José Afonso - Era de Noite e Levaram

• published: 22 Oct 2015
• views: 11

SENHORAS E SENHORES, FAZ HOJE 70 ANOS A POLÍCIA INTERNACIONAL DE DEFESA DO ESTADO (P.I.D.E.)! Esta gravação data de 1969 e pertence à Banda 3 da Face B do disco LP de 33 R.P.M. editado pela marca "Orfeu", etiqueta à responsabilidade da editora "Arnaldo Trindade e Companhia", intitulado "José Afonso - Contos Velhos, Rumos Novos", disco em que o cantor de música de intervenção José Afonso, conhecido como "O Zeca Afonso", interpreta variados temas do seu reportório, desde música popular folclórica a canções que são verdadeiros protestos contra o regime político do Estado Novo. Esta canção intitula-se "Era de Noite e Levaram", uma das canções mais bem-sucedidas deste disco, da autoria de José Afonso, sobre versos de Luís Andrade, que fala de uma realidade oculta da nossa Nação Portuguesa, quando os agentes da instituição aniversariante invadiam, sem mandados de captura nenhuns às vezes, as casas dos homens que eram opositores do Estado Novo, e que participavam em actividades anti-regime, ou iam a manifestações, ou manifestavam abertamente a sua opinião contrária ao regime instituído. Quando eles eram presos, eram levados de qualquer maneira, estivessem doentes ou não, estivessem com pijama, estivessem com ceroulas, estivesse com cuecas, ou estivessem "em pilastras" como dizia a Mirita Casimiro, ou não estivessem. Depois eram levados para os calabouços da Rua António Maria Cardoso, o Quartel-General da P.I.D.E., onde aconteciam as torturas e os interrogatórios feitos pela Polícia Internacional, que de internacional não tinha nada na maioria. Trata-se de uma triste realidade do nosso País, em que havia um tempo em que as pessoas eram presas porque pensavam de maneira diferente do regime fascista. Por isso, o disco foi proibido pela Emissora Nacional, e a seguir apreendido pela aniversariante Polícia Internacional, a nova designação que ganhou neste dia, para apagar o nome de Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, a P.V.D.E., ou Pevide. QUando um disco era apreendido, era imediatamente retirado de todas as lojas comercializadoras de discos, e de todas as Discotecas de rádios onde eles estivessem inseridos. Neste caso, a Emissora Nacional enviava os discos proibidos para a própria instituição. Mas tinham sempre direito a uma única passagem na Rádio Renascença e na Emissora Nacional, porque assim obrigava a lei. No ano em que este disco foi editado, já tinha a designação de Direcção Geral de Segurança (D.G.S.), baseado no nome original da polícia político-secreta da Espanha Franquista. O disco onde foi incluído este registo foi reeditado em 1987 pela "Riso e Ritmo", e depois em 1996 pela Movieplay, também em CD e Cassete. Recentemente, em 2012, a Radiotelevisão Portuguesa e a RDP Antena 1 decidiram reeditar o disco com remasterizações feitas com base nas bobines originais, com a marca original. Hoje, este disco ainda passa com frequência na emissora radiofónica estatal, nos espaços "Musical Antena 1", e este disco hoje é um "Disco Antena 1", ou seja, disco recomendado pela estação emissora. Decidi publicar este vídeo, propositadamente, para comemorar os 70 anos desta que foi uma das piores instituições impostas em Portugal pelo regime do Estado Novo, que desgraçou a vida a muita gente, sómente porque eles, ao contrário do que era normal, queria expressar a sua opinião de maneira diferente, e queriam uma alternativa à Guerra do Ultramar, à censura, à Mocidade Portuguesa e à Legião Portuguesa, onde houvesse a opinião livre nas ruas das cidades de Portugal. Quem estiver em desacordo com a minha descrição, paciência, pois a liberdade de expressão e pensamento foi uma das únicas coisas de valor, senão a única, que a Revolução dos Cravos conquistou, e que deve ser preservada a todo o custo, independentemente do estado em que os assuntos nacionais e internacionais possam estar. Espero que gostem.