Dora' Post

12 coisas que você pode fazer na biblioteca e nem sabia

por Julián Marquina

Se você acha que uma biblioteca serve apenas para estudar e adquirir os livros para que você realize empréstimos, está muito enganado. As bibliotecas servem para muito mais do que isso… E não, eu não estou falando sobre poder acessar a Internet numa sala de computadores ou por wi-fi, não estou falando sobre os clubes do livro que são organizados ao longo do tempo. Não, não estou falando de nada disso. Estou falando de outra coisa… Algo como assistir filmes, dança, beber vinho, dormir, pegar videogames emprestado… Vamos lá, há todo um repertório que devemos levar em conta e aprender para sabermos que a biblioteca é muito mais do que a leitura e estudo. A biblioteca é conhecimento, lazer e criação.

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Aqui segue uma lista de 12 coisas que você pode fazer em bibliotecas e que você nem sabia que poderia fazer. Agradeço aos colegas Facebook para me ajudar a fazer esta lista, mostrando boas práticas e exemplos de coisas que são feitas em bibliotecas.

Assistir a filmes e cinema

Há poucas bibliotecas que programam em suas atividades a de projetar filmes em suas instalações. O objetivo final desta atividade é fazer com que os usuários da biblioteca possam desfrutar de uma boa seleção de filmes (clássicos e contemporâneos). Além disso, em alguns casos, após a exibição é possível iniciar um debade acerca de impressões e comentários pelo público. Tudo é compartilhado.

Entre a seleção de filmes exibidos nas bibliotecas podemos ver títulos como The Machinist Geral, Os Goonies e Ocho Apellidos Bascos.

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Dança, Tai Chi, meditação…

Você decide se deseja um pouco mais de movimentação na biblioteca ou se prefere um pouco mais de relaxamento. As bibliotecas programam oficinas e atividades dedicadas a todos os tipos de bailes e para todos, desde dança até flamenco. Também dedicam oficinas conscientes da mente e do corpo com Tai Chi e atividades de meditação.

Pegue emprestado mais do que apenas livros, CDs e DVDs

Em bibliotecas você pode não apenas emprestar livros, DVDs ou CDs… também podem emprestar outros tipos de materiais que certamente irão te ajudar ou te quebrarão algum galho. Tais materiais vão desde lupas, laptops, eReaders, jogos de vídeo, câmeras, calculadoras, pen drives, ferramentas, instrumentos…

Jogar e criar jogo

Porque em bibliotecas também há espaço para jogos… E existem muitas maneiras de interpretar isso. Há jogos com os quais é possível passar um tempo e ter entretenimento, tais como jogos de tabuleiro ou cartas ou xadrez que visam divertimento em grupo, e há jogos em que você coloca em execução sua capacidade de criação, através de laboratórios de criação de bibliotecas, bibliolabs ou laboratórios nos quais é possível aprender, investigar, inventar e construir compartilhamento de conhecimentos, habilidades e materiais. São muito interessantes as iniciativas YOUmedia ou a Library Test Kitchen.

Imprimir em papel ou plástico

Vale a pena o serviço de impressão em bibliotecas… mais ainda, mas acho que é imprescindível e que deveria estar em todas as bibliotecas. Agora, existem diferentes tipos de impressão: é papel de impressão (fornecido) e vai nos permitir retirar nossos trabalhos ou notas no mesmo suporte, além de cópia, digitalização e até mesmo encadernação e também a impressão em plástico através de impressoras 3D com as quais algumas (não muitas) bibliotecas contam.

Reservar salas de todos os tipos de (acordo com as) atividades

As bibliotecas também disponibilizam aos seus usuários uma série de salas nas quais é possível trabalhar em grupos. Alguns destes quartos têm quadros brancos, ecrãs, computadores, scanners e acesso à Internet. Algumas bibliotecas ainda têm salas especiais para tocar instrumentos e acessar o arquivo de som da mesma.

Assistir a concertos

Biblioteca é cultura… e música também. E que melhor do que juntar as duas para celebrar  concertos e levar música para as pessoas através de bibliotecas. Certamente que é uma atividade muito boa.

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Fazer vídeo conferências

As bibliotecas universitárias, principalmente, oferecem salas em que é possível fazer chamadas de vídeo conferência para os usuários. Este tipo de serviço geralmente é dirigido aos professores docentes para que possam dar aulas, embora este serviço não esteje fechado (como biblioteca) a ser utilizado para reuniões e sessões técnicas. A capacidade dessas salas de videoconferência podem variar de acordo com a biblioteca e o objetivo prosseguido com a atividade.

Aprender idiomas

Em bibliotecas você pode adquirir todos os tipos de conhecimento e não apenas pelo que você lê ou consulta, mas também pelo que você pratica. Em um tempo algumas bibliotecas estão montando oficinas ou grupos de idiomas  nos quais a maioria quer aprender Inglês ou Francês (embora não descarte fazê-lo em qualquer outro idioma, desde que haja demanda) por meio conversação e trabalho em grupo.

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Bibliotecas com a designação de origem: vinho e leituras

Bibliotecas Catalãs criaram há alguns anos o projeto “Bibliotecas com DO” no sentido de aumentar o espaço da biblioteca com atividades e propostas que combinem a literatura com vinho: encontros literários com vinhos, clubesde leitura, música, degustação de vinhos, leitura em voz alta , exposições, etc.

Dê um mergulho entre as leituras

Mais e mais bibliotecas fora de suas paredes (e não falo desta vez através da Internet) para alcançar usuários nas estações mais quentes do ano. Eu estou falando sobre os bibliopiscinas e biblioplayas. As iniciativas destinadas a ir para onde os usuários estão, além de oferecer uma boa leitura e atenção às suas necessidades em seus momentos de evasão por pessoal especializado.

Dormir. Sim, você leu certo.

Você sabia que 6% dos usuários de bibliotecas universitárias usar bibliotecas para dormir? Sim, sim. Não estou inventando isso: os quatro maiores motivos que os estudantes usam a biblioteca. A Biblioteca da Universidade de Michigan criou um projeto piloto de estação cochilo para que estudantes possam descansar de  10 a 30 minutos em épocas de prova e onde as bibliotecas estão abertas 24 horas por dia.


Vagas para profissionais da informação

Perguntei pro Moreno esses dias se eu podia escrever por aqui posts sobre vagas de biblio. Por hora, o BSF nunca teve uma linha editorial pra isso, mas eu acho importante que exista. A intenção não é tanto fazer a divulgação de toda e qualquer vaga de biblio, pois para isso já existem blogs especializados como o Biblioteconomia – Vagas para SP e o Biblio Vagas. Também costumam utilizar o site do OFAJ para verificar vagas e os sites do CRBs.

A intenção é divulgar vagas que são de biblio e também de vagas “que não parecem” de biblio, como aquela vaga de tagger do Netflix que divulguei aqui mais cedo esse ano.

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Semana passada abriu vaga para bibliotecário no SESC de São Paulo e as inscrições são até amanhã, 28/07. Em 2013 eu participei do processo seletivo que consiste em 5 fases e fui até a última fase, mas não rolou para mim. Durante o processo seletivo conheci pessoas incríveis e foi aí que percebi que elas tinham muito mais jeito pra vaga. Nem sempre se trata apenas de uma questão de competência, mas muitas vezes de perfil profissional mesmo – as meninas que conheci já tinham tido experiências nas Fábricas de Cultura daqui de São Paulo e certamente estavam mais aptas do que eu. Tanto que no meio do processo me peguei torcendo para minhas concorrentes, que acabaram passando. Indico essa vaga para quem tem a intenção de trabalhar com ação cultural e com bibliotecas infantis, pois o projeto de biblioteca itinerante do BiblioSesc tem este foco.

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Outra vaga que apareceu hoje no twitter pra mim foi a de Analista de Contas para a Bookwire Brasil. Achei essa vaga interessante para a nossa área pois trata-se de uma startup alemã especializada na distribuição de e-books. Acredito que um profissional da informação tenha as competências necessárias para trabalhar no mercado editorial, principalmente se for focado em gestão e um pouco também em tecnologia de informação. No link tem a descrição para a vaga e entre as habilidades é exigido inglês fluente. Para o bibliotecário ou bibliotecária que quer trabalhar com tecnologia e e-books ou já possui algum tipo de especialização nisso, é uma boa oportunidade para destaque. A vaga é para São Paulo, capital.

Conhece algum outro site que divulga vagas para a área?

Deixe dicas também nos comentários. 😀


Qual a diferença entre um curador do conhecimento e um bibliotecário?

Dia 2/06 aconteceu na Livraria Cultura – Companhia das Letras uma seção do Encontros Criativos, promovido pela jornalista Mariana Castro com os sócios fundadores da Inesplorato, Débora Emm e Roberto Meirelles. Eu e Ana Marysa fomos lá pra conferir um pouco mais sobre o empreendedorismo deles e entender como funciona a empresa e seu processo de curadoria de conhecimento.

Resolvemos escrever este post juntas falando um pouco sobre o que ouvimos e entendemos, deixando nossos comentários, que praticamente coincidiram, [entre chaves e em rosa].

Buscando na internet é possível achar várias entrevistas e referências do trabalho da Inesplorato, mas a nossa intenção foi selecionar o que consideramos insights para a área. Fiquei sabendo da empresa através da Ana – que já participou de um dos meet.ups deles – e achei o trabalho que eles fazem bastante próximo do que fazemos mas com alguns diferenciais.

A empresa

Débora, que é formada em Ciências Sociais e Publicidade e Propaganda, disse que a intenção dela ao criar a Inesplorato era fazer com que essas duas áreas entrassem em diálogo de certo modo: o mundo teórico e o mundo prático, mercadológico. Para ela o conhecimento pode ser considerado uma ferramenta com a qual as pessoas devem se relacionar de uma maneira profunda, de acordo com contexto e o significado de cada um.

Para ela é uma vitória o fato de clientes pessoa jurídica compreenderem o processo da Inesplorato e ao longo do tempo se engajarem com ele.

A empresa é de pequeno porte e, diferente da maioria dos negócios, não existe uma hierarquia pré-estabelecida no organograma. Na empresa, todos são colaboradores. Uma vez que os profissionais tem diferentes habilidades e backgrounds, suas funções não são estáticas, mas variam de acordo com os projetos recebidos, onde cada profissional se relaciona de forma diferente. Isso deve impactar muito na pluralidade, diversidade e singularidade de cada projeto desenvolvido por lá.

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As tão conhecidas caixas de conhecimento da Inesplorato.

Débora entendeu a partir de sua experiência com a empresa que um processo de curadoria é artesanal e não escalável e que apesar de a Inesplorato ser uma startup, não há intenção de aceleração no crescimento da empresa. Ou seja, o crescimento deverá ser natural e não imposto por uma injeção de dinheiro de investidores. A intenção é manter a qualidade do serviço e, por isso, a quantidade de projetos e pessoas atendidas são limitadas.

[Aliás, quem trabalha na área do conhecimento deve se atentar a isso. O processo de curadoria e o próprio processo de adquirir conhecimento exige tempo e reflexão, para que se obtenha um resultado com qualidade.]

As caixas

A empresa é conhecida pelas caixas de conhecimento que produzem, tanto para pessoas físicas quanto jurídicas. A confecção da caixa dura em torno de 45 dias, onde 3 curadores trabalham em um processo de curadoria direcionada (não necessariamente temática, mas às vezes multi-temática). Sempre é feito um diagnóstico, uma entrevista que tem o intuito não só de solucionar uma possível dúvida da pessoa, mas também para ver o contexto como um todo, o background ou a cultura da empresa a qual eles estão atendendo.

Nesta conversa pessoal, o curador pergunta para a pessoa sobre sua história de vida, suas paixões, seus heróis e o que ela espera do futuro. A partir do diagnóstico verificado sobre a necessidade de conhecimento da pessoa, os itens que compõem a caixa não são escolhidos de modo aleatório, mas todos se comunicam e fazem um sentido único, personalizado para o destinatário.

A caixa oferece um conteúdo que pode ser relevante para a pessoa, mas o que conta é toda a experiência: essa caixa é confeccionada e entregue da forma mais atraente e inspiradora possível, com anotações, tudo para fazer com que a pessoa se interesse pelo conteúdo. São entregues diversos materiais como livros, filmes, artigos, músicas, indicações palestras e às vezes até mesmo contatos de pessoas para se conhecer e tomar um café.

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Networking conta como uma parte de construção de repertório e conhecimento.

O diferencial da Inesplorato está na necessidade que eles sentem que as pessoas se envolvam com o que é produzido.

“De nada adianta você ter tido o trabalho de selecionar todo um material, ter envolvido todo um processo para a pessoa levar pra casa e simplesmente não ler, não absorver o que foi feito. Então nós tentamos fazer com que o processo seja o mais atraente e inspirador possível, pra conseguirmos este engajamento. Nós sempre pensamos em como criar uma maneira incrível de conseguir relacionar a pessoa com o conhecimento, como que eu te envolvo de uma forma diferente, como eu te apresento algo de modo diferente e como eu conecto todas as coisas que foram selecionadas de uma forma super engajadora e super inspiradora.”

Débora também diz que algumas pessoas lidam com a caixa de forma pesada, pois às vezes são convidadas a se desconectarem de algo que estavam fazendo no piloto automático e iniciarem um processo de coisas novas para serem exploradas e descobertas. E o desconforto com o convite a pensar fora da própria caixa nem sempre é algo fácil de ser empreendido por qualquer pessoa.

Roberto diz que a intenção das caixas é promover um processo de transformação “levando a cabeça das pessoas pro céu, mas mantendo os pés no chão” e ele vê a necessidade de que o trabalho mostre seu valor com a pessoa aplicando aquele conteúdo na vida pessoal, obtendo impactos práticos. São sugeridas missões para a pessoa realizar com o material recebido e é a partir disto que a empresa recebe seu feedback.

Outros Serviços

Além das caixas feitas para pessoas físicas, Débora falou um pouco sobre empresas que utilizam o serviço da Inesplorato como a Globo, Avon, Ambev e Whirpool Latin America. Os temas são os mais variados possíveis e vai desde amor e causa feminina até utilização de elétrodomésticos pelo mercado brasileiro. A empresa também oferece serviços de coaching e tem estudos contínuos que alimentam sua base de informação com curadorias temáticas, como foi citado o caso do Culturas Brasileiras.

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Inpirar. Criar. Repetir. Aprendizagem e construção de repertório como processos contínuos…

Mas acreditamos que foi necessária uma boa dose de persistência para conquistar o mercado, que é sempre difícil:

“O mercado vê o conhecimento como luxo e não como base. O processo de aprender é doloroso e nem sempre tranquilo. Às vezes pode ser difícil se permitir provocar a pensar de uma forma diferente, às vezes é mesmo mais fácil permanecer na zona de conforto. Acredito que isso mude a partir do relacionamento que cultivamos com o cliente, que quando começa a ser desenvolvido, começa a criar conteúdos próprios e trazer novas propostas. Isso tudo é muito gostoso de perceber e acompanhar”. – Débora Emm

A empresa também está está em processo de beta testing com o Mappa, que vai ser um modo de fazer com que a caixa se torne acessível a todos, também em ambiente digital. Segundo a Débora, esta foi uma forma de racionalizar o processo analógico, lidando também com o mesmo problema que outras empresas que trabalham com informação enfrentam diariamente: o seu excesso. A ideia do Mappa é que as pessoas possam mapear seus conhecimentos para identificarem o que sabem que sabem, o que não sabem que sabem e o que não sabem de fato.

A intenção é fazer com que as pessoas possam ganhar consciência das informações que consomem e os conhecimentos que adquirem e enxergar o que está sendo adicionado ao seu repertório pessoal, a partir de uma busca manipulável e customizada, num universo finito de conteúdo.

[Fiquei com uma questão depois de pensar sobre tudo o que ouvi e não consegui perguntar na hora: em relação aos clientes pessoa jurídica, o que diferencia o trabalho de curadoria da Inesplorato de um trabalho, por exemplo, de gestão do conhecimento, pesquisa de mercado e/ou inteligência competitiva?]

4 Perfil Profissional

Em dado momento, Mariana perguntou sobre o perfil profissional das pessoas que trabalham na Inesplorato, pois ao que tudo indicava, eles teriam talvez “criado uma nova profissão”. [Talvez não. Mas definitivamente eles souberam vender melhor ou ao menos de forma diferenciada o ‘produto’ conhecimento.]

Débora citou três habilidades essenciais para uma pessoa que tem a intenção de trabalhar com curadoria do conhecimento: 

  1. Capacidade de Empatia: é necessário que seja uma pessoa sensível, que consiga se colocar no lugar do outro e pensar pela perspectiva do outro (tanto para pessoas, quanto empresas) e que tenha capacidade analítica, entendendo qual é o nó a ser desatado;
  2. Abertura a multiplicidade de assuntos: a pessoa deve ser pouco afeita a especializações, ou melhor dizendo, um especialista em generalidades.
  3. Postura não preconceituosa: alguém que mantenha a guarda baixa, que seja pouco preconceituoso e tenha coração aberto de interesse para ouvir. Nem sempre o que será pesquisado é divertido.

De acordo com o entendimento dos sócios, não há uma profissão que é definida para ser um curador. A equipe é multidisciplinar e afeita a generalidades e Débora disse se interessar por pessoas que desistiram de faculdades, pois elas detém um pouco de conhecimento sobre cada área. Sobre a pegada que a pessoa precisaria ter, para Roberto é necessário ser gente fina pois “de nada adianta a pessoa ter o maior repertório do mundo se ela não está disposta a colaborar e entender a cultura da empresa”.

Durante a seção de perguntas, Ana mencionou que identifica a profissão de bibliotecário com a do curador e perguntou à Débora e ao Roberto se eles acreditavam que havia afinidade. Roberto falou que eles recebem vários currículos de bibliotecários e a Débora falou que existe sintonia entre o trabalho do bibliotecário e do curador, mas mais no processo inicial de pesquisa. Já para a área do mundo dos negócios e análise de mercado, este processo estaria mais distanciado e entendido como a parte que “o bibliotecário não entra”.

[Entendo que esta é uma visão dela, mas não posso deixar de reconhecer que existem sim vários bibliotecários que trabalham com e se especializam nas áreas de gestão do conhecimento e inteligência competitiva em negócios, trabalhando diretamente com e para o mercado. Não são todos. Não são muitos. Pero que los hay, los hay.]

Lições Aprendidas

Acho que o mais interessante desse encontro foi poder ouvir todas essas coisas, entender o que a Inesplorato faz de diferente e ver o que podemos incorporar ao nosso fazer diário. Ana citou algumas coisas que achou importante aprendermos e algumas características que o profissional da informação precisa refinar para ser um curador do conhecimento:

  • Empatia;
  • Pensar em produtos que “encham os olhos”;
  • Refletir sobre o que está sendo oferecido; [o curador tem o papel de dar uma “mastigada” no conteúdo?]
  • Propôr outras formas de pensar;
  • Capacidade de analisar o mercado/cenário atual;
  • Engajar e inspirar;

Para ela fica a questão: “hoje, o que te faria buscar um profissional da informação?”

Para mim, as palavras-chave foram duas, que inclusive podem responder a pergunta da Ana: relacionamento e engajamento.

Costumo dizer que biblioteconomia é o curso de humanas menos de humanas que conheço. Vindo de um background com jornalismo e biblioteconomia, entendo que essas duas áreas que trabalham diretamente com informação em seu fazer tem duas pretensões em comum: a de imparcialidade e objetividade. Esses dois profissionais tem perfil de pesquisadores, mas estão sempre focados em atingir um objetivo que sempre me pareceu um tanto quanto árido, em pesquisa.

A princípio entendo que esta não é a intenção de um pesquisador que é curador de informação ou de conhecimento (dois termos que também são bem distintos em nossa área e discutidos e delineados ad nauseam).

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Strychnos toxifera, planta de onde se extrai o curare. Ilustração do livro Plantas Medicinais de Köhler, de 1887.

Basicamente, acredito que a diferença entre curadores e bibliotecários seja a seguinte:

Bibliotecários entendem o termo curadoria a partir de sua origem do latim, curare, que significa cuidar, zelar, tratar.

Curadores do Conhecimento – independente de profissão que tenham – compreendem o termo a partir de sua origem no tupi-guarani, onde curare significa um veneno de ação paralisante, com efeito letárgico. Ou seja, o efeito deve ser o de catarse.

A informação organizada é importante e tem seu propósito, muitas vezes. Mas a motivação para a curadoria é diferente no sentido de desburocratizar e desacelerar esse processo de consumo de informação, que poderia não ser tão mecânico e prático mas prazeiroso, intenso.

Há diferença entre ter a certeza de receber um conjunto de informações exatas, corretas e assépticas e arriscar-se a receber informações que contenham beleza, verdade e significado pra você? Algo para pensarmos a respeito e talvez nos inspirarmos…


O que faz um bibliotecário “famoso”?

Me foi sugerida a tradução de um post da Jessamyn West, sobre como é ser uma bibliotecária famosa.  Não quero traduzir o post dela na íntegra, mas tentar fazer um post traduzindo e utilizando citações dela, fazendo meus comentários também.

Acho que já teve por aqui um post sobre O melhor bibliotecário que eu conheço, mas a Jessamyn esses dias estava questionando sobre a pessoa mais famosa em cada profissão quando se deu conta de que ela mesma era mais famosa na biblioteconomia nos Estados Unidos. Ela chegou a esta conclusão pois ela aparece nesta lista e também na lista recuperada pelo Google quando procuram pela palavra “librarian”, ou seja bibliotecário/a.

Ela inclusive criticou a definição de “bibliotecários” de acordo com o Google nessa imagem aqui que eu achei bem emblemática pra não traduzir:

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A lista de bibliotecários famosos não é tão longa assim e geralmente é feita de gente que fez coisas com livros em geral e pode ou não pode ter gastado boa parte da vida delas trabalhando em ou para bibliotecas. As pessoas que o Google acha que são bibliotecários em sua maioria tiveram outros trabalhos. Quando a pequena lista de pessoas famosas na sua área inclui Eratóstenes, você percebe que a biblioteconomia não é uma plataforma que apoia o que a maioria das pessoas entende por celebridade. Eu não sou reconhecida quando vou em bibliotecas aleatórias (geralmente) e não usaram meu nome pra batizar nenhuma biblioteca. No entanto eu participei de vários passeios nos bastidores de bibliotecas e vi vários porões incríveis. Você pode gastar sua fama de vários modos diferentes e este é o meu.

A Jessamyn também reconhece que outras coisas fizeram com que ela fosse “famosa” na área como estar na internet desde sempre (não só isso, como também acompanhar de fato as tendências), possuir o domínio librarian.net e também responder e-mails e atender telefonemas. Mas ela apontou uma coisa sobre a qual jamais parei pra pensar: que estamos num mundo onde findability (ou ainda “encontrabilidade”, ou recuperação pelas máquinas de busca) muitas vezes se equivalem à fama. Isso é bastante curioso pois uma pessoa pode ser famosa online e nem tanto na vida real ou o oposto disso. Ou ainda: pode ser famosa apenas em determinados nichos. Em se tratando de Internet, é difícil medir, acho, talvez quem saiba melhor responder isso é o Murakami que é das métricas.

Resumindo, a Jess considera biblioteconomia uma profissão clássica de nerds (e é mesmo, eu também concordo) e não vê nenhum problema em ser considerada “a rainha das nerds”, até acha graça e gosta disso. Mas ela acredita que boa parte de ser bem conhecida é porque ela de fato conhece muita gente, viaja bastante e frequenta muitas conferências de bibliotecários nos EUA. Mas ao mesmo tempo enfrentamos o mesmo problema: a biblioteconomia é uma profissão distribuída (tem no Brasil inteiro), então não existe um lugar específico em que se juntem todos os bibliotecários que não seja “online”. Então se você quiser conhecer colegas pessoalmente, você tem que viajar.

O que é difícil porque a maioria das pessoas que de fato trabalha em período integral em bibliotecas tem poucas oportunidades de viajar por conta de seu trabalho que não sejam as ocasionais conferências estaduais ou nacionais. E ainda assim, elas são as pessoas que estão fazendo o bom trabalho que pessoas como eu apenas falam sobre.

Mas convenhamos: a cultura de bibliotecas por lá é bem mais forte e a classe lá é bem mais unida que a daqui. Os bibliotecários lá não apenas defendem a profissão: eles são militantes. O senso de coletividade deles é muito forte. Ela ainda explica que além das conferências nacionais e estaduais anuais ainda existem encontros consistentes de: bibliotecários jurídicos, bibliotecários de música, bibliotecários públicos, bibliotecários cristãos, bibliotecários progressistas e todo esse pessoal tem seu próprio público e palestrantes. Acho que até hoje nunca vi (ou pelo menos não sei de) encontros de bibliotecários especializados no Brasil.

Eu tive trabalhos de meio período fazendo instrução em tecnologia, respondendo e-mails, escrevendo para publicações sobre biblioteconomia, cuidando de websites e dando palestras em conferências da área, o que significa que eu pude encontrar bibliotecários de todo o país. Eles me encontram mas mais importante que isso: eu os encontro. Saber o que importa para os meus colegas em todo o país me faz sentir que estou fazendo o nosso trabalho quando eu uso a minha mini-fama para ajudar a endereçar as preocupações da nossa profissão para as pessoas que não fazem parte dela.

É uma linda.

E aí ela chegou numa parte que eu vou traduzir na íntegra, simplesmente porque eu achei muito esclarecedor:

O que um bibliotecário famoso faz?

  • Aconselha

Pessoas entrando na profissão acreditando que ela pode ser divertida e criativa é muito mais interessante do que gente achando que é um trabalho limpo de escritório onde você pode ler o dia todo. A nova safra de bibliotecários é tão mais antenada e informada do que quando eu estava no curso de graduação. Vamos manter assim. Trazer gente boa pra área e mantê-las lá.

  • Colabora

Lutar contra o perpétuo problema de imagem por parte dos próprios bibliotecários. Trabalhar a moral e ao mesmo tempo trabalhar a mensagem que passamos. Promover bons trabalhos feitos pelos colegas e dizer “que ótimo trabalho” o quanto for possível. Pessoas te zoam pelo modo que você se veste? Ignore-as e força no coque. Use mesmo. [Traçando um paralelo daqui: As 10 Bibliotecárias Mais Gatas do Brasil | Bibliotecários Tatuados]

  • Traduz

Eu sou boa com tecnologia e em falar com o pessoal da área de tecnologia. Sou boa em entender o que uma biblioteca precisa em seu ambiente tecnológico. Eu geralmente traduzo as necessidades e preocupações de um grupo para o outro e vice-versa e sugiro modos para que esta comunicação seja mais clara no futuro.

  • Inova

Temos uma permissão para compartilhar e é um tempo maravilhosamente fértil para usar a tecnologia para fazer isso. Descobrir qual tecnologia se adapta bem aos propósitos da biblioteca (para uso dentro da biblioteca ou conectar bibliotecários fora da biblioteca) e começar a utilizá-las assim que são lançadas e contar novidades de como outras bibliotecas estão utilizando bem certa tecnologia.

  • Agita

Eu frequentemente relembro as pessoas de que servir todo o público é desafiador de verdade e complexo e que bibliotecas fazem um trabalho muito bom com isso, mesmo a despeito de um mundo cada vez mais privatizado. Reforma de copyright, uso justo, liberdade intelectual e a Library Bill of Rights permanecem como importantes fundações da nossa profissão. Conte aos outros sobre isso.

  • Defende

Pela diversidade e inclusão. Nossa profissão deveria refletir a diversidade de nosso público. Acesso a conteúdo e serviços deveriam ser o quão equitativos pudermos oferecer, para todas as pessoas, especialmente para as mais difíceis de servir. A divisão de empoderamento é real. As bibliotecas e seus apoiantes muitas vezes falam pelas pessoas que não podem ou não falam por si mesmas.

Essas não são bem atividades de alguém que você consideraria famoso. Não tem muito autógrafo não. Raramente apareço em roupas bonitas ou tenho minha foto tirada em público. Em última análise eu sou apenas uma parte de um sistema de pessoas e tecnologia bem amplo e interconectado que administram bibliotecas nesse país. E o nosso pessoal apenas é tão famoso quanto precisa pra fazer seu trabalho.


14 Coisas Que Todo Mundo Entende Errado Sobre Bibliotecários

“Sim, eu posso te ajudar a achar todos os livros.” “Não, eu não passo o dia inteiro lendo todos os livros.”

por Arianna Rebolini, do BuzzFeed

Título original: 14 Things Everyone Gets Wrong About Librarians

Recentemente perguntamos a alguns bibliotecários na comunidade do BuzzFeed quais são as idéias mais erradas que as pessoas tem sobre o seu trabalho. Seguem os resultados esclarecedores!

1. Que no seu trabalho não tem stress nenhum.

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Flickr: pleeker / Creative Commons

“Odeio quando as pessoas dizem, ‘é tão silencioso aqui. seu trabalho deve ser super relaxante’. Ou assumem que você tem três horas no trabalho apenas pra ler qualquer livro que você queira”. —Jackie DeStefano, Facebook

“Especialmente durante o programa de leitura de verão*!” —Maria Slytherinn Hill, Facebook

2. Que a tecnologia faz com que seu trabalho seja redundante.

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Shironosov / Getty Images

“[As pessoas assumem] que bibliotecários e bibliotecas são obsoletos porque ‘você pode achar tudo no Google’. Há tanta informação (eletrônica ou em outro suporte) que não pode ser acessada pelo Google, e nós sabemos encontrá-la.” —AnnaBanana617

3. Que você passa os dias lendo.

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Wx-bradwang / Getty Images

“Pessoas me disseram que elas adorariam ser bibliotecárias porque seria muito bom trabalhar com livros o dia todo. Nada disso. Não é isso que eu faço o dia todo. Eu trabalho com PESSOAS o dia inteiro – referência, programação de ensino. Às vezes isso envolve fazer com que elas encontrem livros, mas se não fosse pelas pessoas, não existiriam bibliotecários.” —Emily Lauren Mross, Facebook

4. Que você ou é assim…

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Valery Seleznev / Getty Images

“[As pessoas acham] que você precisa ser de um certo jeito! Tenho cabelo roxo, tatuagens e um piercing no nariz.” —Maria Slytherinn Hill, Facebook

5. Ou assim:

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“Todo o combo de ‘bibliotecária sexy’ é realmente tosco.” — saraf45be50781

6. Que se o seu foco é em leitura/literatura para crianças, é sempre brincadeira.

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Purestock / Getty Images

“Detesto quando acham que bibliotecários que se envolvem com crianças (ou escolares) são babás glorificadas que fazem apenas hora do conto. Eu sou responsável por bem mais que isso, incluindo habilidades em tecnologia e ensino” — Jessica Vining Prutting, Facebook

7. Que você só trabalha em bibliotecas ou em escolas.

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Ziviani / Getty Images

“A biblioteconomia é bastante ampla em diversidade. Trabalhamos em organizações, escritórios jurídicos, institutos de pesquisa e laboratórios, no governo e nas forças armadas. Não apenas damos baixa e realocamos livros. Somos pesquisadores, especialistas em computação, desenvolvedores de coleções, arquivistas, especialistas, especialistas em metadados (fazemos com que tudo seja encontrável online e offline) e muito mais” —AnnaBanana617

8. Que você não precisa de diploma pra isso.

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Chad Baker/Jason Reed/Ryan McVay / Getty Images

“As pessoas sempre se chocam quando eu falo pra elas que eu estou me especializando para ser bibliotecária. Acredito que elas pensam que bibliotecários só precisam saber a CDD e talvez como usar o computador, de vez em quando” —Chelsea Phillips, Facebook

9. Que o trabalho é fácil.

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Purestock / Getty Images

“Sou bibliotecária de escola de ensino fundamental e é muito frustrante ouvir, ‘Seu trabalho deve ser tão fácil! Você só lê pra eles o dia todo!’. Sim. E ensino habilidades de pesquisa, de comunicação, de falar em público, entre outras. Sem contar a gestão de classe, orçamento, processamento, auxílio aos professores… Certamente não é tão fácil quanto eu faço aparentar ser!” —brittanyo4910df152

10. Que você tem aversão à tecnologia.

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Cathy Yeulet / Getty Images

“A maioria das pessoas não percebe que nós temos que ter aulas de computação bem intensas para termos um mestrado em biblioteconomia. Muitos de nós entendemos de design de bases de dados, HTML, C++, e outros códigos!” —laureno404824e16

11. Que você precisa ser de uma certa idade.

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John Gomez / Getty Images

“Eu já ouvi isso um monte de vezes: ‘Mas você é tão novinha!’ (Sou uma anomalia. A maioria das bibliotecárias nasce com 60 anos e só fica velha a partir dessa idade.)” —katrinalewine

12. Que vocês são um bando de puritanos.

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Nandyphotos / Getty Images

“O maior erro que já ouvi na vida é o de que bibliotecários são puritanos. Eu amo sexo! Só não curto quando eu tenho que testemunhar isso / mandar as pessoas pararem / limpar depois. Trabalhei numa biblioteca por nove anos e durante esse tempo eu costumava a flagrar pessoas transando e assistindo pornografia no computador O. TEMPO. TODO. Não quero nem começar a falar de todas as camisinhas usadas que eu encontrei entre os livros. *nojinho*” —deejuju

13. Que você é um solitário introvertido.

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Jupiterimages / Getty Images

“[As pessoas pensam] que você quer ser um bibliotecário porque você quer sentar sozinho e ler; bibliotecários sempre tem que estar disponíveis e interagindo com todo mundo desde crianças birrentas até pais e mãe, a pessoas em situação de rua procurando abrigo no inverno e ar condicionado no verão, até idosos tecnofóbicos. Nem todo mundo é bom nisso, bem como em qualquer outra profissão, mas aqueles que começam achando que vão sentar atrás de uma mesa e ler o dia todo são poucos e bem distantes!” —sarahc130

14. Que bibliotecas basicamente são uma espécie em extinção.

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Flickr: drocpsu

“[As bibliotecas] não estão morrendo — elas estão mudando.” —Sara Frye, Facebook

 

*Nos EUA eles tem vários programas extra-curriculares que alunos fazem durante o verão, que é no mês de julho. Aqui seria mais ou menos equivalente à biblioteca de faculdade em época de provas, quando fica cheia de gente e os bibliotecários piram.


Vaga para bibliotecários no Netflix Brasil

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Não se falou de outra coisa até agora – pelo menos entre os meus colegas bibliotecários: a vaga do Netflix para tagger. É uma vaga tão boa que parece mentira né? Mas não é mentira não.

O curioso é que as pessoas não tem muita noção do que um “tagger” faz. E isso é, basicamente, catalogação gente. Coisa que a gente ouve desde o início do curso de biblioteconomia.

Eles divulgaram a vaga pelo YouTube ontem, com um vídeo engraçadinho:

É claro que já teve brasileiro levando o vídeo a mal nos comentários. Pois essa vaga é coisa que “nem parece trabalho”. Mas aí é que está…

Nós sabemos que criar categorias, classificações e descrições do que for – de filmes, inclusive Marina que o diga – é trabalho nosso SIM! É nosso trabalho e MUITO! E é inclusive o que fazemos como bibliotecários desde os tempos mais primórdios.

Claro que eles pedem alguém que já tenha familiaridade com a terminolgia cinematográfica, porque aí a curva de aprendizagem é mais rápida para o negócio. Mas a verdade é que qualquer pessoa minimamente interessada pode fazer especificação de produtos facilmente. E como tem muita gente interessada em filmes e séries… Já viram né?

Com certeza vai ter uns 20394820948209389 caboclos tentando essa vaga dos sonhos e eu espero que pelo menos 3 deles sejam bibliotecários. No mínimo.

E aí?

Alguém que é bibliotecário e lyndo já conseguiu se candidatar?

E pra quem acha que essa é a vaga dos sonhos pra assistir todas as séries e filmes preferidos o dia inteiro, eu só vou largar esse Tweet pertinentíssimo aqui:

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A vaga é pra quem tem inglês fluente e segue a descrição traduzida, só pra gente saber um pouco mais do perfil que eles procuram:

Tagger Brasileiro
Empregos em Aprimoração de Conteúdo
São Paulo, SP

Netflix, o principal canal de Internet do mundo para filmes e TV está lançando uma caçada a um tagger que fale português brasileiro para se juntar a sua equipe de Aprimoração de Conteúdo.

Os candidatos aprovados serão responsáveis por assistir e analisar filmes e séries de TV que será apresentadas no Netflix no futuro. O tagger vai desconstruir os filmes e programas de e descrevê-los usando tags objetivas.

Este “processo de marcação” é a primeira etapa do sistema de recomendação Netflix e trabalha em conjunto com algoritmos avançados que geram sugestões altamente personalizados para cada um dos cerca de 60 milhões de usuários da Netflix, oferecendo-lhes um conjunto individual de títulos correspondentes seus gostos.

Outras responsabilidades podem incluir também atuando como um consultor cultural brasileiro, destacando as especificidades culturais e preferências de gosto nacionais.

O papel vai oferecer horários flexíveis de trabalho a partir de casa e se adequaria àqueles com uma paixão por filmes e séries de TV, como pode ser evidenciado por uma licenciatura em Cinema ou História do Cinema e / ou experiência em dirigir, criar roteiros ou cinema. Os candidatos com experiência de análise (por exemplo, como um crítico ou trabalhar em desenvolvimento) também seria adequado.

As competências chave e qualidades para este papel incluem:

– Expertise em Filmes e Conteúdo para TV

– Excelentes habilidades organizacionais

– Persistência em acompanhamento e seguimento em um projeto

– Detalhista

– Inglês fluente

Habilidades técnicas de interesse:

– Experiência com Sistemas de Gestão de Conteúdos ou Ativos

– Excel

Background:

– 1-2 anos de experiência em companias de website/mídia/novas mídias

– Experiência em Cinema ou editorial de TV é desejável

Favor observar: apenas currículos enviados em inglês serão considerados.


Leia Mulheres!

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No início de 2014, a escritora Joanna Walsh propôs o projeto #readwomen2014 (#leiamulheres2014), que consistia em incentivar a leitura de mais escritoras. Há algum tempo atrás, o colega William Okubo escreveu aqui no BSF um post sobre literatura de escritoras brasileiras, selecionando alguns livros.

Entendendo que o mercado editorial ainda é muito restrito e as mulheres não possuem a mesma visibilidade que os autores homens, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques decidiram trazer a ideia da Joanna para a Blooks livraria, criando um clube do livro chamado #leiamulheres.

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Encontro do dia 24 de março, na Blooks Livraria.

O encontro é aberto à todos e a intenção é realizar mediações mensais, acompanhando leituras de obras escritas por mulheres, de clássicas a contemporâneas. Acredito que este é o tipo de ação cultural que centros de leitura podem replicar ou ainda facilitar, sempre que possível.

O próximo encontro será na Blooks da Frei Caneca novamente dia 22 de abril e o próximo livro será Reze pelas mulheres roubadas, de Jennifer Clement. Esse clube do livro já possui uma página no facebook, que será atualizada com mais informações sobre os próximos encontros.

Desde a primeira vez que li o título do projeto jamais entendi como imperativo, mas como um convite mesmo a uma forma mais consciente de leitura. Enfim, acessem a página no FB, sejam bem vindos aos encontros e inspirem-se.


Datagramazero: um presente

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Comecei a pesquisar sobre periódicos científicos e Open Access em 2008, assim que comecei o curso de biblioteconomia. Tudo pra mim era novo, mas a discussão naquela época já era antiga. Ao longo do curso, tendo feito 2 iniciações científicas, peguei certa intimidade com os periódicos da área. Mas desde antes de entrar na biblioteconomia, eu já conhecia o Datagramazero. Não tem como fugir: é um periódico pioneiro e muito prestigiado na nossa área.

São 15 anos de publicações, com 474 artigos interdisciplinares, mas com um foco imprescindível em Ciência da Informação, Conhecimento, Sociedade da Informação, Inovação e Gestão. A revista é um referencial de valor inestimável para a área de Biblioteconomia como um todo e também para as Ciências Sociais Aplicadas no Brasil.

No entanto, eu e – imagino que – outros pesquisadores sempre tivemos que utilizar certos truques para pesquisar na revista: ou se conhece o periódico muito bem e se tem uma memória muito boa acompanhando cada publicação, ou realizamos um truque de pesquisa via Google usando “site:dgz.org.br” + “palavra chave” para que possamos recuperar todas as páginas indexadas com o conteúdo desejado. Ainda assim, pessoalmente também não considero esse último um método de pesquisa ideal em termos de eficiência.

Já em 2011 eu pensava em criar uma plataforma, no WordPress mesmo, para que a revista pudesse contar com um sistema de busca, mas na época eu estava muito ocupada com outras coisas que eram prioridade para mim (TCC, mestrado), não tive tempo e sequer sabia como faria isso. Ano passado na pós, tive uma disciplina de Gestão de Conteúdo que abordava exatamente esse projeto que eu tinha em mente e a ideia foi voltando, aos poucos.

Este ano preciso entregar o meu TCC da pós e esbarrei novamente nessa limitação. Também comecei a trabalhar com taxonomia e tudo foi se organizando a ponto de eu começar, em janeiro desse ano, um projeto de plataforma de redirecionamento para a revista. É em WordPress e tudo o que fiz até então foi redirecionar, na medida do possível, todos os artigos da Datagramazero desde 1999 até os dias de hoje. Terminei sexta passada.

Essa é a primeira fase do projeto, mas ainda existem muitas melhorias a serem feitas. A normalização das palavras-chave, por exemplo, não foi feita. A intenção com a fase dois do projeto é de posteriormente criar uma estrutura de categorização que permita que o usuário recupere artigos por área temática de estudo, mantendo também as tags (palavras-chave utilizadas em todos os artigos). A partir daí será feito o estudo das palavras-chaves para a criação da taxonomia do site – que estou começando, aos poucos, agora.

Minha intenção ao fazer esse projeto foi ultrapassar essa limitação para continuar o meu TCC e beneficiar também a comunidade científica como um todo, que utiliza a revista como fonte para suas pesquisas e levantamento de referências.

Caso encontrem erros e inconsistências, sugestões e correções são bem vindas.

Espero que esta plataforma possa ajudar outros pesquisadores!


Bibliotecários lato e strictu sensu

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Sempre tive probleminhas com denominações e definições das coisas. Acho que esse foi um dos motivos que me levou a fazer biblioteconomia e também faz parte de uma busca pessoal por um certo senso de identidade – que hoje reconheço como ilusório. De uns tempos pra cá aprendi que a minha identidade pode ser fluída e essa questão não tem mais me angustiado tanto. Mas volta e meia me pego pensando no tema. A minha dúvida não é mais “o que é um bibliotecário” ou “o que faz um bibliotecário”, mas mudou para “onde está o bibliotecário?”. Já passei do “quem sou eu?”, hoje questiono “onde estou?” e daqui alguns tempos devo me perguntar de novo “pra onde vou?”.

Me formei em 2011 em Biblioteconomia e eu deveria ter feito mestrado. Contra tudo o que todos diziam, não fiz. Não sei dizer se foi a melhor escolha, só sei dizer que foi uma escolha minha. Da mesma forma que me diziam pra jamais fazer biblioteconomia e eu fui teimosa, insisti e fiz. Não me arrependo de nenhuma das decisões que tomei até hoje pois elas não me inviabilizaram nada, muito pelo contrário: me ensinaram muitas coisas. E depois da graduação fui fazer o que eu fui formada pra fazer: ser bibliotecária. Mas foi tudo muito diferente do que eu esperava. Eu achava que ia conseguir um emprego e ficar nele por um bom tempo até ir para outro e assim por diante. Mas não foi assim que a vida funcionou (pra mim ao menos).

Jamais considerei tentar concursos – mas sempre tentei e sempre falhei. Apesar de ser uma das opções mais interessantes para se ter estabilidade, acredito que me desmotivaria gradualmente por uma série de outros motivos. Pra mim seria morte em vida permanecer em um lugar apenas pelo dinheiro. Sim, eu sei, dinheiro é muito importante sim, mas existem outras coisas que me interessam mais. Ainda entendo que dentro da biblioteconomia o campo é vasto e que há de fato muito a ser feito. E eu nunca soube exatamente que tipo de bibliotecária eu seria. E ainda não sei se hoje tenho certeza – e não acho isso nada ruim, pelo contrário, o leque de possibilidades continua aí para que eu possa explorá-lo até onde for possível.

Ano passado recebi 3 ligações me oferecendo vagas pra trabalhar com a mesma coisa em lugares diferentes de São Paulo. Recusei cada uma delas, mas me interessava em saber sobre os detalhes à título de curiosidade do quanto o mercado está aquecido por aqui (São Paulo, capital). Até que um dia me chamaram pelo LinkedIn e me fizeram uma proposta que mudaria tudo – mas não muito. A vaga era para Analista de Produto, para trabalhar com taxonomia e catalogação em uma multinacional. Me interessei na hora, pois sempre quis trabalhar com isso tudo. Fui nas três entrevistas e então me chamaram.

Complicou um pouco pois eu estava exatamente na metade da pós, moro no centro e a empresa é em outra cidade e aí mudou tudo: horários, lugares, tudo aqui é longe e difícil. Mas coloquei na balança e decidi que eu queria passar por essa experiência acima de qualquer coisa e que queria o cargo. Valia o sacrifício. Mudar de cargo pra mim foi aceitar um desafio e tanto, pois até o momento tinha trabalhado apenas em frentes que podem ser consideradas strictu sensu na área de biblioteconomia e arquivologia: em uma biblioteca corporativa especializada e em um arquivo de uma construtora e incorporadora. Eu precisava e queria dar esse salto.

Sempre tive facilidade e curiosidade em lidar e aprender a mexer com algumas tecnologias, mas não entendia – diferente de vários dos meus colegas – como isso podia se encaixar na profissão que escolhi pra mim: a de bibliotecária. Há algum tempo eu achava que tinha escolhido biblioteconomia apenas para aprender as técnicas. Hoje acredito que minha relação com a área tem mais a ver com o fato de eu ter ‘aprendido’ ou melhor, vivenciado o mindset bibliotecário, que é diferente sim dos outros profissionais. É uma questão de mentalidade mesmo, da forma que enxergamos as coisas como estão ou podem estar no mundo.

Hoje eu entendo que num nível bem pessoal e particular, biblioteconomia para mim se aproxima mais disso mesmo, da estrutura, da forma que pensamos a informação – independente do contexto e de qualquer tipo de apego a normas e regras – sejam elas criadas há muito tempo atrás ou até mesmo as recentes, pois as regras do jogo estão mudando o tempo todo, constantemente. Acredito sinceramente que, pelo menos os bibliotecários do que posso chamar de nova geração (de 2000 pra cá) pensam a organização e representação da informação, suas estruturas e fluxos de modo específico, com foco no usuário. Ao menos quero ter essa fé..

Acredito também que a nossa área nos permite essa flexibilidade de poder trabalhar em diferentes tipos de ambientes de acordo com nossas habilidades. Nessa época em que o e-commerce é uma tendência cada vez mais em evidência, a forma de pensar do bibliotecário – trabalhando com uma equipe multidisciplinar, juntamente com arquitetos de informação e programadores – é primordial para o andamento do negócio. Neste tipo de ambiente em específico onde a experiência do usuário é altamente priorizada e privilegiada, a organização das informações e sua estruturação é o core, uma vez que não estamos mais lidando com objetos físicos e não podemos ver efetivamente o que se está comprando. A partir daí podem surgir N questões, nas quais já estou pensando para o meu TCC.

Trabalhando com taxonomia, indexação e catalogação, basicamente o que eu e minha equipe fazemos hoje consiste em: receber demandas dos departamentos da empresa, planejar e sugerir soluções levando em conta a taxonomia pré-existente do site (suas categorias, subcategorias, facetas e limitações da ferramenta); Analisar criticamente padronização das fichas de produtos disponíveis (seus atributos e valores, algo muito próximo de catalogação), avaliando as mudanças pretendidas e sugerindo implementações; E também estar em contato com o modelo de taxonomia da matriz, pensando numa possível migração e adaptação do modelo de negócio americano para o Brasil.

Como Analista de Produto trabalhando com taxonomia em ambiente de Internet, posso dizer que hoje sou uma bibliotecária lato sensu, que não trabalha com um cargo convencional ou tradicional na área. Mas basta observar as atividades realizadas que fica difícil dizer que “isso não tem nada a ver com biblioteconomia”. Tem sim. E tem muito. O que percebo é que apenas troquei livros e papéis por estruturas em árvores de links, mas a ideia da coisa toda é muito parecida contendo apenas nomes diferentes. Esse mundo de links parece muito distante de livros e papéis, mas a verdade é que pensar em planejamento e estratégia de organização da informação para o digital é bastante similar, com a diferença que as coisas acontecem muito mais rápido.

A tônica é de mudança constante. E isso requer um determinado tipo de perfil muito flexível, resiliente e adaptável – o que tradicionalmente não faz parte de um perfil da nossa área que seja mais conservador e avesso à mudanças (ainda mais constantes!). Geralmente as mudanças não ocorrem do dia pra noite: ocorrem de hora em hora, e das formas mais inesperadas possíveis… Linkagem, relinkagem, categorização, recategorização e migração são palavras de uso diário. Mas é só mais um jeito diferente de permanecer fazendo a mesma coisa. Este mês fazem três meses e nenhum dia tem sido igual ao outro…

Espero aprender tudo o que posso aprender por aqui.   


Simplificar ou não?, eis a questão

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Segunda-feira passada recebi pelo Twitter a notícia de que uma escritora mudaria a obra de Machado de Assis para facilitar a leitura.

Os comentários que li foram todos divididos. Curiosamente, quem se colocava fervorosamente contra a simplificação da obra eram pessoas que são da área de Letras, especificamente. Bibliófilos (pessoas de várias áreas) se colocavam à favor da alteração da obra. Argumentos de ambos lados com argumentações bastante apaixonadas. E muita gente, como eu, ficou bem dividida.

O primeiro questionamento que tive foi entre a diferenciação entre adaptação e simplificação, pois sim, são processos diferentes. Adaptação é uma modificação do enredo da história como um todo ou em partes e envolve criação. Na simplificação a história pode não mudar, mas o vocabulário muda – algumas pessoas defendem que não há mérito nem valor literário nenhum nessa troca de palavras. Algumas pessoas consideram a simplificação um atentado, um crime contra a nossa língua pátria. Não sei porque, isso me soa como um exagero, mas vá lá.

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Li também “se vocês são contra a simplificação, também são contra a tradução?”. Considero tradução como um trabalho de adaptação mesmo porque nem todo o vocábulo de um idioma para outro é plenamente traduzível. Às vezes são necessárias interpretações e isso é ligeiramente diferente, pois trata-se de dois códigos (idiomas) diferentes. No caso da simplificação, o idioma é o mesmo. Impossível discordar que haverá, inegavelmente, um empobrecimento de vocabulário com a simplificação da obra.

Mas ao mesmo tempo, ainda falamos como na época que “O alienista” foi lançado?

A linguagem é viva, o idioma muda, o contexto de tudo também. Sinto-me dividida pois entendo que com a simplificação o contexto da história como um todo invariavelmente será deturpado – pois sim, linguagem é parte do contexto histórico, cultural, social, etc. A obra simplificada continuará levando o nome do autor, como se não tivesse sido alterada. Isso também não me parece certo – mesmo póstumo, mesmo em domínio público, não se sabe se essa é a vontade do autor. Caso seja feita a simplificação, acredito que deva levar o nome de quem alterou a obra.

Bm4bRttCMAAHCLPPor outro lado, usam para se referir à simplificação palavras como: mutilação, ode à preguiça, desrespeito, entre outras nada ou pouco amistosas. Pessoalmente, desconfio de absolutos: absolutamente ruim ou bom. Prefiro entender perspectivas, olhares e quanto mais múltiplos, melhor se pode chegar a um consenso ou a um entendimento. Como bibliotecária, entendo como prioridade o acesso à leitura. Sou sempre favorável à pluralidade de fontes – mas tudo depende também do modo como isso é feito.

Sabemos que o problema de falta de leitura – ou pouca leitura – no país é estrutural e sabemos que não é colocando clássicos no vestibular que alguém vai se interessar por leitura. E talvez nem mesmo com uma boa simplificação porque simplesmente não podemos forçar ninguém a ler nada. A leitura deve ser propagada por meio da apreciação e do entusiasmo, jamais por obrigação – simplesmente por esse não ser o melhor modo. E entre ver uma pessoa se interessando por quadrinhos ao invés da leitura de um clássico, vou sempre apoiá-la na decisão do que for  mais interessante pra ela.  Prefiro alguém lendo quadrinhos do que não lendo absolutamente nada.

“Mas aí você vai estar nivelando por baixo ou optando pelo menos pior”. Excelência é uma pretensão reservada – e efetivamente alcançada – por poucos. Qualquer pessoa que diga que “entende Shakespeare” é um embuste, mesmo sendo um especialista. As pessoas – qualquer pessoa – devem ler, fruir e consumir o que melhor lhes aprouver, sem restrições, sem pautas. Como bibliotecária, é isso o que eu defendo. Anything goes. Isso não é diminuir nada, nem ninguém: uma obra não substituirá a outra em absoluto. Pelo contrário: é dar mais uma opção de leitura e fruição. Então, por que não?

Essa discussão se assemelha àquela do “ah, mas os livros são muito melhores que os filmes”. Precisamos parar com esse tipo de pensamento infrutífero e começar a questionar: as pessoas estão lendo livros? Estão vendo filmes? Se sim, por que? Como? Que tipos de comunidades estão sendo criadas em torno de determinada fruição? Etc. A discussão não devia ser levada para o sentido de “bom” ou “ruim”, mas sim levantar mais questionamentos sobre os hábitos de fruição e de engajamento das pessoas. Ou da falta deles – que é onde efetivamente deveríamos agir. Não?

Como bibliotecários, como vocês se sentem em relação a isso?

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