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Os cinco anos da Revolução Egípcia

Por Johannes Stern
12 de febrero de 2016

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Publicado originalmente em inglês em 25 de Janeiro de 2016

Cinco anos depois das maciças lutas revolucionárias no Egito que levaram à saída do ditador Hosni Mubarak, a junta militar contrarrevolucionária liderada pelo General Abdel Fatah al –Sisi teme outra explosão social.

Nos eventos que se seguiram ao hoje aniversário da Revolução Egípcia, o regime intensificou sua brutal repressão contra os trabalhadores e a juventude. De acordo com a Associated Press, a polícia invadiu 5.000 apartamentos no centro de Cairo nos últimos dias como “medida preventiva” para assegurar que os egípcios não retornem às ruas. Por todo o país, centenas de milhares de oficiais, policiais e soldados fortemente armados serão acionados.

Num raro momento de discernimento político, o New York Times levantou as condições sociais sob as quais as massas egípcias mais uma vez se lançam à luta. “O pânico tem sido atribuído ao fato do povo estar perdendo a paciência com o governo diante do grande desemprego, do aumento de preços e uma revolta combativa persistente, que entre outras coisas, devastou a indústria turística egípcia,” escreveu o jornal.

Ele ainda acrescentou: “Mas esses fatores sozinhos não são suficientes para explicar tamanha resposta... Para os serviços de segurança, a data – 25 de Janeiro – era um perigo propriamente dito, uma lembrança de sua catastrófica, mesmo momentânea, perda de controle.”

Al-Sisi, um general treinado pelas forças de segurança dos EUA e ex-chefe do serviço de segurança militar de Mubarak, tem governado o Egito com punho de ferro desde que chegou ao poder através de um sangrento golpe contra o presidente eleito, Mohamed Morsi, e a Irmandade Mulçumana, em Julho de 2013. Sábado, ele realizou um discurso ameaçador na academia de polícia do Cairo. Nas comemorações do Dia Nacional da Polícia do Egito, al-Sisi saudou as forças de segurança que tem matado e torturado milhares de pessoas, e pediu a “todos os egípcios, pelos mártires e pelo sangue derramado, que cuidem de seu país.”

Certamente abalado pelos eventos na Tunísia, onde novos maciços protestos aconteceram na semana passada, tendo sido declarado estado de emergência nacional na sexta-feira, al-Sisi emitiu a mesma ameaça para as massas tunisianas, que tinha derrubado o tunisiano autocrata Zine EL Abidine Ben Ali apenas semanas antes da saída de Mubarak em Fevereiro de 2011. “Não é minha vontade interferir em um assunto interno ao nosso país vizinho Tunísia,” ele declarou, “mas eu chamo os tunisianos a tomarem conta de seu país.”

De acordo com o jornal egípcio Al-Ahram, o ditador foi avisado de “que a situação econômica de todo o mundo esta se ‘deteriorando’ e que nenhum país do mundo poderia suportar qualquer agitação.”

Al-Sisi e seu regime sangrento estão aterrorizando toda a oposição e procuram reescrever a história da Revolução Egípcia. As redes de comunicação estatais estão mostrando a revolução como uma conspiração estrangeira com o objetivo de minar e desestabilizar a grande nação Egípcia. Mesmo assim, o heroico levante de 18 dias que inspirou os trabalhadores e a juventude por todo o mundo não será apagado com facilidade.

A Revolução Egípcia, seguindo o levante de massas na Tunísia, representou sem dúvida alguma o ressurgimento da luta revolucionária. Ela foi o prenúncio de cada vez mais lutas da classe operária em todo o mundo. Imediatamente depois, os trabalhadores e a juventude ao redor do mundo – inclusive os trabalhadores em Wisconsin, que levaram em protestos contra o odiado governador Scott “Hosno” Walker cartazes com o slogan “Ande Como um Egípcio” – foram sacudidos pelas lutas monumentais no Egito.

No dia 25 de Janeiro de 2011, dezenas de milhares de pessoas pela primeira vez saíram às ruas do Cairo e outras importantes cidades, como Suez. Apesar da implacável repressão da ditadura apoiada pelos EUA, um número ainda maior de pessoas foi protestar no dia 28 de Janeiro, na assim chamada “Sexta-feira da Ira,” participando de batalhas campais contra a conhecida polícia antimotim de Mubarak. Nos dias seguintes, milhões tomaram as ruas de todo o Egito. A Praça Tahrir, no Cairo, foi ocupada e tornou-se o símbolo da Revolução Egípcia.

Como sempre acontece numa revolução, os esforços do regime sitiado para intimidar os protestos apenas tornou-os maiores e mais resistentes. Depois da infame “Guerra dos Camelos”, em 2 de Fevereiro, quando os bandidos de Mubarak acataram os trabalhadores e a juventude na Praça Tahrir, um número ainda maior de pessoas se colocou na praça para desafiar o ditador, defendido até o último memento pelas potências imperialistas.

Apesar dos dramáticos acontecimentos na Praça Tahir, ainda mais importante foi a intervenção da classe trabalhadora, que deu o golpe final em Mubarak no dia 11 de Fevereiro. A onda de greves e ocupações que varreu fábricas por todo o Egito antes e depois da saída de Mubarak tinha sido preparada ao longo de muitos anos pela classe trabalhadora egípcia.

Especialmente depois de 2005, greves e protestos aumentaram enormemente. O que se iniciou em 25 de Janeiro foi, em muitos aspectos, a culminação de um longo período de ira e resistência crescentes entre os trabalhadores egípcios contra cortes sociais, privatizações e o roubo do dinheiro do estado por uma corrupta e criminosa classe dominante.

Na sequencia da saída de Mubarak, a classe trabalhadora apareceu de maneira ainda mais poderosa como a força revolucionária decisiva. Nos dias imediatamente seguidos da queda do ditador, aconteceram entre 40 e 60 greves diárias, e só em Fevereiro de 2011 aconteceram mais greves do que em todo o ano de 2010.

As greves continuaram aumentando nos anos seguintes, apesar das medidas repressivas adotadas pelo regime. De acordo com um relatório do Centro Egípcio para os Direitos Sociais e Econômicos (CEDSE), aconteceram 3.817 greves e protestos sociais em 2012, um número maior do que todos aqueles registrados pelo CEDSE entre 2000 e 2010. De Janeiro a Maio de 2013, o Centro Egípcio para Desenvolvimento Internacional contou 5.544 greves e protestos sociais.

Depois de 30 anos da ditadura de Mubarak apoiada por Washington, isso representou uma enorme ascenso da classe trabalhadora com amplas repercussões internacionais. Entretanto, desde o início da revolução, o problema essencial da classe trabalhadora egípcia era e continua sendo a falta de liderança política.

Um dia antes da saída de Mubarak, o presidente do Conselho Editorial Internacional do World Socialist Web Site, David North, alertou em uma Perspectiva que “o maior perigo dos trabalhadores egípcios é que, depois de oferecer a força social necessária para tirar o poder das mãos de uma ditadura de longa data, nenhuma mudança política significativa acontecerá exceto os nomes e caras dos líderes.”

O artigo continuava: “Em outras palavras, o estado capitalista continuará intacto. O poder político e o controle da vida econômica continuarão nas mãos dos capitalistas egípcios, apoiados pelos militares, e seus senhores imperialistas na Europa e na América do Norte. As promessas de reforma democrática e social serão deixadas de lado na primeira oportunidade, e um novo regime de feroz repressão será instituído.

“Esses temores não são exagerados. Toda a história da luta revolucionária do século XX mostra que a luta por democracia a libertação dos países oprimidos pelo imperialismo podem ser alcançados, como Leon Trotsky insistiu em sua teoria da revolução permanente, apenas pela conquista do poder pela classe trabalhadora a partir de um programa internacionalista e socialista.”

O problema essencial da Revolução Egípcia era construir a independência política da classe trabalhadora de todas as diferentes forças burguesas. Isso significava superar as ilusões no suposto caráter “progressivo” dos militares liderados pelos generais de Mubarak e rejeitar qualquer adaptação para a burguesa Irmandade Mulçumana ou para os assim chamados movimentos burgueses “liberais”, como a Associação Nacional para a Mudança, de Mohamed El Baradei.

Nesse contexto, a pseudo-esquerda pequeno-burguesa desempenhou um papel sinistro e completamente reacionário. Está além do alcance deste comentário analisar detalhadamente todas as idas e vindas nas políticas do agrupamento dos Socialistas Revolucionários (SR) e grupos semelhantes, que sempre representaram a perspectiva reacionária de camadas abastadas da classe média e as conspirações do Departamento de Estado dos EUA.

Incialmente, os SR alegaram que a junta militar do Conselho Supremo das Forças Armadas liderada por Tantawi, que substitui Mubarak, garantiria reformas sociais e democráticas para os trabalhadores egípcios. Então, com a oposição da classe trabalhadora crescendo ao longo de 2011, os SR colocaram a Irmandade Mulçumana como “a direita da revolução,” e em 2012 saudaram a eleição de Morsi como “uma vitória para a revolução.”

Quando a oposição da classe trabalhadora à Morsi e à Irmandade Mulçumana surgiu em 2013, os SR impulsionaram a campanha pró-militar do Movimento Tamarod como “o caminho para concluir a revolução.” Isso então ajudou a abrir o caminho para o golpe militar de 3 de Julho de 2013 (que os SR inicialmente saudaram como a “segunda revolução”) e o terror contrarrevolucionário que tomou conta do Egito desde então. Agora, com medo de que a repressão da junta militar possa levar a uma nova explosão revolucionária na classe trabalhadora, os SR estão procurando renovar sua aliança com a Irmandade Mulçumana.

Com o surgimento de novos movimentos de oposição da classe trabalhadora tanto no Egito quanto ao redor do mundo, lições essenciais devem ser aprendidas. A questão fundamental é a construção de um partido revolucionário baseado na teoria da revolução permanente de Trotsky. Apenas sobre essa base a inequívoca independência política da classe trabalhadora em relação à burguesia e seus aliados na classe média pode ser estabelecida e um programa socialista internacionalista elaborado. O Comitê Internacional da Quarta Internacional vê como uma de suas tarefas fundamentais no próximo período a construção de tal partido, como secção do movimento internacional, no Egito.