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Desemprego é o maior em 22 anos nos EUA

Por Andre Damon
19 de junho de 2008

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 7 de junho de 2008.

A economia dos EUA perdeu 49000 empregos em maio, levando a um aumento de mais 0,5% na taxa de desemprego oficial -o maior aumento de um mês ao outro desde 1986, de acordo com os dados divulgados pelo Labour Department. Os preços do petróleo subiram violentamente no mesmo dia do anúncio, resultando num aumento de mais de US$ 10 o barril.

Os mercados financeiros, por sua vez, também reagiram violentamente aos fatos, com o New York Stock Exchange e o NASDAQ despencando imediatamente logo após a abertura dos mercados, ambos fechando em baixa de aproximadamente 3%. As taxas de câmbio pareciam relativamente estáveis, com o boato de que o Federal Reserve poderia aumentar as taxas de interesse, mas caíram em relação ao Euro assim que o preço do petróleo atingiu novo recorde.

O acentuado aumento no desemprego -de 5 para 5,5%- surpreendeu os analistas, que vinham prevendo um aumento de apenas 0,1%. A redução de empregos em maio seguiu a redução de 28 mil empregos em abril, e foi na verdade o quinto mês consecutivo de queda. Desde o início do ano, desapareceram 324 mil postos de trabalho nos EUA.

26 mil empregos industriais foram perdidos em maio, logo após a perda de 49 mil empregos em abril. A redução média dos empregos no setor manufatureiro será ainda exacerbado pelos cortes na General Motors, que irá cortar quase 19 mil postos de trabalho com o PDV (Plano de Demissões Voluntárias) que se inicia a partir do dia 1º de julho.

A crise no mercado imobiliário e financeiro também repercutiu nos empregos; o setor da construção civil demitiu 34 mil, logo após uma queda de 52 mil postos em abril. O setor de serviços perdeu 8 mil empregos e o varejo demitiu 27 mil, enquanto aproximadamente mil postos de trabalho foram perdidos no setor financeiro. Esses números já estão refletindo nas pesquisas de opinião com o consumidor, que mostram que os índices de confiança na economia chegaram ao seu nível mais baixo nos últimos 15 anos. Desse modo, o consumo também chegou ao seu nível mais baixo desde a recessão de 2001.

Também tem ocorrido aumento semelhante nas reduções da força de trabalho a longo prazo, como vimos com o recente anúncio da firma Challenger, Gray & Christmas de que ao todo 100 mil cortes de empregos foram anunciados em maio, um número 17% maior do que no mesmo mês de 2007. Várias das maiores companias aéreas anunciaram cortes significativos nessa semana; mais recentemente, a Continental Airlines, que afirmou na quinta-feira que irá cortar 3 mil postos de trabalho, número equivalente a 7% da sua força de trabalho.

O aumento inesperadamente alto nas taxas de desemprego -que se reflete não apenas no número de desempregados, mas também no número de pessoas procurando emprego- parece ter sido afetado pelo influxo de estudantes buscando os chamados summer jobs (empregos temporários nas férias). Economistas entrevistados pela grande imprensa dizem esperar que parte do aumento no desemprego irá ser reduzido mais pra frente, e observam que os salários tem sido até mais favoráveis do que o esperado.

Mas ainda assim os anúncios geraram um frenesi em Wall Street, já que os especuladores passaram a vender seus dólares e investir em petróleo, levando o preço do barril ao pico de US$ 139,12 pouco antes dos mercados fecharem com um aumento de US$ 10,75, ao preço de US$ 138,54 o barril. Outras commodities sofreram menores aumentos, e o EURO aumentou 1% em relação ao dólar, atingindo US$ 1,58. A inesperada agressividade das negociações forçou o New York Mercantile Exchange a paralisar temporariamente algumas de suas operações.

O aumento constante no desemprego e a queda nos salários revelam a possibilidade de que se materialize nos próximos meses uma severa recessão nos EUA -algo que muitos analistas já vêem há um bom tempo ignorando- e que irá aprofundar os problemas para o Federal Reserve, que na última semana deu indicações de que poderia aumentar os juros para fortalecer o dólar e limitar a exposição dos EUA à alta dos preço das commodities.

A reação frenética de Wall Street às notícias pode ser atribuída ao papel fundamental do consumo interno na alimentação da economia dos EUA. Já que os consumidores estão pesadamente endividados e perderam economias com a desvalorização de suas casas gerada pelo colapso da bolha imobiliária, qualquer descréscimo no número de empregos -e logo da renda- provavelmente se manifestará em concordatas e falências. Isso, por sua vez, irá desestabilizar os mercados de crédito, restringindo empréstimos e levando a mais demissões.

James Knightle, do ING Group, disse ao Financial Times: “A expectativa é de que os mercados financeiros irão continuar a se enfraquecer... Isso é má notícia para o setor imobiliário, que já está tendo que lidar atualmente com rebaixamento dos salários, queda no preço de imóveis e empréstimos ainda mais caros. Isso certamente continuará a reduzir os gastos do consumidor e irá, em nossa opinião, ajudar a manter a depressão econômica por mais tempo do que os mercados financeiros estão considerando.”

O índice Dow Jones sofreu sua pior queda em 15 meses, fechando em queda de 394 pontos ou 3,13%, enquanto o NASDAQ caiu 2,96%. O S & P Financials Index foi especialmente atingido, caindo 5%. O índice caiu ao seu nível mais baixo desde março, apesar dos empréstimos emergenciais e dos cortes nas taxas de interesse realizadas pelo FED furante os três últimos meses. A Lehman Brothers, sobre a qual houve rumores de falência durante a crise do Bear Stearns 3 meses atrás e que é considerada particularmente vulnerável aos maus empréstimos hipotecários, respondeu à diminuição no seu nível de crédito no início dessa semana com a preparação para aumentar seu capital em mais 5 bilhões de dólares.

Indo atrás das estatísticas de desemprego, as execuções hipotecárias atingiram seu nível mais alto na primeira quinzena. De acordo com dados divulgados pela Mortgage Bankers Association, 8,82% de todas as hipotecas americanas já foram ou estão sendo executadas. A associação divulgou que 2,47% das hipotecas foram executadas no primeiro bimestre, quase o dobro dos 1,28% de hipotecas executadas no mesmo bimestre de 2007. A porcentagem de hipotecas sem pagamento -isto é, aquelas cujos donos não pagaram suas dívidas mas que ainda não foram executadas- pulou de 4,84% para 6,35% no mesmo período. Isso mesmo com o FED cortando as taxas de interesses pela metade no mesmo período.

Como os devedores têm ficado cada vez mais sem opção para refinanciamento dos valores de suas casas, e como os preços das casas têm se desvalorizado constantemente, uma grande proporção daqueles que não pagam suas dívidas acabam tendo suas hipotecas executadas. Dessa forma, os dados mais recentes já indicam que as hipotecas antes consideradas de baixo risco, hoje já mostrar aumentados níveis de execução. Christopher Mayer, professor de Mercado Imobiliário na Columbia Business School, disse ao Washington Post: “Os recentes aumentos [na execução de hipotecas] têm vindo dos grupos de clientes considerados mais seguros. Eles serão os próximos na queda.”