinas Vivas. Porto: FAUP (Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.

Barreto, Fernando Bissaya. 1940. Jornal A Saúde, ano X, 229 e 230 (julho): 5-7.

Barreto, Fernando Bissaya. 1944. “Acta da Sessão de 15/01/1944.” Centro de Documentação da Fundação Bissaya Barreto (CDFBB), AUC-AD-14 – Livro de Actas da Junta de Província da Beira Litoral - 15/06/1942 a 15/02/1944, fls. 195v-198.

Barreto, Fernando Bissaya. 1970. Uma Obra Social Realizada em Coimbra. Coimbra: Imprensa de Coimbra.

Bourdieu, Pierre. 1989. O Poder Simbólico. Lisboa: Difel.

Branco, Cassiano. 1946. Portugal dos Pequenitos (Casa de Coimbra). Coimbra: Tipografia da Escola Agrícola de Semide - Junta de Província da Beira Litoral.

CDFBB. 1944. “Acta da Sessão de 15/01/1944.” Centro de Documentação da Fundação Bissaya Barreto (CDFBB), AUC-AD-14 – Livro de Actas da Comissão Administrativa da Junta de Província da Beira Litoral - 15/06/1942 a 15/02/1944, fls. 1v-9v.

Colaço, Thomaz Ribeiro. 1939. “A Cidade das Crianças.” A Arquitectura Portuguesa e Cerâmica e Edificação Reunidas 3.ª série, XXXII (57): 8-19.

Conrad, Christoph. 2004. “National Historiography as a Transnational Object.” In Representations of the Past: The Writing of National Histories in Europe, 3-5. [s.l.]: European Science Foundation.

Cunha, Luis Manuel. 1994. “A Nação nas Malhas da sua Identidade: o Estado Novo e a Construção da Identidade Nacional.” Trabalho de síntese para efeito de provas de aptidão pedagógica e capacidade científica, Universidade do Minho.

Felgueiras, Margarida Louro. 2005. “Materialidade da Cultura Escolar: A Importância da Museologia na Conservação/Comunicação da Herança Educativa. Pro-Posições 16, I (46): 87-102.

Foucault, Michel. 2002. O Que é um Autor? Tradução de António Fernando Cascais e Eduardo Cordeiro. 5.ª ed. Lisboa: Vega.

Galvão, Henrique; Malta, Eduardo; Lapa, Manuel. 1940. Portugal 1940: Álbum Comemorativo da Fundação. Porto: Litografia Nacional.

Garcia, José Luís Lima. 1992. “A Ideia de Império na Propaganda do Estado Novo.” Separata da Revista de História das Ideias 14, 411-424.

Goemaere, Pierre. 1942. Bissaya Barreto. Tradução de Henrique Galvão. Lisboa: Bertrand.

Gomes, Paulo Varela. 1991. “O Fazedor de Cidade.” In Cassiano Branco: Uma Obra para o Futuro, 110-115. Lisboa: Edições Asa.

Hobsbawm, Eric. 1983. “Invented Traditions.” In The Invention of Tradition. 1-14. Cambridge: Cambridge University Press.

Maia, Augusta Adrêgo, coord. científica. 1991. Cassiano Branco: Uma Obra Para o Futuro. Lisboa: Edições Asa.

Marques, A. H. Oliveira. 1988. Ensaios de História da I República Portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte.

Matos, Patrícia Ferraz. 2010. “A História e os Mitos: Manifestações da Ideologia Colonial na Construção do Portugal dos Pequenitos em Coimbra”. Comunicação apresentada no CIEA7 - 7.º Congresso Internacional de Estudos Africanos no Mundo Ibérico, Lisboa, Instituto Universitário de Lisboa (IUL).

Mónica, Maria Filomena. 1978. Educação e Sociedade no Portugal de Salazar (A Escola Primária Salazarista 1926-1939). Lisboa: Presença.

Paulo, Heloísa Helena de Jesus. 1990. “Portugal dos Pequenitos: Uma obra Ideológico-social de um Professor de Coimbra.” Revista de História das Ideias 12: 395-413.

Pinto, Paulo Tormenta. 2007. Cassiano Branco, 1897-1970: Arquitectura e Artifício. Casal de Cambra: Caleidoscópio.

Ramos, Francisco Martins. 2004. Etnografia Geral Portuguesa. Lisboa: Universidade Aberta.

Rosas, Fernando. 1995. “Estado Novo, Império e Ideologia Imperial.” Revista de História das Ideias 17: 19-32.

Rosmaninho, Nuno. 2002. “A ‘Casa Portuguesa’ e outras ‘Casas Nacionais’.” Revista da Universidade de Aveiro. Letras 19-20: 225-250.

Salazar, António de Oliveira. 1943. Discursos e Notas políticas, 1938-1943. Coimbra: Coimbra Editora.

Silva, Ricardo Jerónimo. 2013. “Arquitectura Hospitalar e Assistencial Promovida por Bissaya Barreto.” Tese de doutoramento em Arquitetura, na especialidade de Teoria e História da Arquitetura, Universidade de Coimbra.

Sousa, Jorge Pais de. 1999. Bissaya Barreto: Ordem e Progresso. Coimbra: Minerva.

Thiesse, Anne-Marie. 2000a. A Criação das Identidades Nacionais. Lisboa: Temas & Debates.

Thiesse, Anne-Marie. 2000b. “Des fictions Créatrices: les Identités Nationals.” Romantisme 110: 51-62.

Topo da página

Notas

1 O presente artigo parte das reflexões desenvolvidas no âmbito da tese de doutoramento do autor: Arquitectura Hospitalar e Assistencial Promovida por Bissaya Barreto (2013).

2 Vejam-se as relações estabelecidas por Matos (2010), neste contexto, com os autores Johannes Fabian, Adam Kuper e Gustav Jahoda.

3 Veja-se uma síntese deste processo, desde o Acto Colonial, em 1930, até à legislação aprovada em 1961, no contexto da eclosão da guerra em Angola (Garcia 1992, 424).

4 Traduções do autor, directamente do original, em francês.

5 Veja-se os quatro pontos principais do «núcleo consensual do ideário colonial» apontados for Fernando Rosas: a «missão história de colonizar e civilizar», a «concepção de superioridade do homem branco», o «direito histórico à ocupação e manutenção do império» e a defesa da «independência nacional», juntamente com a «salvaguarda da soberania portuguesa metropolitana» (Rosas 1995, 23-25).

6 Responsável pela tradução para português da biografia escrita por Pierre Goemaere (1942) e também pelo argumento do filme-documentário Rumo à Vida (1950), que retratava a obra de Bissaya Barreto e da sua Junta de Província da Beira Litoral. A sua dissidência do Estado Novo ficou expressa mediaticamente no assalto ao paquete Santa Maria, em 1961, acabando exilado no Brasil.

7 Um de muitos jardins de infância que o médico promoveu em diversos municípios da região centro.

8 Veja-se alguns dos discursos de inauguração das Casas da Criança, escritos pelo médico em Uma Obra Social Realizada em Coimbra (1970).

9 Nomeadamente, Nuno Teotónio Pereira, Paulo Varela Gomes, Raúl Hestnes Ferreira e José Manuel Fernandes, no livro Cassiano Branco: Uma Obra de Futuro (1991) e Paulo Tormenta Pinto, em Cassiano Branco: Arquitectura e Artifício (2007).

10 Para um maior aprofundamento sobre a construção do Portugal dos Pequenitos, veja-se os livros 16-23 e 39 das Atas da Junta de Província da Beira Litoral (presidida por Bissaya Barreto), presentes no Centro de Documentação da Fundação Bissaya Barreto, em Coimbra.

Topo da página

Índice das ilustrações

Legenda Fig. 1 – Portugal dos Pequenitos: Painel das Rotas Marítimas Portuguesas, com o Infante D. Henrique, 2011
Créditos © Ricardo Jerónimo Silva
URL http://midas.revues.org/docannexe/image/993/img-1.jpg
Ficheiros image/jpeg, 548k
Legenda Fig. 2 – Portugal dos Pequenitos: Jardim da Casa da Criança Rainha Santa Isabel
Créditos © Estúdio Mário Novais, Biblioteca de Arte Gulbenkian (CFT003-60259)
URL http://midas.revues.org/docannexe/image/993/img-2.jpg
Ficheiros image/jpeg, 676k
Legenda Fig. 3 – Portugal dos Pequenitos: Secção Metropolitana
Créditos © Estúdio Mário Novais, Biblioteca de Arte Gulbenkian (CFT003-110336)
URL http://midas.revues.org/docannexe/image/993/img-3.jpg
Ficheiros image/jpeg, 1,1M
Legenda Fig. 4 – Portugal dos Pequenitos: Secção Colonial, Pavilhão da Guiné-Bissau, 2011
Créditos © Ricardo Jerónimo Silva
URL http://midas.revues.org/docannexe/image/993/img-4.jpg
Ficheiros image/jpeg, 500k
Legenda Fig. 5 – Portugal dos Pequenitos: Secção Monumental, 2011
Créditos © Ricardo Jerónimo Silva
URL http://midas.revues.org/docannexe/image/993/img-5.jpg
Ficheiros image/jpeg, 593k
Topo da página

Para citar este artigo

Referência eletrónica

Ricardo Jerónimo Silva, « Portugal dos Pequenitos: a cristalização de um império ou uma brincadeira de crianças? », MIDAS [Online], 6 | 2016, posto online no dia 24 Março 2016, consultado no dia 02 Dezembro 2017. URL : http://midas.revues.org/993 ; DOI : 10.4000/midas.993

Topo da página

Autor

Ricardo Jerónimo Silva

Doutorou-se, em 2013, na área de Teoria e História da Arquitetura pela Universidade de Coimbra, com a tese Arquitetura Hospitalar e Assistencial Promovida por Bissaya Barreto. Ao longo do seu percurso integrou linhas de investigação dedicadas à arquitetura e território português no século XX, bem como à intervenção dos diversos regimes na política de obras públicas. Publicou e participou com comunicações em diversas conferências e colóquios internacionais. Atualmente desenvolve investigação de pós-doutoramento no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra sobre o tema do impacto das construções hospitalares em Portugal no século XX. ricardojeronimosilva@ces.uc.pt

Topo da página
  • Logo CHAIA
  • Logo Instituto de História da Arte
  • Logo Cidehus
  • Logo Universidade de Porto
  • Logo CITCEM
  • Logo Museu da Ciência
  • Logo Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - UNL
  • Logo FCT
  • Les cahiers de Revues.org