No ano 2001, Valentim Fagim publicou O galego (im)possível, um livro que logo se converteu em referência para uma geração de reintegracionistas. Quinze anos depois vê a luz O galego (im)possível. Ainda mais, revisão daquele marcante trabalho. O autor explica nesta entrevista o que mudou no livro… e o que mudou na Galiza neste tempo.
Foi necessário fazer muitas correções para adequar O galego (im)possível. Ainda mais ao presente? Apesar das necessárias emendas, achas que o livro, em geral, resistiu bem a passagem do tempo?
Nesta edição tentei sobretudo tirar densidade a algumas partes. De facto, dois capítulos foram reescritos porque não me satisfaziam, não eram diretos. Outro dos focos foi atualizar informações que ficaram desfasadas. Quinze anos dão mais de si desde que existe a Internet.
O livro é atual porque os argumentários, quase sempre lugares comuns, descansam no possibilismo, essa doença de quem ninguém está a salvo seja no âmbito ambiental, de género, político ou qualquer outro. É aquela desculpa de «As cousas deviam ser assim, mas…». A vida social, como se sabe, está cheia de «mas» que a tornam bem mais pobre.
De resto, trabalhamos para que este livro seja desnecessário, que seja visto algum dia com olhos de antropologista e que alguém exclame «como se aborrecia o pessoal. Tantas páginas para dizer obviedades!».
Na tua opinião, quais são as principais mudanças sociolinguísticas que se produziram no País neste tempo?
O processo de substituição linguística está numa fase muito avançada e a ilusão da normalização linguística é cada vez mais evidente para as pessoas interessadas no avanço social da língua. Há cada vez mais meninos a gritarem que o rei está nu apesar dos esforços institucionais por tapá-lo de qualquer maneira. A transmissão intergeracional da língua, de facto, é quase impossível nas zonas mais dinâmicas e povoadas do país, quase todas as cidades com a exceção relativa de Compostela. Querer não chega porque poder não dá.
O reverso desta moeda é uma maior consciência de que a rota oficial leva a um desfiladeiro. Felizmente na estação há mais percursos e a rota internacional, o dito reintegracionismo, ganha cada vez mais viageiros, sobretudo como prática de consumo, não tanto prática escrita ou oral. Desenhos animados para/as crianças, textos traduzidos, sites de consulta, software ou legendagens noutros sabores da nossa língua vão ganhando usos entre galego-falantes, sobretudo neos mas não só. É a semente da esperança.