Um ano após o começo da Revolução
Egípcia em 25 de janeiro, milhões de trabalhadores
e jovens tomaram as ruas e praças de todo o Egito para
protestar contra a junta militar apoiada pelos EUA. Eles exigem
a derrubada do General Mohamed Hussein Tantawi, sucessor do presidente
deposto Hosni Mubarak e líder do Conselho Supremo das Forças
Armadas (SCAF), e a queda do regime.
Como há um ano, diversas marchas vindas de diferentes
bairros da capital foram até a Praça Tahrir, cujas
entradas estavam sob o controle de comitês populares. As
forças de segurança e os militares estiveram ausentes
da praça durante todo o dia. Apesar da chuva forte no Cairo,
pela manhã cedo dezenas de milhares de manifestantes já
haviam se reunido na praça, gritando slogans como "Abaixo,
abaixo o poder militar", "O povo quer derrubar o regime",
e "Revolução, revolução até
a vitória, revolução em todas as ruas do
Egito".
Outras palavras-de-ordem eram dirigidas contra os "assassinos
dos manifestantes mortos" e o julgamento-farsa de Hosni Mubarak
e seus dois filhos. No meio da praça um gigantesco cartaz
mostrava Mubarak, seu ex-ministro do interior Habib El-Adly, e
Tantawi com cordas amarradas nos pescoços.
Na Praça Giza milhares se reuniram para realizar uma
manifestação na direção de Tahrir,
entoando palavras-de-ordem contra os militares, pela continuidade
da revolução e por "pão, liberdade e
dignidade humana". Palavras-de-ordem também foram
dirigidas contra os EUA e Israel.
Outros protestos de massa começaram em Mohandeseen,
Heliopolis, Cidade de Nasr e no bairro proletário de Shubra,
no qual as pessoas entoaram: "Povo de Shubra, marchemos novamente
e conquistemos a vitória". Amal Mahmoud, um manifestante
da marcha de Shubra, disse ao Egyptian Independent: "Estamos
aqui para continuar a revolução. Nada foi conquistado,
o SCAF está induzindo a corrupção no país,
e estamos aqui para conseguir os direitos dos mártires,
dos feridos e de todos os egípcios".
Estudantes marcharam em manifestações de mais
de 10 mil pessoas contra os militares, partindo de Ain Shams,
Ghamra e Universidade do Cairo, na direção da Praça
Tahrir. Os manifestantes da Universidade do Cairo carregavam caixões
com os nomes dos mártires mortos pelas forças de
segurança durante todo o ano passado, gritando: "Não
estamos aqui para comemorar. Estamos aqui para conquistar os direitos
dos mártires". Durante a tarde o espaço da
praça foi completamente preenchido pelos manifestantes,
assim como as ruas e praças do centro do Cairo. De acordo
com observadores, o número de manifestantes era tão
grande quanto o do ano passado.
Protestos de massa contra a junta militar também foram
realizados em outras cidades e divisões administrativas
egípcias. Na cidade portuária de Suez, outro centro
da revolução desde o começo, dezenas de milhares
se reuniram na Praça Arbaeen para depois marcharem pela
cidade, entoando "O povo quer a queda do regime".
Em Alexandria, meio milhão de manifestantes participou
de uma marcha em direção à Zona Militar Norte.
Relatos indicam que um grupo de Salafistasuma tendência
islamista notória por suas políticas contrarrevolucionárias
e anti-proletáriasfoi expulso da manifestação.
Em Mahalla al-Kubra, uma cidade com longo histórico
de lutas militantes da classe trabalhadora, milhares tomaram as
ruas. Protestos aconteceram em todas as outras grandes cidades
egípcias Ismailiya, Luxor, Aswan, Fayoum, Qena e
Port Said.
O Guardian britânico descreveu o caráter dos protestos
da seguinte forma: "Fora da Praça Tahrir, de todos
os cantos da cidade, incluindo Giza onde no momento estou caminhando,
há possivelmente centenas de milhares de pessoas (...)
para eles isto não é uma comemoração
(...) isto [é] uma luta para completar a revolução
e derrubar o governo militar. [Há um] sentimento de muita
raiva e confiança".
A determinação dos trabalhadores e jovens de
que o regime precisa ser derrubado através da luta revolucionária
contínua é uma rejeição da assim-chamada
"transição democrática" organizada
pela junta militar, seus apoiadores no governo dos EUA, e pelo
establishment político egípcio. É uma expressão
do abismo de classe cada vez maior entre todos os grupos e partidos
políticos oficiais e os jovens e trabalhadores revolucionários
do Egito.
Os movimentos políticos que convocaram os protestos
ou participaram deles várias coalizões da
juventude, o Movimento de Juventude 6 de Abril, Kefaya, apoiadores
do político liberal Mohamed ElBaradei, e grupos pequeno-burgueses
de "esquerda" como o dos Socialistas Revolucionários
(RS) inicialmente apoiaram a junta. Eles afirmavam que
a junta era a "defensora da nação" (nas
palavras de ElBaradei), ou que ela poderia ser pressionada a realizar
mais reformas democráticas e sociais (a posição
do RS).
Depois de um ano de amargos confrontos revolucionários
entre a junta e a classe trabalhadora, essas mentiras foram expostas;
e o establishment político está desesperadamente
tentando encobrir seu apoio inicial à junta e evitar a
explosão de novas lutas revolucionárias.
De um lado, milhões de manifestantes, impulsionados
pela piora das condições sociais e por reivindicações
de igualdade social e democracia genuína, estão
renovando seus chamados pela queda do regime e exigindo uma "verdadeira
segunda revolução". De outro lado, os atuais
partidos políticos estão trabalhando na preparação
da próxima armadilha para os trabalhadores e jovens revolucionários.
A última dessas armadilhas é o chamado pela entrega
do poder a um regime civil baseado nas eleições
parlamentares realizadas recentemente, sob a mira da lei marcial.
Uma entrega do poder aos islamistas, que dominam o parlamento,
não teria nada de progressista ou democrático. Os
islamistas foram capazes de ganhar as eleições
marcadas por um baixo comparecimento dos eleitores depois de uma
semana de confrontos violentos entre a junta e os manifestantes
graças ao apoio que receberam da pequena-burguesia
de "esquerda", da elite financeira egípcia e
seus novos mecenas nos EUA e nas monarquias do Golfo. No decurso
da revolução, os islamistas tiveram um papel contrarrevolucionário
desde o começo; eles se opuseram aos protestos de 25 de
janeiro, há um ano, e têm sido apoiadores abertos
da junta militar desde que ela assumiu o poder.
Recentemente, políticos islamistas declararam que não
iriam se opor à "posição especial"
do exército e que iriam trabalhar em colaboração
estreita com o imperialismo dos EUA e o capital financeiro internacional.
Duas semanas atrás, Mohamed Morsi, líder do Partido
Liberdade e Justiça (FJP), o braço político
da Irmandade Muçulmana, se reuniu com o Secretário
Adjunto de Estado dos EUA William Burns e disse que o FJP "acredita
na importância das relações EUA-Egito".
Apenas alguns dias depois o FJP declarou seu apoio ao empréstimo
de US$ 3,2 bilhões oferecido pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI).
Apesar da perspectiva profundamente contrarrevolucionária
dos islamistas, grupos de classe média como o Movimento
de Juventude 6 de Abril e o RS estão determinados a submeter
os protestos de massa a essas forças reacionárias.
Na segunda-feira, depois da sessão de abertura do parlamento,
o grupo 6 de Abril enviou uma mensagem de parabenização
ao parlamento, pedindo que ele "cumprisse as exigências
da revolução".
No dia 24 de janeiro o RS publicou um discurso de um de seus
membros líderes, Sameh Naguib, palestrante na Universidade
Americana no Cairo, exigindo que as massas coloquem o parlamento
"sob cerco (...) para pressionar por reivindicações".
Os novos protestos, assim como as experiências do ano
passado, mostram que os trabalhadores egípcios e a juventude
podem conquistar suas aspirações revolucionárias
somente através da luta por um poder independente da burguesia
egípcia e seus apêndices na classe média.
Para empurrar a revolução adiante, a classe trabalhadora
egípcia precisa derrubar a junta e substitui-la por um
Estado dos trabalhadores em luta por políticas socialistas
no Egito, em todo o Oriente Médio e internacionalmente.