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Chile: candidato da direita vence primeiro turno das eleições

Por Rafael Azul
21 de dezembro de 2009

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Publicado originalmente em ingles no WSWS o dia 18 de dezembro de 2009.

O resultado do primeiro turno das eleições presidenciais no Chile, ocorridas no domingo, dia 13, se deu em meio às crescentes polarizações sociais no país e ao aumento do desemprego. Além disso, aponta para a continuidade do legado da ditadura que dominou o Chile por 17 anos.

Sebastián Piñera obteve a grande parte dos votos, 44%. Eduardo Frei veio em segundo lugar, com 29%. Piñera é o candidato da Aliança Pelo Chile (Alianza por Chile, APC), uma coligação de dois partidos de direita tradicionais: a Renovação Nacional (Renovación Nacional, RN) de Liñera, e a União Democrática Independente (Unión Democrática Independiente, UDI), o herdeiro político da ditadura de Pinochet.

Eduardo Frei é o candidato da Concertación, a coalizão dominada pelo Partido Democrata Cristão e pelo Partido Socialista, que governaram o chile desde a queda de Pinochet, em 1989. Frei já ocupou o cargo de presidente entre os anos de 1994 e 2000.

Os dois principais candidatos se enfrentarão em um segundo-turno no dia 17 de janeiro. Marco Enríquez-Ominami (do Movimento Nova Maioria, NM) ficou em terceiro lugar, com 20% dos votos. Jorge Arrate, da coalizão "Junto Podemos" (Partido Comunista Chileno e Esquerda Cristã) obteve 6% dos votos.

Se Piñera vencer no segundo turno, será o primeiro candidato da direita chilena eleito desde Jorge Alessandri, em 1958.

No poder legislativo haverá um realinhamento das forças de direita. Dos 120 membros da Câmara de Deputados, a Concertación terá 53 votos, a UDI e a RN 55. O P,c que já anunciou seu apoio a Frei, terá três cadeira, assim como os Verdes.

O resultado das eleições evidenciam a crescente instabilidade por que passa o país desde a restauração de seu governo civil, em 1990. Nesse período, o poder esteve nas mãos da Concertación, aliança entre o Partido Socialista, de Michelle Bachelet, a Democracia Cristã, de Eduardo Frei, além do Partido Pela Democracia (PPD) e do Partido Radical Social Democrata (PRSD)

A substituição do regime de Pinochet pelo da Concertación acompanhou desenvolvimentos similares em toda o cone sul da América Latina. As ditaduras militares na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai deram lugar a governos civis, com intuito de apaziguar os conflitos de classe, com promessas de desenvolvimento econômico baseados na integração da região à economia capitalista mundial. Para o Chile, isso dependeu em grande parta da expansão de suas trocas comerciais com os EUA e através da abertura da economia nacional ao capital internacional. Muito disso foi levado a cabo por Frei nos anos 1990.

Os sucessivos governos da Concertación, alternando socialistas e democratas-cristãos, somente continuaram e aprofundaram as medidas de livre-mercado da agenda econômica de Pinochet e seu time de economistas, chamados de "Chicago Boys". Como presidente na década de 1990, Frei privatizou o sistema de água do Chile, assim como seus portos.

Trabalhando em uma aliança efetiva com partidos de direita — dos quais sua política se tornou completamente indistinguível — a Concertación surgiu como o principal guarda das mudanças estruturais impostas brutalmente pelo regime de Pinochet à Constituição de 1980. Tal texto ainda continua em seus princípios, junto com a anistia aos militares assassinos e torturadores da ditadura.

A presidente atual, líder do Partido Socialista, Michelle Bachelet, assumiu o governo em 2006 e está impossibilitada de reeleger-se.

Tirando os medíocres programas de assistência social, os governos da Concertación fizeram pouco ou nada para conter a queda nos padrões de vida da população. A sociedade chilena é incrivelmente polarizada, mesmo para padrões latino-americanos, comparada apenas ao Brasil ou à Africa do Sul.

Após o duplo-choque da recessão de 2001, após o colapso de Wall Street em 2008, agora o Chile enfrenta uma elevada taxa de desemprego de dois dígitos. Em Santiago, capital do país, o desemprego está em 13%.

O legado social de sucessivos governos da Concertación foi a concentração da riqueza nas mãos de uma ínfima minoria, com acesso a moradias, escolas e hospitais de primeira classe, coexistindo com o desemprego crescente para a maioria da população trabalhadora, aliada à deterioração dos hospitais públicos e das escolas. Sintomático da piora das condições sociais é o aumento da criminalidade e do tráfico de drogas.

A desilusão com esse legado encontrou dura expressão na crescente taxa de abstenção nas urnas. Nas eleições de 13 de dezembro, cerca de 47% dos habilitados a votar não compareceram às urnas. Entre os jovens, a alienação do processo eleitoral é ainda maior. Apenas 9,2% dos registrados para votar são jovens entre 18 e 30 anos. Em 1988, essa camada correspondia a 36% do eleitorado.

O caráter de classe do governo Concertación ficou mais que evidente durante a greve de um mês realizada pelos professores estaduais em novembro. Os professores protestaram contra o "débito histórico" do governo para com os salários dos professores desde 1981, ainda durante o governo Pinochet, que não repassou parte das verbas governamentais à educação pública.

Apesar das dezenas de decisões judiciais a favor do professorado, o governo chileno repetidamente negou a existência de tal débito, se negando também a negociar com os grevistas.

A greve de novembro ocorreu após uma greve de três semanas em maio e junho.

A greve dos professores era parte de uma onda mais ampla que neste ano mobilizou trabalhadores da saúde e empregados públicos, assim como mineiros de empresas privadas.

O candidato vencedor no primeiro turno, Piñera, é um dos homens mais ricos na América Latina e provém de uma das mais aristocráticas famílias do Chile. Seu pai foi embaixador das Nações Unidas, enquanto seu irmão, José Piñera, foi Ministro de Minas e do Trabalho durante a ditadura de Pinochet, responsável por iniciar a privatização do sistema de seguro social do país.

Apelidado de "Berlusconi chileno", Sebastián Piñera tem uma fortuna pessoal estimada em US$ 3 bilhões, que começou a acumular durante a ditadura de Pinochet, época em que a fraude financeira e a super-exploração da classe trabalhadora geravam enormes e descarados lucros. Entre suas propriedades encontra-se a LAN Chile, a linha aérea nacional, e um dos principais canais de televisão chilenos. Também é dele o time de futebol Colo Colo.

Seu partido, RN, é o representante político direto da elite corporativa que se enriqueceu com as políticas de privatização e livre mercado capitalista introduzidas durante a ditadura de Pinochet, as mesmas que continuaram sob os anos da Concertación.

A companheira de coalizão da RN, a UDI, é o braço direito do antigo regime de Pinochet. Inclui figuras que participaram da ditadura e apoiam a extensão de políticas econômicas laissez faire drásticas associadas ao regime anterior. Entre os apoiadores da UDI incluem-se a ultra reacionária e católica Opus Dei e antigos militares que fizeram parte da ditadura.

Pinera, pouco após a disputa eleitoral, declarou que o "ciclo político" da Concertación esgotou-se e uma nova ordem é necessária. O programa da Alianza inclui a subordinação da educação pública e todos os programas sociais aos interesses do lucro da elite financeira. Piñera já anunciou planos de reorganizar a educação do país e privatizar parte da empresa estatal Codelco Copper.

O terceiro colocado, Marco Enríquez-Ominami, é um sintoma da crise da coalizão da Concertación. O candidato de 36 anos é filho de Miguel Enríquez, líder do Movimento da Esquerda Revolucionária (MIR), um grupo castrista formado em 1964 e brutalmente destruído sob Pinochet. Miguel Enríquez foi assassinado por forças de segurança quando seu filho ainda era criança.

Marco Enríquez-Ominami saiu do Partido Socialista após não obter a nominação para a corrida eleitoral como presidente pela Concertación, formando uma plataforma independente com o "social liberalismo" do país — que vai desde os que defendem o direito ao aborto e o casamento gay até alguns que defendem políticas agressivas de livre-mercado e privatização de companhias estatais. Impressionantemente, seu principal assessor político anunciou que ele apoiaria a campanha de Piñera no segundo turno.

A eleição de três deputados por parte do Partido Comunista é devida ao papel que o stalinismo desempenhou historicamente no país, depositando o descontentamento social nas mãos do estado capitalista. Os três candidatos são parte de um qui pro quo. O P,c assim como seus deputados, apoiará a campanha da Concertación no segundo turno.

Vagando por trás do processo eleitoral está o fantasma dos anos Pinochet, que somaram milhares de assassinatos, desaparecimentos, torturados, aprisionados e exilados. Pouco antes das eleições do dia 13, um relatório judicial foi publicado indicando que a morte do antigo presidente Eduardo Frei, pai do candidato da Concertación, foi resultado de um assassinato médico realizado pelos agentes de Pinochet. Ele foi envenenado enquanto estava hospitalizado para realizar uma cirurgia de menor importância.

Seis homens foram presos no caso: três pelo assassinato e outros três por realizar uma autopsia ilegal, onde todos os órgãos foram retirados do corpo do ex-presidente e substituídos por gaze para acobertar o assassinato.

Frei, que fora presidente antes da eleição de Salvador Allende em 1970, havia apoiado Pinochet no início do golpe que afastou e assassinou Allende e impôs a ditadura. Por volta de 1980, no entanto, Frei tornou-se um oponente do regime — em grande parte por causa de um decreto de Pinochet que dissolveu todos os partidos políticos, incluindo o seu.

O relatório judicial em nada mudou o resultado das eleições. Ainda que chocados com as revelações, vinte anos após o fim da ditadura, amplas camadas da classe trabalhadora chilena tiraram a conclusão de que em pouca coisa as duas principais coalizões do país podem ser diferentes.

[traduzido por movimentonn.org]

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