Uma semana depois da American Airlines anunciar um corte de
13 mil postos de trabalho nos EUA, uma nova rodada de demissões
em massa está atingindo trabalhadores das indústrias
automobilística, alimentícia e de telefonia ao redor
do mundo.
Muitos dos cortes afetam trabalhadores na Europa, onde a crise
econômica está sendo usada pelas corporações
multinacionais para implementar ataques planejados há tempos
contra os padrões de vida e segurança de trabalho
dos trabalhadores.
De acordo com o Wall Street Journal, a General Motors,
que deve anunciar um lucro de US$ 8 bilhões em 2011, está
ameaçando fechar duas plantas nas suas divisões
europeias Opel e Vauxhall. Três mil e cem trabalhadores
operam a fábrica em Bochum, Alemanha, e outros 2.100 trabalham
na planta de Ellesmere Port, próxima a Liverpool, Inglaterra.
A GM havia inicialmente planejado vender a Opel em 2009 mas
em vez disso anunciou um plano para acabar com 8.300 empregos
por toda a Europa, incluindo o fechamento da sua planta em Antuérpia,
Bélgica. Tendo obtido cortes salariais e de benefícios
históricos durante a reestruturação da indústria
automobilística americana por Obama, a administração
da GM está ansiosa para extrair concessões similares
dos trabalhadores alemães e britânicos. O Wall
Street Journal cita um executivo anônimo da GM que afirmou
haver frustração crescente contra a Opel e
um sentimento de que os cortes de dois anos atrás não
foram profundos o suficiente. Se a Opel vai ser arrumada,
vai ser arrumada agora e os cortes serão profundos.
O executivo disse ao jornal que a paciência da GM está
se esgotando e revelou que, além da perda de US$ 580 milhões
da GM europeia nos primeiros nove meses de 2011, as perdas do
quarto trimestre foram horrendas.
O Journal informou que a GM está discutindo com
o sindicato IG Metall a possibilidade de transferir mais de sua
produção da Alemanha para a Coreia, de modo a compensar
as perdas de postos de trabalho. Nos EUA, o United Auto Workers
aceitou grandes concessões para pedir que a GM traga de
volta parte da produção que foi transferida para
a China e para o México, e desse modo parar a queda dos
ganhos financeiros do aparato sindical.
A nova equipe de administração tem uma
relação produtiva com o sindicato e estamos ambos
comprometidos a resolver juntos os desafios que confrontam a companhia,
disse o porta-voz da GM, Selim Bingol, se referindo ao IG Metall.
Como parte de seus planos para atacar os trabalhadores europeus,
a GM está pondo em cena uma leva de executivos e burocratas
sindicais com experiência em cortar os empregos e padrões
de vida dos trabalhadores da GM nos EUA. Isso inclui o presidente
do UAW Bob King, que foi elogiado por Wall Street ao aceitar acordos
trabalhistas no ano passado que incluem o menor aumento nos custos
da força de trabalho das últimas quatro décadas.
De acordo com o Journal, o executivo-chefe da GM Dan
Akerson despachou quatro executivos-sênior para servirem
como comitê de supervisão da Opel: o vice-presidente
Steve Girsky (que tem laços estreitos com o UAW), o chefe
financeiro Dan Ammann, o chefe de produtos Mary Barra e o chefe
de operações internacionais Tim Lee.
De acordo com pessoas familiares com o processo, o presidente
do United Auto Workers Bob King mediará as conversas se,
como esperado, ele se juntar à comissão supervisora
da Opel, o Journal escreve. O Sr. King tem
procurado se tornar mais influente na cena trabalhista global.
Ele fez várias viagens para o exterior e teve conversas
públicas sobre a importância de trabalhar com outros
sindicatos globalmente.
As vendas de carros na Europa caíram 15% em 2011, para
12,8 milhões de veículos, em comparação
a 2007, sendo que os analistas esperam que as vendas no oeste
europeu caiam mais 5,9% em 2012, para 12,05 milhões de
carros e caminhões. Com o auxílio dos sindicatos,
as companhias automobilísticas procuram trazer o modelo
americano à Europa: maximização dos lucros
por veículo através de enormes cortes nos
custos trabalhistas para gerar altos lucros mesmo em um
mercado em contração.
A fabricante japonesa Mitsubishi, lembrando a demanda em queda,
anunciou no começo desta semana o fechamento de sua única
fábrica na Europa. A companhia disse que encerraria a produção
do carro compacto Colt e do utilitário esportivo Outlander
em sua fábrica na cidade de Born, Holanda, até o
final de 2012.
Começando em 1991, como uma joint-venture tripla entre
a Mitsubishi, Volvo e o governo holandês, a companhia baseada
em Tóquio assumiu controle total da companhia holandesa
Car BV, ou NedCar, em 2001, depois de comprar 50% das ações
da Volvo Carros. Devido ao ambiente de operação
altamente instável que os fabricantes de automóveis
atualmente enfrentam, a companhia disse que não pôde
chegar a uma solução que permitisse continuar usando
a planta. De acordo coma BBC, a Mitsubishi deve vender a fábrica
por um euro se cerca de 1.500 funcionários da fábrica
continuarem na folha de pagamento.
Cerca de mil trabalhadores bloquearam as entradas da planta
nesta semana, e segundo relatos o sindicato chamou uma greve contra
o fechamento para hoje. Os trabalhadores decidiram assumir a greve
para mostrar que não estão preparados para aceitar
a decisão como cordeiros esperando pelo abate,
o canal holandês Nos informou. O canal complementou, porém,
dizendo que os sindicatos estão procurando um comprador
adequado para a planta.
Para além dos cortes de empregos na indústria
automobilística, a fabricante de celulares finlandesa Nokia
anunciou no começo desta semana que cortaria 4 mil postos
de trabalho nas suas fábricas na Hungria, México
e Finlândia, conforme encerra operações de
produção na Europa e se muda para a Ásia.
As demissões, que serão completadas ao final do
ano, são parte de mais de 7 mil demissões globais
anunciadas pela gigante dos celulares no mês passado.
Eles só nos disseram que demitirão uma
mistura de pessoas, de todos os departamentos, disse à
Reuters Veronika Szalai, uma trabalhadora de 27 anos na Nokia
de Komarom, Hungria, perto do rio Danúbio. É
claro que isso aflige a todos. Neste mundo é difícil
viver com dignidade. Vamos permanecer o máximo que pudermos,
e então talvez pegaremos nossos cheques de desligamento...
e então não sei o que vai acontecer.
Mais de metade do corte de 4 mil empregos afetará a
Hungria. O impacto também atingirá a vizinha Eslováquia.
No ano passado a Nokia fechou uma planta na Romênia.
A PepsiCo, maior conglomerado alimentício do mundo,
complementa o banho de sangue ao anunciar 8.700 demissões
ao redor do mundo na semana passada. A companhia é altamente
lucrativa mas afirma que o corte de custos US$ 1,5 bilhões
até 2014 além do corte de US$ 1,5 bilhões
anteriormente anunciado é devido ao custo mais alto
das commodities.
A miséria imposta sobre os seus trabalhadores, que se
espalha por 30 países, não será compartilhada
pelos seus maiores executivos, entre eles Massimo dAmore,
o ex-presidente do Grupod de Bebidas PepsiCo que está prestes
a se aposentar. De acordo com o relatório SEC da empresa,
seu acordo de aposentadoria afirma que dAmore receberá
da companhia 26 pagamentos bissemanais no valor de US$79.400 cada.
Além da sua renda líquida de US$ 2 milhões,
a PepsiCo anteriormente divulgou que dAmore havia acumulado
US$3,4 milhões em benefícios e ações.