Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos
A lua, tal qual a dona de um bordel
Pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel
E nuvens, lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas, que sufoco
Louco, o bêbado com chapéu-côco
Fazia irreverências mil pra noite do Brasil, meu Brasil
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu num rabo-de-foguete
Chora a nossa pátria, mãe gentil
Choram Marias e Clarices no solo do Brasil
Mas sei, que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente, a esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se machucar
Azar, a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista tem que continuar
As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões
Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague
Se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são
O alimento, o veneno e o pão, o vinho seco, a recordação
Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver
As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões
Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele
Se a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser
Não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar
Não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor
As aparências enganam, aos que gelam e aos que inflamam
Porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões
Os corações cortam lenha e, depois, se preparam pra outro inverno
Mas o verão que os unira, ainda, vive e transpira ali
Nos corpos juntos na lareira, na reticente primavera
No insistente perfume de alguma coisa chamada amor
Dia de luz, festa de sol
e um barquinho a deslizar
no macio azul do mar
Tudo é verão e o amor se faz
num barquinho pelo mar
que desliza sem parar...
Sem intenção, nossa canção
vai saindo desse mar e o sol
Beija o barco e luz
dias tão azuis!
Volta do mar, desmaia o sol
e o barquinho a deslizar
e a vontade de cantar!
Céu tão azul, ilhas do sul
e o barquinho, coração,
deslizando na canção
Tudo isso é paz, tudo isso traz
uma calma de verão e então
O barquinho vai, a tardinha cai...
O barquinho vai, a tardinha cai...
É de sonho e de pó
O destino de um só feito eu
Perdido em pensamentos sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De gibeira e jiló dessa vida
Cumprida a sol
REFRÃO:
Sou caipira pira pora Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida
Sou caipira pira pora Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida
O meu pai foi peão, minha mãe solidão
Meus irmãos perderam-se na vida em busca de aventuras
Descansei, joguei, investi, desisti
Se há sorte eu não sei, nunca vi
REFRÃO
Me disseram porém, que eu viesse aqui
Pra pedir de romaria e prece paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar
REFRÃO
No dia em que eu apareci no mundo
Juntou uma porção de vagabundo da orgia
De noite, teve samba e batucada
Que acabou de madrugada
Em grossa pancadaria
Depois do meu batismo de fumaça
Mamei um litro e meio de cachaça, bem puxado
E fui adormecer como um despacho
Deitadinha no capacho
Na porta dos enjeitados
Cresci olhando a vida, sem malícia
Quando um cabo de polícia
Despertou o meu coração
E como eu fui pra ele muito boa
Me soltou na rua à-toa
Desprezada como um cão
E hoje que eu sou mesmo da virada
E que eu não tenho nada, nada
Que por Deus fui esquecida
Irei cada vez mais me esmolambando
Seguirei sempre cantando
Na batucada da vida
Meu coração
Não sei por que
Bate feliz
Quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim foges de mim
Ah, se tu soubesses como eu sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim
Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor
Dos lábios meus
A procura dos teus
Vem matar esta paixão
Que me devora o coração
E só assim então serei feliz, bem feliz
Vou acender uma vela
Vou só cantar o meu canto
E vou cantar da maneira, a mais singela
E só depois vou te esquecer
Vou acender uma vela
Vou só chorar o meu pranto
E vou chorar da maneira, a mais singela
E só depois quero esquecer
Quando um amor acaba em pranto
É o mesmo que alguém morrer
Vou acender essa vela
Que é por mim e é por ela
Por amor andei já
Tanto chão e mar,
Senhor já nem sei
Se o amor não é mais
Bastante pra vencer.
Eu já sei o que vou fazer,
Meu Senhor:
Uma oração,
Vou cantar para ver se vai valer,
Laia ladaia sabadana Ave-Maria!
Ah! meu santo defensor,
Traga o meu amor,
Laia ladaia sabadana Ave-Maria!
Se é praga ou oração,
Mil vezes cantarei
Laia ladaia sabadana Ave-Maria!
Ah, se eu pudesse fazer entender
Sem teu amor eu não posso viver
Que sem nós dois o que resta sou eu
Eu assim, tão só
E eu preciso aprender a ser só
Poder dormir sem sentir teu amor
E ver que foi só um sonho e passou
Ah! O amor
Quando é demais ao findar, leva a paz
Me entreguei, sem pensar
Que saudade existe
E se vem, é tão triste
Vê, meus olhos choram a falta dos teus
Esses seus olhos que foram tão meus
Por Deus, entenda que assim eu não vivo
Eu morro pensando no nosso amor
menino que vai pra feira
vender sua laranja até se acabar
filho de mãe solteira
cuja ignorância tem que sustentar
é madrugada, vai sentindo frio
porque se o cesto não voltar vazio
a mãe já arranja um outro
pra laranja, esse filho vai ter que apanhar
compra laranja menino
que vai pra feira
compra laranja, laranja, doutô
ainda dou uma de quebra por sinhô
lá no morro a gente
acorda cedo e é só trabalhar
e comida é pouca e
muita roupa pra lavar
de madrugada ele menino
acorda cedo tentando encontrar
um pouco pra poder viver
até crescer e a vida melhorar
compra laranja, doutô
ainda dou uma de quebra pro sinhô
(2X)
compra laranja, laranja, laranja, doutô
ainda dou uma de quebra pro sinhô
Vivendo e aprendendo a jogar
Vivendo e aprendendo a jogar
Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo
Mas aprendendo a jogar
Água mole em pedra dura
Mais vale que dois voando
Se eu nascesse assim pra lua
Não estaria trabalhando
Mas em casa de ferreiro
Quem com ferro se fere é bobo
Cria fama, deita na cama
Quero ver o berreiro na hora do lobo
Quem tem amigo cachorro
Quer sarna pra se coçar
Boca fechada não entra besouro
Quem muito pula quer dançar...
O Brazil não conhece o Brasil
O Brasil nunca foi ao Brazil
Tapi, jabuti, liana, alamandra, alialaúde
Piau, ururau, aquiataúde
Piau, carioca, moreca, meganha
Jobim akarare e jobim açu
Oh, oh, oh
Pererê, camará, gororô, olererê
Piriri, ratatá, karatê, olará
O Brazil não merece o Brasil
O Brazil tá matando o Brasil
Gereba, saci, caandra, desmunhas, ariranha, aranha
Sertões, guimarães, bachianas, águas
E marionaíma, ariraribóia
Na aura das mãos do jobim açu
Oh, oh, oh
Gererê, sarará, cururu, olerê
Ratatá, bafafá, sururu, olará
Do Brasil S.O.S. ao Brasil
Tinhorão, urutú, sucuri
O Jobim, sabiá, bem-te-vi
Cabuçu, cordovil, Caxambi, olerê
Madureira, Olaria e Bangu, olará
Cascadura, Água Santa, Pari, olerê
Ipanema e Nova Iguaçu, olará
Do Brasil S.O.S. ao Brasil
Do Brasil S.O.S. ao Brasil
Alô, alô Marciano
Aqui quem fala é da Terra
Pra variar, estamos em guerra
Você não imagina a loucura
O ser humano tá na maior fissura, porque...
Tá cada vez mais down no high society
Down, down, down no high society
(3X)
Down, down, down
Alô, alô marciano
A crise está virando zona
Cada um por si, todo o mundo na lona
E lá se foi a mordomia
Tem muito rei aí pedindo alforria, porque...
Tá cada vez mais down no high society
Down, down, down no high society
(3X)
Down, down, down
Alô, alô marciano
A coisa está ficando ruça
Muita patrulha, muita bagunça
O muro começou a pixar
Tem sempre um aiatolá pra atolar, Alá
Tá cada vez mais down no high society
Down, down, down no high society
(3X)
Down, down, down
É Zambi no açoite, ei, ei, é Zambi
É Zambi tui, tui, tui, tui, é Zambi
É Zambi na noite, ei, ei, é Zambi
É Zambi tui, tui, tui, tui, é Zambi
Chega de sofrer, ei!
Zambi gritou
Sangue a correr
É a mesma cor
É o mesmo adeus
É a mesma dor
É Zambi se armando, ei, ei, é Zambi
É Zambi tui, tui, tui, tui, é Zambi
É Zambi lutando, ei, ei, é Zambi
É Zambi tui, tui, tui, tui, é Zambi
Chega de viver, ê
Na escravidão
É o mesmo céu
O mesmo chão
O mesmo amor
Mesma paixão
Ganga-zumba, ei, ei, ei, vai fugir
Vai lutar, tui, tui, tui, tui, com Zambi
E Zambi, gritou ei, ei, meu irmão
Mesmo céu, tui, tui, tui, tui
Mesmo chão
Vem filho meu
Meu capitão
Ganga-zumba
Liberdade
Liberdade
Liberdade
Vem meu filho
É Zambi morrendo, ei, ei, é Zambi
É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi
Ganga Zumba, ei, ei, ei, vem aí
Ganga Zumba, tui, tui, tui, é Zambi
Feliz o tempo que passou, passou
Tempo tão cheio de recordações
Tantas canções ele deixou, deixou
Trazendo paz a tantos corações
Que sons mais lindos tinha pelo ar
Que alegria de viver
Ah, meu amor, que tristeza me dá
Vendo o dia querendo amanhecer
E ninguém cantar
Mas, meu bem
Deixa estar, tempo vai
Tempo vem
E quando um dia esse tempo voltar
Eu nem quero pensar no que vai ser
Até o sol raiar
Ouve
Fecha os olhos, meu amor
É noite ainda
Que silêncio
E nós dois
Na tristeza de depois
A contemplar
O grande céu do adeus
Ah, não existe paz
Quando o adeus existe
E é tão triste
O nosso amor
Oh, vem comigo
Em silêncio
Vem olhar
Esta noite amanhecer
Iluminar
Aos nossos passos tão sozinhos
Todos os caminhos
Todos os carinhos
Vem raiando a madrugada
Música no céu
Você não sente, não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer (bis)
Nunca mais teu pai falou: "She's leaving home
E meteu o pé na estrada like a Rolling Stone..."
Nunca mais você convidou sua menina
Para correr no seu carro...(loucura, chiclete e som)
Nunca mais você saiu à rua em grupo reunido
O dedo em V, cabelo ao vento, amor e flor, que é de cartaz?
No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais (bis)
Você não sente não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer (bis)
Como Poe, poeta louco americano,
Eu pergunto ao passarinho: "Blackbird, o que se faz?"
E raven never raven never raven
Blackbird me responde: "Tudo já ficou atrás"
E raven never raven never raven
Assim preto me responde: "O passado nunca mais"
Você não sente não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
O que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer
E precisamos todos rejuvenescer
E precisamos todos rejuvenescer
Os sonhos mais lindos sonhei...
De quimeras mil um castelo ergui
E no teu olhar tonto de emoção
Com sofreguidão mil aventuras previ
O teu corpo é luz, sedução
Poema divino cheio de esplendor
Teu sorriso prende, inebria, entontece
És fascinação, amor
Não quero lhe falar meu grande amor
Das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
E eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto
É melhor do que a vida de qualquer pessoa
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal está fechado pra nós
Que somos jovens
Para abraçar meu irmão e beijar minha menina na rua
É que se fez o meu lábio, o meu braço e a minha voz
Você me pergunta pela minha paixão
Digo que estou encantado com uma nova invenção
Vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro de uma nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração
Já faz tempo eu vi você na rua
Cabelo ao vento, gente nova reunida
Na parede da memória, esta lembrança
É o quadro que dói mais
Minha dor é perceber, que apesar
De termos feito tudo tudo que fizemos
Ainda somos os mesmo e vivemos
Ainda somos os mesmo e vivemos
Como nossos pais
Nossos ídolos ainda são os mesmos
E as aparências não enganam não
Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer que eu estou por fora
O que eu estou inventando
Mas é você que ama o passado e que não vê
Mas é você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem
E hoje eu sei que quem me deu
A idéia de uma nova consciência e juventude
Está em casa, guardado por Deus
Contando os seus metais
Minha dor é perceber, que apesar
De termos feito tudo tudo
O que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais
O homem que diz "dou" não dá
Porque quem dá mesmo não diz
O homem que diz "vou" não vai
Porque quando foi já não quis
O homem que diz "sou" não é
Porque quem é mesmo é "não sou"
O homem que diz "estou" não está
Porque ninguém está quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha, traidor
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor
Vai, vai, vai, vai, não vou
Vai, vai, vai, vai, não vou
Vai, vai, vai, vai, não vou
Vai, vai, vai, vai, não vou
Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor que passou
Não, eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor
Amigo sinhô
Saravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha, não vá
Que muito vai se arrepender
Pergunte pro seu Orixá
Amor só é bom se doer
Vai, vai, vai, vai amar
Vai, vai, vai, vai sofrer
Vai, vai, vai, vai chorar
Vai, vai, vai, vai dizer
Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor que passou
Não, eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor
Vi tanta areira, andei
Na lua cheia eu sei
Uma saudade imensa
Vagando em verso eu vim
Vestido de cetim
Na mão direira rosas, vou levar
Olha a lua mansa ao se derramar
Ao luar descansa meu caminhar
Meu olhar em festa se fez feliz
Lembrando a seresta que um dia fiz
(Por onde for quero ser teu par)
Já me fiz a guerra por não saber
Que a terra encerra o meu bem querer
E jamais termina meu caminhar
Só o amor me ensina onde vou chegar
(Por onde for quero ser seu par)
Rodei de roda andei
Dança da moda eu sei
Cansei de ser sozinha
Verso encantado usei
Meu namorado é rei
Nas lendas do caminho onde andei
No passo da estrada só faço andar
Tenho a minha amada a me acompanhar
Vim de longe léguas cantando eu vim
Vou não faça tréguas sou mesmo assim
(por onde for quero ser seu par)
me leva amor
amor
me leva amor
por onde for quero ser seu par
meu mestre deu a partida
é hora, vamos embora
vamos no litoral
vamos embora
na volta eu venho ligeiro
vamos embora
eu venho primeiro pra tomar teu coração
é hora!
ora, vamos embora
é hora, vamos embora
é hora, vamos embora
vamos embora, ora, vamos embora!
é hora, vamos embora
é hora, vamos embora
viração virando vai
olha o vento, a embarcação
minha jangada não é navio, não
não é vapor nem avião
mas carrega muito amor
dentro do seu coração
sou meu mestre, meu proeiro
sou segundo, sou primeiro
reta de chegar
olha a reta de chegar
mestre, proeiro
segundo, primeiro
reta de chegar
reta de chegar
meu barco é procissão
minha terra é minha igreja
noiva é rosário
no seu corpo vou rezar
minha noiva é meu rosário
no seu corpo vou rezar
ora!
ora, vamos embora
vamos embora
vamos embora
vamos embora
vamos embora
ora, vamos embora
ora, vamos embora, nego
upa neguinho na estrada
upa pra lá e pra cá
virgem, que coisa mais linda
upa neguinho começando a andar
começando a andar, começando a andar
e já começa a apanhar
cresce neguinho e me abraça
cresce e me ensina a cantar
eu vim de tanta desgraça
muito eu te posso ensinar
muito eu te posso ensinar
capoeira, posso ensinar
ziquizira, posso tirar
valentia, posso emprestar
liberdade, só posso esperar
Vem, oh minha amada
Desce a estrada de rainha
Num passo de rancho, corre o manto
No medo e espanto, morre minha alegria
Vem, oh, fantasia
Arrasta a saia, rasga o dia
Meu passo é o compasso na avenida
Teu riso que dança, trança, triste e sofrido
Se meu abandono
Em cinzas frias amanhece
Mas o sangue não se cansa
Não se esquece de chamar
E eu abro alas, jogo lanças
Serpentinas de cores feridas
E rompo estandartes na avenida em dor
Sem céu, sem luz, sem sol, sem cor
Mas vem, ou tudo ou nada
Meu entrudo, minha espera
Meus campos de guerra, vem amada
De tanto que eu chamo, canto, peço e preciso
Um marinheiro me contou
Que a boa brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
O pescador me confirmou
Que um passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo
Dou duro toda a semana
Senão pergunte à Joana
Que não me deixa mentir
Mas, finalmente é domingo
Naturalmente, me vingo
Eu vou me espalhar por aí
No compasso do samba
Eu disfarço o cansaço
Joana debaixo do braço
Carregadinha de amor
Vou que vou
Pela estrada que dá numa praia dourada
Que dá num tal de fazer nada
Como a natureza mandou
Vou
Satisfeito, alegria batendo no peito
O radinho contando direito
A vitória do meu tricolor
Vou que vou
Lá no alto
O sol quente me leva num salto
Pro lado contrário do asfalto
Pro lado contrário da dor
Um marinheiro me contou
Que a boa brisa lhe soprou
Que vem aí bom tempo
Um pescador me confirmou
Que um passarinho lhe cantou
Que vem aí bom tempo
Ando cansado da lida
Preocupada, corrida, surrada, batida
Dos dias meus
Mas uma vez na vida
Eu vou viver
A vida que eu pedi a Deus
Pra que que eu fui lembrar dos olhos dele
Jabuticaba madura
Coração cabeça-dura
Teima, bate até que fura
Desconjura e negaceia
Feito lobo em lua cheia
Na cadeia desse olhar
Que arrepia, esfria-se e me dá
Taquicardia, falta de ar
É o coração que desde pro calcanhar de aquiles
Doce suplício do amor
Faquires tiram partido da dor
Que bate, come e repinica
Feito fome de lumbriga
Na barriga da miséria
Coração cabeça velha
Me virando do avesso
Inventei qualquer pretexto
Fui pedir para voltar
Cheguei no prédio, errei de andar
No elevador um gordo me dá
Um pisão no calo
Que me enxotou de lá mancando
Sei que esse amor vai ficar sangrando
No peito e no calcanhar de aquiles
Doce suplício do amor
Faquires tiram partido da dor
Que dá lembrar dos olhos dele.