outubro 4, 2011

O verdadeiro Espírito de Assis.

Por Padre Elcio Murucci

São Francisco, instigado pelo zelo da fé cristã e pelo desejo do martírio, atravessou uma vez o mar com doze de seus companheiros santíssimos, para ir diretamente ao sultão de Babilônia. E chegou a uma região de sarracenos, onde certos homens cruéis guardavam as passagens, que nenhum cristão que ali passasse podia escapar sem ser morto; como aprouve a Deus, não foram mortos, mas presos, batidos e amarrados foram levados diante do sultão. E estando diante dele São Francisco, ensinado pelo Espírito Santo, pregou tão divinamente sobre a fé cristã, que mesmo por ela queria entrar no fogo. Pelo que o sultão começou a ter grandíssima devoção por ele, tanto pela constância de sua fé, como pelo desprezo do mundo que nele via; porque nenhum dom queria dele receber, sendo pobríssimo; e também pelo fervor do martírio que nele via. E deste ponto em diante o sultão o ouvia com boa vontade e pediu-lhe que freqüentemente voltasse à sua presença, concedendo livremente a ele e aos seus companheiros que podiam pregar onde quisessem. E deu-lhes um sinal com o qual não podiam ser ofendidos por ninguém. Obtida esta licença tão generosa, São Francisco mandou aqueles seus eleitos companheiros, dois a dois, por diversas terras de sarracenos, a pregar a fé cristã; e ele com um deles escolheu um lugar… Vendo São Francisco que não podia obter mais fruto naquelas partes, por divina revelação se dispôs com todos os seus companheiros a retornar aos fiéis; e reunindo todos os seus voltou ao sultão e despediu-se. E então lhe disse o sultão: Frei Francisco, de boa vontade me converteria à fé cristã, mas temo fazê-lo agora, porque se esses homens o descobrissem matariam a mim e a ti com todos os teus companheiros: mas, porque tu podes fazer muito bem, e eu tenho de resolver certas coisas de muito peso, não quero agora causar a tua morte e a minha, mas ensina-me como me poderei salvar, e estou pronto a fazer o que me impuseres. Disse então São Francisco: senhor, separar-me-ei de vós, mas depois de chegar ao meu país e ir ao céu pela graça de Deus, depois de minha morte, conforme a vontade de Deus, enviar-te-ei dois dos meus irmãos, dos quais receberás o santo batismo de Cristo e serás salvo, como me revelou meu Senhor Jesus Cristo. E tu, neste espaço, desliga-te de todo impedimento, a fim de que, quando chegar a ti a graça de Deus, te encontre preparado em fé e devoção. E assim prometeu fazer e fez. Isto feito, São Francisco retornou com aquele venerável colégio de seus santos companheiros: e depois de alguns anos São Francisco, pela morte corporal, restituiu a alma a Deus. E o sultão adoecendo espera a promessa de São Francisco e faz postar guardas em certas passagens, ordenando que, se dois frades aparecessem com o hábito de São Francisco, imediatamente fossem conduzidos a ele. Naquele tempo apareceu São Francisco a dois frades e ordenou-lhes que sem demora fossem ao sultão e procurassem a salvação dele, segundo lhe havia prometido. Os quais frades imediatamente partiram e, atravessando o mar, pelos ditos guardas foram levados ao sultão. E vendo-os, o sultão teve grandíssima alegria e disse: Agora sei, na verdade, que Deus mandou os seus servos para a minha salvação, conforme a promessa que me fez São Francisco por divina revelação. Recebendo, pois, a informação de fé cristã, e o santo batismo dos ditos frades, assim regenerado em Cristo, morreu daquela enfermidade, e sua alma foi salva pelos méritos e operação de São Francisco.

Hoje, festa de São Francisco de Assis, peçamos a Deus por intercessão dele, a conversão dos hereges, cismáticos, ateus e dos católicos que vivem no pecado. Hoje, mas do que na  época do Poverello, se faz mister amparar a Santa Madre Igreja que está auto se demolindo, sobretudo por causa do ecumenismo. Vendo o verdadeiro espírito de São Francisco de Assis, não temos dificuldade em perceber que não se poderia escolher lugar menos indicado para os tristemente famigerados “Encontros Ecumênicos” do que a cidade natal deste grande Missionário e de Santa Clara.

* * *

Carta de São Francisco aos governantes dos povos

A todos os potentados e conselheiros, juízes e governadores no mundo inteiro, e a todos quantos receberem esta carta, Frei Francisco, mísero e pequenino servo do Senhor, deseja saúde e paz.

Considerai e vede que “se aproxima o dia da morte” (Gn 47, 29). Peço-vos pois com todo o respeito de que sou capaz que, no meio dos cuidados e solicitudes que tendes neste século, não esqueçais o Senhor nem vos afasteis dos Seus mandamentos. Pois todos aquele que O deixam cair no esquecimento e “se afastam dos Seus mandamentos” são amaldiçoados” (Sl 118, 21) e serão por Ele entregues ao esquecimento” (Ez 33, 13). E quando chegar o dia da morte, “tudo o que entendiam possuir ser-lhes-á tirado” (Lc 8, 18). E quanto mais sábios e poderosos houverem sido neste mundo, tanto maiores “tormentos padecerão no inferno” (Sab. 6, 7).

Por isso aconselho-vos encarecidamente, meus senhores, que deixeis de lado todos os cuidados e solicitudes e recebais com amor o santíssimo Corpo e o santíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, por ocasião de Sua santa memória.

E rendei tão grande homenagem ao Senhor com o povo a vós confiado, que todas as tardes, que façais anunciar por um pregoeiro ou por outro qualquer sinal que todo o povo deverá render graças e louvores ao Senhor Deus todo-poderoso. E se o não fizerdes, sabei que haveis de dar conta perante Vosso Senhor Jesus Cristo no dia do Juízo.

Os que levarem consigo este escrito e o observarem saibam que serão abençoados por Deus Nosso Senhor.

outubro 4, 2011

“Nunca pode haver uma maioria contra os Apóstolos e contra os Santos”.

”Nós somos Igreja”. Movimento é citado e criticado pelo Papa.

IHU – Por primeira vez, desde que é Papa, Bento XVI citou e criticou publicamente o movimento de oposição eclesial mais difundido e ativo nos países de língua alemã. Ele o fez num discurso improvisado ante os seminaristas de Friburgo. Vão aqui abaixo as suas palavras.

A reportagem é de Sandro Magister e publicada no seu blog, Settimo Cielo, 30-09-2011. A tradução é de Benno Dischinger.

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outubro 4, 2011

O chefe da Ecclesia Dei acerca dos colóquios com a FSSPX.

Entrevista de Gloria.TV a Mons. Guido Pozzo, Secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei

Fonte: MessaInLatino |Tradução: Pale Ideas

- Monsenhor, o senhor participou do diálogo com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Qual foi sua impressão pessoal dessas reuniões? Em que ponto estamos? Crê que chegaremos logo a uma reconciliação?

Minha impressão é substancialmente positiva quanto à cordialidade com que o diálogo, o colóquio se desenvolveu, e devo dizer que sempre foi um diálogo muito franco, sincero e, por vezes, vivaz, como era de se esperar, dada a problemática e a temática em discussão. Penso que chegamos a um ponto decisivo, mesmo que, certamente, não conclusivo deste caminho, e que serviu para esclarecer amplamente e de modo aprofundado as posições respectivas da Fraternidade São Pio X e dos especialistas da Congregação pela Doutrina da Fé; agora, trata-se justamente de passar a um patamar mais valorativo, a um nível valorativo dos pontos controvertidos, para verificar a possibilidade concreta de chegar à superação das dificuldades doutrinais que foram afrontadas.

- Existe um modus procedendi, caso o Preâmbulo doutrinal não venha a ser firmado?

Nesta fase, o texto do Preâmbulo doutrinal foi entregue a Mons. Fellay, aos superiores da Fraternidade, para que eles possam examiná-lo e dar uma resposta, que nós auspiciamos seja em substância favorável, positiva, afirmativa. Há sempre a possibilidade de pedir certos detalhamentos, certos esclarecimentos, que de nossa parte serão certamente dados, dentro de um lapso de tempo razoável [ou seja: algumas modificações no texto do Preâmbulo, NdR]. Questionar-se o que vai acontecer se as dificuldades viessem a ser consideradas graves, intransponíveis, parece-me que seja impróprio. Neste momento, não nos colocamos este problema.

- A Fraternidade não surgiu do nada, mas como resposta a uma gravíssima crise eclesiástica, sobretudo em países como a Alemanha, a França ou a Suíça. Esta crise persiste. Crê que, depois de um acordo feito em Roma, a Fraternidade possa coabitar nestes Países debaixo do teto da Igreja institucional?

Eu responderia simplesmente que quem é verdadeira e plenamente católico pode habitar plena e devidamente na Igreja Católica, onde quer que a Igreja Católica exista e se desenvolva. Não é apenas uma afirmação de princípio, é uma afirmação existencial que corresponde à realidade da Igreja Católica. Isto, naturalmente, não significa que não existam dificuldades, até por causa da situação crítica em que se encontram muitos católicos, o mundo católico, nestes e em outros países, mas não creio que na história não se verificaram casos análogos, e, portanto, a resposta é muito simples: quem é verdadeira e plenamente católico não apenas tem o direito, mas vive bem e se encontra bem dentro da Igreja Católica.

- Quais são as razões da hostilidade de muitos ambientes eclesiásticos contra uma liturgia que a Igreja e muitíssimos santos celebraram por um período tão longo e que foi o instrumento do crescimento espetacular da Igreja? [esta é a pergunta que muitos de nós se põem. Na realidade, não pode haver uma resposta satisfatória, pois a razão é visceral, não racional: uma inteira geração de sacerdotes sofreu uma capilar, penetrante, totalitarista lavagem cerebral, motivo pelo qual tudo o que se fazia até 1962 era retrógrado e errado; é quase impossível, agora, reparar os danos cerebrais causados por aquele condicionamento pluri-decenal, NdR].

É uma pergunta complexa porque acredito que muitos fatores intervêm para compreender este preconceito ainda tão difundido contra a liturgia da forma extraordinária do Rito Antigo. É de se ter em mente que, por muitos anos, não foi oferecida uma formação litúrgica verdadeiramente adequada e completa na Igreja Católica. Quis-se introduzir o princípio de uma ruptura, de um afastamento, de um distanciamento radical entre a reforma litúrgica proposta, instaurada, promulgada pelo Papa Paulo VI e a liturgia tradicional. Na realidade, as coisas são diferentes, porque é claro que há uma continuidade substancial na liturgia, na história da liturgia; há crescimento, progresso, renovação, mas não ruptura, não descontinuidade; e, então, estes preconceitos influenciam de maneira determinante na forma mentis das pessoas, dos eclesiásticos e também dos fieis [os fieis e os eclesiásticos não seriam pessoas? NdTª]. É necessário superar este preconceito, é necessário dar uma formação litúrgica completa, autêntica, e ver como, precisamente, uma coisa são os livros litúrgicos da reforma quista por Paulo VI e outra coisa são as formas de atuação que em tantas partes do mundo católico aconteceram na prática e que são autênticos abusos da própria reforma litúrgica de Paulo VI, e contêm inclusive erros doutrinais que devem ser corrigidos e rejeitados. É isto que, recentemente, no fim da primavera deste ano, em um discurso no Ateneo Anselmiano, o Santo Padre Bento XVI quis mais uma vez reafirmar. Uma coisa são os livros litúrgicos da reforma, outra as formas concretas de atuação que, infelizmente, em tantas partes se difundiram e que não são coerentes com os princípios que foram fixados e explicitados pela própria Constituição do Concílio Vaticano II, “Sacrosantum Concilium”, sobre a divina liturgia.

- O Preâmbulo confidencial foi entregue a Mons. Fellay em 14 de setembro. Um dia depois, Andrea Tornielli estava já informado a respeito. Por que as informações confidenciais do Vaticano chegam tão rapidamente à imprensa?

A habilidade dos jornalistas é muito conhecida, é uma habilidade de interceptar as notícias que é realmente admirável sob certo ponto de vista, mas diria que neste caso os jornalistas, não apenas o jornalista Tornielli mas outros também, no dia seguinte haviam capturado a essência [A. Tornielli não disse que capturou alguma essência, afirmou que recebeu informações intra muro, NdTª] do comunicado de imprensa que já informava sobre alguns elementos essenciais do Preâmbulo doutrinal, e, então, diria que os conteúdos profundos do Preâmbulo, em seus detalhes, não são conhecidos, pelo menos até agora não foram divulgados; e os jornalistas não falaram sobre eles, não descreveram em detalhes o desenvolvimento e a elaboração do Preâmbulo doutrinal; então, a discrição, substancialmente, neste caso, creio que foi mantida. Espero que continue assim.

- O senhor, antes de fazer parte de Ecclesia Dei, teve experiências pessoais com a Missa em latim? Como viveu as mudanças litúrgicas nos anos sessenta?

As perguntas são duas, e à primeira respondo que, antes do motu proprio Summorum Pontificum de 2007, eu não tive nenhum contato com a celebração da Missa no rito antigo, e comecei a celebrar a Missa no rito da forma extraordinária justamente com o motu proprio Summorum Pontificum, que permitiu que esta Missa pudesse ser celebrada desta forma.

Como vivi nos anos sessenta, nos anos setenta as mudanças? Bem, devo dizer que, conforme o modo como fui formado e preparado pelos meus educadores no Seminário, e, sobretudo, também na Pontifícia Universidade Gregoriana, pelos meus mestres de teologia, procurei sempre entender aquilo que o Magistério propunha através da leitura de seus textos, não através do que teólogos ou certa publicística católica atribuía ao Magistério. Portanto, eu nunca tive problema em aceitar a Missa pela reforma litúrgica de Paolo VI, mas logo percebi que, por causa desta grande desordem que se introduziu na Igreja depois de 1968, frequentemente a Missa de Paulo VI vinha sendo deformada e celebrada em modo absolutamente contrário às intenções profundas do legislador, isto é, do Sumo Pontífice; portanto, esta desordem, este colapso da liturgia de que falou o então Cardeal Ratzinger em alguns de seus livros e em algumas de suas publicações de liturgia, eu até o experimentei assaz diretamente e sempre quis manter separadas as duas coisas: uma coisa são os ritos, os textos do missal, outra coisa é o modo como é celebrada, ou era celebrada a liturgia em muitas circunstancias e em muitos lugares, sobretudo com base neste princípio da criatividade, uma criatividade selvagem que nada tem a ver com o Espírito Santo; pelo contrário, diria, que é exatamente o oposto do que o Espírito Santo quer.

- Porque vale a pena promover a Missa em latim?

Porque na Missa do Rito Antigo são explicitados, evidenciados certos valores, certos aspectos fundamentais da liturgia que merecem ser mantidos, e não falo somente da língua latina ou do canto gregoriano, falo do sentido do mistério, do sagrado; o sentido do sacrifício, da Missa como sacrifício; a presença real e substancial de Cristo na Eucaristia, e do fato de que há grandes momentos de recolhimento interior, como uma participação interior à divina liturgia. É isto, são todos elementos fundamentais, os quais na Missa do Rito Antigo são particularmente evidenciados. Não digo que na Missa da reforma de Paulo VI não existam estes elementos, mas falo de uma evidenciação maior, e isto pode enriquecer também quem celebra ou participa da Missa na forma ordinária. Nada proíbe de pensar que no futuro se possa chegar inclusive a uma reunificação das duas formas com elementos que se integram entre si, mas este não é um objetivo para se alcançar em curto espaço de tempo, nem, sobretudo, para se alcançar com uma decisão tomada levianamente, mas requer uma maturação de todo o povo cristão em compreender ambas as formas litúrgicas do mesmo rito romano.

Obs.: NdR é MessaInLatino. NdTª sou eu. Grifos [negrito] no textos são de Pale Ideas.

outubro 3, 2011

Luta contra o mal.

Kreuz.net | Tradução: Fratres in Unum.com: Vaticano. Ontem, durante a oração do Angelus, o Papa Bento XVI pediu que os cristãos rezassem para os seus anjos da guarda. Deus acompanha as pessoas através da presença dos anjos. Do início ao fim a vida humana está cercada da proteção incansável dos anjos. No mês do rosário, o Papa pediu que se rezasse para a Mãe de Deus, para que o mal seja vencido e a bondade de Deus se torne visível.

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outubro 3, 2011

Traçar um caminho, um ‘caminhozinho’.

Há um terceiro templo, uma terceira casa de Deus entre os homens que, certamente, não nos cabe dedicar ou consagrar a Deus, já que Ele mesmo o fez, mas exaltar e glorificar no dia de hoje. Essa casa de Deus é a alma de vossa encantadora Santa Teresa do Menino Jesus. Por humilde que fosse, por pequenina que desejasse ser, a alma da Santa Teresa foi um imenso e magnífico templo.

[...] Deus hoje habita em seus templos, dizíamos há pouco, não como naqueles em que outrora repousavam insensíveis e inertes as tábuas da lei antiga – mas pelos ministros do seu poder, pelos mandatários de sua jurisdição que em nossas igrejas promulgam sua Lei e sancionam sua observância. Assim essa lei divina aí permanece viva e atuante guiando as almas no caminho da retidão e da pureza fora dos quais a natureza fraca e corrompida não conhece senão descaminhos e vergonhas.

A Lei de Deus assim foi, viva e ativa, na alma de Teresa. Como a outra Virgem, de quem nos falam os Atos “que trazia sempre no peito o Evangelho do Senhor” Teresa trazia sempre presente em sua alma e seu coração, a Lei e os conselhos divinos de seu bem amado Jesus Cristo.

[...] Traçar um caminho, um “caminhozinho”. Sua ciência das coisas divinas, em parte adquirida, em parte infusa, ela não a guardou para si. Disse: “Minha missão é de ensinar a amar a Deus como eu O amo e de entregar meu ‘caminhozinho’ às almas”. É este um dos mais maravilhosos ângulos dessa figura tão atraente: a carmelitazinha, que do fundo do seu convento dá lições ao mundo do nosso século tão orgulhoso de sua ciência. Ela tem uma missão; tem uma doutrina. Mas sua doutrina, como ela mesma, é humilde e simples; resume-se em duas palavras: “Infância espiritual” ou em sua equivalente: “Caminhozinho”.

Cardeal Eugênio Pacelli, discurso de 11 de julho de 1937, por ocasião da Consagração da Basílica dedicada a Santa Teresinha, no 11º Congresso Eucarístico Nacional da França.

Publicado originalmente em 3 de outubro, festa de Santa Teresinha do Menino Jesus, de 2008.

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outubro 3, 2011

Papa explica por que está indo a Assis III.

Rorate-Caeli | Tradução: Fratres in Unum.com – Em abril, mencionamos uma carta que o Papa Bento XVI enviou a seu amigo, o ministro e professor luterano Dr. Peter Beyerhaus, como resposta a uma missiva enviada por ele sobre o risco envolvido no novo encontro de Assis (27 de outubro de 2011).

Em uma conferência promovida por católicos de inclinação tradicional que ocorreu no último sábado, em Roma, sobre o significado do encontro de Assis (o Cardeal Burke era um dos interlocutores na conferência), a passagem relevante da carta privada do Papa a Beyerhaus foi revelada:

“Compreendo muito bem — escreveu Bento XVI em 4 de março de 2011 — a sua preocupação sobre a [minha] participação no encontro de Assis. Todavia, esta comemoração teria de ser celebrada de toda forma e, no fim das contas, pareceu-me que a melhor coisa para mim seria ir até lá pessoalmente, podendo, então, determinar a direção de tudo isso. Farei tudo, no entanto, a fim de que uma interpretação sincretista ou relativista do evento seja impossível e então o que permanecerá é aquilo que sempre acreditarei e professarei, para o que chamei a atenção da Igreja com [a declaração] ‘Dominus Iesus’“.

outubro 2, 2011

Importantíssima entrevista do número 2 da FSSPX: “Um reconhecimento canônico seria um ganho para a Igreja”.

Fonte: DICI | Tradução: Fratres in Unum.com

Durante sua visita a Stuttgart, o Primeiro Assistente da Fraternidade São Pio X, Padre Niklaus Pfluger, apesar de sua agenda cheia, encontrou tempo para responder a algumas questões de pius.info [sítio oficial do distrito Alemão].

Padre Niklaus Pfluger.

Padre Niklaus Pfluger.

O preâmbulo doutrinal é de grande interesse a todos os envolvidos. Ambos os lados concordaram em manter a confidencialidade, e, portanto, não podemos esperar que o senhor fale de seu conteúdo. Permita-me, no entanto, perguntar: o que o senhor pensa do documento?

O documento permite correções de nossa parte. E isso também se torna necessário ao menos para excluir clara e definitivamente até a aparência de ambiguidade e mal-entendidos. Então, agora devemos enviar a Roma uma resposta que reflita nossa posição e inequivocamente represente as preocupações da Tradição. Não devemos, por nossa missão de fidelidade à Tradição Católica, fazer qualquer concessão. Os fiéis, e ainda mais os padres, entendem muito bem que as propostas feitas por Roma no passado a várias comunidades conservadoras eram inaceitáveis.  Se Roma agora faz uma oferta à Fraternidade, deve-se deixar clara e inequivocamente que o faz pelo bem da Igreja e acelerar o retorno à Tradição. Nós pensamos e sentimos com a Igreja Católica. Ela tem um objetivo missionário mundial, e sempre foi o mais ardente desejo de nosso fundador que a Tradição devesse florescer novamente por todo o mundo. Um reconhecimento canônico da Fraternidade São Pio X poderia justamente favorecer isso.

Críticos dizem que Roma está, com esse preâmbulo, tentando armar uma cilada para a Fraternidade e tirar proveito disso. Uma vez canonicamente reconhecida, a Fraternidade poderia talvez introduzir o “carisma da Tradição” na Igreja moderna, mas também teria de aceitar os caminhos e o pensamento conciliar pelo bem do “pluralismo”.

Essa crítica é inteiramente justificada e deve ser levada a sério. Pois não podemos excluir a impressão de que, no fim das contas, isso equivaleria a uma aceitação tácita, por assim dizer, que levaria com efeito a essa diversidade que relativiza a única verdade: essa é, de fato, precisamente a base do modernismo.

Assis III e ainda mais a infeliz beatificação de João Paulo II, mas também muitos outros exemplos, deixam claro que a liderança da Igreja, hoje como no passado, não está pronta a desistir dos falsos princípios do Vaticano II e suas conseqüências. Portanto, qualquer “oferta” feita à Tradição deve nos garantir liberdade para poder continuar nosso trabalho e nossa crítica à “Roma modernista”. E para ser honesto, isso parece ser muito, muito difícil. Novamente, qualquer concessão falsa ou perigosa deve ser eliminada.

Não faz sentido comparar a situação atual com as conversas em 1988. Naquela época, Roma queria impedir qualquer espécie de autônomia para a Fraternidade; o bispo que eles (talvez sim ou talvez não) concederiam teria, em todo caso, que estar sujeito a Roma. Isso era simplesmente muito incerto para Dom Lefebvre. Se Dom Marcel Lefebvre tivesse cedido, Roma poderia, de fato, ter esperado que a Fraternidade, sem os seus “próprios” bispos, um dia viesse a se orientar conforme a linha conciliar. Hoje a situação é completamente diferente. Temos quatro bispos e por ora 550 padres por todo o mundo. E as estruturas da Igreja oficial estão ruindo cada vez mais rápido. Roma não pode mais confrontar a Fraternidade como fez há mais de vinte anos.

Quais são as chances que o senhor vê de uma resposta positiva? A Fraternidade São Pio X aceitará o preâmbulo?

Aqui a diplomacia tem um papel importante. Exteriormente, Roma quer salvar sua honra. O Papa já foi muito frequentemente acusado de levantar as “excomunhões” de nossos bispos sem precondições. Se dependesse da maioria dos bispos alemães, a Fraternidade teria de assinar um cheque em branco, reconhecendo todo o Concílio primeiro. De resto, eles o demandam ainda. O Papa Bento não o fez. Além disso, o livre acesso ao Sacrifício Católico da Missa [i.e., Missa Tridentina] era a segunda condição exigida pela Fraternidade. Portanto, Roma atendeu duas vezes aos desejos da Fraternidade. É claro que agora eles estão pedindo um documento que possa ser apresentado ao público. A questão é saber se é possível assinar esse documento. Em uma semana, os superiores da Fraternidade São Pio X se encontrarão em [Albano, Laziale, subúrbio de] Roma para discuti-lo juntos. É óbvio que deve ficar claro ao Cardeal Levada e também à Congregação para a Doutrina da Fé que eles não podem insistir em um documento que a Fraternidade não pode, por sua vez, justificar a seus membros e fiéis.

Uma última pergunta. Quem conquistou maior vantagem com as conversações teológicas: Roma ou a Fraternidade São Pio X?

Este é um ponto muito importante, e o direi novamente: não estamos preocupados em conseguir uma vantagem para nós. Queremos tornar novamente acessível para a Igreja o tesouro que Dom Lefebvre confiou à nossa custódia. Neste aspecto, um reconhecimento canônico seria um ganho para a Igreja. Dessa forma, por exemplo, um bispo conservador poderia pedir aos padres da Fraternidade que trabalhasse em seu seminário diocesano. Claro que a regularização das relações também significaria que os católicos que se mantinham distantes da Fraternidade, talvez pelo rótulo de “suspensa”, agora se arriscarão a se aproximar. Mas não se trata disso. Por quarenta e um anos, a Fraternidade cresceu de maneira constante, mesmo a despeito de ser atingida pelo cajado da “excomunhão”. Estamos preocupados, antes, com a Igreja Católica. Juntos com o Arcebispo, nós também gostaríamos de dizer [as palavras de S. Paulo cf. I Coríntios 11:23]“Tradidi quod et accepi” –  Transmitimos o que recebemos.

outubro 2, 2011

Superior do Distrito Norte-Americano da FSSPX: “A decisão é de Dom Fellay”.

Apresentamos algumas notas tomadas da conferência pronunciada pelo Reverendíssimo Padre Arnaud Rostand, superior do distrito norte-americano da FSSPX, no último dia 26, em Kansas City. Não se trata de uma transcrição ipsis litteris (exceto, evidentemente, o que está entre aspas), mas de anotações que buscam resumir o que há de mais importante nos quase cinquenta minutos de conferência. Caso nossos amigos encontrem algo relevante que não tenha sido relatado abaixo, poderão nos informar na caixa de comentários:

  • Somos católicos romanos, ligados a Roma e ao bispo de Roma. Não há possibilidade de romper este nosso vínculo com o Romano Pontífice. Há muitas citações de Dom Lefebvre e esta é uma das principais que seguiremos sempre: “O que devemos fazer em relação às autoridades em suas posições? Fecharmo-nos em nossa resistência como que numa torre de marfim? Ou antes tentar convencer as autoridades romanas? Eu não tomei o caminho de cortar comunicação com Roma”.
  • Outra citação interessante: “Possa a Igreja voltar à Tradição, mas através de pequenos passos, pois é difícil fazê-lo de uma só vez”. No entanto, deve ficar claro que tudo esteja em processo de retorno à normalidade com relação à Tradição e aos ensinamentos de todos os tempos.
  • Duas citações de Dom Lefebvre, dentre muitas, para mostrar que nunca quisemos romper com Roma e assim continuamos.
  • É necessário continuar a fazer a distinção entre a Roma Eterna e as tendências neomodernistas em Roma. Em 1974, quando fez sua famosa declaração, Dom Lefebvre estava em situação canônica regular e a FSSPX canonicamente reconhecida.
  • Conclusões práticas desses princípios: sempre recusamos a tentação do sedevacantismo como uma falta de prudência no juízo da situação atual e também, mais profundamente, como um espírito cismático, assim como uma situação sem saída. Segundo o Arcebispo, nossa fraternidade se recusa a seguir o caminho que é uma tentação de romper com o Papa;
  • Outro princípio relativo a nosso vínculo com Roma é a Fé: a questão da liturgia e dos sacramentos é importante, mas a razão de nossa posição atual e de sempre é a defesa da Fé Católica. Nossa ligação com a missa tradicional não é apenas externa, por gosto ou beleza, mas porque a nova missa traz consigo uma nova doutrina, uma nova teologia, que põe a fé em perigo;
  • Nossa oposição ao Concílio Vaticano II segue a mesma premissa da Fé. O que queremos preservar para nós e para a Igreja é a autêntica Fé Católica. Vemos que a firmeza em defender esses princípios trouxe vitórias, resultados.
  • Dessa forma, pudemos passo a passo colaborar para trazer de volta à Igreja a Missa Tradicional, com o Motu Proprio Summorum Pontificum, assim como o comprometimento com a doutrina pôde trazer as discussões teológicas, que derrubaram o caráter de “super-dogma” do Concílio Vaticano II.
  • Esses são os princípios que sempre nos guiaram e continuando guiando.
  • Uma retrospectiv: em 1970, Dom Lefebvre fundou a FSSPX. Em 1974 veio a declaração do Arcebispo com sua adesão à Roma Eterna. Em 1984, surge o primeiro indulto [Quattuor Abhinc Annos]. Até então, a missa estava absolutamente proibida, e este foi o primeiro passo, sob muitas condições, dado por João Paulo II. Em 1986, temos Assis, escândalo para a Igreja e fiéis, e uma forte reação de Dom Lefebvre. Em 1986, Dom Lefebvre anuncia pela primeira vez sua intenção de sagrar bispos. Roma fica em polvorosa. Em 1987, ocorre uma visitação canônica oficial pelo Cardeal Gagnon em muitas de nossas obras, casas e seminários. Foi a primeira vez, desde a década de 70, que a FSSPX é de certa forma reconhecida, pois o Cardeal assistiu cerimônias ao trono, oficialmente como cardeal [ndr: Dom Lefebvre estava desde 1976 suspenso a divinis].
  • Posteriormente, em 1988, Dom Lefebvre assina um protocolo de acordo e o rechaça no dia seguinte. O documento previa a concessão de um bispo à FSSPX, mas sem apresentar uma data. Alegando não confiar nas autoridades romanas, Dom Lefebvre anuncia que em junho de 1988 sagraria 4 bispos. Roma tentou pará-lo de toda forma, sem sucesso.
  • Após as sagrações,  vem o decreto da Congregação para os Bispos que apresenta duas razões para a excomunhão: a sagração dos bispos em si e uma falsa noção de Tradição. Veremos que isso é algo que, de certa forma, é retomado no atual preâmbulo que nos foi proposto.
  • Em 1994, Dom Fellay é eleito superior da FSSPX, sendo reeleito em 2006. Durante todo esse tempo, houve múltiplas tentativas de obter um compromisso com grupos através da comissão Ecclesia Dei.
  • Em 2000, fizemos nossa peregrinação a Roma, que causou ótima impressão nas autoridades romanas, que a consideram a mais piedosa do ano santo.
  • Essa impressão moveu o Cardeal Dario Castrillon Hoyos a fazer os primeiros contatos com os bispos da FSSPX. Dom Fellay então pediu três sinais necessários para recobrar a confiança. Não condições, mas sinais de boa-vontade.
  • Primeiro sinal: que os sacerdotes pudessem celebrar a missa tradicional livremente; Segundo: levantamento das excomunhões. E então aí poderíamos discutir doutrina.
  • À época, os sinais eram absolutamente impensáveis. Diziam que Dom Fellay era desarrazoado em pedir coisas como essas.
  • Com a eleição do Cardeal Ratzinger ao sólio pontifício, veio, em 2007, o motu proprio Summorum Pontificum.
  • Em janeiro de 2009, o levantamento das excomunhões. De 2009 até agora ocorreram as discussões doutrinais entre os peritos da FSSPX e da Congregação para a Doutrina da Fé. É a primeira vez que Roma aceita discutir doutrina com tradicionalistas. Outro pequeno passo.
  • Fora do círculo da FSSPX, outras vozes se levantaram contra o Concílio Vaticano II; pensamos em Monsenhor Gherardini e também alguns outros.
  • E agora, em 14 de setembro de 2011, um prêambulo doutrinal foi entregue pelo Cardeal Levada a Dom Fellay, com termos que, uma vez aceitos, nos darão um reconhecimento canônico.
  • Para compreender este documento, devemos analisar o comunicado de imprensa da Santa Sé e a entrevista de Dom Fellay.
  • Os primeiros sinais que podemos ver no comunicado de imprensa é o respeito demonstrado pela FSSPX e seus superiores. Fala-se em “Sua Excelência Dom Fellay”, “obedecendo à vontade do Santo Padre”. “É a primeira vez que ouvimos de Roma que Dom Fellay é obediente à vontade do Santo Padre” – risos.
  • Importante declaração no comunicado: As discussões alcançaram seu propósito de esclarecer as respectivas posições e motivações.
  • A Santa Sé encontrou um ponto comum entre o Papa e nós: “Tendo em conta as preocupações e as instâncias apresentadas pela Fraternidade Sacerdotal São Pio X a propósito do respeito da integridade da fé católica em face da ‘hermenêutica da ruptura’ do Concílio Vaticano II em relação à Tradição”. Concordamos então que pode haver uma hermenêutica de ruptura, mas não concordamos que não pode haver uma hermenêutica da continuidade. “Isso não é mencionado… Ainda”.
  • O comunicado de imprensa fala de plena reconciliação, e não plena comunhão.
  • O preâmbulo doutrinal aborda princípios e critérios para a interpretação da doutrina da Igreja, visando garantir a fidelidade ao magistério e ao sentire cum ecclesia, “deixando, ao mesmo tempo, abertos a uma legítima discussão o estudo e a explicação teológica de expressões ou de formulações específicas presentes nos textos do Concílio Vaticano II e do Magistério que o seguiu”.
  • Foi-nos reprovado em 1988 uma falsa noção de Tradiçao. Agora, pedem que concordemos com o que é o Magistério da Igreja e a Tradição, e esperamos concordar, mas este ponto não é óbvio, não é algo evidente neste texto (do preâmbulo doutrinal ou do comunicado da Santa Sé?)
  • Outro ponto importante: “abertos a uma legítima discussão o estudo e a explicação teológica de expressões ou de formulações específicas presentes nos textos do Concílio Vaticano II e do Magistério que o seguiu”. A nota da Secretaria de Estado em janeiro de 2009 dizia: “Para um futuro reconhecimento da Fraternidade São Pio X é condição indispensável o pleno reconhecimento do Concílio Vaticano II e do Magistério dos Papas João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e do próprio Bento XVI”. Hoje não se fala mais de pleno reconhecimento do Concílio e do magistério subsequente, que são deixados abertos à discussão. “Interesting evolution there, once again” [“Interessante evoluçao aí, novamente”].
  • E então fala-se da possibilidade, não em detalhes, de reconhecimento da FSSPX. O porta-voz da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, disse no mesmo dia que a estrutura mais adequada seria uma prelazia pessoal, esperando que a FSSPX responda à proposta em alguns meses. “Eles viram que pressionar Dom Fellay para responder amanhã não funciona. Talvez na próxima vez tenhamos ‘alguns anos’” (risos).
  • O que vemos aqui é uma verdadeira evolução no decorrer dos anos com relação ao que o Vaticano nos pede.
  • Após a liberaçao da missa, a grande novidade é o Vaticano II estar aberto à discussão. O concílio nao é mais um super-dogma sobre o qual temos que concordar para depois conversar.
  • É como se o Vaticano II fosse um muro diante de nós, e agora começa a ruir. É o primeiro passo para completar o trabalho de derrubá-lo.
  • Trabalho ajudado por outras vozes fora da FSSPX que já o criticam. São pequenos passos na restauração da Tradição.
  • Aspectos práticos: o que a FSSPX fará nos próximos meses? “Não sei”. A decisão é um ato de prudência, baseado no princípio da restauração da Fé e de nossa ligação a Roma. São princpios que não podemos deixar de lado.  Mas também o bem comum da Igreja deve ser considerado.
  • Nos proximos meses, duas decisões devem ser tomadas: o preâmbulo é aceitável ou não? Haverá um encontro em Albano, em 7 de outubro, para discuti-lo. Inicialmente esse encontro não era obrigatório aos sacerdotes, e eu declinei o convite porque teríamos uma conferência em Kansas City na mesma semana. “Mas recebi um comunicado da casa geral dizendo: você não tem escolha. Então…” (risos). Se tudo correr bem e nao houver atraso nos vôos, as conferências, que terão participação de Dom Tissier, ocorrerão normalmente, apenas com pequenos ajustes.
  • Segunda decisão: a proposta canônica é aceitável? Outra decisão a ser tomada. Se precisarmos de permissão dos bispos para abrir novas casas as coisas ficarão difíceis. “Quem nos quer?”. O Ordinariato parece ser uma solução mais estável e com maior independência do que uma prelazia.
  • O único que poderá decidir é Dom Fellay e ninguém mais. “Nem você, nem eu, mas ele”. “Ele é o único, nao há nada que vocês possam fazer, nem eu, é assim que Deus trabalha, é a Divina Providência”.
  • Importante recordar que hoje vocês verão na internet todo tipo de comentário. Pessoas sabem muito mais que Dom Fellay o que fazer. Alguns dirão que esta é a última chance, que nao haverá outra oportunidade. Assim como em 1988 o único que podia decidir assinar ou não o protocolo era Dom Lefebvre, agora é Dom Fellay. Havia muitas opiniões entre os padres e fiéis da FSSPX, mas o único a tomar a decisão foi Dom Lefebvre e nossa opinião não mudou nada.
  • Isso nos deixa em paz. Por que nos preocupar com decisões que não temos que fazer?
  • Dom Fellay está agindo como Dom Lefebvre quando colocado na mesma situação. Eles nunca deixaram de ir a Roma quando solicitados, nunca se negaram a discutir e testemunhar sobre as questoes de Fé. Dom Lefebvre nunca se negou a olhar para um acordo canônico quando oferecido. O protocolo foi assinado por Dom Lefebvre, o que signfica que ele o considerou, mesmo que o tenha negado por pensar não se tratar da hora certa, pois não havia confiança. Em princípio, ele nunca se recusou a olhar para um reconhecimento canônico, sob condição de que a FSSPX estivesse protegida em Roma, especialmente dos bispos locais, podendo continuar seu trabalho.
  • Ambos pediram o conselho dos superiores da FSSPX para depois tomar uma decisão. Apenas um pode decidir, nao  se trata de um mundo democrático. “Sorry”, não é assim que as coisas funcionam na Igreja.
  • Devemos rezar, é o que podemos fazer. O motivo para falar a vocês hoje é principalmente pedir por unidade, mantermo-nos em união. Passaremos por tempos difíceis, qualquer que seja a decisão. Se for não, será dificil. Se for sim, ainda mais. Alguns vêem o acordo como um sonho: não, ele não será. A luta será ainda mais difícil.
  • Imagine se hoje todos os que um dia trabalharam com o Arcebispo Lefebvre, durante todos esses anos, estivessem unidos… como seríamos fortes, como se daria mais rapidamente a restauração da Igreja.
  • O que não precisamos hoje é de divisão: eu acho isso, eu prefiro aquilo. Ok, mas não é sua a decisão. “Se você tiver uma revelação especial de Deus dizendo o que fazer, por favor, nos informe” (risos).
  • Rezemos e ofereçamos nossos rosários. É o que podemos fazer de concreto. Se quiser ajudar no encontro de outubro, reze o rosário. Estamos no meio de uma cruzada de rosários, sejamos mais generosos. É nosso dever, se não o fizermos seremos soldados inúteis, cruzados inúteis.
outubro 2, 2011

Foto da semana.

O arranjo beneditino do altar tem novos adeptos. Padre Reginaldo Manzotti e Padre Fabio de Melo concelebram no "Kairós" da Canção Nova, em Cachoeira Paulista, no último dia 7.

Cachoeira Paulista, 7 de agosto de 2011: O arranjo beneditino do altar tem novos adeptos. Padre Reginaldo Manzotti e Padre Fabio de Melo concelebram no "Kairós" da Canção Nova.

outubro 1, 2011

Uma versão brasiliana de “O Reno se lança no Tibre”.

Por Luiz Mergulhão – Sherlock’s Pipe

Monsenhor Francisco Bastos

Monsenhor Francisco Bastos

Não é de admirar que tenha caído no esquecimento a figura de um padre tão nobre e zeloso como Monsenhor Francisco Bastos.

Pároco da Igreja da Consolação, isso, aquela em São Paulo, perto da Avenida Paulista, desde 1921, participou do Concílio Vaticano II, como observador em 1962, convidado pelo Cardeal Motta.

Seria de admirar se como observador ele não observasse algo que ficara tão evidente. Em 1980 corajosamente lançou o livro “Abusos e erros sobre à Fé à SOMBRA do Vaticano II.” Sua posição parece variar entre a hermenêutica da continuidade e o tradicionalismo propriamente dito. Mas, antes de chegar à minha conclusão, voltemos à história, contada por ele mesmo no livro acima.

Ficara evidente desde o princípio que o Concílio não queria proclamar dogma nenhum, era apenas um aggiornamento… como se a Igreja precisasse renovar-se. Vierem uns bispos da Alemanha e Holanda, e acharam que renovar-se era aderir ao modernismo condenado por São Pio X. (Resumindo a história, foi isso). Monsenhor Bastos, estava indignado pelo tratamento que esses teólogos do Reno davam aos honestos e tradicionais teólogos, incluindo o cardeal Ottaviani (houve o episódio em que os holandeses cortaram o microfone do Cardeal, e Mons. Bastos foi testemunha ocular), e pela ferocidade com que modernistas atacavam e demoliam a Igreja desde de dentro.

Após desenvolver a história de como o Concílio foi planejado e conduzido a despeito das tentativas do Coetus Internacionalum Patrum, fundado por Dom Sigaud, e do qual foi assistente (chega a citar muitas vezes o livro “O Reno se lança no Tibre”), Monsenhor Francisco Bastos explica cada ponto de fé, do Credo, do Catecismo, com simplicidade fantásticas, contrapondo e refutando as teorias de Freud, Marx e o existencialismo de Heidegger, que triunfou no concílio, e como não podia deixar, as hipóteses malucas dos ”teólogos” da ”nova igreja”, os Congar, Shoonenberg, Schilibeecx, Hans Kung, Yves Congar, Karl Rahner.

Só pra exemplificar, cito um texto, quando Monsenhor explica a existência de Deus conforme o Concílio de Trento, o Catecismo e a Filosofia de Santo Tomás, e em seguida mostra um absurdo escrito por Schilibeeckx, um dos teólogos holandeses:

“Quando pensávamos e falávamos da transcendênscia de Deus na antiga cultura, voltada de preferência para o passado, naturalmente projetávamos Deus para o passado. A eternidade era algo como um passado invariável, petrificado e eterno: no princípio Deus era, o novíssimo Deus é o que é o nosso porvir e que renova o porvir humano. Deus é promessa!” (Até aqui Shillibeeckx)

É notório como os modernistas usam estas e outras frases como “Deus ainda não é!” (Padre Laurentin), ou “Deus realiza-se entre os homens!” (Pe. Chenu), ainda “a atividade humana é a ação de Deus” (Padre Congar)… usando de uma linguagem sutil, fazem do SER um inacessível e contínuo desvelamento tal qual no existencialismo de Heidegger. O existencialismo é a maneira sutil de dizer que Deus não existe. Tal é a intenção destes senhores, mas vamos à conclusão que Monsenhor Bastos faz da frase de Schillibeeckx:

“Como claramente se deduz de todo esse palavreado, Deus não preexiste à matéria. É difícil aceitar que semelhante absurdo tenha saído da pena, não de um materialista, mas de um frade dominicano.”

Como vemos, Mons. Bastos tinha plena consciência do que era modernismo, de como ele atuou no concílio e de que o mesmo não fora infalível, antes foi ele o introdutor do erro, por si, e pela tendência em sempre aplicá-lo contra sua própria letra.

Permaneceu como pároco da Consolação até sua morte em 1984. Talvez nunca tenha saído de lá porque o Cardeal Motta não lhe visse a bom ver, com todas essas idéias obscurantistas.

Também notou Mons. Bastos, como a ambiguidade do concílio permitiu que se instalasse mais absurdos e disparates que não tinham sido ditos pelo concílio, daí escrever outro livro: “O que o Concílio não disse!”

É uma grande pena que todo esse vigor tradicional tenha parado só na memória de poucos, e nas estantes dos sebos. Mas, Monsenhor Bastos preferiu seguir a senda da obediência e permanecer como pároco lá na consolação, onde podia inculcar nos fiéis um pouco de doutrina tradicional e salvar as almas que lhe foram confiadas pelo bispo… enquanto o bispo deixasse.

Se há mais coisas notórias a se dizer nesta breve resenha, é o quanto Monsenhor Bastos amava São Pio X. Sua felicidade em obter uma audiência particular com ele quando jovem seminarista está no livro: “Reminiscência de um pároco da cidade”, lançado em 1973. Mais um que recomendo.

Agora para terminar a homenagem a esse padre esquecido, termino por dizer que em 1936, com Benedito Rui Barbosa, e Waldemar Júnior, fundou o São Paulo Futebol Clube. E ele mesmo quem casava e batizava os jgadores e filhos dos jogadores. Quando não prendia-os na Igreja da Consolação para rezarem e assim não fugir do treino. Em 1952 abençoou o campo do Morumbi, onde agora está estádio do tricolor. Pra ele era “Deus no céu e o São Paulo na terra!” (Como ele mesmo disse). Com um padre tradicionalista ferrenho, cultor de Santo Tomás, devoto de são Pio X, e anti-modernista como fundador não é de se espantar que o SPFC tenha tantos títulos. Creio que ele mesmo diria aos leitores que um cristão batizado tem que ser são-paulino!

E assim terminamos essa resenha de um livro interessante, que recomendo à todos quantos acham o “Reno se lança no Tibre” muito pesado para se ler. E uma curta biografia da vida, de uma personagem desconhecida dos paulistas, brasileiros, e até dos são-paulinos.

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