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Trabalhadores da Airbus na França e na Alemanha entram em greve contra massivos cortes de empregos

Por Stefan Steinberg
3 Marzo 2007

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Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês, no dia 1 de março de 2007

Na quarta-feira (28), a companhia-chefe da européia Airbus, EADS, anunciou sua intenção de cortar 10.000 empregos nas fábricas européias da Airbus - aproximadamente 1/5 da atual força de trabalho da companhia. O anúncio, feito numa entrevista coletiva à imprensa em Paris pelo chefe da Airbus, Louis Gallois, confirmou as informações publicadas na terça-feira (27/02) que previam um ataque sem precedentes aos empregos na Airbus.

Um total de 4.300 empregos serão cortados na França, 3.700 na Alemanha, 1.600 na Inglaterra e 400 na Espanha. A Airbus emprega atualmente 23.000 trabalhadores na Alemanha, 19.000 na França, 10.000 na Grã-Bretanha e 3.000 na Espanha.

Trabalhadores da Airbus na Alemanha e na França responderam imediatamente ao anúncio, paralisando o trabalho. Trabalhadores das três fábricas afetadas na Alemanha e os trabalhadores franceses da fábrica de Meaulte entraram em greve. Por volta de 1.000 trabalhadores em Toulouse, onde a Airbus está sediada e onde será feita a montagem final do jato de passageiros A380, manifestaram-se contra os cortes.

O serviço de notícias Reuters entrevistou o operário Joachim Gramberg da fábrica de Varel, que afirmou: “eu não posso acreditar na notícia. Eu não posso acreditar nela. Fomos usados para construir 200 aviões por ano, e isso era bom, e agora nós fazemos 438 por ano e isso não parece o bastante”.

A Airbus, que é financiada por um consórcio de governos europeus, é um dos maiores projetos industriais de toda a Europa. Ela é, há muito tempo, usada como um modelo de colaboração para afirmar o poder industrial europeu contra a dominação norte-americana da indústria de aviões comerciais de passageiros. O gigantesco corte de empregos anunciado na quarta-feira é o ápice de uma crescente crise da Airbus que foi potencializada pela dura briga entre os maiores parceiros envolvidos no projeto - os governos da França e Alemanha.

O plano de reestruturação deveria ter sido anunciado há dez dias, mas conflitos entre a França e a Alemanha sobre qual país assumiria o maior golpe em termos de perda de empregos levaram à intervenção do presidente francês, Jacques Chirac, e da chanceler alemã, Angela Merkel. O esboço do acordo final foi discutido pelos dois líderes em um encontro na sexta-feira (23) em Berlin.

O plano, conhecido como Power 8, também prevê a venda de seis das dezesseis plantas da Airbus na Europa. A televisão alemã relatou que, das dezesseis localidades da Airbus na Europa, ao menos cinco serão abertas à iniciativa privada, incluindo as plantas alemãs em Varel (1.300 trabalhadores) e Nordenham (2.300 trabalhadores), assim como fábricas de suprimentos em Britanny (em Saint-Nazaire) e Meaulte (no Somme). Essas fábricas serão adquiridas por investidores que continuarão a manter a Airbus, mas elas terão de competir com fábricas que não são da Airbus em países como a Rússia, China e Índia.

A decisão da administração da Airbus de fechar ou vender outras localidades, incluindo a de Laupheim, na Alemanha, acarretará inevitáveis ataques adicionais aos empregos e condições de trabalho.

De acordo com a revista alemã Focus, a Airbus pretende aumentar a semana de trabalho, de 35 para 40 horas, sem aumento salarial. O primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, pediu ao chefe da Airbus, Gallois, para assegurar que não serão feitas “demissões forçadas”, mas a dimensão do corte de empregos fará com que as demissões sejam inevitáveis.

Divisões nacionais dentro do projeto A380

A produção do super-jumbo A380 é um dos maiores projetos industriais que vem sendo realizado nos últimos anos pela aliança de países europeus liderados pela França e pela Alemanha. O novo jato foi desenhado para competir com o Boeing 787 Dreamliner pela supremacia no mercado da linha de aviões de passageiros jumbo.

Entretanto, assim que os problemas de produção e atrasos na entrega do A380 surgiram, as disputas intensificaram-se entre as maiores potências envolvidas no projeto, particularmente a Alemanha e a França.

Como resultado da globalização da indústria pesada, incluindo a produção aérea, países não-europeus como a China, com grandes reservas de força de trabalho - países que também são potenciais compradores do novo jato - estão sendo vistos pelo capital europeu como locais alternativos e cada vez mais atrativos para a produção de componentes.

Uma peça-chave do plano de reestruturação da Airbus é o fechamento das fábricas européias e a terceirização da produção à China e outros paraísos de baixos salários. Esse processo intensificou as tensões entre os governos nacionais envolvidos no projeto da Airbus.

No editorial de 22 de fevereiro intitulado “Briga de Cachorro Franco-Alemã”, o Financial Times observou que o conflito em torno da Airbus estava provocando a deterioração das relações entre Paris e Berlim. Segundo o jornal, “as relações entre os dois países - chamadas por todos de relação Franco-Alemã - nunca foram tão ruins. O pior de tudo é que os alemães estão, talvez de forma compreensível, demonstrando sua intenção de adotar a mesma prática protecionista realizada pelos franceses. Se os franceses foram por muito tempo beneficiados em seu nacionalismo econômico, especialmente em suas relações com os alemães, seria estupidez se os alemães não fizessem o mesmo”.

Assim que os planos de fechamento de fábricas foram anunciados pela Airbus, o ministro da economia alemão, Michael Glos, chegou a ameaçar o cancelamento da extensão dos contratos da Defesa alemã com a EADS se a Alemanha for atingida negativamente pelo plano de reestruturação.

Em 20 de fevereiro, Bernard Valette, chefe da seção aeroespacial da Confederação dos Gerentes Franceses, reconheceu que “uma pequena guerra nacionalista” explodiu. Ele acusou as autoridades alemãs pelo impasse, que querem reter áreas chaves da manufatura e do design de produtos. “O sindicato não aceitará que os interesses políticos do governo alemão sejam colocados acima dos interesses industriais da Airbus,” disse ele. “Se isso acontecer, será necessário que o governo francês eleve o tom de voz”.

Foi contra esse prognóstico que os líderes da França e da Alemanha encontraram-se em Berlim na última sexta-feira para buscar uma solução. Após conversar com Chirac, Merkel procurou minimizar as diferenças entre os dois países, mas de acordo com o jornal britânico Times de 24 de fevereiro, “não há nenhuma dúvida que existe uma tensão entre os líderes. Aproveitando a última viagem oficial à Alemanha do presidente Chirac, cujo mandato está no fim, a chanceler alemã quis enviar um sinal a seu sucessor. Ela não está apenas lutando pelos empregos na Alemanha, mas também por um objetivo estratégico que pode mudar o equilíbrio dentro do eixo político mais poderoso da Europa. Acima de tudo, ela quer deixar bem claro que a Alemanha não será intimidada.

O papel dos sindicatos

As tensões entre Paris e Berlim ecoaram na posição nacionalista adotada pelos sindicatos em ambos os lados da fronteira franco-alemã. Os maiores sindicatos da Airbus, como o IG Metall na Alemanha e a Force Ouvriere na França, desempenharam um pernicioso e crucial papel em desmobilizar e dividir os trabalhadores da Airbus.

Nas últimas semanas, os sindicatos de ambos os lados do Reno realizaram manifestações contra os planejados cortes de empregos, mas elas foram direcionadas para defender localidades e fábricas específicas nos respectivos países. Nenhuma ação que rompesse as fronteiras foi chamada e nenhum esforço de forjar a solidariedade entre todos os trabalhadores da Airbus foi realizado.

Os maiores sindicatos alemães imprimiram imediatamente um profundo tom nacionalista assim que as notícias do plano de reestruturação foram divulgadas. O chefe do conselho de fábricas alemãs da Airbus, Rüdiger Lütjen, declarou que o novo plano era uma tentativa de minar o sistema de contratos alemão. Ele disse que isso era “um tapa dado pela França”. E continuou ele: “os franceses desejam impor demissões à Alemanha...os franceses querem barrar o desenvolvimento alemão”.

Para os líderes sindicais franceses, a origem da crise na Airbus era clara: os trabalhadores alemães eram os culpados. Logo após o anúncio de quarta-feira, Jean-François Knepper, líder da Force Ouvriere em Toulouse e vice-presidente do comitê de trabalhadores europeus da Airbus, declarou sua convicção de que “os alemães querem salvar os empregos alemães”. O peso da reestruturação pode ser tolerado na Alemanha, declarou Knepper, concluindo que, “se a Airbus é uma árvore, a França tem os galhos frutíferos. Se há galhos mortos a serem cortados, eles não estão na França”.

Por sua parte, o sindicato alemão IG Metall anunciou que concordará com o plano de reestruturação, mas pressiona para que uma maior parcela de cortes nos empregos seja imposta a trabalhadores de outros países. Horst Niehus, chefe do conselho dos trabalhadores da Airbus Hamburg disse: “nós vemos a necessidade de reestruturar-se, mas tememos que uma grande parcela dos empregos seja retirada da Alemanha”.

Após o anúncio do plano Power 8, líderes sindicais de ambos os países aumentaram sua demagogia chauvinista. Julien Talavan, delegado da Force Ouvriere na fábrica grevista de Meaulte, queixou-se que o governo francês não está fazendo o suficiente para proteger suas indústrias, e lamentou que as demissões possam ocorrer em Toulouse ao invés de ocorrerem na fábrica alemã de Hamburg.

O discurso de Talavan pedindo a intervenção do estado francês foi repetido pela candidata à presidente e integrante do Partido Comunista Francês, Marie-George Buffet , que fez sua própria declaração chauvinista reivindicando que a França obtenha o controle completo sobre sua indústria aeroespacial.

Para não ser deixado para trás, Bernie Hamilton, diretor do sindicato britânico e líder do setor da indústria aeroespacial no sindicato Amicus, declarou no ano passado: “o Reino Unido será o centro de excelência em aviação. O investimento em novas tecnologias deve ser destinado ao Reino Unido. Há rumores de que isso possa ser decidido na Alemanha”.

Com tais demonstrações de chauvinismo, os sindicatos estão traindo os interesses dos trabalhadores da Airbus em todos os países envolvidos. Eles estão fechando acordos com suas próprias elites e governos, ajudando a bloquear qualquer luta unificada dos trabalhadores e colocando os trabalhadores de vários países uns contra os outros.

Por trás da crise na Airbus e do ataque sem precedentes aos trabalhadores está a falência do sistema de lucros capitalista na Europa e internacionalmente, baseado no sistema de estado-nação, e a impossibilidade de organizar a vida econômica de uma maneira democrática e socialmente progressiva.

Os trabalhadores da Airbus devem rebelar-se contra as políticas nacionalistas e corporativas dos sindicatos e estabelecer comitês independentes para unir os trabalhadores de todos os países. A primeira demanda deve ser a defesa dos empregos de todos os trabalhadores. Uma campanha como esta deve ser organizada com base numa perspectiva socialista internacionalista que defenda os empregos, salários e condições de trabalho e na luta para colocar grandes empresas como a Airbus sob a propriedade social genuína e sob controle democrático.