O coração moribundo alfacinha
Trabalho na Parede, mas vivo em Lisboa até fazer a mudança definitiva de casa. Isto significa que sempre que necessito de fazer compras em Lisboa tenho que recorrer a um centro comercial, ou aproveitar os sábados de manhã para as compras nalgumas lojas tradicionais lisboetas.
Mas por vezes, sou acometida do síndrome da estupidez, também vulgarmente chamado “nunca mais aprendes a lição, Safaa”, ao insistir em dar oportunidades ao comércio tradicional que não impliquem uma deslocação aos centros comerciais Colombo ou Vasco da Gama. Durante a semana, apanho o comboio exactamente às 18.15, demoro 25 minutos a chegar ao Cais do Sodré. São 18.40 e corro para o metro para tentar alcançar uma determinada zona do centro de Lisboa que tem uma determinada loja com um objecto que estou determinada em adquirir.
Das duas vezes que tentei esta aventura, alcancei ofegante a porta às 18.57 ou 18.58. E das duas vezes deparei-me com uma loja fechada, deserta, sem vivalma, como se nunca tivesse sequer aberto nesse dia.
A minha raiva e frustração foi tal que à terceira vez que isto me aconteceu na semana passada comecei a bater à porta com força, determinada a escrever no livro de reclamação ou a ser atendida. Claro que não recebi nenhuma resposta porque não havia ninguém para me abrir a porta.
E tenho para mim que este é apenas um dos muitos sinais preocupantes de um comércio moribundo que está preso ao passado, a um tempo desta cidade que já não existe. Lisboa tornou-se a cidade dos habitantes dos centros comerciais porque ninguém se está para chatear como eu me chateei por três vezes. E assim essas lojas morrem a olhos vistos, incapazes de se adaptarem a novos tempos, conservando o seu precioso horário de funcionamento inadequado à realidade do trabalhador, com encerramento para hora de almoço. Os únicos que conseguem sobreviver são os chineses e lojas bagatelas e mesmo os chineses começam a adquirir os hábitos portugueses de fechar a barraca cedo. Penso que ainda não chegam ao cúmulo de fechar antes da hora.
Ainda me recordo do tempo em que os meus pais trabalhavam na baixa lisboeta em finais da década de 80, inícios de 90, e a minha mãe levava-me todas as semanas à rua dos Fanqueiros, uma das ruas mais comercialmente vibrantes em tempos que já lá vão. Agora uma pessoa passeia ao longo dessa rua e vê essas mesmas lojas encerradas ou transformadas em armazéns chineses ou iguais a si mesmas ao longo dos anos, incapazes de fazerem frente ao novo comércio moderno.
A Câmara de Lisboa não encontra soluções dinamizadoras que não passem de fogo-fátuo pré-eleições. Aliás, tudo o que é bom e relevante nesta cidade é feito na época de campanha de eleições, ou por qualquer outro motivo de força maior (visita do Papa). Há muito tempo já que os Presidentes dessa Câmara demitiram-se das suas funções, tendo como ambição única ascender a primeiros-ministros ou líderes de partidos.
Lisboa dificilmente volta a ser o que era, até que surja algum político com visão para recuperar a cidade do abandono em que se afunda, sem ceder a interesses económicos ou políticos. Até lá não recorro mais a estas lojas muitas vezes caras, inflexíveis e mal habituadas.
I’m as mad as hell
HOWARD BEALE: I don’t have to tell you things are bad. Everybody knows things are bad. It’s a depression. Everybody’s out of work or scared of losing their job. The dollar buys a nickel’s work, banks are going bust, shopkeepers keep a gun under the counter. Punks are running wild in the street and there’s nobody anywhere who seems to know what to do, and there’s no end to it. We know the air is unfit to breathe and our food is unfit to eat, and we sit watching our TV’s while some local newscaster tells us that today we had fifteen homicides and sixty-three violent crimes, as if that’s the way it’s supposed to be. We know things are bad – worse than bad. They’re crazy. It’s like everything everywhere is going crazy, so we don’t go out anymore. We sit in the house, and slowly the world we are living in is getting smaller, and all we say is, ‘Please, at least leave us alone in our living rooms. Let me have my toaster and my TV and my steel-belted radials and I won’t say anything. Just leave us alone.’ Well, I’m not gonna leave you alone. I want you to get mad! I don’t want you to protest. I don’t want you to riot – I don’t want you to write to your congressman because I wouldn’t know what to tell you to write. I don’t know what to do about the depression and the inflation and the Russians and the crime in the street. All I know is that first you’ve got to get mad.
[shouting] You’ve got to say, ‘I’m a HUMAN BEING, Goddamnit! My life has VALUE!’ So I want you to get up now. I want all of you to get up out of your chairs. I want you to get up right now and go to the window. Open it, and stick your head out, and yell,
[shouting] ‘I’M AS MAD AS HELL, AND I’M NOT GOING TO TAKE THIS ANYMORE!’ I want you to get up right now, sit up, go to your windows, open them and stick your head out and yell – ‘I’m as mad as hell and I’m not going to take this anymore!’ Things have got to change. But first, you’ve gotta get mad!… You’ve got to say, ‘I’m as mad as hell, and I’m not going to take this anymore!’ Then we’ll figure out what to do about the depression and the inflation and the oil crisis. But first get up out of your chairs, open the window, stick your head out, and yell, and say it:
[screaming at the top of his lungs] “I’M AS MAD AS HELL, AND I’M NOT GOING TO TAKE THIS ANYMORE!”
NETWORK de Sidney Lumet, guião de Paddy Chayefsky (1976)
Agradecimento
Não quero deixar de prestar um agradecimento aos Booktailors e a José Mário Silva do blogue Bibliotecário de Babel pela referência à minha nova posição como editora da revista Bang! Obrigado. Vamos ver se estou à altura.
Aqui estou eu de volta
Tenho andado terrivelmente silenciosa neste blogue mas as razões são muitas e variadas.
Quando não trabalhava na editora, trabalhei na feira do livro de Lisboa e devo dizer que este ano foi um tanto ou quanto mais atribulada que o costume, em que muitas foram as noites geladas em que mal conseguíamos combater a cruel ventania que perpassava pelo parque. Houve também um belo dia de chuva incessante que ocasionou infiltrações nos stands, arruinando alguns livros. Não faltaram descontos durante a semana à última hora do dia quando o vendedor já só anseia por fechar a barraca e ir para casa. Ouvia-se sempre um ruído de fundo muito insistente e constante que descobriu-se ser o resmungo de descontentamento dos livreiros.
Foi uma feira memorável, sem dúvida. Viu-se de tudo. Adeptos benfiquistas a entupir durante uma noite o parque e os acessos à feira, com famílias inteiras a desfilarem entre os livros enquanto os filhotes sopravam forte nas vuvuzelas e adeptos trepavam a estátua do Marquês. Um cortejo papal em que o Papa do seu Papamobile acenou à feira (não posso garantir que acenou mas a minha imaginação já preparou o cenário todo). Encerramentos imprevistos da feira para alívio de uns, fúria de outros e perplexidade de todos. E assim passaram muitas e muitas horas agradáveis e não tão agradáveis no parque, com o pançudo das bifanas como companhia ao almoço. E lanche. E jantar. E ceia.
Evidentemente que teria tudo sido perdoado ou esquecido não tivesse a APEL tido a ideia infeliz de prolongar durante mais uma semana uma feira que já se revelara até então um calvário para vendedores.
Mas finda a feira do livro, vejo-me a braços com uma mudança de casa e assim os meus dias têm sido muito preenchidos. Não faltam novidades como o facto de ter sido escolhida como a nova editora da revista Bang! e deixem-me que vos diga, meus amigos, que editar uma revista dá trabalho mas um gozo estupendo. A Bang n.º 8 já está fechada, mas há surpresas pelo caminho e tenho que me conter para não as revelar antes do tempo.
Estou a considerar actualizar mais regularmente este blogue nos próximos tempos, mas nunca fui uma pessoa de actualizar só por actualizar, e até eu sentir que tenho algo de relevante para partilhar convosco, não pretendo cansar-me a mim e a vocês em vão. Todavia, não vos apoquenteis pois sinto que tenho muito para dizer. Falta-me é tempo, esse eterno fugitivo.
Mitos falsos e crises anunciadas
Através do twitter da editora Livros de Areia, tive acesso a um artigo muito pertinente publicado no jornal Panorama, editado pela McSweeney’s. Nesta nova era em que profetas da tecnologia lançam previsões sobre o fim do livro como objecto físico e a sua nova encarnação em formato digital com acesso através dos gadgets e chips mais sofisticados, muito se tem usado o argumento ecológico para convencer os mais renitentes a aderir aos e-readers e e-books.
Na realidade, fomos educados para pensar que por cada folha de papel que consumimos estamos a destruir árvores e o meio ambiente. É cada vez mais um dado adquirido entre a sociedade que se deve evitar ao máximo o desperdício de papel, e nos últimos anos têm-se propagado medidas que contribuem para o fim do desperdício, ou mesmo o fim do uso de papel como medida benéfica para a Natureza.
Mas será mesmo assim tão simples? Parte da minha actividade consiste em garantir o fornecimento contínuo de papel necessário para a produção dos livros da editora. Sei em primeira mão que se gastam quantidades obscenas de papel anualmente, e com preços que empalideceriam qualquer um. Mesmo que uma árvore seja capaz de produzir centenas de resmas de papel, como seria possível que o mundo já não estivesse desprovido de árvores? E então tudo passou a fazer mais sentido depois de ler este artigo no McSweeney’s sobre a luta de uma pequena fábrica de papel para se manter à tona na transição da era da impressão para a era digital.
O artigo, da autoria do famoso autor Nicholson Baker, refere a existência de uma velha fábrica de papel em Maine, EUA, que produzia todo o tipo de papéis e que tinha sido considerada uma das maiores no seu tempo. A indústria americana de papel foi afectada por uma crise precipitada pela imposição do formato digital em jornais, mas também perante uma excepcionalmente árdua crise económica. Começou com o fecho de algumas máquinas de fabrico de papel. Depois o despedimento parcial dos seus operários. Até que, finalmente, foi tomada a decisão de encerrar a fábrica em 2009.
Maine é rico em florestas e serrações. O autor do artigo dirigiu-se ao local e descobriu que toda aquela floresta estava em risco não por causa do abate das árvores, mas devido à sua falta.
“If the marketplace for timber, harvested sustainably from Maine’s forests, collapses because of the propagation of a myth—which some might say is a fraud—that says that using the newspaper is killing trees, then what happens is the landholder can no longer generate the revenue to pay a master logger for sustainable timber harvesting, and can’t pay the taxes. Then a developer offers to buy the land at a steep premium over what it was worth as a forest, and the developer clear-cuts the land and turns it into a low-density development. Then it really is deforested.”
Ou seja, quando um proprietário de florestas já não ganha lucro com o ciclo de abate e plantação de árvores, torna-se incapaz de financiar uma estrutura que permita a manutenção das florestas ao longo dos anos, vendo-se a braços com impostos que não consegue pagar. Depois alguém se oferece para comprar o terreno a um valor mais baixo do que o real, decide construir um condomínio e arrasa, para sempre, com toda a floresta. E assim dá-se verdadeiramente o processo de desflorestação.
Mas o que se passa na Península Ibérica é um caso diferente. Não é a gradual popularidade do formato digital que está a causar a crise na indústria de papel de livros. Como já referi, desde finais de 2009, mais precisamente desde o encerramento da fábrica Besaya na Espanha, iniciou-se um efeito dominó que provocou uma crise sem precedentes de falta de papel e consequente quebras de produção entre várias editoras nacionais, que se prolonga até hoje. A situação foi agravada por problemas de fornecimento de pasta às fábricas europeias de papel (o principal fornecedor chileno foi seriamente afectado pelo terramoto). O grosso de produção das fábricas consiste no papel offset (fotocópia) cujo mercado é dominado na Península Ibérica pela Portucel. Como o papel volume usado em livros é apenas uma pequena fracção da produção total de uma fábrica (que a Portucel não produz), as máquinas desse papel em fábricas espanholas são paradas para minimizar custos e conduzem a insuficiente oferta para uma procura excessiva da parte dos editores. Inevitavelmente, perante a falta de papel volume, assiste-se a uma subida de preços substancial no sector. Podíamos começar a imprimir livros em papel de fotocópia, mas o leitor português foi habituado desde há décadas a um livro de aspecto quase luxuoso e de aparência cara, pelo que a reacção a um novo livro num pacote de muito menor qualidade poderia ser fatal.
São estes factores que podem, no futuro próximo, encorajar as editoras a adoptar mais cedo do que o previsto a tecnologia necessária para a produção de e-books bem feitos e seguros. Neste momento, mesmo sendo todos os dias bombardeados com notícias do último gadget sofisticado para a leitura e armazenamento de livros (e pergunto-me se o fascínio não será mais pelo gadget em si do que outra coisa qualquer), as editoras nacionais estão na fase pré-História de integração no mundo digital. É um facto que 99% do mercado ainda depende inteiramente do método de impressão. E ironicamente, a maioria dos leitores nem gosta de ler livros no computador e não abdica do objecto físico. Portanto, enquanto que no Maine o papel foi abandonado a favor do formato digital, nas nossas bandas estamos a ser forçados a adoptar esse caminho, por falta de papel.
Um sério investimento nesta tecnologia teria que ser feito, não só para escapar ao aumento dos preços do papel existente, mas porque é um facto que o papel de livros está a morrer (as poucas máquinas que o produzem actualmente na Europa estão com prazos de fabrico de 4 a 6 meses quando o normal era de 3 a 4 semanas). Se não houver mudanças, passaremos a ter apenas papel de escritório que é a fatia de leão desta indústria.
Perante tudo isto, podemos concluir várias coisas:
O mito de que o papel prejudica o meio ambiente é falso.
Nunca se produziu mais papel offset como agora, mesmo com a era dos computadores, mas o facto de essa produção estar a ser praticamente monopolizada por algumas empresas, está a causar baixas ou cancelamentos de produção nas várias fábricas.
O papel de livros, mais caro e pesado, foi completamente vítima das forças do mercado, e será inevitável no futuro uma maior concertação de estratégias da parte das editoras nacionais para encontrar novas soluções que poderão ou não passar pelo formato digital, e que poderão levar anos a ser implementadas.
Prudência editorial ou a falta dela
Ontem foi oficialmente confirmado que a Porto Editora vai adquirir a Bertrand. Outro passo para tornar o mundo editorial actual ainda mais pequeno e fechado, mais uniforme e perigoso. Respeito grandemente o trabalho da Porto Editora, mas mantenho algumas reservas sobre o “negócio do ano”.
Dois ou três anos depois de ter sido iniciada a concentração editorial movida por Miguel Paes do Amaral que deu origem ao grupo Leya, a mudança foi negativa e prejudicou grandemente o sector editorial. Editoras históricas foram compradas, desmontadas, assimiladas e reeducadas sob o lema “lucrem ou cessem de existir”. Homens que normalmente não compreendiam o negócio de livros, mas compreendiam perfeitamente a palavra negócios, foram postos à frente dos destinos de editoras. O que não obtém lucro é sistematicamente eliminado, ignorado ou esquecido. A Leya aumentou estratégias de marketing agressivas que forçaram outras editoras a reagir com igual agressividade, correndo o risco de se tornarem invisíveis. No meio deste jogo de visibilidade quem sofreu mais foram inevitavelmente as pequenas editoras sem capacidade financeira para entrar nestas jogadas de disputa por espaço livreiro e de imprensa.
A Leya iniciou a caminhada para uma tentativa de estabelecer a hegemonia de uma máquina de best-sellers que não dá espaço a alternativas. E não me parece que seja aceitável de todo resignarmo-nos a um país onde são vendidos sempre o mesmo tipo de livros das mesmas editoras. Ainda é possível para uma editora querer publicar algo obscuro e desconhecido, uma obra de qualidade na qual não deseja investir centenas de euros em publicidade e marketing em livrarias, sabendo que não irá ter grande retorno financeiro? Ainda é possível a diversidade neste universo que tomou conta das editoras tradicionais portuguesas? Poderão ainda as editoras contar com jornalistas para uma selecção isenta e imparcial de livros, longe de pressões de grandes grupos?
O mundo português de livros como o conhecemos durante tantos anos acabou com a Leya. Não me cabe a mim especular sobre o futuro deste grupo, mas nas condições actuais a sua estratégia absolutamente impiedosa está longe de ser empreendedora e está longe de criar bases estáveis que durem anos e anos, criando uma situação insustentável para os seus editores.
A aquisição da Bertrand pela Porto Editora é, de facto, o negócio do ano. Muda dramaticamente a balança de poder mas é um negócio com muitos sinais que nos permitem encarar com algum optimismo a venda, ainda a aguardar aprovação da Autoridade da Concorrência. Para começar, é a aquisição de uma editora histórica por outra. A Porto Editora é uma veterana imensamente poderosa no mercado e conhecida pelo seu forte profissionalismo, rigor, e sucesso na área escolar, tendo recentemente investido na área da ficção. Praticamente tudo o que fazem é marcado pelo sucesso. Nem uma palavra contra a editora circula entre fornecedores, autores, colaboradores, o que é impressionante (e muito falam os fornecedores entre eles e desabafam com editores…). Têm o seu próprio mundo fechado mas uma estratégia inteligente e vanguardista, embora por vezes note-se que ainda estão a tactear terreno desconhecido na ficção e a tentar descobrir a melhor forma de desbravar caminho.
Acabaram de adquirir da Bertelsmann uma editora histórica que publica autores como Dan Brown, quatro outras editoras, incluindo a Quetzal, uma distribuidora lucrativa que tem a depender de si clientes importantes no mercado (como por exemplo, a Saída de Emergência), e um buraco negro de nome Círculo de Leitores, que tem sido um espinho de difícil resolução desde há muitos anos. E claro, a cereja em cima do bolo, uma vasta rede nacional de livrarias que concorre directamente com a Fnac.
O que acontecerá agora? Qual a estratégia da Porto Editora? Será uma estratégia Leya, de desmontar e assimilar, de comprar e destruir? De pôr um fim ao que é desnecessário, mesmo que implique deixar a concorrência completamente desnorteada (basta decidirem fechar a distribuidora)? E tudo para assistirmos a uma batalha de T-Rex’s enquanto outros ficam a observar?
Conseguirá esta aquisição inverter a tendência negativa que se tem verificado no mundo dos livros? Porque nem tudo pode ser calculado em função de lucros e prejuízos. Nunca se publicou tanto como agora e pode parecer positivo para os que assistem de fora, mas é um mercado minado por sérios problemas agravados pela crise actual. O mundo das artes gráficas está a afundar-se lentamente, qual Titanic, e gráficas falidas já são uma realidade (a tipografia Guerra foi a primeira). Algumas optam muitas vezes por praticar preços baixos que a médio e longo prazo prejudicam a empresa. Para piorar as coisas, no final de 2009 começou uma crise de falta de papel volume (usado na produção de livros) que assume neste momento contornos verdadeiramente preocupantes, originando quebras de produção em várias editoras. As fábricas de papel estão a fechar ou a aumentar radicalmente os preços (não sou a pessoa mais indicada para explicar as causas) e mudanças poderão ter que ser feitas nesse sector, e são mudanças que não irão agradar aos leitores.
Acrescente-se a isso os problemas de uma distribuição com poucas alternativas e demasiado centrada na Bertrand, uma relação tensa entre editores e livreiros (que a APEL aparentemente irá fazer tudo para exacerbar na próxima Feira do Livro de Lisboa…), e fico por aqui ou acusam-me de pintar um panorama excessivamente negro. Uma solução parcial poderá passar por produzir menos acabando com a oferta excessiva no mercado.
Resta-nos aguardar pelos próximos desenvolvimentos e ter esperanças de que o mercado não entre um dia em ruptura total. Mas há sempre homens ou empresas de grande iniciativa e visão com capacidade para iniciarem projectos sólidos e que saberão aproveitar-se das fragilidades do sector para construir algo que dure durante muitos anos. Ou talvez não.
Crueldade numa noveleta e um conto
Às vezes, as horas de trabalho e de obrigações exigem tanto tempo que se torna demasiado difícil ler romances com o mesmo prazer e dedicação dos tempos de estudante. Romances podem ser mais exigentes, mas eu mentiria se dissesse que a ficção curta não é tão ou mais exigente, mentiria se dissesse que um conto de dez páginas não pode ter a mesma profundidade que um livro de trezentas páginas.
A ficção curta deve ser duplamente apreciada não só porque consume menos do nosso tempo que voa, mas permite oferecer o mesmo grau de satisfação para o intelecto que um romance ou uma série de livros.
E que melhor forma de demonstrar a verdade desta afirmação do que escolher uma novela e um conto, ambos brilhantes nos seus géneros, ambos com uma tal capacidade para perturbar o leitor e fazê-lo abrir os olhos perante um mundo de crueldade e selvajaria, ambos uma brilhante reflexão sobre a natureza humana?
Sandkings de George R. R. Martin é um clássico de ficção científica, publicado pela primeira vez em 1979, e vencedor dos prémios Nebula e Hugo. Narra a história de um homem de nome Simon Kress, um playboy rico que tem um enorme interesse em animais exóticos. Na sua busca por um novo animal capaz de satisfazer as suas excentricidades e caprichos cruéis, encontra uma estranha loja de nome Wo and Shade que o convence a comprar sandkings, criaturas cuja natureza as impele a guerrearem-se umas às outras, mas a também venerarem o seu dono.
Interessado por esta espécie da qual nunca ouvira falar, Kress adquire os sandkings e rápido se apercebe do sistema que move as criaturas. Demasiado impaciente para esperar que iniciem guerras por si mesmas (divididas por cores, laranja, preto, vermelho e branco), Kress começa a submetê-las a fome e a uma tortura cada vez mais brutal. A guerra que os sandkings iniciam é degradante e primitiva, reduzida ao seu nível mais básico de sobrevivência. Se Kress tivesse permitido que os sandkings tomassem o curso natural das coisas, teriam concedido um melhor espectáculo a Kress e os seus amigos com conflitos de grande subtileza e complexidade, tal como num jogo de xadrez.
À medida que os sandkings são cada vez mais instigados pela crueldade de Kress, reproduzem o rosto do seu dono nos seus castelos de areia com traços cada vez mais odiosos e perversos. Inevitavelmente, Kress perde o controlo e o monstro que criou é libertado para o perseguir…
Martin sabe que para concretizar com sucesso a atmosfera de horror não há nada como expor, com crueza, a brutalidade e egocentrismo de homens com mentes mesquinhas e insensíveis, como Kress. A personagem não tem problemas de consciência em torturar os seus animais ou oferecer os seus amigos como sacrifícios para apaziguar as criaturas. Mas, na verdade, Simon não sabe a verdade completa acerca destas criaturas que são bem mais perigosas e sofisticadas do que julgara…
No caso de George R. R. Martin, ao ler o seu trabalho de ficção curta compilado na colectânea Dreamsongs, torna-se fascinante acompanhar o percurso literário do autor, que sempre desde o início provou ser da maior diversidade possível. Martin experimentou todos os sub-géneros do fantástico, com maior ou menor sucesso, e ao ler os seus primeiros passos de aprendiz, torna-se tão óbvio que Martin ainda não encontrara a sua própria voz. Os seus contos inicialmente adoptam um estilo derivativo da fantasia épica (e péssimo), mas gradualmente começa a estabelecer e organizar ideias o riginais ainda sem um estilo de escrita que faça jus à sua imaginação. Alguns dos contos posteriores, embora de melhor qualidade, são etéreos, românticos, quase gentis. Martin encontrou a sua voz no horror. Descobriu que as suas melhores contribuições possuem um ponto de vista em que abunda a crueldade e tortura, sofrimento e acções chocantes que só chocam os mais ingénuos ou inocentes, ou habituados a histórias de galantes cavaleiros.
E essa é a voz que se veio a expressar nas Crónicas de Gelo e Fogo com tanto sucesso. Teria a série tanto impacto se o autor optasse por um estilo passivo e convencional, em que o mal não se manifesta na realidade? Claro que não basta matar as personagens principais que gostamos para atrair leitores, mas a mestria de Martin está na natureza inflexível e pouca dada a perdão da sua escrita, na capacidade de opor a inocência de crianças a um mundo em que mercenários arrancam à dentada rostos de donzelas.
Ainda no domínio norte-americano, poucos contos conseguem produzir impacto no leitor como The Lottery de Shirley Jackson (o texto é curto e pode ser lido aqui. O que se segue sobre o conto contém spoilers). É um clássico, escrito por uma autora grandemente reconhecida na literatura das margens. Será mais conhecida pelo grande público pelo seu romance The Haunting of Hill House que teve direito a uma excelente adaptação cinematográfica em 1963 de Robert Wise, mas é We Have Always Lived in the Castle (Sempre Vivemos no Castelo) que será publicado em Portugal pela Cavalo de Ferro,
A autora vem na continuidade da grande tradição do horror sobrenatural norte-americano, representada por figuras como Edgar Allan Poe, Nathaniel Hawthorne, Washington Irving, Ambrose Bierce, Clark Ashton Smith e Lovecraft.
O conto actualmente poderia ser considerado demasiado previsível, ou demasiado óbvio nos sinais dados pela autora. Isso não impede uma apreciação do estilo de uma autora conhecida pela sua habilidade em perpetuar fantasmas ou demónios do passado.
O que impressiona no conto é o tom casual, assente na descrição de uma rotina estabelecida há anos incontáveis e que é praticada com a maior das naturalidades. As pedras são empilhadas num canto à parte, afastadas das brincadeiras das crianças; os aldeões reúnem-se na praça e comentam entre eles como o tempo voa desde a última lotaria; fala-se da desistência da lotaria em algumas vilas enquanto homens idosos criticam a juventude de hoje que se arruína com o fim de velhos costumes. Tudo descrições naturalistas de um feriado numa aldeia, quase a lembrar os Contos da Montanha de Miguel Torga. Não há noites de tempestade, ou barulhos estranhos numa casa, ou portas ominosas que se abrem abruptamente, nem o crocitar de corvos, símbolo de maus presságios e morte.
Há apenas uma caixa preta velha cuja existência muitos preferem esquecer durante o ano até à data em que é recuperada pelo oficial da lotaria e nela são depositados os papéis da lotaria. Cada um é chamado para cumprir esse acto obrigatório perante a comunidade e a tensão e nervosismo tornam-se cada vez mais evidentes nos rostos dos aldeões.
Quando finalmente é sorteada a família a quem calhou a sorte (ainda desconhecemos o prémio), cada membro dessa família, incluindo crianças, deve submeter-se de novo ao sorteio. A mulher da família é a que mais se revolta com gritos de injustiça e será, previsivelmente, a pessoa a quem se irá destinar o prémio da lotaria. Nos parágrafos finais, as aparências caem por terra e a selvajaria de uma antiga tradição pagã é retomada. Os aldeões apedrejam a vítima até à sua morte, num antigo ritual de sacrifício humano em troca de boas colheitas. O tom casual e benigno é mantido até ao fim, reforçando ainda mais a crueldade e barbárie das acções da aldeia, num dia bonito e primaveril.
Como provam tão bem estes dois escritores, os velhos clichés de actos malévolos a coberto da noite são apenas para os mais ingénuos. Alguns podem escolher sobreviver a qualquer custo, como Simon Kress, mas a outros não é dada essa escolha. Em ambos os casos, todavia, impera uma necessidade da parte do autor de despir um antigo coração de trevas e deixá-lo nu à luz do dia.
A imaginação delirante do Dr. Parnassus
Muito poucos amam e compreendem a fantasia como Terry Gilliam e a encaram como uma manifestação do poder da imaginação. Desde o mítico The Adventures of Baron Munchausen que o realizador se tem consagrado a um estilo fantasioso sem rédeas, barroco, bizarro, povoado de elementos de beleza e grotesco, com uma predilecção para personagens caídas em desgraça que iniciam um caminho tortuoso para recuperar a sanidade ou o coração.
Parnassus não é nenhuma excepção. Um antigo monge que desafiou o Diabo a uma aposta em que o poder dos contadores de histórias triunfaria, começa a sua descida ao Inferno no momento em que os tempos mudam e as pessoas cedem a um manto de desprezo, indiferença e desdém pela magia da mente.
Mas mesmo lutando contra o poder do demónio que tão eloquentemente é interpretado por Tom Waits, o actor predilecto para os papéis de diabo, louco ou homem-mistério com uns toques de satânico e uns toques de loucura, o amor condena de novo a alma imortal de Parnassus, e amaldiçoa a sua descendência, uma bela filha de 16 anos, nascida de um milagre…
Quase se pode dizer que Gilliam fez uma homenagem fellinesca no seu filme The Imaginarium of Dr. Parnassus, pois tal como Fellini, quando o seu universo envolve circos ambulantes, não faltam personagens réprobas: os anões, os bêbados, os abandonados, os deformados.
A personagem central que iria constituir o redentor de Parnassus e a sua salvação do pacto faustiano que condenaria a sua filha, Tony Shepherd, começa como um homem caído em desgraça, cuja vida foi salva e deseja retribuir ao seu protector, Parnassus. Tony estava claramente destinado a ser o elemento a desencadear a libertação do velho monge mas, infelizmente, por morte prematura do actor Heath Ledger, a personagem teve que ser inteiramente recriada e perdeu muito da sua intensidade e coerência na recta final.
Que isso não impeça o espectador de apreciar este filme imensamente imaginativo e recheado de símbolos em que o livre arbítrio é concedido aos que ousam enfrentar o misterioso espelho, aos que desejam recuperar a felicidade dos melhores sonhos. Apenas os de fraca imaginação sucumbem ao Diabo, mas Parnassus mantém, com o poder da sua mente, a porta aberta para os delírios do país das maravilhas, mesmo que tenha que pagar um preço demasiado elevado.
A comédia na Grande Depressão
Uma das melhores obras que a década de 30 nos ofereceu, It Happened One Night (Aconteceu Uma Noite) de Frank Capra, conta a história de uma herdeira mimada (Claudette Colbert) que foge das garras do pai milionário para tentar casar com o amor da sua vida. Na sua determinação para chegar ao futuro marido rejeitado pelo pai, inicia uma longa viagem de autocarro em que conhece um jornalista (Clark Gable) que não só a ajuda a chegar a Nova Iorque, mas como inevitavelmente se apaixona por ela no curso da viagem.
Na verdade, embora hoje seja facilmente confundido com comédia romântica, pertence ao mundo das screwball comedies que viram o seu auge nas décadas 30 e 40. It Happened One Night foi o primeiro filme da história do cinema a ganhar os cinco principais Óscares: melhor filme, melhor realizador, melhor actor, melhor actriz e melhor argumento original. Este feito só se voltaria a repetir duas vezes com duas obras dramáticas: Voando sobre um Ninho de Cucos em 1975 e O Silêncio dos Inocentes em 1991.
O domínio do génio dramático em cinema tem sido incontestável, mas nem sempre foi assim. O filme de Capra é um produto da sua época marcada pela Grande Depressão, num tempo em que os americanos procuravam obter uma fuga da realidade dura, e era enorme o fascínio pela riqueza das celebridades. Surgiram assim obras-primas como as comédias Bringing up Baby, The Philadelphia Story, The Awful Truth ou Mr. and Mrs. Smith.
As screwball caracterizavam-se pelas situações absurdas, diálogos inteligentes e rápidos, abordagem das diferenças de classes sociais, bem como um tom burlesco e de farsa (influência do vaudeville do início do século XX que viria a dar lugar ao Método naturalista e de influência russa a partir da década de 50, e possivelmente uma das razões que contribuiu para o definhar da comédia).
Não preciso de dar razões para verem e apreciarem este filme, mas em caso de dúvida, aqui vai:
1 – A oportunidade de ver a personagem de Clarke Gable a obter umas boas gargalhadas à custa da incapacidade da personagem de Colbert em se desenrascar sozinha. O gozo de Clark Gable é simplesmente bom demais para não ser apreciado pelo espectador.
2 – Raríssimas são as vezes em que se vê uma história boa pontuada por diálogos brilhantes recheados de alusões sexuais que escaparam incólumes à censura da época. É especialmente fascinante a forma como o sexo é expresso no filme de Capra através de referências bíblicas (The Walls of Jericho).
3 – A química entre os actores é essencial. Começa por uma desconfiança mútua que cede a camaradagem para abrir passagem a atracção até culminar em amor. Quantas vezes já vimos estes passos tomados em milhares de comédias românticas? Mas quantas delas são memoráveis graças a brilhantes actores? O papel da vida de Gable pode ser o de Rhett Butler, mas em It Happened One Night ele é o everyman acarinhado pelo público que não tolera o nonsense e opulência da classe abastada, e no entanto não resiste ao charme da herdeira mimada.
4 – As cenas perfeitas de comédia e respectivo timing. Impossível esquecer a cena icónica em que Gable ensina Colbert como apanhar boleia. Ou quando Gable leva Colbert às costas enquanto se desenrola uma conversa absurda sobre piggyback.
5 – A memorável cena final do casamento em que se realça toda a classe e elegância dos ricos. Colbert transforma-se notavelmente de mulher na estrada em mulher no seu elemento, vestida de noiva, e é caso para dizer que as actrizes de hoje têm muito que aprender sobre classe. Consigo quase imaginar o impacto nas salas de cinema dos anos 30 da belíssima cena da fuga do altar e a reacção dos convidados.
Curiosamente, o documentário do DVD refere que a actriz Claudette Colbert estava convencida de que este tinha sido um dos piores filmes da sua carreira no decorrer das filmagens. Mas um actor raramente vê o produto final editado e é a última pessoa a conhecer e apreciar a obra-prima que está a criar. Vou deixar os diálogos deste filme falarem por eles próprios. Fica um excerto entre o pai da herdeira e o jornalista:
Alexander Andrews: Do you love her?
Peter Warne : A normal human being couldn’t live under the same roof with her without going nutty! She’s my idea of nothing!
ALexander Andrews: I asked you a simple question! Do you love her?
Peter Warne: YES! But don’t hold that against me, I’m a little screwy myself!
O mundo imperfeito das revistas
Ontem foi anunciado, da forma mais pragmática possível, após cinco anos, o fim da revista Os Meus Livros. Um anúncio seco a indicar a quebra de publicidade e vendas estagnadas como a causa do encerramento definitivo da revista e dispensa do seu director, João Morales.
A revista sempre primou por uma perspectiva mais abrangente do que o habitual nesta matéria e deu a oportunidade a todos para mostrarem o seu valor e projectos. O Fórum Fantástico começou a dar os seus primeiros passos fortes na imprensa através da revista que acreditou no evento. A título pessoal, é com tristeza que recebi esta notícia. Não quero deixar de agradecer ao João Morales por todo o trabalho desenvolvido e desejar-lhe boa sorte na continuação da sua carreira na área jornalística literária.
Em termos profissionais, não posso também deixar de lamentar. Continua a tendência que se tinha vindo a registar nos últimos anos de diminuição do espaço dedicado a crítica literária e notícias dos livros.
Resta-nos agora a revista Ler e alguns suplementos de jornais com um espaço diminuto dedicado a livros. É pouquíssimo para um país que publica centenas de livros por ano num mercado cada vez mais competitivo. Dezenas de editoras lutam por um lugar ao sol e já não existem suficientes plataformas em papel que escoem todas essas editoras famintas por destaque na imprensa. Do ponto de vista de uma editora, a Internet tem-se revelado como um palco mais democrático onde alguns bons golpes de relações públicas, assim como um certo inovadorismo na abordagem aos leitores, podem marcar a diferença na venda de um determinado livro. Do ponto de vista de um jornalista/crítico, a Internet tem os seus prós e contras: a proliferação de blogues de livros tem dispensado o papel do crítico mais exigente, este totalmente ignorado pelas massas, mas ainda acarinhado por uma minoria. E também é graças à Internet que o trabalho de um crítico é mais do que nunca posto em causa, mas é também mais admirado.
No entanto, coloca-se a questão: porque é tão difícil para uma revista sobreviver e ganhar estabilidade? A experiência tem-me ensinado que é muito mais difícil editar uma revista do que livros, por incrível que pareça. É normal uma vez que a produção de um livro é muito mais linear do que reunir e produzir o conteúdo de uma revista.
Mas revistas são caras de produzir, difíceis de distribuir, difíceis de vender e lutam com o mundo permanentemente actualizado da Internet onde é tão fácil aceder a um manancial de informação que desactualiza ou põe em causa, numa questão de segundos, o conteúdo de uma revista. Há também a questão da publicidade que tem sido o alicerce fundamental. Não havendo apoios publicitários, poder-se-ia colocar a hipótese de uma empresa ou investidores a suportarem financeiramente um tal projecto. Mas até essas empresas e investidores desejam obter lucro ou algum tipo de retorno que justifique o investimento contínuo numa revista.
Referindo-me a um caso muito concreto, muitos questionam a decisão da Saída de Emergência em não distribuir nos canais normais a nova revista Bang! em papel, mas esquecem-se que a distribuição não é grátis, e por cada produto distribuído é cobrada uma percentagem que forçaria a encarecer ainda mais o preço da revista, quando ela já tem um preço puxado (5€) devido aos custos de produção. Por isso, numa tentativa de diminuir o prejuízo que tinha causado a distribuição dos primeiros 3 números de uma revista de nicho, decidiu-se por uma exclusiva venda online. É a solução perfeita? Nem por sombras porque este país ainda não é totalmente fã de compras online e ainda encara o sistema com muita suspeita.
Ainda se está à procura do sistema ideal para a revista Bang! que sempre se desejou em papel, mas nem sempre foi possível. Todavia, essa curta experiência de produção de revista, e falamos aqui de uma tiragem de 150 exemplares, abriu-me os olhos para as dificuldades sérias que enfrenta o mundo português das revistas. Apenas com fortes receitas publicitárias e aposta em conteúdos únicos e apelativos consegue marcar-se a diferença.
Claro que há sempre a opção do formato digital, mas por mais estranho que pareça nesta era tecnológica, a leitura em papel é ainda a que conquista grande parte dos leitores. Prova disso são os milhares de livros vendidos e comprados todos os dias em Portugal e no mundo. A discussão sobre ebooks e as suas consequências no mundo da edição já começou, mas em termos práticos estamos ainda numa fase muito primitiva de implementação dessa tecnologia no mercado. A actual crise grave de papel que está a começar a minar o mercado de livros na Península Ibérica e resto da Europa pode precipitar medidas em relação ao ebook, embora ainda me pareça wishful thinking. Resta-nos aguardar para ver.