Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 18 de Setembro 2006.
Dadá, exposição no Museu de Arte Moderna
(MoMA) de Nova Iorque, estará em cartaz de 18 de junho
a 11 de setembro de 2006. Esta é a terceira e última
montagem da exposição, que já aconteceu no
Centre Pompidou em Paris (5 de outubro de 2005 a 9 de Janeiro
de 2006) e na National Galery em Washington (19 de fevereiro a
14 de maio de 2006).
Cerca de 90 anos depois da explosão da 1ª Guerra
Mundial, os conflitos do imperialismo e do militarismo estão
de novo na ordem do dia. Nestas circunstâncias, uma exposição
dedicada ao movimento artístico que em 1916 se auto-denominava
dadá parece oportuna. Reagindo ao massacre
que muitos deles viram como soldados em trincheiras pela Europa,
os artistas dadá expressaram um nojo saudável, não
só em relação à carnificina imperialista,
mas com a sociedade burguesa como um todo. Muitos dos que subseqüentemente
se juntaram a eles levaram as suas revoltas um passo adiante,
se lançando à luta revolucionária da classe
trabalhadora. Outros, que não tomaram o caminho do comprometimento
político, fizeram contribuições significantes
ao desenvolvimento de várias tendências da arte contemporânea
no período do entre-guerras.
O hospício sangrento que foi a 1ª Guerra Mundial
demonstrou que o capitalismo tinha superado seu histórico
papel progressista e agora oferecia apenas a alternativa do socialismo
ou barbárie. Sob essas condições, a arteo
aspecto mais sensível da vida culturaltambém
sofreu. As tendências artísticas do tempo e das décadas
subsequentescubismo, futurismo, dadaísmo e surrealismocolocavam
uma aguda, e às vezes, desesperada ruptura com a sociedade,
uma sociedade que muitos artistas acreditavam estar prestes a
morrer. Os tumultuados eventos do século 20 garantiram
que cada um desses movimentos não fosse capaz de se desenvolver
plenamente.
Enquanto esses artistas foram capazes de captar certos aspectos
da crise, em particular o hediondo papel cumprido pela cultura
oficial na legitimação da selvageria da civilização
burguesa ocidental, eles inevitavelmente emergiam na forma de
um esquerdismo boêmio. Diferente dos revolucionários
socialistas marxistas, eles eram principalmente revolucionários
de uma forma estética.
Eles representaram uma fase inevitável no desenvolvimento
da arte moderna, entre a crise ou colapso do mundo antigo e da
sua cultura e o sugimento de um novo mundo, algo que, tragicamente,
não surgiu no período seguinte - devido às
traições e aos crimes do estalinismo. Assim, seus
trabalhos tiveram uma influência duradora de tal extensão,
que traços do dadá podem ser encontrados em muitos
dos desenvolvimentos subseqüentes da arte do século
20.
O que é dadá?essa é
a questão que os dadaístas adoravam fazer, como
uma provocação. Aparentemente até Lenin a
fez a Tristan Tzara, artista nascido na Romênia com quem
ele jogou xadrez em Zurique, antes de retornar à Rússia
em abril de 1917 para liderar a Revolução. Mas explicar
o dadá, assim como explicar o nonsense, era algo intencionalmente
impossível.
Não existe um acordo sobre o surgimento da palavra dadá.
Alguns dizem que era tradução francesa para cavalinho
de pau, outros reivindicavam que ela fora escolhida aleatóriamente
de um dicionário multilingüe, ou ainda que era a tradução
russa para sim-simapesar de que, se isso fosse
verdade, teria sido melhor chamá-lo niet-niet
(não-não).
Unidos pela oposição à guerra e ao seu
nacionalismo patriótico, assim como pela irreverência
em relação ao gosto e ao comportamento burguês,
o dadá não constitui um estilo artístico
coerente, mas particularmente, uma expressão de um temperamento.
Os artistas que proclamaram o dadá como uma
crença, o fizeram porque, nas palavras de Marcel Janco,
nós perdemos a confiança na nossa cultura.
Tudo teve que ser demolido. Nós queríamos começar
de novo depois da tabula rasa. No Cabaret Voltaire
nós começamos a chocar o senso comum, a opinião
pública, a educação, as instituições,
os museus, o bom-gosto, em suma, toda ordem governante.
Mas de onde veio tamanha violenta e profunda rejeição
da cultura, e quais foram seus resultados? A decisão dos
curadores da mostra no MoMA de focar exclusivamente o período
dadá, que só durou de 1916 a 1924 contorna essas
questões. Apesar de incluir na mostra um valioso material
histórico, a exposição explica o dadá
quase que exclusivamente como uma rejeição à
1ª Guerra Mundial. Apesar de ser verdade, isto não
é suficiente.
Não é possível compreender a amargura
do dadá sem incluir o colapso da social-democracia alemã
e européia de 1914, que chegou a cada país para
dar suporte à guerra imperialista (com exceção
da Rússia, principalmente), traindo a classe trabalhadora
e os ideais do movimento socialista. Isto também teve ramificações
entre artistas e intelectuais, contribuindo para o senso de horror
característico do dadá.
A revolução Russa de 1917 criou a esperança
que apesar das atrocidades da guerra, a sociedade poderia ser
reorganizada sobre uma base elevada, mais humana. O assassinato
dos revolucionários alemães Rosa Luxemburgo e Karl
Liebkenecht em 1919 representou um enorme golpe nessa esperança,
enquanto a falência da revolução alemã
em 1923 consolidou o caminho para a desilusão e cumpriu
um papel na separação dos dadaístas em 1924.
Esses eventos críticos nem sequer foram mencionados na
exposição.
De qualquer maneira, a decisão de apresentar o dadá
independente do surrealismo, que raramente havia sido feito antes,
permite que se veja que o dadá tomou vários caminhos
depois de 1924. Enquanto algumas personalidades-chave, particularmente
Max Ernst, se tornariam surrealistas, aqueles de Berlin, como
Dix and Grosz, desenvolveram o movimento da Neue Sachlichkeit
(Nova Objetividade), enquanto outros, como Duchamp, permaneceram
essencialmente dadaístas mesmo depois do fim do dadá.
Uma observação sobre o layout da exposição:
com a intenção de enfatizar a natureza errante do
dadá, a mostra é organizada a partir das cidades
onde aconteceu o movimento. No MoMA, pode-se acessá-la
tanto pela entrada de Zurique quanto pela entrada de Nova Iorque,
já que a premissa da exposição é de
que o dadá começou simultaneamente em ambos lugares.
De qualquer forma, o dadá pode ser visto proveitosamente
como uma constelação de diferentes personalidades,
maiores e menores. Quando, devido aos desenvolvimentos da guerra
e outros fatores pessoais, vários artistas mudaram de país,
novos artistas foram lançados em suas órbitas, declarando-se
por sua vez dadaístas, enquanto outros abandonaram o movimento,
tudo isso em um espaço de tempo relativamente curto.
O dadá em Zurique
Em Zurique, cidade neutra no período da guerra, o movimento
se inaugurou com uma peça de cabaré no Café
Voltaire, do poeta e filósofo alemão Hugo Ball e
sua mulher, a cantora Emmy Hennings, em 1916. Logo se juntaram
a eles Richard Huelsenbeck, os romenos Tristan Tzara e Marcel
Janco, e os artistas visuais Jean Arp e Sophie Taeuber; este grupo
internacional de refugiados de guerra e desertores encenou uma
série de bailes provocativos e absurdos.
A obra de Ball viria a se tornar um estudo do anarquista russo
Mikhail Bakunin, e o anarquismo deu o tom da intervenção,
com a teoria de que o progresso social e a liberdade seriam obtidos
não pela revolução social, mas sim pelo fomento
do caos e da destruição. Na primeira performance
púbica dadá ele proclamou:
A psicologia dadá, Alemanha dadá indigestão
de porra e agonia de nevoeiro, literatura dadá, burguesia
dadá... guerra mundial sem fim dadá, revolução
sem começo dadá, seus amigos e também poetas,
estimados senhores, manufatores, e evangelistas dadá. Dadá
Tzara, dadá Huelsenbeck, dadá mdadá,dadá
mdadá dadá mhm, dadá dera dadá,
dadá Hue, dadá Tza.
Este desvario rítmico, comunicando seu significado através
de padrões sonoros e brincadeiras com palavras, assim como
pelas próprias palavrasum método que os poetas
Beat iriam reprisar 40 anos depoisé a quintessência
do dadá de Zurique, no qual o cabaré e o vaudeville
eram adaptados para incorporar outras tendências da vanguarda.
Uma performance típica podeira incluir Arp discutindo aleatoriedade
e probabilidade, Hennings recitando poesia e abrindo espacate,
e Huelsenbeck se juntando a Tzara, Janco e Ball recitando chants
negres, provavelmente aos gritos.
No contexto da exposição do MoMA, o material
visual criado para essas performances toma um peso desproporcional,
já que muito desse material não existia enquanto
valor artístico independente. De qualquer maneira, os artefatos
são interessantes, particularmente pelas tendências
que eles anteciparam.
Janco criou muitos dos folderes de programas e flyers publicitários
mostrados no MoMA. Seu uso dinâmico e não-ortodoxo
da tipografiacolocando tipos em ânglulo, combinando
letras de diversos tamanhos e famílias em uma só
palavracriou uma tendência que até hoje é
reconhecível no design gráfico e na publicidade.
Ele também fez máscaras
para as
performances a partir de materiais inesperados, trabalhos que
lembravam os retratos cubistas.
As placas
de madeira polimórficas e coloridas de Jean Arp foram também
exibidas nas performances do Café. Suas colagens
organizadas pelas leis da probabilidade, nas quais quadrados de
papel eram coladas exatamente onde calhavam de cair, ainda comunicam
uma intrigante tensão entre ordem e aleatoriedade.
A mulher de Arp, Sophie Taeuber, estava interessada em quebrar
a distinção entre artesanato tradicional e belas
artes. No MoMa podem ser vistas imagens abstratas que ela executou
em bordado, cabeças
de madeira pintadas com designs ao invés de figuras, assim
como as estranhas marionetes
feitas a performance dadá do Rei Veado (Stag King). Infelizmente,
sufocados em suas redomas de vidro, estes trabalhos só
podem dar uma pista do que pode ter sido o absurdo de um show
de bonecos que culminava com a fala: Me mate, me mate. Eu
não fiz análise e não aguento mais!
O dadá em Nova Iorque
Entrar na exposição pela entrada de Nova Iorque
dá um sentido diferente ao dadá. Os readymades
de Marcel Duchamp são a porta da frente e o centro do salão,
assim como era o próprio Duchamp a figura central do movimento
dadá desta cidade. Assim como Ball e seus amigos, ele fugia
da guerra e chegou em Nova Iorque em 1915, antes dos americanos
entrarem no conflito. A inclusão de sua cinética
pintura Nu Descendo a Escada no. 2 no Armory Show dois anos antes
já o havia estabelecido como um membro chave da vanguarda
nova-iorquina.
Os artistas dadá em Nova Iorque estavam a uma maior
distância da realidade cruel da guerra, e seus protestos
estavam similarmente mais removidos, de natureza mais intelectual.
Duchamp, junto com outro emigrante parisiense, Francis Picabia,
e Man Ray (criado nos EUA, mas não nascido na América)
se focaram em subverter as tradições da arte ocidental.
Eles compartilhavam com os dadás a sagacidade traquina
e o prazer em chocar a moral burguesa, mas não a ideologia
anarquista.
O primeiro readymade de Duchamp era uma pá de neve que
ele comprou em uma loja de ferramentas em 1915 e escreveu Em
Antecipação ao Braço Quebrado (In
Advance of the Broken Arm). Ele está pendurado na
galeria do MoMa parecendo exatamente como uma pá de neve
comum, assim como o artista fez há 90 anos atrás.
A simplicidade brilhante dessas piadas sofisticadas era a genialidade
de Duchamp, e ela se tornou a base de muito do debate estético
do século 20. A questão se tornou não só
o que é dadá?, mas sim o que é
arte?
Nos desenhos de Picabia, os dispositivos mecânicos imaginários
dependiam de títulos inteligentes para terem impacto. Uma
tomada da marca Forever é chamada de Retrato de Uma
Jovem Americana em Estado de Nudez, e uma lâmpada
vira simplesmente A
Mulher Americana.
Também foram incluídas as rayografias
de Man Ray, que foram feitas a partir da exposição
de objetos em papel sensível à luz, fotos sem o
uso da câmera. Seu trabalho é notável principalmente
por enquadramentos inusitados, borrões e, novamente, ilusões
de ótica.
No ambiente do capitalismo de consumo norte-americano, não
é surpreendente que o grupo tenha desafiado os limites
entre a arte comercial e as belas-artes, e que seu fascínio
pelas máquinas e a indústria tenha se estendido
para o modo como eles concebiam a intimidade das relações
humanas e a sexualidade.
O dadá de Berlim
Chegando nos salões centrais da exposição,
via qualquer uma das duas entradas, encontra-se o que podemos
chamar de dadá hardcore, que foi mais além
das travessuras provocativas e dos trocadilhos intelectuais. O
trabalho dos pintores da Neue Sachlichkeit (Nova Objetividade)
Otto Dix e George Grosz sobressaem-se nesta seção;
esta conexão não é amplamente conhecida,
e é um pouco surpreendente.
Depois do fim oficial da guerra em 1918 em Versailles (apesar
de algumas partes da Alemanha continuarem ocupadas por mais um
ano, e então serem reocupadas em 1923) esses artistas entraram
em contato com o dadá, tanto diretamente, encontrando artistas
dadaístas que estavam retornando de Zurique e Nova Iorque,
como indiretamente, através de obras dadá. Mas o
dadá encontrou solo fértil entre esses artistas
que talvez tenham se tornado mais hostis e alienados devido às
suas experiências durante a guerra.
Berlim estava fisicamente em ruínas e financeiramente
à beira do colapso, assim como o fraco governo burguês
de Weimar, conduzido pelo Partido Social Democrata (SPD), procurava
desesperadamente restaurar o capitalismo e suprimir um levante
da classe trabalhadora. A inflação estava na casa
de 4 dígitos, secando as economias da classe média.
O desemprego atingia 40%. Pessoas famintas e mutilados de guerra
vagavam pelas ruas pedindo esmolas, enquanto a grande burguesia
lucrava.
Ninguém captou essa atmosfera social nociva melhor que
os pintores George Grosz e Otto Dix. Seus cartuns, desenhos e
pinturas se destacam no contexto do dadá por sua pungente
descrição da realidade física e das relações
sociais do período imediatamente pós-guerra. Empregando
as técnicas dadá de colagem e fotomontagem na pintura,
suas imagens desconjuntadas comunicam uma sociedade mutilada e
desfigurada. No Jogadores de Skat (Die
Skatspieler) de Dix, os membros retorcidos, faces
deformadas e próteses de partes do corpo derivam seu poder
da coincidência entre seus significados simbólicos
e literais.
As imagens de Dix algumas vezes alcançavam um tom de
grotesco que é repulsivo, mas ele permanece sendo um dos
mais significativos artistas que surgiram do dadá. Seus
retratos da pequena burguesia e de tipos profissionais do período
de Weimar são especialmente interessantes, mas não
foram incluídos na exposição por datarem
do período pós-dadá.
Os cartuns de George Grosz mostram uma sociedade desmoralizada,
ocupada em comportamentos perversos, enquanto em suas pinturas
os seres humanos cada vez mais se assemelham a robôs. Essas
figuras eram colocadas em paisagens urbanas geométricas
com suas faces em branco, cabeças vazias e membros truncados,
animados por dispositivos mecânicos. Essas imagens acusam
a esterilidade do capitalismo industrial e a as relações
corruptas e desumanas nas quais ele é baseado.
Outros dadaístas de Berlin, particularmente Raoul Hausmann,
Hannah Hoch, os irmãos John Heartfield e Weiland Herzfelde,
(e Grosz, em uma extensão menor), se concentraram na fotomontagem.
Esles sentiram que o uso da montagem poderia quebrar a tendência
da arte de criar uma ilusão da realidade. Nos melhores
trabalhos, as colagensconseguiam criar uma nova realidade irreal justapondo dinamicamente
(e com perspicácia) fragmentos de imagens de revistas e
tipografia.
O forte caráter político dos dadaístas
de Berlin é de certa maneira minimizado pela exposição.
O grupo organizou a primeira feira internacional dadá em
1920, que atraiu muita publicidade auto-promovida, além
de multas por indecência, mas não muito público;
o escândalo criado foi primeiramente por insultar o exército
alemão. Um boneco em tamanho real de um oficial alemão
com a cara de um porco era pendurado no teto - e também
está pendurado no MoMA. Para apreciar seu impacto original,
de qualquer forma, deve-se imaginar nos termos atuaiscomo
se no lugar estivesse vestindo o uniforme de um oficial americano.
E apesar de ter sido mencionado, nenhum peso especial é
dado ao fato de Weiland Herzfeld, seu irmão John Heartfield
(nascido Helmut Herzfeld, ele anglicizou seu nome em protesto
contra o nacionalismo alemão), e George Grosz todos entraram
para o Partido Comunista Alemão (KPD) no seu congresso
de fundação, acontecido de 31 de dezembro de 1918
a 1 de janeiro de 1919.
Heartfield e Grosz colaboraram na criação de
inflamadas produções políticas e manifestos
conclamando os artistas a se tornarem revolucionários,
a participarem da revolução. Heartfield foi demitido
de seu emprego no Serviço de Cinema Militar Educativo por
chamar uma greve depois do assassinato de Karl Liebknecht e Rosa
Luxemburgo em janeiro de 1919. Grosz era membro do Novembergruppe,
um grupo de artistas de esquerda, e entrou para servir de presidente
do Rote Gruppe, a União Alemã dos Artistas Comunistas
em 1924, depois de deixar suas atividades dadá.
Mas a ascensão do estalinismo, incluindo a stalinização
do KPD, teve um impacto desorientador nesses artistas. A vitória
de Hitler e a destruição física do partido
bolchevique por Stálin, juntamente com as outras derrotas
sofridas pela classe trabalhadora nos anos 30, aprofundou o processo.
Alguns, como os irmãos Herzfeld/Heartfield, fizeram
as pazes com o estalinismo e se arranjaram em Berlim Oriental
depois da 2ª Guerra Mundial. Grosz no final das contas se
tornou tão amargurado a ponto de repudiar sua filiação
ao Partido Comunista depois de sua emigração para
os Estados Unidos nos anos 30. Apesar de tudo, a transição
desses artistas das travessuras do dadaísmo para uma atração
e aliança à promessa de revolução
social expressada pelo nascente KPD não foi acidental.
Particularmente, ela representava a extensão lógica,
se não inteiramente realizada, das críticas sociais
de sua arte.
O dadá de Colônia, Paris e Hanover
O resto da exibição do MoMA é uma grande
mistura. Max Ernst, o expoente artista associado tanto com o dadá
quanto com o surrealismo, é representado somente por um
punhado de colagens
e pinturas
que indicam, mas não fazem jus a este complexo artista.
O trabalho de Ernst, assim como o de Dix e Grosz, interseccionou
com o dadá, particularmente no seu uso da fotomontagem,
e Ernst se chamava de dadámax ernst. Mas seu
interesse primário na consciência humana e na sexualidade
traumatizada o guiou a imagens fantasmagóricas que não
podem ser compreendidas divorciadas do surrealismo.
Em Paris, através do contato com André Breton,
Ernst e outros artistas surrealistas iriam desenvolver uma filiação
política com o Partido Comunista, de diferentes graus e
durações. Nos anos 30, Breton colaborou com Trotsky
e seu Manifesto por uma arte revolucionária independente
permanece a mais eloqüente expressão já produzida
da comunhão de interesses entre o artista e o marxista
revolucionário (Veja o artigo André
Breton and problems of twentieth-century culture.
Mas, subestimando as relações entre o dadá
e o surrealismo, esta trajetória é inteiramente
perdida na exposição do MoMA. O artista Kurt Schwitters,
menos conhecido, ganha destaque com o seu Show dadá
de um homem só em Hanover. Seu Merzbau, uma instalação
escultórica de objetos catadospedaços e peças
de madeira, moedas, bitucas de cigarro, tecido, jornal, areia,
redes de fios, etc., que tomava o interior de sua casa inteirapode
muito bem ser considerado a fundação da instalação
e da arte com objetos achados.
Fiel à sua natureza contrariada, o dadá exerceu
uma influência que foi muito além de sua curta duração,
e da realização real do que ele deixou pra trás.
Como resultado, um senso de desapontamento surge depois de um
encontro direto no MoMA com essas obrasmuitas delas são
notadamente conhecidas do público ou foram tão incorporadas
esteticamente que se tornaram comuns. É difícil
de dizer se o dadá nunca foi de fato tão chocante
como ele se pretendia ser. Mas apesar de suas sérias limitações,
o dadá dá uma expressão competente da natureza
violenta e extrema da crise da sociedade e da cultura burguesa
conduzida pela
1ª Guerra Mundial.
Catálogo da Exposição: Dadá:
Zurich, Berlin, Hanover, Cologne, New York, Paris por Leah
Dickerman, Brigid Doherty, Dorothea Dietrich, SabineT.
Kriebel, National Gallery of Art, Washington, 2006
Imagens cedidas por cortesia do Museum of Modern Art, New
York.