"Esta é a história de Cecília Skotbu, uma menina que vive intensamente. As coisas que vai aprendendo ela anota num caderninho. Ali ela escreveu, por exemplo: 'Nós enxergamos tudo através de um espelho, obscuramente. Às vezes conseguimos espiar através do espelho e ter uma visão de como são as coisas do outro lado. Se conseguíssemos polir esse espelho, veríamos muito mais coisas. Porém, não enxergaríamos mais a nós mesmos'. Cecília passa quase o tempo todo em seu quarto, deitada na cama. Ela está morrendo. Sua história é uma preparação para a morte -- e por isso é também um mergulho na vida. Ela morre como quem viaja, prestando atenção em tudo. Através do seu olhar profundo, o outro lado do espelho se torna um pouco mais claro para nós. De certa forma, para Cecília, morrer é como viajar. Não a viagem dos turistas, porque às vezes eles ficam tão preocupados em tirar fotografias que até se esquecem de ver realmente o que está diante deles. Cecília viaja com a imaginação, com o pensamento, com as emoções, com a mente. A lente que usa é o olho interior. E é com esse olho que ela conhece Ariel, um anjo que se torna o melhor companheiro de viagem do mundo. Cecília vai lhe ensinar muitas coisas sobre a vida dos seres humanos de carne e osso. Ariel não tem ideia, por exemplo, do que significa segurar uma bola de neve na mão. Não sabe que estar com uma coisa na ponta da língua não tem nada a ver com o paladar. Acha um mistério uma coisa poder 'ser tão gostosa que quase dói'. Como todo anjo, não sabe muito bem o que é a dor. E Cecília, que ainda não é anjo, não sabe muito bem o que há do outro lado, naquele mundo em que os seres não são mais de carne e osso e por isso já não vêem sua imagem refletida nos espelhos. Este é o trabalho de Ariel: viajar com Cecília para ajudá-la a atravessar o espelho." Narração: Samuel Coelho

• published: 06 Dec 2013
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