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Junta militar egípcia reprime a mídia e seus oponentes políticos

Por Johannes Stern
14 de setembro 2013

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Dois meses após o golpe militar de 3 de Julho, a junta egípcia, apoiada pelo governo dos Estados Unidos, continua reprimindo toda e qualquer oposição, seja ela o partido islâmico Fraternidade Muçulmana (FM), seja ela a classe trabalhadora.

Na terça-feira (3 de setembro) um tribunal de Cairo determinou o fechamento da rede de televisão Al-Jazeera Mubasher Misr, e de mais 3 outras, Al-Yamouk, Al-Quds e Ahrar 25, sob a acusação de representarem uma ameaça à segurança nacional. O governo alegou que essas redes televisivas estão conectadas ao partido islâmico e sendo parciais em favor do presidente deposto, Mohamed Mursi. Na segunda feira (2), o tribunal ordenou o fechamento permanente da rede Salafist Al-Hafez. Também na segunda-feira, três repórteres da Al-Jazeera foram deportados pela força de segurança egípcia.

Em uma matéria publicada na terça-feira, Repórteres Sem Fronteiras condenou a repressão contra jornalistas e profissionais da mídia atual desde o golpe. De acordo com a denúncia, as autoridades egípcias têm censurado dez canais de mídia e invadiram seis escritórios. Cinco jornalistas foram assassinados, 80 foram detidos arbitrariamente e outros 40 foram atacados por policiais ou bandidos em cooperação com as forças de segurança.

Durante o final de semana, as forças de segurança dispersaram os protestos de âmbito nacional chamados de Coalizão Nacional de Apoio à Legitimidade da FM, matando cerca de oito manifestantes e ferindo outros 221, de acordo com números oficiais. Diante dos protestos, o Ministério Egípcio do Interior anunciou que o uso de munição letal contra os manifestantes foi em "legítima defesa".

Nos últimos dois meses, a junta militar, liderada pelo articulador do golpe, General Abdel Fatah Al-Sisi, tem organizado massacres e prisões de centenas de manifestantes. Seif Abdel Fattah, assessor do ex-presidente Mursi e professor de ciências políticas na Universidade do Cairo, acusou a junta militar de "assassinar mais de 3 mil egípcios que não podem ser culpados de nada mais do que serem contra o golpe".

As forças de segurança continuam a fechar o cerco na liderança da FM. Na segunda-feira, unidades especiais detiveram o ex-governador de Kafr El-Sheikh, Saad El-Husseini, em uma casa no Novo Cairo. Na terça-feira, Mostafa Issa, renomado líder da FM e ex-governador de Minya, também foi detido.

No mesmo dia, uma corte militar egípcia sentenciou um membro da Fraternidade à prisão perpétua, enquanto outros 48 receberam penas que variam de cinco a quinze anos. Os réus são acusados de "atirar e utilizar meios violentos" contra o exército na cidade portuária de Suez no dia 14 de Agosto, o dia em que as forças militares e a Força Central de Segurança reprimiram violentamente as manifestações e protestos pacíficos em apoio ao ex-presidente Mursi por todo o Egito.

De acordo com a agência de notícias MENA, o próprio presidente deposto, Mursi, será julgado em uma corte criminal no Cairo sob as acusações de "ter cometido atos de violência, incitando a população a cometer assassinatos e vandalismos", ao lado de outras figuras de liderança da FM, como o Guia Supremo da Fraternidade Islâmica, Mohamed al-Badie.

No Sinai, o exército continua sua ofensiva contra o que eles chamam de "terrorismo". Na terça feira, foi reportada a morte de 8 militantes islâmicos, enquanto outros 15 ficaram feridos, em um ataque aéreo de quatro helicópteros de guerra Apache.

O objetivo final do que a junta militar chama de "guerra contra o terrorismo" é silenciar e suprimir qualquer resistência contra a tentativa de restaurar a ditadura militar existente antes da revolução egípcia sob o governo do ex-ditador Hosni Mubarak. Ultimamente, o alvo central da junta militar tem sido a classe trabalhadora, que tem sido a força central por detrás da revolução egípcia.

Quando o exercito atacou violentamente uma greve de 2.100 metalúrgicos na Suez Steel, no dia 12 de agosto, justificou o ataque dizendo que "islamistas" estavam por trás da greve. Um documento militar publicado no período afirmou que "elementos infiltrados" que eram "exploradores da religião" tentaram envenenar os trabalhadores "em nome da religião".

O número de ataques a grevistas e a protestos de trabalhadores, por todo o Egito, é crescente. No dia 17 de agosto uma greve na Scimitar Petroleum Company, foi violentamente dispersada.

Nos últimos dias, veículos militares blindados têm circulado nas proximidades da Misr Textile Company, em Mahalla, onde centenas de trabalhadores entraram em greve na última semana.

As características antiproletárias do golpe militar foram recentemente sublinhadas pelo bilionário egípcio Naguib Sawiris, que financiou e apoiou a conspiração direitista de Tamarod, o principal mecanismo para a burguesia egípcia para criar um descontentamento massivo contra o presidente deposto Mursi e a FM, por trás dos militares. Em seu Twitter, pediu pela proibição de "manifestações e protestos por dois anos para que pudessem respirar e construir nosso país".

Recentemente, David D. Kirkpatrick publicou um artigo no New York Times intitulado "O Egito amplia a repressão e o Significado de 'Islamista'", que nos dá um vislumbre do aparato de terror e medo que estão reinstalando no Egito.

Kirkpatrick escreve que "Abusos policiais e acusações políticas não são novidade no Egito e não acabaram sob o governo de Morsi. Mas desde que a junta militar assumiu no último mês, muitos ativistas dizem que as autoridades estão agindo com um senso de impunidade que excede até mesmo o período anterior a 2011, nas revoltas contra Hosni Mubarak".

Ele continua dizendo que: "O governos instaurado pelo General Abdul-Fattah el-Sisi renovaram a Era Mubarak de estado de emergência, removendo todos os direitos de proteção contra o abuso de poder da polícia. Os policiais têm se pronunciado 'vingados'. Eles dizem que a alegação do novo governo de estar combatendo a violência dos islamistas corrobora o que eles sempre disseram: eram os islamistas, e não a polícia, que matavam os manifestantes antes da deposição de Mubarak."

Kirkpatrick aponta o fato de que o termo "islamista" é utilizado para acusar qualquer pessoa que seja contra o atual regime e, particularmente, contra os trabalhadores grevistas que estão sendo rotulados como "terroristas" ou "agentes da FM".

Os mais fervorosos apoiadores desses planos de colocar um fim em todos os protestos e greves estão entre a classe média, esquerdistas ou liberais, e suas organizações políticas. Primeiramente colaboraram com o bilionário Sawiris e a campanha Tamarod e agora estão prontos para ativamente suprimir a classe trabalhadora.

Kamal Abu Eita, o novo ministro do trabalho e antigo líder da Federação Egípcia dos Sindicatos Independentes (EFITU), combinou sua entrada no governo apoiado pelos militares sob a condição de que os trabalhadores encerrariam suas greves e se tornariam "campeões de produção". Quando os militares puseram um fim na greve da Suez Steel, ele lançou a campanha publicitária e afirmou que a Fraternidade Muçulmana é que estava incitando as greves.

Refletindo as aspirações da alta classe média, cujos interesses estão vinculados com os do imperialismo e do capital financeiro internacional, eles estão apoiando uma ditadura militar para se proteger da ameaça de uma revolução socialista no Egito.

Hamdeen Sabahi, um político Nasserista e antigo candidato à presidência, disse à Reuters no último final de semana que "o General Sisi é um herói nacional por excelência, e, se ele decidir realizar eleições, seria o candidato mais popular no momento".

O entusiasmo do meio da esquerda liberal por Sisi e pela junta militar só é comparável pelo entusiasmo dos bancos internacionais. Recentemente, Lutz Roehmeyer, um gerente de fundos Alemão do Landesbank Berlin disse à Bloomberg: "Estou confortável com esse tipo de regime militar. Nós vemos isso de tempos em tempos nos mercados emergente e geralmente servem como uma força de estabilização".

Traduzido para Diário Liberdade por E. R. Saracino