Este artigo foi publicado no WSWS, originalmente em inglês,
no dia 26 de abril de 2007.
Durante os três primeiros meses de 2007, a venda mundial
de carros e caminhões da Toyota superou, pela primeira
vez, a da General Motors, chegando perto de se tornar a maior
fabricante de automóveis do mundo em termos de venda anual
mundial. Com exceção de alguns anos da década
de 1970 e 1980, quando a produção foi interrompida
devido às greves dos trabalhadores, a General Motors sempre
foi a líder mundial, desde 1931durante as baixas
da Grande Depressão.
A tão esperada superação da General Motors
é simbólica não apenas porque põe
fim ao legado da poderosa e gigante produtora, mas também
porque revela o histórico declínio da posição
mundial do capitalismo norte-americano. Durante a maior parte
do século XX, a GM foi sinônimo de poder e inovação
para a indústria norte-americana. Hoje, a base automobilística
produtiva de Detroit que vem constantemente perdendo mercado
por três décadas e acumulado mais de 12 bilhões
de dólares em perdas durante os últimos dois anos
está restringindo suas operações,
cortando dezenas de milhares de empregos e fechando suas fábricas.
Em 1955, a GM era responsável por metade do mercado
automobilístico norte-americano, numa época na qual
4 de cada 5 carros produzidos no mundo eram fabricados nos EUA.
Erguida no Japão devastado pela guerra, a Toyota era uma
pequena companhia que produzia apenas 23.000 carros, comparados
aos 4 milhões produzidos pela GM nos EUA. Hoje, a Toyota
exporta para vários países e sobretudo para a América
do Norte, onde a companhia automobilística japonesa entrou
há 50 anos. A Toyota está constantemente ganhando
o mercado dos produtores de automóveis norte-americanos,
incluindo a GM.
A Toyota divulgou na terça-feira que suas vendas no
primeiro trimestre subiram 9,2%, atingindo o recorde de 2,35 milhões
de veículos. Na semana passada, a GM divulgou que vendeu
2,26 milhões de veículos no período de janeiro
à março. Cinqüenta anos depois de a Toyota
ter entrado no mais importante mercado norte-americano, a companhia
controla 15,6% deste, bem mais do que os 9,3% que tinha em 2000,
enquanto a parcela da GM diminuiu para 23,1% em 2006 sua
menor porcentagem desde a década de 1920 bem abaixo
dos 28,1% que ela controlava há apenas 7 anos.
A venda mundial da GM foi maior do que a da Toyota em 2006
(9,1 milhões contra 8,8 milhões). Mas as vendas
da companhia automobilística japonesa cresceram 8% no último
ano, e espera-se vender 9,34 milhões de veículos
em 2007, devido ao crescimento da demanda no mercado norte americano.
A Toyota tem seis plantas de montagem na América do Norte
com uma capacidade de produção total de 1,8 milhões
de veículos por ano, e espera aumentar a produção
para chegar a 2,2 milhões até 2010, uma vez que
mais duas plantas serão construídas. Ao mesmo tempo
a GM está cortando 1 milhão de unidades da produção
norte-americana.
Embora as vendas estejam se expandindo em alguns mercados emergentes,
particularmente na China, a GM tem enfrentado uma perda permanente
no mercado americano. Em novembro de 2005, a GM realizou a maior
reestruturação produtiva de sua história,
que culminará no fechamento de 12 plantas até 2008
e no corte de mais de 34.000 trabalhadores.
No auge de sua produção, a GM empregava mais
de 600.000 trabalhadores norte-americanos, dos quais 459.000 eram
sócios do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos
(UAW). Com a nova onda de cortes de empregos, a GM reduzirá,
até o fim de 2008, o número de trabalhadores de
colarinho branco para 86.000 trabalhadores com contratos temporários,
o que representa o número de pessoas que ela empregava
apenas em Flint (Michigan) na década de 1970.
Os trabalhadores de dezenas de centros produtivos da GM
tais como os de Detroit, Pontia,c Saginaw e Flint, em Michigan;
Dayton, em Ohio; e Kokomo e Muncie, em Indiana já
foram os trabalhadores mais bem pagos da indústria norte-americana.
Essas regiões eram caracterizadas pelos mais altos índices
de moradia própria. Hoje, estas cidades estão arruinadas,
com fábricas vazias, com milhares de despejos, falências
pessoais e pedidos emergenciais por comida e assistência
médica.
Além da GM, as outras que fazem parte das "Três
Grandes" companhias automobilísticas norte-americanas
também estão ameaçadas. A fabricante de automóveis
número 2, a Ford, teve uma perda recorde de 12,7 bilhões
de dólares em 2006 e está em processo de fechamento
de plantas nos EUA e no Canadá e de eliminação
de 38.000 empregos de metalúrgicos.
Há dois meses a Daimler-Chrysler divulgou enormes perdas
na divisão norte-americana do grupo Chrysler e anunciou
o corte de 13.000 empregos. A companhia alemã também
revelou planos para recuperar sua perda de dinheiro nas operações
nos EUA, abrindo caminho para o desmonte da companhia de 82 anos
de idade, a ser realizado pelos especuladores de Wall Street,
que estão ansiosos pelo corte dos salários e benefícios
dos trabalhadores para vender os bens mais rentáveis da
companhia. De maneira geral, os fabricantes de automóveis
dos EUA e fornecedores eliminaram 150.000 empregos nos EUA em
2006.
O colapso das Três Grandes montadoras norte-americanas
tem sido um processo prolongado. No período pós
Segunda Guerra Mundial enquanto as indústrias japonesas
e alemãs ainda estavam sendo reconstruídas após
a destruição da guerra a GM e outras produtoras
divulgaram que seus preços por unidade eram os mais baixos
do mundo, apesar de pagarem os maiores salários aos trabalhadores.
Nas décadas de 1970 e 1980, entretanto, as margens de lucro
começaram a cair, e os produtores mais eficientes e inovadores,
tanto japoneses quanto alemães, começaram a desafiar
o monopólio norte-americano na produção de
automóveis e penetrar no próprio mercado norte-americano.
A resposta das corporações automobilísticas
foi executar duros ataques aos empregos, às condições
de trabalho e ao padrão de vida dos trabalhadores metalúrgicos,
que continuam sendo realizados até hoje. Ao invés
de se opor aos ataques, o UAW colaborou com o fechamento das fábricas
e com a destruição de 600.000 empregos das três
grandes, desde 1979.
Pregando a colaboração trabalhador-administração,
o UAW eliminou a oposição dos operários e
se juntou aos patrões e aos políticos do partido
democrata na campanha chauvinista anti-japonesa, que visava dividir
os trabalhadores dos EUA e seus irmãos e irmãs do
Japão e de outros países.
Os executivos da indústria automobilística norte-americana
que embolsaram milhões em compensações,
apesar das perdas em suas companhias contaram com os veículos
utilitários de alto lucro e com outros veículos
de alto consumo de combustível para satisfazer os grandes
investidores, enquanto mantinham menos e menos trabalhadores nas
fábricas para produzir mais e mais, e terceirizavam a produção
para fábricas com menores salários nos EUA e no
exterior. O aumento no preço do combustível e a
crescente insegurança econômica causaram uma queda
aguda na demanda por estes veículos grandes, eliminando
grande parte do lucro das empresas automobilísticas. Sob
pressão dos investidores de Wall Street, a GM está
pretendendo reduzir os custos do trabalho novamente, usando o
modelo de baixos salários e de plantas fragmentadas, como
aquele que a Toyota utiliza no sul dos EUA.
Em discurso na segunda-feira em Louisville, Kentuchy, o vice-presidente
da GM, Bob Lutz, advertiu que todo o setor automobilístico
seria atingido pela temporada de maus negócios no setor
imobiliário e pela sobrecarga da indústria pelos
financiamentos de casa própria.. "Muitas pessoas estão
numa posição de reduzidas possibilidades de compra
e isso tem tido um impacto, não apenas sobre nós,
mas sobre toda a indústria".
O Wall Street Journal observou que os executivos da Toyota
estão "se tornando mais cautelosos sobre as possibilidades
para um futuro crescimento" e que sua camionete Tundra tem
tido queda nas vendas, apesar de amplos descontos oferecidos para
vencer o competitivo mercado de caminhonetes. "A companhia
anunciou planos para construção de uma planta no
Mississipi capaz de produzir 150.000 veículos, inicialmente
os veículos utilitários da linha Toyota Highlander,
a ser inaugurada em 2010. No entanto, o Journal divulgou que a
Toyota tem considerado que poderia abrir a planta um ano antes
e produzir um terço de veículos a mais".