7 de dezembro de 2010

VIII DE DEZEMBRO

Festa da Imaculada Conceição de Maria.

Tota pulchra es, amica mea, et macula non est in te – “Tu és toda formosa, amiga minha, e em ti não há mácula” (Cant. 4, 7).

Sumário. Conveio sumamente às três Pessoas divinas preservar Maria da culpa original. Conveio ao Pai, por ser ela sua Filha primogênita. Conveio ao Filho, porque queria encarnar no seio puríssimo de Maria. Conveio ao Espírito Santo, porque a tinha escolhido para a sua castíssima Esposa. Façamos um ato de viva fé em tão singular privilégio de Maria, e rendamos graças à Santíssima Trindade por haver honrado a tal ponto a nossa Mãe. Regozijemo-nos também com a Menina imaculada, e ponhamos nela toda a nossa confiança.

I. Conveio sumamente às três Pessoas divinas preservar Maria da culpa original. Conveio ao Pai, por ser Maria sua Filha primogênita. Como Jesus foi o primogênito de Deus: Primogenitus omnis creaturae (1), assim Maria, destinada a ser a Mãe de Jesus, foi sempre considerada como primogênita de Deus por adoção, e por isso Deus a possui sempre pela sua graça: Dominus possedit me in initio viarum suarum (2) – “O Senhor me possui no princípio dos seus caminhos”. Para a honra do Filho conveio, portanto, que o Pai preservasse a Mãe de toda a mácula do pecado.

Conveio ainda, porque Deus destinou esta sua Filha para esmagar a cabeça da serpente infernal, que seduzira o homem, conforme o que se lê: Ipsa conteret caput tuum (3) – “Ela te esmagará a cabeça”. Como podia, pois, permitir que fosse Maria primeiro escrava do demônio? – Mais: Maria foi destinada para advogada dos pecadores, e daí conveio que Deus a preservasse da culpa, afim de que não parecesse cúmplice do mesmo delito dos homens, pelos quais deveria interceder.

Conveio que o Filho tivesse uma Mãe imaculada. Ele mesmo a escolheu por mãe Não se pode crer que um filho, podendo ter por mãe uma rainha, a quisesse escrava. Como então imaginar que o Verbo Eterno, podendo ter uma Mãe imaculada e sempre amiga de Deus, a quisesse manchada e algum tempo inimiga de Deus? – Ainda mais, diz Santo Agostinho: Caro Christi caro est Mariae – “A carne de Cristo é a carne de Maria”. Sim, o Filho de Deus teria tido horror de se encarnar no seio de uma Santa Inês, de uma Santa Gertrudes, de uma Santa Teresa, pois estas virgens santas, antes do batismo, estiveram manchadas pelo pecado, de modo que o demônio teria podido lançar-lhe ao rosto que possuía a mesma carne, que já algum tempo lhe estivera sujeita. Mas Jesus não teve horror de encarnar-se no seio de Maria (Non horruisti virginis uterum), porque Maria foi sempre pura e imaculada. – Acrescenta Santo Tomás que Maria foi preservada de toda a culpa atual, posto que venial, porque sem isto não teria sido digna Mãe de Deus. Ora, quanto menos digna teria sido, se tivera sido manchada pelo pecado original, que torna a alma odiosa aos olhos de Deus?

II. Conveio ao Espírito Santo que a sua Esposa predileta ficasse imaculada. Sendo decretada a redenção dos homens, caídos no pecado, quis que esta sua Esposa fosse remida de um modo mais nobre, preservando-a de cair em pecado. Se Deus preservou da corrupção o corpo morto de Maria, quanto mais não devemos crer que reservasse a alma da Virgem da corrupção do pecado? – Por isso o Esposo divino a chamou horto fechado e fonte selada; porque na alma bendita de Maria os inimigos nunca penetraram. Elogiou-a ainda, chamando-a toda formosa, sempre amiga e toda pura: Tota pulchra es, amica mea, et macula non est in te (4) – “És toda formosa, amiga minha, e em ti não há mancha”.

Ó minha Senhora formosíssima! Alegro-me de ver-vos tão querida de Deus pela vossa pureza e formosura; e dou graças a Deus por vos haver preservado de toda a culpa. Ah, minha Rainha, já que sois tão amada pelas pessoas da Santíssima Trindade, não recuseis lançar um olhar sobre a minha alma tão manchada pelos pecados, e obter-me de Deus o perdão e a salvação eterna. Guardai-me e mudai-me. Com a vossa doçura atraístes tantos corações ao vosso amor, atraí também o meu coração, afim de que de hoje em diante não ame senão a Deus e a vós. Sabeis que em vós tenho posto todas as minhas esperanças. Minha amadíssima Mãe, não me desampareis. Assisti-me sempre com a vossa intercessão, principalmente em minha vida e depois especialmente na minha morte. + “Ó Maria, vós que entrastes no mundo sem mancha, alcançai-me de Deus que possa deixá-lo sem culpa” (5) Fazei com que eu morra invocando-vos e amando-vos, a fim de vos ir amar para sempre no paraíso.

“Ó Deus, que pela conceição imaculada da Virgem Maria preparastes a vosso filho digna morada, concedei-me por sua intercessão que, assim como, pela previsão da morte desse vosso Filho, a preservastes de toda a mancha de pecado, eu possa chegar a Vós com o coração puro.” (6) Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo.

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1. Col. 1, 15.
2. Prov. 8, 22.
3. Gen. 3, 15.
4. Cant. 4, 7.
5. Indulg. de 100 dias.
6. Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 431 - 434.)

CATECISMO DA PRIMEIRA COMUNHÃO – PARTE 1

O SINAL DA CRUZ

O mestre faz uma pequena preleção:

O sinal do cristão é o Sinal da cruz .
A Cruz, que nós fazemos sobre o corpo, nos lembra a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. As palavras que dizemos, ao mesmo tempo que fazemos esse sinal, nos lembram que há um só Deus em três Pessoas.
Persignar-se é fazer três cruzes: uma na testa, outra na boca, e outra no peito, dizendo:
Pelo Sinal + da Santa Cruz livrai-nos, Deus + Nosso Senhor, dos nossos + inimigos.
Benzer-se é fazer uma cruz, da testa ao peito, e do ombro esquerdo ao direito, dizendo: Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Qual é o sinal do cristão?
O sinal do cristão é o Sinal da cruz.

Faça o sinal da cruz.
Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

É bom fazermos frequentemente o Sinal da Cruz?
Sim, fazer o Sinal da Cruz, pela manhã ao acordar; à noite ao deitar; antes e depois das refeições; no princípio e no fim de qualquer trabalho; antes de começar a oração; nas tentações e nos perigos.

Do que nos lembramos quando fazemos o Sinal da Cruz?
As palavras do Sinal da Cruz nos lembram que há um só Deus em três Pessoas.

Prática: Faça o Sinal da Cruz, sempre bem e com muita devoção.

ORAÇÕES DA MANHÃ E DA NOITE

O mestre:

As crianças têm uma capacidade muito particular de unir-se a Deus pela contemplação. Porém, é necessário ensinar-lhes a rotina de gastar algum tempo com Deus, caso contrário elas se deixarão levar pela falta de concentração e pela dissipação. É preciso ensinar as crianças a rezar todos os dias. Aquele que reza vai para o céu; o que não reza não consegue se salvar.

Com que oração devemos começar bem o dia?
Devemos rezar a oração da manhã, para consagrar ao Bom Deus no dia que começa. Pode ser assim:
Eu vos adoro, meu Deus, e Vos amo de todo coração. Vos agradeço por ter criado, feito cristão pelo Santo Batismo e me conservado nessa noite. Ofereço-vos as ações deste dia; fazei que sejam todas segundo a Vossa santa vontade, para maior glória Vossa. Preservai-me do pecado e de todo mal. A Vossa graça esteja sempre comigo e com todos os que me são queridos. Amém.

Quer oração devemos rezar antes de dormir?
Devemos agradecer ao bom Deus nosso dia que termina, rezando a oração da noite.
Papai do céu, dai-nos uma boa noite. Menino Jesus, daí saúde a mamãe, ao Papai, aos meus irmãozinhos, ao meus avós e a todos nós. Dai lugar no céu a... (dizer o nome de algum parente mais próximo que tenha falecido).
Com Deus me deito com Deus me levanto,
Com a graça de Deus e o Espírito Santo.
Muito obrigado pelo dia de hoje.
Sagrado Coração de Jesus, eu tenho confiança em vós.
Sagrado coração de Jesus, protegei o Brasil.
Imaculado coração de Maria, sede nossa salvação.
Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai, Santo Anjo.

Fonte: Catecismo da Primeira Comunhão - Editora Permanência.

7 de dezembro: Santo Ambrósio, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja

Ambrósio, bispo de Milão, era filho de outro Ambrósio, um cidadão romano, e nasceu enquanto seu pai era prefeito da Gália. Um enxame de abelhas pousou na sua face quando ele era ainda um bebê, o que foi considerado um sinal da sua futura eloquência. Foi educado nas artes liberais em Roma. Então, sob o prefeito Probo, tornou-se governador da Ligúria e da Emília, e então veio com autoridade sobre Milão. Morrendo auxêncio, um ariano intruso no bispado de Milão, acendeu-se a mais violenta disputa pela sua sucessão. Ambrósio foi à igreja enquanto governador, e instou as facções contrárias, num longo e poderoso discurso, sobre a necessidade de manter a paz pública, quando um bebê subitamente gritou "Ambrósio Bispo", e toda a assembleia tomou-o e unanimemente votou pela sua eleição.

Ambrósio recusou, e não aquiesceria aos seus pedidos, porquanto eles foram pedir ao imperador Valentiniano. Agradava a esse príncipe que aqueles que ele nomeava como juízes fossem eleitos bispos, e também ao prefeito Probo, que havia dito, como que profeticamente, quando o nomeou: Vai e governa-os mais como um bispo que como um juíz. Quando à vontade do imperador juntou-se ao desejo do povo, Ambrósio cedeu, e recebeu o Batismo (porque ele era um catecúmeno), Confirmação e Comunhão, e então as várias Ordens em dias sucessivos, até que, no oitavo dia, que era 7 de dezembro, o peso do episcopado foi posto sobre seus ombros. Feito bispo, mostrou-se um tenaz defensor da fé católica e da disciplina da igreja, e converteu à verdade grandes números de arianos e outros hereges, e, entre eles, ele ganhou para Cristo Jesus aquela resplandecente e incandescente luz para a Igreja, Santo Agostinho.

Após o assassinato do imperador Graciano, Ambrósio foi enviado como embaixador a Máximo, seu assassino; recusando este fazer penitência, o bispo negou-lhe a comunhão. Após o massacre que o imperador Teodósio ordenou em Tessalônica, ele proibiu o príncipe de entrar na igreja. O imperador alegou que não era pior que Davi, culpado de adultério e homicídio, ao que Ambrósio respondeu: Como o seguiste no pecado, assim segui-o também na penitência. Então, Teodósio humildemente cumpriu a penitência pública imposta a ele pelo bispo. Esse santo bispo, além disso, trabalhou continuamente pela Igreja, compondo inclusive muitos livros excelentes, e previu que o dia da sua morte se aproximava, ainda que não estivesse doente. Quando morria, Honorato, bispo de Vercelli, ouviu três vezes uma voz de Deus, gritando-lhe que a hora da partida de Ambrósio chegara, e foi rapidamente ao encontro desse, e administrou-lhe o sagrado Corpo de Nosso Senhor. Quando o recebeu, o Santo, ainda rezando, com as mãos estendidas em forma de cruz, entregou o espírito a Deus, no dia 4 de abril do ano do Senhor de 397.

6 de dezembro de 2010

O Ódio à heresia

Ódio às falsas doutrinas
Pe. Frederick Willian Faber (1860)

A deslealdade suprema para com Deus é a heresia.

É o pecado dos pecados, a mais repugnante das coisas que Deus reprova neste mundo enfermo.

No entanto, quão pouco entendemos de sua odiosidade excessiva!

É a poluição da verdade de Deus, o que é a pior de todas as impurezas.

Porém, como somos quase indiferentes a ela!

Nós a fitamos e permanecemos calmos.

Encostamos nela e não trememos.

Misturamo-nos com seus fautores e não temos medo.

Nós a vemos tocar as coisas santas e não percebemos o sacrilégio.

Inalamos seu odor e não mostramos qualquer sinal de detestação ou desgosto.

Alguns de nós afetamos ter sua amizade; e alguns até buscam atenuar as culpas dela.

Nós não amamos a Deus o bastante para termos raiva pela glória d'Ele.

Não amamos os homens o bastante para sermos caridosamente sinceros pelas almas deles.

Tendo perdido o tato, o paladar, a visão e todos os sentidos das coisas celestiais, somos capazes de armar tenda no meio dessa praga odienta, em tranqüilidade imperturbável, reconciliados com sua repulsividade, e não sem declarações em que nos gabamos de admiração liberal, talvez até com uma demonstração solícita de simpatias tolerantes [por seus fautores].

Por que estamos tão, tão abaixo dos santos antigos, e mesmo dos apóstolos modernos destes últimos tempos, na abundância de nossas conversões?

Porque não temos a antiga firmeza!

Falta-nos o velho espírito da Igreja, o velho gênio eclesiástico.

Nossa caridade é insincera, pois não é severa; e não é persuasiva, pois é insincera.

Carecemos de devoção pela verdade como verdade, como verdade de Deus.

Nosso zelo pelas almas é débil, pois não temos zelo pela honra de Deus.

Agimos como se Deus ficasse lisonjeado com conversões, ao invés de serem almas que tremem, resgatadas por um excesso de misericórdia.

Dizemos aos homens meia-verdade, a metade que calha melhor à nossa própria pusilanimidade e aos preconceitos deles; e depois nos admiramos de tão poucos se converterem, e que, desses poucos, tantos apostatem.

Somos tão fracos a ponto de nos surpreendermos de que nossa meia-verdade não teve tanto sucesso quanto a verdade inteira de Deus.

Onde não há ódio à heresia, não há santidade.

Um homem, que poderia ser um apóstolo, torna-se uma úlcera na Igreja por falta de justa indignação.

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Pe. Frederick William Faber. O Preciosíssimo Sangue, ou: o Preço de Nossa Salvação. 1860, p. 314-316.

6 de dezembro: São Nicolau, Bispo e Confessor

Nicolau nasceu na famosa cidade de Pátara, na Lícia. Seus pais obtiveram-no de Deus pela oração, e a sua santidade de vida foi notável desde o berço. Ao seio, nunca mamava senão uma única vez nas quartas e sextas-feiras, e apenas após o pôr-do-sol, ainda que nos outros dias mamasse livremente. Esse costume de jejuar ele nunca quebrou por toda a sua vida. Quando era ainda adolescente, perdeu seu pai e mãe, e depois disso deu todas as suas posses aos pobres. Um exemplo particular é dado da sua caridade cristã. Havia um homem necessitado na cidade, que tinha três filhas em idade de casar, para as quais ele não podia arranjar maridos, e pensava em prostituí-las. Quando Nicolau ouviu isso, ele foi à casa à noite e jogou pela janela uma soma em dinheiro suficiente para servir de dote para uma delas. Fê-lo uma segunda e terceira vez, e assim, pela sua caridade, elas foram honrosamente dadas em matrimônio.

Quando ele se entregou totalmente a Deus, ele rumou à Palestina, para que pudesse ver os Lugares Santos e venerá-los. Durante a sua peregrinação, certa vez embarcou num navio, estando o céu limpo e o mar calmo, mas enfrentou uma grande tempestade, que aumentou a ponto de os marinheiros ficarem aterrorizados; e então o santo, pela oração, acalmou a tempestade. Após retornar à casa, sendo a sua vida santa conhecida pelos homens, Deus pediu-lhe que fosse a Mira, a metrópole da Lícia, na época em que o bispo havia recém falecido, e os bispos da província foram reunidos para eleger um sucessor. Enquanto deliberavam, receberam uma mensagem celeste para que escolhessem aquele que entrasse por primeiro na igreja na manhã seguinte, chamado Nicolau. Observada a revelação, Nicolau foi encontrado à porta da igreja, e sagrado arcebispo com consenso universal. No seu grande ministério, ele foi um modelo incessante de pureza, como sempre foi, de gravidade, de assiduidade na oração, de vigílias, abstinências, caridade, hospitalidade, mansidão na exortação, e de severidade na repreensão.

Ele foi o conforto das viúvas e órfãos, pelo dinheiro, conselho e trabalho. Ele foi o alívio dos oprimidos, tanto que se conta que o imperador Constantino, um vez, condenou injustamente três tribunos à morte, e esses infelizes rezaram a Nicolau, sendo esse ainda vivo, para que os salvasse, e aquele apareceu numa visão ao imperador, e obrigou-o, por ameaças, a livrá-los. Quando os imperadores Diocleciano e Maximiano puplicaram seu edito contra o Cristianismo, Nicolau não cessou de pregar a verdade em Mira, porquanto foi preso pelos soldados do imperador, tirado da sua Sé e posto na prisão, onde permaneceu até a ascensão de Constantino. Esse príncipe o libertou, e ele voltou a Mira. Foi ao Concílio de Niceia, onde foi um dos 318 bispos que condenaram a heresia de Ário. Retornou, então, ao seu bispado, e, não muito tempo depois, foi avisado de que sua morte se aproximava. Quando chegou seu derradeiro momento, ergueu os olhos ao céu, e, quando viu os anjos vindo tomá-lo, começou a rezar o salmo 30: "Em vós, ó Senhor, esperei, etc..." e quando chegou à parte que diz: "Nas vossas mãos eu entrego o meu espírito", migrou para a pátria celeste. Seu corpo foi, enfim, trasladado para Bari, na Apúlia, onde é venerado com grande celebridade e honra.

5 de dezembro de 2010

SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO

O encarceramento de João e a utilidade das tribulações

Ioannes autem cum audisset in vinculis opera Christi... – “Como João, estando no cárcere, tivesse ouvido as obras de Cristo...” (Mat. 11, 2).

Sumário. É muito grande a utilidade que nos trazem as tribulações. O Senhor no-las envia para em seguida nos enriquecer com as melhores graças. Considerai, com efeito, que São João, estando encarcerado, chega a conhecer as obras de Cristo, e recebe dele os mais elevados elogios. No tempo das tribulações, em vez de nos lastimarmos, abracemos a cruz com resignação e com ação de graças.

I. É no tempo das tribulações que Deus enriquece as almas, suas prediletas, com as graças mais copiosas. Vede São João Batista, que entre as correntes e as angústias do cárcere chega a conhecer as obras de Jesus Cristo, recebe da boca de Jesus os elogios mais honrosos de homem forte, de penitente austero, de maior dos profetas, e é apontado e tido como o Anjo do Senhor, destinado a preparar-lhe o caminho: Praeparabit viam tuam ante te. Bem apreciáveis são, portanto, as utilidades que as tribulações nos trazem, e o Senhor no-las envia não porque nos quer mal, mas porque nos quer bem.

Qui non est tentatus, quid scit? (1) – “Quem não foi tentado, o que sabe?” Quem vive na prosperidade e nunca tem experimentado a adversidade, nada sabe acerca do estado da sua alma e será molestado com muitas tentações de soberba, de vanglória, de cobiça de mais riquezas, de mais honras, de mais prazeres. Ora, de todas estas tentações livram-nos as adversidades, ao mesmo tempo que nos fazem humildes e contentes no estado em que aprouve ao Senhor colocar-nos. – Ademais, elas desvendam-nos os olhos que a prosperidade tinha vendado; e se somos pecadores, não somente reduzem-nos, como outrora o filho pródigo, aos pés de nosso Pai celestial, mas ainda nos farão satisfazer pelos pecados cometidos, muito melhor do que o fariam todas as penitências por nós livremente escolhidas. Eis a razão por que Santo Agostinho repreende o pecador que se lamenta das tribulações enviadas por Deus e lhe diz: Meu irmão, quem te dera compreender que remédio eficaz são as tribulações para curar as chagas que te feriram os pecados!

Se somos justos, as tribulações nos desprendem o coração das coisas da terra, visto que não achamos nelas senão amarguras. Afeiçoam-nos aos bens do céu, onde se acha a verdadeira felicidade, fazem-nos freqüentemente lembrados de Deus e obrigam-nos a recorrer a sua misericórdia, ao vermos que só Ele nos pode aliviar das nossas misérias. – Mas, o que mais é, as tribulações fazem-nos ganhar grandes tesouros de méritos junto de Deus, fornecendo-nos ocasião para praticar as virtudes que lhe são mais caras, tais como a humildade, a paciência, a conformidade com a vontade divina, etc.

Numa palavra: são tais e tantas as vantagens das tribulações, que São Thiago chega a chamar bem-aventurado àquele que as sofre com paciência: Beatus vir qui sufferi tentationem (2).

II. Aquele que vive nesta terra em tribulações, tem nisso um sinal certo de que é querido de Deus, e tanto mais querido, quanto mais graves elas forem. “Porque eras aceito a Deus, foi necessário que a tentação te provasse”, disse o anjo a Tobias (3). Jesus disse o mesmo mais claramente a Santa Teresa: “Minha Filha”, disse-lhe, “as almas mais queridas de meu Pai são aquelas que sofrem padecimentos mais graves.” A Santa, pois, animada deste espírito, costumava dizer que não quisera trocar os seus sofrimentos por todos os tesouros do mundo.

Deste mesmo espírito nós também devemos estar animados, se quisermos chegar um dia ao paraíso e ser glorificados como santos. – Bem longe de nos lamentarmos nas tribulações, abracemo-las dando graças a Deus; aceitemo-las não somente conformando-nos com a vontade divina, mas alegrando-nos por Deus nos tratar como tratou a Jesus Cristo, o Homem de dores, e Maria Santíssima, a Rainha dos Mártires. Digamos muitas vezes com Jó: Si bonna suscepimus de manu Dei, mala quare non suscipiamus? (4) – Se de boa vontade tenho recebido da mão de Deus os bens (a prosperidade terrestre) porque não receberei com mais satisfação os males (as tribulações) que me são muito mais vantajosas do que a prosperidade? Faça o Senhor de mim e de tudo o que é meu segundo a sua vontade e seja sempre bendito o seu santo nome: Sit nomen Domini benedictum (5).

Assim quero fazer, ó meu Deus. Mas Vós, que conheceis o meu nada, confortai-me com a vossa Santa graça, e “excitai o meu coração a preparar os caminhos para o vosso Filho unigênito, afim de que, pela sua vinda, possa servir-Vos pura e sinceramente” (6) Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo. + Doce Coração de Maria, sede minha salvação. (7) (*III 348.)
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1. Eccli. 34, 9.
2. Iac. 1, 12.
3. Tob 12, 13.
4. Iob 2, 10.
5. Iob 1, 21.
6. Or. Dom. occurr.
7. 300 dias de indulgência cada vez.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 25 - 28.)

4 de dezembro de 2010

4 de dezembro: São Pedro Crisólogo, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja

Pedro, que, devido à sua áurea eloquência, foi chamado Crisólogo, nascido no Foro de Cornélio, na Emília, de honestos pais, lançando a alma à religião desde a primeira idade, ofereceu-se para servir Cornélio Romano, então bispo da cidade, e assim foi ordenado diácono. Nomeado pelo Papa São Sixto III arcebispo de Ravena, embora relutando, pois não queria aceitar essa honra, foi recebido na cidade com grande reverência. Exímio na tarefa pastoral, repreendeu com frequentes sermões os jogos dos homens mascarados, dizendo claramente: Quem quiser brincar com o diabo não poderá gozar com Cristo. Conhecendo, por relevação divina, que sua vida chegava ao fim, voltou à sua pátria, e, entrando no templo de São Cassiano, ofereceu preciosos dons, rogando humildemente a Deus e àquele santo padroeiro que benignamente tomassem a sua alma. Migrou desta vida no dia quatro de dezembro do décimo oitavo ano do seu episcopado. O seu sagrado corpo foi honrosamente colocado perto do corpo de São Cassiano.

3 de dezembro de 2010

3 de dezembro: São Francisco Xavier, Confessor

Francisco, nascido de nobres pais na diocese de Xavier, em Pampelonne, juntou-se a Santo Inácio como companheiro e discípulo, e em pouco tempo tornou-se notável pela admirável austeridade de vida e assídua contemplação das coisas divinas. Nomeado por Paulo III núncio apostólico nas Índias, percorria muitas províncias, sempre a pé, e amiúde descalço. Levou a fé ao Japão e seis outras regiões. Converteu muitas centenas de milhares de homens a Cristo nas Índias, e batizou grandes príncipes e reis. Tão grande era sua humildade que escrevia a Santo Inácio, seu superior, ajoelhado. O Senhor corroborou o seu ardor na divulgação do Evangelho com milagres em grande número e excelência. Por fim, na ilha chinesa de Sanchoão, no dia 2 de dezembro, morreu, cheio de méritos e trabalhos realizados. Gregório XV colocou-o entre os santos, e Pio X constituiu-o padroeiro da associação e obra da Propaganda Fidei.
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