Heróis de Mucaba - Guerra Colonial Portuguesa 1961

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• published: 28 Nov 2015
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Os rostos dos comerciantes dão sinal de comoção. O Chefe do Posto continua: "Qualquer saída nesta altura, com as estradas cortadas e inutilizadas. seria um autêntico suicídio!..." Um deles contestou: "Ficar para quê? Para morrermos todos? A nossa resposta é não!" O Chefe do Posto insiste: "Vamos defender-nos dentro da Capela, numa força unida, em verdadeiro espírito de camaradagem, lutarmos até ao fim, em defesa das nossas 'idas e desta terra de Mucaba!" Eles hesitam. Por fim decidem ficar. Lançam-se então, todos, na preparação da Capela, a fazer do seu interior uma fortaleza. Carreiam para lá todo o preciso. como alimentos de consumo imediato, pão, conservas, água, vinho. medicamentos, fósforos, velas, colchões, cobertores, e tudo quanto lhes parece indispensável. Quando rebentou o terrorismo no norte de Angola, o Mucaba foi, entre muitas vilas, a que mais sofreu, em todo o país. Completamente drogados, as hostes de terroristas entraram na vila, às primeiras horas da madrugada de um fatídico dia de Fevereiro de 1961. Apanharam a população toda, de surpresa. Armados de catanas - facalhões de cortar cana - entraram nas casas e iam matando homens, mulheres e crianças que iam encontrando, com os mais atrozes instintos de selvajaria. Os proprietários das fazendas, com serrações de madeira, eram colocados, nas serras elétricas e, de pernas abertas, serrados, vivos, ao meio. As mulheres grávidas tinham os seus ventres abertos à faca, a partir da vagina. Os bêbês, tinham as suas cabecinhas decepadas, os seus bracinhos cortados. Houve mulheres que, refugiando-se nos guarda-roupas, com os filhinhos ao colo, como eles chorassem muito, tamparam as boquinhas com as mãos. As que se salvaram, ao saírem do esconderijo, viram seus filhinhos mortos por asfixia. Os homens, mulheres e crianças que conseguiram fugir para o mato, onde estiveram horas e horas escondidos, regressaram depois à vila. Os terroristas sabiam que não tinham acabado com a população, e deixaram escrito que voltariam para exterminar o resto Os poucos que sobreviveram, refugiaram-se na pequenina capela do lugarejo, pregando as portas e as janelas. Levaram com eles um rádio de transmissão P 19, com que deram a conhecer ao mundo a situação dramática que estavam vivendo. Da base aérea de Luanda saíram aviões e helicópteros, com comandos de paraquedistas para saltarem sobre o Mucaba, mas voltaram todos para trás, porque, durante três ou quatro dias, o cacimbo ( garoa ) não deixava ver nada, do ar. Dentro da capela, os poucos homens, mulheres e crianças, que ali se refugiaram, choravam copiosamente a pedir socorro, um socorro que não era possível atender devido às condições climatológicas da região A serra do Mucaba era inatingível na época dos acontecimentos. O socorro ao Mucaba só foi possível graças à coragem e à valentia de uma companhia de comandos que alcançaram a vila por terra, após três dias de caminhada, a tempo de dizimarem as hostes de terroristas que cercavam a capela. Visitei o Mucaba em 1969. Na parede frontal da capela, estavam gravados os nomes dos homens, das mulheres e das crianças, que ali morreram, vitimas das maiores atrocidades.