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Novos protestos marcam aniversário da Revolução Egípcia

Por Johannes Stern
1 de fevereiro de 2012

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Um ano após o começo da Revolução Egípcia em 25 de janeiro, milhões de trabalhadores e jovens tomaram as ruas e praças de todo o Egito para protestar contra a junta militar apoiada pelos EUA. Eles exigem a derrubada do General Mohamed Hussein Tantawi, sucessor do presidente deposto Hosni Mubarak e líder do Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF), e a queda do regime.

Como há um ano, diversas marchas vindas de diferentes bairros da capital foram até a Praça Tahrir, cujas entradas estavam sob o controle de comitês populares. As forças de segurança e os militares estiveram ausentes da praça durante todo o dia. Apesar da chuva forte no Cairo, pela manhã cedo dezenas de milhares de manifestantes já haviam se reunido na praça, gritando slogans como "Abaixo, abaixo o poder militar", "O povo quer derrubar o regime", e "Revolução, revolução até a vitória, revolução em todas as ruas do Egito".

Outras palavras-de-ordem eram dirigidas contra os "assassinos dos manifestantes mortos" e o julgamento-farsa de Hosni Mubarak e seus dois filhos. No meio da praça um gigantesco cartaz mostrava Mubarak, seu ex-ministro do interior Habib El-Adly, e Tantawi com cordas amarradas nos pescoços.

Na Praça Giza milhares se reuniram para realizar uma manifestação na direção de Tahrir, entoando palavras-de-ordem contra os militares, pela continuidade da revolução e por "pão, liberdade e dignidade humana". Palavras-de-ordem também foram dirigidas contra os EUA e Israel.

Outros protestos de massa começaram em Mohandeseen, Heliopolis, Cidade de Nasr e no bairro proletário de Shubra, no qual as pessoas entoaram: "Povo de Shubra, marchemos novamente e conquistemos a vitória". Amal Mahmoud, um manifestante da marcha de Shubra, disse ao Egyptian Independent: "Estamos aqui para continuar a revolução. Nada foi conquistado, o SCAF está induzindo a corrupção no país, e estamos aqui para conseguir os direitos dos mártires, dos feridos e de todos os egípcios".

Estudantes marcharam em manifestações de mais de 10 mil pessoas contra os militares, partindo de Ain Shams, Ghamra e Universidade do Cairo, na direção da Praça Tahrir. Os manifestantes da Universidade do Cairo carregavam caixões com os nomes dos mártires mortos pelas forças de segurança durante todo o ano passado, gritando: "Não estamos aqui para comemorar. Estamos aqui para conquistar os direitos dos mártires". Durante a tarde o espaço da praça foi completamente preenchido pelos manifestantes, assim como as ruas e praças do centro do Cairo. De acordo com observadores, o número de manifestantes era tão grande quanto o do ano passado.

Protestos de massa contra a junta militar também foram realizados em outras cidades e divisões administrativas egípcias. Na cidade portuária de Suez, outro centro da revolução desde o começo, dezenas de milhares se reuniram na Praça Arbaeen para depois marcharem pela cidade, entoando "O povo quer a queda do regime".

Em Alexandria, meio milhão de manifestantes participou de uma marcha em direção à Zona Militar Norte. Relatos indicam que um grupo de Salafistas—uma tendência islamista notória por suas políticas contrarrevolucionárias e anti-proletárias—foi expulso da manifestação.

Em Mahalla al-Kubra, uma cidade com longo histórico de lutas militantes da classe trabalhadora, milhares tomaram as ruas. Protestos aconteceram em todas as outras grandes cidades egípcias — Ismailiya, Luxor, Aswan, Fayoum, Qena e Port Said.

O Guardian britânico descreveu o caráter dos protestos da seguinte forma: "Fora da Praça Tahrir, de todos os cantos da cidade, incluindo Giza onde no momento estou caminhando, há possivelmente centenas de milhares de pessoas (...) para eles isto não é uma comemoração (...) isto [é] uma luta para completar a revolução e derrubar o governo militar. [Há um] sentimento de muita raiva e confiança".

A determinação dos trabalhadores e jovens de que o regime precisa ser derrubado através da luta revolucionária contínua é uma rejeição da assim-chamada "transição democrática" organizada pela junta militar, seus apoiadores no governo dos EUA, e pelo establishment político egípcio. É uma expressão do abismo de classe cada vez maior entre todos os grupos e partidos políticos oficiais e os jovens e trabalhadores revolucionários do Egito.

Os movimentos políticos que convocaram os protestos ou participaram deles — várias coalizões da juventude, o Movimento de Juventude 6 de Abril, Kefaya, apoiadores do político liberal Mohamed ElBaradei, e grupos pequeno-burgueses de "esquerda" como o dos Socialistas Revolucionários (RS) — inicialmente apoiaram a junta. Eles afirmavam que a junta era a "defensora da nação" (nas palavras de ElBaradei), ou que ela poderia ser pressionada a realizar mais reformas democráticas e sociais (a posição do RS).

Depois de um ano de amargos confrontos revolucionários entre a junta e a classe trabalhadora, essas mentiras foram expostas; e o establishment político está desesperadamente tentando encobrir seu apoio inicial à junta e evitar a explosão de novas lutas revolucionárias.

De um lado, milhões de manifestantes, impulsionados pela piora das condições sociais e por reivindicações de igualdade social e democracia genuína, estão renovando seus chamados pela queda do regime e exigindo uma "verdadeira segunda revolução". De outro lado, os atuais partidos políticos estão trabalhando na preparação da próxima armadilha para os trabalhadores e jovens revolucionários. A última dessas armadilhas é o chamado pela entrega do poder a um regime civil baseado nas eleições parlamentares realizadas recentemente, sob a mira da lei marcial.

Uma entrega do poder aos islamistas, que dominam o parlamento, não teria nada de progressista ou democrático. Os islamistas foram capazes de ganhar as eleições — marcadas por um baixo comparecimento dos eleitores depois de uma semana de confrontos violentos entre a junta e os manifestantes — graças ao apoio que receberam da pequena-burguesia de "esquerda", da elite financeira egípcia e seus novos mecenas nos EUA e nas monarquias do Golfo. No decurso da revolução, os islamistas tiveram um papel contrarrevolucionário desde o começo; eles se opuseram aos protestos de 25 de janeiro, há um ano, e têm sido apoiadores abertos da junta militar desde que ela assumiu o poder.

Recentemente, políticos islamistas declararam que não iriam se opor à "posição especial" do exército e que iriam trabalhar em colaboração estreita com o imperialismo dos EUA e o capital financeiro internacional. Duas semanas atrás, Mohamed Morsi, líder do Partido Liberdade e Justiça (FJP), o braço político da Irmandade Muçulmana, se reuniu com o Secretário Adjunto de Estado dos EUA William Burns e disse que o FJP "acredita na importância das relações EUA-Egito". Apenas alguns dias depois o FJP declarou seu apoio ao empréstimo de US$ 3,2 bilhões oferecido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Apesar da perspectiva profundamente contrarrevolucionária dos islamistas, grupos de classe média como o Movimento de Juventude 6 de Abril e o RS estão determinados a submeter os protestos de massa a essas forças reacionárias. Na segunda-feira, depois da sessão de abertura do parlamento, o grupo 6 de Abril enviou uma mensagem de parabenização ao parlamento, pedindo que ele "cumprisse as exigências da revolução".

No dia 24 de janeiro o RS publicou um discurso de um de seus membros líderes, Sameh Naguib, palestrante na Universidade Americana no Cairo, exigindo que as massas coloquem o parlamento "sob cerco (...) para pressionar por reivindicações".

Os novos protestos, assim como as experiências do ano passado, mostram que os trabalhadores egípcios e a juventude podem conquistar suas aspirações revolucionárias somente através da luta por um poder independente da burguesia egípcia e seus apêndices na classe média. Para empurrar a revolução adiante, a classe trabalhadora egípcia precisa derrubar a junta e substitui-la por um Estado dos trabalhadores em luta por políticas socialistas no Egito, em todo o Oriente Médio e internacionalmente.

(Traduzido por movimentonn.org)