A confusão.
“Se a trombeta só der sons confusos, quem se preparará para a batalha?” (I Cor 14,8)
Por Marcela A. de Castro
- Acorda, Fabrício! O Gabriel tá no telefone. Ele disse que tentou te ligar umas três vezes pelo celular.
- Nhum nhum nhum, – balbuciou o jovem relutante enquanto cobria a cabeça com o travesseiro. – Mãe, diz pra ele que eu tô dormindo.
- Menino, levanta dessa cama que já são quase 10h e você tem que me levar no shopping para comprarmos o presente do seu avô.
Na noite anterior Fabrício fora para a cama às duas da manhã, completamente exausto. Depois do trabalho agitado na corretora de valores e da faculdade de Letras à noite, ainda tivera que dar uma mexidinha no visual do blog. Tudo o que queria era ter a manhã de sábado livre para relaxar. À tarde iria ao Carmelo de Santa Maria ouvir Missa Tradicional com sua noiva Luiza.
Para o jovem de Guarulhos, o Pro Traditione tornara-se uma parte essencial de sua rotina diária. Ele e seu amigo Gabriel, da capital, traduziam com prazer as mais diversas notícias do mundo católico, especialmente, aquelas relacionadas à promoção do Rito Antigo. Criam firmemente que estavam prestando um serviço à Igreja, na medida em que proporcionavam aos católicos tradicionais do Brasil notícias e traduções inéditas de tudo o que envolvesse a Missa de São Pio V, denúncias do modernismo e estudos sérios sobre os frutos não muito doces do Concílio Vaticano II.
Gabriel, por sua vez, já concluíra a faculdade de biblioteconomia e trabalhava em uma importante instituição francesa no centro de São Paulo. Os dois se comunicavam várias vezes ao dia por e-mail para trocarem idéias sobre o blog. Gabriel era o responsável pelas traduções do francês, italiano e alemão, além da moderação dos comentários. Fabrício ficava com a parte de inglês e espanhol, além da diagramação. Às vezes recebiam uma contribuição de Reginaldo, que entendia tudo de informática e também manjava um pouco de italiano. Ao menos uma vez por mês os três jovens se reuniam na capital para trocar idéias. Algumas vezes convidavam o padre Prudêncio, do Oratório de São Geraldo Majela; outras vezes tinham a companhia do Dr. Cláudio, um dentista aposentado, que era um verdadeiro especialista em canto gregoriano e freqüentava a missa tradicional na mesma capela que Gabriel.
O fato era que em poucos anos o Pro Traditione tornara-se uma fonte de consulta indispensável, respeitado tanto por tradicionalistas, que liam avidamente os artigos ali postados, como por católicos ditos conservadores, que pouco a pouco passaram a perceber que existia vida católica pulsante fora de seus esquemas contaminados de modernismo.
Sensus fidei e o espírito de Assis.
Fonte: Messa in Latino
Tradução: Fratres in Unum.com
O pedido de alguns católicos italianos a Bento XVI para que não vá a Assis, em outubro próximo, suscitou um acalorado debate em que, juntamente com avaliações até mesmo abalizadas, não faltaram, como esperado, críticas e perplexidades. Parece-me inútil responder às acusações de progressistas, que vêem nesse evento uma ocasião para relançar um ecumenismo sincretista: tais críticas são, na realidade, a melhor confirmação de que nosso apelo era oportuno. Considerado necessário, por sua vez, responder às críticas de setores conservadores, movidas por irmãos na fé que têm, presume-se, o mesmo amor à Igreja.
Tais críticas podem ser resumidas nestes termos: o Encontro de Assis anunciado por Bento XVI pode até mesmo não agradar; todavia, não se pode criticar um Papa por aquilo que fez (João Paulo II, em 1986) ou por aquilo que tem intenção de fazer (Bento XVI, em 2011), pretendendo explicar aquilo que é bom para a Igreja. Dos fiéis, sobretudo dos leigos, exige-se um assentimento religioso a toda iniciativa e decisão do Sumo Pontífice.
A resposta a esta crítica nos vem do Catecismo, da tradição teológica, da história da Igreja e do magistério pontifício. O Catecismo nos ensina que o sacramento do Batismo nos incorpora à Igreja, fazendo-nos participantes de sua missão (n. 1213) e que a Confirmação obriga a todos os batizados a “difundir e a defender a fé, com palavras e obras, como verdadeiras testemunhas de Cristo” (n. 1285). A promessa da divina assistência do Espírito Santo, muitas vezes repetida pelo Senhor aos Apóstolos (cf. Jo 14, 16-17, 26-26), não se manifesta apenas através do Magistério, mas também através do consenso do “universitas fidelium”, como explicaram contra os protestantes o grande teólogo dominicano Melchior Cano em De Locis theologicis e São Roberto Belarmino em De Ecclesia Militante. Os sucessivos teólogos têm feito distinção entre a infallibilitas in docendo e a infallibilitas in credendo da Igreja, esta última baseada sobre o senso da fé, isto é, sobre a capacidade do fiel de discernir aquilo que é conforme a fé do que não o é, não pela via do raciocínio teológico, mas por uma espécie de conhecimento por conaturalidade. A virtude da fé (habitus fidei), recebida com o Batismo, na realidade, explica Santo Tomás de Aquino, produz uma conaturalidade do espírito humano com os mistérios revelados, de modo que faz com que o intelecto de cada batizado seja, como que por instinto, impulsionado para as verdades sobrenaturais e aderido a elas.
Ao longo da história da Igreja, o sensus fidei dos simples fiéis esteve muitas vezes mais conforme à Tradiçao Apostólica do que o dos Pastores, como ocorreu durante a crise ariana do século IV, quando a fé foi mantida por uma minoria de santos e bispos imbatíveis, como Atanásio, Hilário de Poitiers, Eusébio de Vercelli e, sobretudo, pelo povo fiel, que não acompanhavam a crítica teológica, mas conservavam, por simples instinto sobrenatural, a sã doutrina. O Beato Newman escreve que “naquele tempo de imensa confusão, o sagrado dogma da divindade de Nosso Senhor foi proclamado, infundido, conservado e (humanamente falando) preservado muito mais pela Ecclesia docta do que pela Ecclesia docens“.
O papel de cada batizado na história da Igreja foi recordado por Bento XVI em seu discurso de 26 de janeiro de 2011, em que o Papa recordou a missão de “duas jovens mulheres do povo, leigas e consagradas à virgindade; duas místicas empenhadas, não no claustro, mas no meio da realidade mais dramática da Igreja e do mundo de seu tempo”. São Santa Catarina de Sena e Santa Joana D’Arc, “quiçá as figuras mais característica daquelas ‘mulheres fortes’ que, ao final da Idade Média, levaram sem medo a grande luz do Evangelho nos complexos acontecimentos da história. Poderíamos compará-las às santas mulheres que permaneceram no Calvário, próximas a Jesus crucificado e a Maria sua mãe, enquanto os Apóstolos tinham fugido e o próprio Pedro havia negado três vezes”. A Igreja naquele período vivia a profunda crise do grande cisma do Ocidente, que durou quase 40 anos. Naquela época, tão dramática quanto à da crise ariana, as duas santas foram guiadas pela luz da Fé mais do ocorria aos teólogos e eclesiásticos da época, e o Papa aplica às duas leigas a palavra de Jesus, segundo a qual os mistérios de Deus são revelados aos que têm o coração dos pequenos, enquanto mantêm-se escondidos aos doutos e sábios que não têm a humildade (cfr. Lc. 10, 21).
É neste espírito que expressamos toda a nossa perplexidade e reserva diante do encontro inter-confessional de Assis, de 27 de outubro de 1986, que não foi um ato magisterial, mas um gesto simbólico, cuja mensagem vem transmitida não por escritos ou palavras, mas pelo fato mesmo e por sua imagem. Um semanário italiano resumiu, então, seu significado com a palavra do Padre Marie-Dominique Chenu: “É a rejeição oficial do axioma que outrora foi ensinado: fora da Igreja não há salvação” (“Panorama”, 02 de novembro de 1986). Eu estava em Assis naquele dia e tenho uma documentação fotográfica de tudo que ocorreu, por exemplo, na igreja de San Pietro, onde, na presença do Santíssimo Sacramento, uma pequena estátua de Buda foi entronizada no altar que guarda as relíquias do mártir Vittorino, enquanto em uma faixa colocada diante do mesmo altar se lia: “Me dedico à lei de Buda”. Como católico, tive e continuo a ter repugnância por esse evento, que não merecia, em minha opinião, ser recordado, mas, antes, merecia distância. Estou certo que Bento XVI não tem nenhuma intenção de que se repitam os abusos daquela época, mas vivemos em uma sociedade midiática e o novo encontro de Assis corre o risco de ter o mesmo significado que foi atribuído, primeiramente pelos meios de comunicação, e conseqüentemente, pelos meios de opinião pública mundial, como já está ocorrendo.
Hoje vivemos uma época dramática em que todo batizado deve ter a coragem sobrenatural e franqueza apostólica de defender em voz alta sua própria fé, seguindo o exemplo dos santos e sem se deixar influenciar pela “razão política”, como muito freqüentemente ocorre no campo eclesiástico. Essa é a consciência da nossa fé e nenhuma outra consideração que nos impulsionou a rejeitar Assis I e a exprimir ao Santo Padre, com reverente respeito, todas as nossas preocupações diante do anúncio de um futuro Assis III.
Roberto de Mattei
A Carta aos nossos irmãos padres e o Concílio.
(Summorum Pontificum Observatus) O último número da Carta aos nossos irmãos padres, carta trimestral de contato da Fraternidade São Pio X com o clero da França, é particularmente interessante. Ela evoca o Concílio Vaticano II e, sobretudo, esboça uma primeira síntese da posição desta fraternidade com relação ao Concílio. Esta síntese se insere diretamente no âmbito dos encontros regulares entre os peritos da Congregação para a Doutrina da Fé e os representantes de Fraternidade São Pio X. Em sua introdução, o Padre Régis de Cacqueray escreve que:
Hoje é extremamente difícil falar do Vaticano II com sutileza e nuance, mas também com franqueza e verdade. Deixar a entender que tal texto do Concílio, em tais pontos, e por tais razões teológicas, poderia eventualmente não estar inteiramente alheio à crise atual, parece totalmente impensável e inaceitável.
Deste fato, aos padres diocesanos, que são os destinatários dessa Carta, o superior do Distrito da França da Fraternidade São Pio X propõe os primeiros elementos de uma síntese sobre o tema.
Não se trata aqui de dar um resumo desta síntese. É possível socilitá-la à LNFP, 11, rue Cluseret 92280 Suresnes Cedex ou por e-mail em scspx@aliceadsl.fr (e consultar os antigos números em La Porte Latine). Em contrapartida, o método de exposição me parece interessante e permite um esclarecimento a fim de ter uma base real para reflexões e discussões. É por isso que me proponho a reproduzir os títulos e os subtítulos. Esta carta é, com efeito, estruturada sob duas chamadas de capítulo que são “O que nós não dizemos sobre o Vaticano II” e “O que nós dizemos sobre o Vaticano II”. A partir daí, o redator desta síntese detalha diversos temas:
O que nós não dizemos sobre o Vaticano II:
Que a crise atual proviria exclusivamente do Concílio.
Em seguida vem um desenvolvimento deste tema nos subtítulos: Mal-estar na cristandade; Os trinta gloriosos anos (ndr: referência ao período de forte crescimento econômico da França após a Segunda Guerra Mundial); Crise da consciência européia (e mundial); Crise conciliar e pós-conciliar; Mas pode-se fazer de conta que o Concílio não aconteceu?
Outro tema abordado em “O que nós não dizemos sobre o Vaticano II”:
Que o Concílio foi ilegítimo desde o início e viciado no todo, com os subtítulos:
O golpe de 13 de outubro de 1962; A influência dos grupos de pressão; Uma crítica baseada em textos precisos.
A respeito, a Carta propõe, então, sob a rubrica “O que nós dizemos sobre o Vaticano II”:
Um Concílio meramente pastoral; mas amplamente elevado… com subtítulos:
Um Concílio meramente pastoral; Um Concílio que evita se lançar sobre o campo dogmático; E, no entanto, um Concílio amplamente elevado desde o seu encerramento; Um lugar verdadeiramente desproporcionado.
Outro tema abordado, ainda sob a mesma rubrica “O que nós dizemos sobre o Vaticano II”:
Permanece, apesar de todos os esforços, um núcleo de textos litigiosos. Os subtítulos são:
A Igreja atravessa hoje uma crise muito grave; Esta crise provém, ao menos em parte, do Vaticano II?; Certamente, não pretendemos ser infalíveis em nossas críticas; Mas permanecem, apesar dos esforços de interpretação, alguns textos litigiosos; Ora, estes textos litigiosos dizem respeito diretamente à fé.
A cidadania planetária do bispo auxiliar de Niterói.
Assembléia Geral da ONU recordando o convênio sobre a diversidade biológica e a convenção marco das nações unidas sobre a mudança climática, declarou 2011 ano internacional dos bosques. É um importante reconhecimento que os bosques e sua ordenação sustentável podem contribuir significativamente para o desenvolvimento equilibrado e harmônico, promovendo a erradicação da pobreza e possibilitando a conservação e o uso responsável de todos os tipos de bosques em benefício das gerações presentes e futuras.
As tragédias climáticas que aconteceram em Petrópolis e Nova Friburgo ceifando um número incontável de vidas e danos irreparáveis tem a ver sim com as alterações climáticas que modificaram o regime pluvial [ndr: há quem apresente uma resposta católica à catástrofe, Excelência]; o volume e concentração das chuvas e a própria constituição dos solos. Neste momento que conjuga o resgate e a restauração dos sobreviventes e se pensa na prevenção de catástrofes é bom não esquecer da urgência de um pacto natural de não agressão ao ambiente e de proteção a todos os ecossistemas, florestas especialmente as mais frágeis. É tempo de lembrar que a terra é nosso corpo e nossa casa, que todas estas tragédias pelas que passamos são também sinais de exaustão; de desequilíbrio, de não saber conviver com o ambiente natural.
Precisamos acolher e cuidar com muita compaixão as vítimas dos soterramentos e deslizamentos, e também, crescermos na nossa consciência de cidadania planetária defendendo os direitos dos bosques, afirmando com convicção que a terra é nosso habitat; que a vida é uma teia que nos une a todas as criaturas, que só estaremos seguros respeitando e reverenciando a criação como um dom sagrado de Deus, que temos que cuidar e defender.
+ Dom Roberto Francisco Ferrería Paz
Bispo Auxiliar de Niterói
Fonte: Arquidiocese de Niterói
“Um silêncio de morte sobre o início da vida”.
Apresentamos a seguir o texto da monografia de pós-graduação em bioética do Prof. Hermes Rodrigues Nery, concluída em julho de 2010, feita na PUC do Rio de Janeiro, curso promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Pontifícia Academia para a Vida. Originalmente o texto foi publicado em “O possível e o Extraordinário”.
Hermes Rodrigues Nery
Uma breve reflexão sobre o voto do ministro Carlos Ayres Brito, do Supremo Tribunal Federal, autorizando o uso de células-tronco embrionárias para fins de pesquisa científica e terapia no Brasil.
Desde 1827, com a publicação da obra epistolar De Ovi Mammalium et Hominis Genesis (Sobre o óvulo dos mamíferos e a origem do Homem), de Karl Ernst Von Baer (1792-1876), que a ciência tem comprovado o início da vida humana desde a fecundação. É uma constatação, portanto, científica, validada por outros experimentos do século 20, corroborada pelos avanços biotecnológicos obtidos por aqueles que investem na clonagem reprodutiva. Em caso de eficácia da clonagem humana, será preciso viabilizar as condições culturais para a aceitação daquilo que hoje é visto como horror, daí o trabalho a longo prazo promovido por “fortes correntes culturais, econômicas e políticas” 1, na desconstrução do conceito antropológico de natureza e pessoa humana; e na disseminação de uma mentalidade cada vez mais secularizada e eficientista (especialmente adversa à Cristandade), para se chegar a um grau menor de resistência à manipulação da vida. Por isso, tais forças convergem investimentos e ações sistematizadas no esforço de desmonte das estruturas civilizacionais do direito natural, e na arquitetura de uma engenharia social, tecnicamente planejada e controlada para um completo domínio da vida. Nesse sentido, assombra o perigo de um fundamentalismo cientificista, com a aplicação do conhecimento sem nenhum critério ético ou moral, mas apenas com fins hedonistas e utilitários, atendendo os interesses ideológicos de sistemas políticos totalitários (inclusive com roupagem democrática). Não se teme mais o furor da hybris, nada mais parece conter a libido sciendi. É Fausto que deseja a plenitude das satisfações terrenas. Im Anfang war die Tat! (“No começo era a Ação!” – Goethe, Faust, I) 2. Mas que ação, que quer ser, ela mesma, causa de si própria?
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Com a beatificação de João Paulo II, o que faz um santo ‘a jato’?
Os casos mais rápidos de canonização têm cinco características em comum
Por John L Allen Jr – National Catholic Reporter
Tradução: Fratres in Unum.com
Quando João Paulo II for declarado “beato”, em 1º de maio, esse evento representará a mais rápida beatificação dos tempos modernos, superando por pouco Madre Teresa. Ambos, é claro, foram celebridades globais, cujas mortes movimentaram campanhas populares para canonização imediata e permanecem os únicos dois casos recentes em que o período normal de espera para iniciar uma causa foi dispensado.
À luz da rapidez com que a beatificação de João Paulo II se desenrolou, alguns se questionam por que a máquina está demorando mais para funcionar para outros aspirantes a santos: o fundador do movimento Operário Católico, por exemplo, ou o Arcebispo salvadorenho Oscar Romero, ou mesmo o pontífice do tempo da guerra Pio XII.
Com efeito, isso levanta a questão: O que faz um santo “a jato”?
Em 1983, João Paulo II revisou o processo de canonização a fim de torná-lo mais rápido, barato e menos acusatorial [“adversarial”, no sentido das partes envolvidas apresentarem evidências de suas posições, confrontando-se], em parte porque queria exaltar os modelos contemporâneos de santidade. O resultado é bem conhecido: João Paulo II presidiu mais beatificações (1338) e canonizações (482) que todos os Papas anteriores juntos.
Desde essas reformas, ao menos 20 beatificações, o passo anterior à canonização, podem ser definidas como “a jato”, ocorrendo dentro de aproximadamente 30 anos após a morte da pessoa. Esse privilegiado grupo inclui uma mescla dos famosos (Padre Pio e o fundador do Opus Dei Josemaría Escrivá) e os relativamente desconhecidos (Anuarite Nengapeta, uma mártir congolesa, e Chiara Badano, uma leiga dos Focolares). Inclui homens e mulheres, clérigos e leigos, tanto do mundo em desenvolvimento como do desenvolvido.
À parte da reputação de santidade pessoal e relatos de milagres, há cinco características que a maioria destes casos a jato compartilha.
Primeiro, a maioria tem uma organização por detrás completamente comprometida com a causa, tanto com recursos como com habilidade política para fazer o processo caminhar.
O Opus Dei, por exemplo, ostenta uma lista de canonistas qualificados e investiu recursos significativos na causa de seu fundador. Um porta-voz do Opus Dei estimou que o custo total para ver Escrivá declarado santo, incluindo a preparação de duas grandiosas cerimônias em Roma – beatificação em 1992 e canonização em 2002 – foi de aproximadamente 1 milhão de dólares.
Este fator sozinho ajuda a explicar por que outras causas podem definhar. No caso de Dorothy Day, por exemplo, há ambigüidade nos círculos do movimento Católico Operário. Alguns questionam se Day teria desejado ser canonizado, e outros se perguntam se os recursos não seriam melhor investidos ajudando os pobres.
Segundo, vários dos casos a jato envolvem um “primeiro”, comumente para reconhecer tanto uma região geográfica específica como um grupo de pessoas pouco representado.
A leiga italiana Maria Corsini foi beatificada em 2001, apenas 35 anos após sua morte, juntamente com seu marido Luigi Beltrame Quattrocchi, o primeiro casal a ser declarado “beato”. A salesiana nicaragüense Ir. Maria Romero Meneses foi beatificada em 2002, 25 anos após sua morte, como a primeira beata da América Central.
Também chama a atenção o fato de que dos 20 casos a jato, 12 foram mulheres. Pode-se argumentar tratar-se de um esforço das autoridades para reagir à idéia de que a Igreja Católica é hostil às mulheres.
Terceiro, há por vezes uma questão política ou cultural simbolizada por esses candidatos que proporcionam um sentido perceptível de urgência.
Por exemplo, a leiga italiana Gianna Beretta Molla foi beatificada em 1994, 32 anos após sua morte, em 1962 (Molla foi canonizada em 2004). Ela é famosa por recusar tanto o aborto como a histerectomia que resultariam na morte de seu bebê não nascido.
Em outros casos, o assunto em mente poderia ser de dentro da Igreja. Maria de La Purísima, uma Irmã da Cruz espanhola, foi beatificada em 2010, apenas 12 anos após sua morte em 1998. Oficiais do Vaticano a louvaram como modelo de preservação das tradições da vida religiosa em um período de “confusão ideológica” posterior ao Concílio Vaticano II (1962-1965).
A ligação entre um candidato e um tema também pode ajudar a explicar por que as coisas diminuem de velocidade. A cautela ao redor de Pio XII é obviamente relacionada às tensões das relações católicos/judeus.
Quarto, as causas por vezes fazem um caminho mais rápido porque o Papa da época sente um investimento pessoal.
Por exemplo, dois padres poloneses caminhavam rapidamente pelo processo sob João Paulo II: Jerzy Popieluszko, um líder do sindicato Solidariedade, assassinado pelos comunistas poloneses, e Michal Sopocko, o confessor de Santa Faustina Kowalska, uma mística e iniciadora da devoção da Divina Misericórdia, com a qual João Paulo II tinha um forte compromisso pessoal. (A data da cerimônia de beatificação de João Paulo II, 1º de maio, é observada desde 2000 como “Domingo da Divina Misericórdia”).
Quinto, as causas a jato geralmente gozam de decisivo apoio da hierarquia, tanto dos bispos da região como de Roma.
Badano, beatificada apenas 20 anos depois de sua morte em 1990, é a primeira beata Focolare. O movimento é admirado por sua espiritualidade de unidade e seus esforços ecumênicos e inter-religiosos, sem mencionar sua lealdade aos bispos e ao Papa.
O aspecto do apoio hierárquico também pode ajudar a explicar por que a causa de Romero não anda com a mesma velocidade. Por conta de sua associação com a teologia da libertação, Romero foi uma figura polarizadora entre seus irmãos bispos da América Latina, dos quais alguns ainda estão na ativa.
Todas as cinco características estão amplamente presentes na causa de João Paulo II, o que pode pressagiar um curtíssimo intervalo antes de ser formalmente declarado santo. Padre Pio oferece um prazo para comparação – apenas três anos se passaram entre sua beatificação em 1999 e canonização em 2002.
Em certa medda, a agilidade do andamento do processo poderá depender da questão associada à causa de João Paulo afetar o mundo e seu carisma pessoal ou se o seu legado confuso quanto à crise de abusos sexuais emergir mais ainda à medida que o tempo passar.
Alguns argumentaram que o estudo da vida e do legado de João Paulo II como parte do processo de canonização não deu importância suficiente a seu direcionamento da crise de abusos sexuais, tal como o caso do fundador dos Legionários de Cristo, o mexicano Pe. Marcial Maciel Degollado. Predileto de longa data durante o papado de João Paulo II, Maciel caiu em desgraça posteriormente quando os Legionários reconheceram sua culpa em várias formas de má conduta sexual.
A Rede de Sobreviventes dos abusados por padres publicou uma declaração afirmando que a hierarquia está “esfregando mais sal nas feridas” das vítimas com uma “manobra rápida para conferir a canonização” a João Paulo II.
Neste meio tempo, duas notas:
- O processo de João Paulo II sequer chega perto de ser o mais rápido já registrado. Tal distinção pertence a Santo Antonio de Pádua, que morreu em junho de 1231 e foi canonizado menos de um ano depois pelo Papa Gregório IX. Antonio superou mesmo seu mestre, São Francisco de Assis, canonizado 18 meses após falecer em outubro de 1226.
- Apesar de impressões de que o Papa Bento XVI diminuiu a velocidade da fábrica de santos, na realidade, ele está produzindo novos “beatos” mais rapidamente. João Paulo II aprovou 1338 beatificações em 26 anos, uma média de 51 por ano; Bento XVI assinou 789 beatificações, ou 131 por ano.
- Todavia, Bento XVI não está canonizando pessoas com o mesmo frenesi; As 482 canonizações de João Paulo II calculavam 18 por ano, enquanto as 34 de Bento XVI até aqui representam uma média anual abaixo de sete.
- Essa discrepância poderia sugerir que mesmo João Paulo II possa ter que aguardar, ao menos um pouco, antes de ser formalmente instalado com uma auréola.
Padre deixa diocese para ingressar na Fraternidade São Pio X.
Apresentamos uma entrevista de um padre diocesano italiano que acaba de ingressar na Fraternidade São Pio X. Este é o mais recente caso de um movimento mais amplo de padres diocesanos que se aproximam da Tradição litúrgica e doutrinal da Igreja (já noticiamos um caso similar aqui). Dentro desse contexto devemos considerar, por exemplo, o retiro pregado por Dom Bernard Fellay a trinta padres diocesanos italianos em Albano.
Fonte: Distrito Alemão da FSSPX
Tradução: Fratres in Unum.com
O padre diocesano italiano Don Massimo Sbicego (38), do clero da diocese de Vicenza, no norte da Itália, entrou na Fraternidade Sacerdotal São Pio X antes do Natal.
Até setembro de 2009, o padre diocesano, nascido em Montecchio Maggiore (Província de Vicenza) era pároco em Astico-Tal. Lá ele cuidava de três igrejas. Ele fundamentou a sua “sofrida decisão” em uma carta ao administrador diocesano com questões sobre o Magistério e a liturgia.
Na carta ele critica entre outras coisas a resistência na diocese contra o Motu proprio “Summorum Pontificum” em favor da Missa Tridentina. Não foi uma decisão fácil para ele, mas ele tomaria a decisão de entrar para a Fraternidade São Pio X após uma “meticulosa investigação de meses”. A decisão do jovem padre diocesano preocupou a Itália (e alhures) causando alguns estardalhaços na imprensa.
Como o senhor tomou conhecimento da Fraternidade Sacerdotal São Pio X?
Em 1992 encontrei um antigo número da revista “A Tradição Católica” [periódico do Distrito Italiano da Fraternidade Sacerdotal]. Pensei comigo mesmo: “Quem sabe se eles ainda não publicam a revista!”
Tentei contatar a redação e fiz uma assinatura. Concluí o meu tempo de formação no seminário e fui ordenado sacerdote em junho de 2000 [na diocese de Vincenza]. Só em maio 2007 fiz uma primeira visita ao Priorado da Fraternidade Sacerdotal em Rimini e lá conheci o padre Luigi.
Alguém lhe falou sobre o Arcebispo Lefebvre ou sobre a Missa Tradicional no seu tempo de seminário?
Não. A Tradição em sua dimensão positiva esteve ausente das atividades letivas modernas do seminário. Quando a assim chamada “liturgia pré-conciliar” era mencionada, era apenas para ressaltar como eram inadequadas a liturgia e a teologia daquela época. Até recentemente – depois da promulgação do Motu proprio “Summorum pontificum” sobre a forma extraordinária da missa – alguns “liturgistas” utilizavam o DVD didático produzido pela Fraternidade Sacerdotal [sobre a Missa Antiga, para sacerdotes], para ridicularizar o rito e os gestos perante os estudantes.
Quais foram as suas impressões quando o senhor assistiu a celebração da “Missa de Sempre” pela primeira vez?
Eu me encontrei na presença de Deus – um pouco como Moisés no Sinai. Pela primeira vez a celebração foi “perante ELE”. E “ELE MESMO” estava lá.
No rito antigo copta, no Egito, as rubricas prescrevem que o sacerdote pise no presbitério descalço porque ele está em solo sagrado. Encontramos ainda um pouco desse espírito em nossas missas pontificais romanas, em que o bispo calça sapatos especiais para a celebração da santa missa. Quando pela primeira vez celebrei a santa Missa no rito antigo, percebi de uma vez só o porquê disso: Moisés fica perante a sarça ardente. Toda vez que me coloco diante do altar, é da mesma forma. A sarça arde pela presença de Deus.
Como é a sua vida concreta em um priorado da Fraternidade Sacerdotal?
Trata-se, sobretudo, de uma vida de simplicidade e fraternidade. O arcebispo Marcel Lefebvre, fundador da Fraternidade Sacerdotal, estabeleceu regras simples da vida comunitária do sacerdote com base em suas experiências na missão. Ele via não somente o significado do apostolado sacerdotal, mas ele queria também um lugar onde o sacerdote possa se “recarregar” espiritual e mentalmente. O arcebispo queria casas que também protegessem os sacerdotes do “espírito do mundo”. O priorato é um local assim, onde muitos sacerdotes do mundo vivem juntos.
Este é um lindo lugar, porque aqui se encontra sempre uma boa palavra, muitas vezes uma palavra alegre e nenhum interrogatório sobre a Fé. Aqui existe sempre alguma coisa para fazer ou um hóspede para receber, que, em geral, vem de longe. Aqui rezamos uma única liturgia, não separada pela diferença de idiomas nativos dos sacerdote ou fiéis individualmente. Freiras nos ajudam no funcionamento do priorado. Elas são, sobretudo, um exemplo para nós – na oração, no trabalho, na atenção, modéstia e reclusão. E temos irmãos leigos consagrados a Deus, que acolhem os sacerdotes e hóspedes e cuidam da casa com grande generosidade.
O Priorado da Fraternidade também aceita hóspedes externos?
Eu diria que o priorado está aberto a pessoas que respeitam o ritmo e a finalidade da casa. Há sempre um padre à disposição para uma conversa, um encorajamento, um tempo de retiro espiritual ou aconselhamento. Os priorados organizam encontros especiais e dias de retiro para sacerdotes e fiéis. Há também pregações dos exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola muitas vezes ao ano, e, de fato, segundo o lindo método do padre Ludwig Maria de Paula Vallet (1883-1947), que foi especialmente disseminado pelo padre Ludwig Maria Barielle (1897-1983), o primeiro diretor espiritual do Seminário de Ecône. Os trinta dias dos exercícios do santo fundador jesuíta são assim reduzidos a cinco dias – sem qualquer omissão de conteúdos essenciais.
Como é atualmente um dia em seu apostolado sacerdotal?
Existem dois ritmos essencialmente diferentes: dependendo se a pessoa está em casa – no priorado – ou fora – no apostolado.
No priorato levantamos às 6:00h. Alguns sacerdotes se levantam mais cedo para rezar as matinas e as laudes do breviário. Por volta das 6.30h começa a recitação comunitária das primas, em seguida vem uma meditação de meia hora e a oração do Ângelus. A Santa Missa está programada para às 7.15h, seguida de uma ação de graças. O desjejum é às 8.10h.
Em seguida temos tempo para a preparação de catequeses, palestras, pregações ou outros artigos [para revistas]. Há também trabalhos manuais ou tarefas na casa. Esse tempo é interrompido pela recitação privada do breviário (terça e nona), uma leitura das Sagradas Escrituras e etc. Às 12.15h sacerdotes e irmãos rezamos juntos as sextas e o Ângelus. Em seguida temos o almoço, às 12.30h.
À tarde temos novamente tempo para o estudo ou trabalho. Essa parte do dia termina com a recitação das vésperas. Às 18.50h há então o Terço comunitário na capela com a oração do Ângelus. Às quintas-feiras há Benção com a Exposição do Santíssimo.
O jantar é às 19.20h. E por volta das 20.45h cantamos as completas. Em seguida começa o “Grande Silêncio”, que dura até a manhã seguinte às 8.00 h.
Fora da casa, especialmente, aos sábados e domingos, geralmente é diferente. Os tempos de obrigações pastorais precisam ser adaptados. O que não muda são as obrigações clericais (Santa Missa e Breviário) ou os exercícios espirituais especiais dos membros da Fraternidade (rosário, meditação e leitura espiritual).
Eu mesmo não assumi nenhuma tarefa fixa no apostolado da Fraternidade nessa importante missão, porém vejo os meus confrades, que viajam centenas de quilômetros toda semana para ajudar os fiéis, visitá-los e celebrar a missa para eles. Ou então resolver inúmeros problemas relativos ao local das capelas de que tomam conta, instalações, a preparação das cerimônias ou a hostilidade dos bispos e párocos, que nesse sentido não são muito benevolentes.
O senhor acha que outros padres italianos seguirão o seu exemplo?
Ao que eu saiba, alguns sacerdotes e seminaristas se fazem essa pergunta com sinceridade.
Como conseqüência da própria escolha de consagrar a vida ao Senhor, descobre-se que é importante refletir sinceramente sobre a dimensão sacerdotal do “presbiterato” e do caráter sacrifical da missa.
A onda ideológica pós-conciliar subsiste basicamente em um sistema agnóstico. Entretanto, entre os jovens sacerdotes e jovens há um despertar mais uma vez para a busca da autenticidade de nossa Fé e, assim, uma aproximação da Tradição Católica. O sacerdote moderno, a primeira vítima do novo curso eclesial, vive freqüentemente uma profunda crise de identidade, que ele só pode superar através de uma apropriação dos meios que a Tradição viva da Igreja lhe disponibiliza: em primeiro lugar, através da Santa Missa de Sempre, do breviário autêntico, em seguida, através de uma fraternidade sacerdotal verdadeira e, finalmente, através do apostolado.
Resposta de Dom Hélio Adelar Rubert sobre uso de catedral de Santa Maria em “ordenação” anglicana.
Apresentamos abaixo a resposta de Dom Hélio Adelar Rubert, bispo diocesano de Santa Maria, a um fiel a respeito da cessão de sua catedral para a celebração de uma “ordenação” episcopal anglicana (os destaques são do original).
De: D. Hélio Adelar Rubert
Enviada em: quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Assunto: Re: Sagração episcopal anglicana na Catedral de Santa Maria – BRASILSanta Maria, RS, 03 de fevereiro de 2011.
Estimado XXXXX
Paz e Bem!
Recebi e agradeço seu e-mail que requer alguns esclarecimentos:
1º) Por solicitação de lideranças da Igreja Anglicana cedemos o espaço da Catedral Diocesana para cerimônia de ordenação episcopal do futuro Bispo Coadjutor da Igreja Anglicana, pois a Catedral Anglicana do Mediador é muito pequena para o evento.
2º) Em Santa Maria temos um bom relacionamento com as Igrejas Ecumênicas, especialmente com os irmãos anglicanos. Há anos realizamos a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
3º) Os cultos ecumênicos são realizados rotativamente em vários templos.
4º) Temos a organização ecumênica: Fraternidade Ecumênica de Igrejas Cristãs (FEIC) que se reune mensalmente para orar, dialogar e coordenar as iniciativas ecumênicas.
5º) No diálogo ecumênico cada confissão religiosa respeita as diferenças, mantém a sua tradição de fé e procura conhecer e amar o irmão de outra crença. Muitas barreiras e preconceitos já caíram.
Sabemos que o caminho ecumênico é lento e fruto da ação do Espírito Santo.
Estimado amigo e irmão: gostaria de tê-lo como mais um irmão que busca a unidade dos cristãos para realizar o sonho de Jesus: “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jô 17, 21).
Fraternalmente “In caritate exemplum”:
+ Hélio Adelar Rubert
Vocês não sentiram o “amoooor” fluir no “gostaria de tê-lo como mais um irmão que busca a unidade dos cristãos para realizar o sonho de Jesus“? É impossível deixar de lembrar de Barney, mascote de Assis III, e seu “Amo você, você me ama, somos uma família feliz!”…
Quando o novo Prefeito dos Religiosos prega a Teologia da Libertação e a opção preferencial pelos pobres…
Apresentamos esta matéria do semanário francês ultraprogressista Golias (destaques do original) que traduz perfeitamente o “espírito” com que o seita liberal infiltrada na Igreja recebeu a nomeação de Dom João Braz de Aviz para Prefeito dos Religiosos.
Ele não lembra em nada a imagem que geralmente se faz dos homens da Cúria. Sorridente, risonho, descontraído, pouco se importando com a elegância afetada dos homens da Cúria Romana, Dom João Braz de Aviz é, aos 64 anos, um arcebispo atípico e que inspira simpatia.
Sua recente nomeação à chefia da Congregação para os Religiosos foi uma surpresa, na medida em que ele não apresenta o perfil de um ratzingueriano.
Ela se deve primeiro às circunstâncias. Com efeito, em consideração da importância proporcional do episcopado brasileiro no seio da instituição católica, parece oportuno que ao menos um chefe de dicastério seja desta origem, como é o caso para a França, Alemanha ou Espanha. Era necessário, portanto, encontrar um novo brasileiro após a aposentadoria do Cardeal Claudio Hummes, um franciscano de 77 anos. Haveria duas outras lideranças brasileiras (pelo menos): o novo cardeal Raymundo Damasceno Assis, 74 anos, arcebispo de Aparecida, e um bispo redentorista que trabalhou na Congregação do Clero, Dom Fernando Guimarães, 65 anos. O primeiro foi considerado demasiado idoso e o segundo muito jovem no ministério episcopal. Jogava a favor de Dom João a sua proximidade com os Focolares e o fato de estar no comando de uma grande diocese, Brasília (capital brasileira).
O surpreendente nesta nomeação foi, no entanto, a orientação de abertura deste prelado pouquíssimo comum na Cúria atual. Ao iniciar suas funções, Dom Braz vem, certamente, semear a perturbação no mundo Cúria com uma primeira declaração na qual faz elogio à…“teologia da libertação” (!). O que faz certos hierarcas do Vaticano pular de suas cadeiras. Numa entrevista concedida ao L’Osservatore Romano, pouco habituado a essas audácias, o arcebispo brasileiro dá, aliás, uma grande martelada ao insistir na “opção preferencial pelos pobres”, que se imporia em nome do Evangelho. Tem-se a impressão de ter voltado a uma outra época. O Brasil sempre nos surpreenderá.
Há um precedente relativamente recente: em 2006, mal nomeado Prefeito da Congregação do Clero, o Cardeal Claudio Hummes, que vinha de São Paulo, declarou abertamente que a obrigação do celibato do clero não se tratava de um dogma e que podia, portanto, ser facilmente suspensa. Uma posição já expressa por um teólogo… Joseph Ratzinger, levantada nestes dias pela imprensa alemã, em 1970, citando uma petição em prol do levantamento desta regra desumana.
Em 2011, Bento XVI se recordaria do Joseph Ratzinger de mais de 40 anos atrás?
Dom João o ajudará nesse sentido?
É esperar para ver!
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Em tempo. Por sua vez, assim se expressava o antecessor de Dom João na chefia dos religiosos, Cardeal Franc Rodé: “No século 16, durante a Reforma, muitos religiosos deixaram a Igreja e muitos conventos foram fechados, mas isso era geograficamente limitado mais ou menos ao norte da Europa”. “Na Revolução Francesa, houve outra catástrofe, mas era limitada à França. A crise posterior ao Concílio Vaticano Segundo, entretanto, foi a primeira crise verdadeiramente global”. “Pagamos um preço verdadeiramente alto devido a uma mentalidade secularizada, mundana”. Eficientíssimo lobby, esquerdistas!